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Classificação e outras tipologias da indústria hoteleira em Portugal

Capítulo II – Turismo e hotelaria

2.3. Hotelaria

2.3.3. Classificação e outras tipologias da indústria hoteleira em Portugal

O alojamento é um componente importante do produto turístico, porque o turista pernoita, no mínimo, uma noite fora da sua residência habitual. O processo e os critérios de classificação das UH são diferentes de país para país. Por exemplo, a Alemanha, os Países da Escandinávia e do Benelux não têm qualquer sistema de classificação e, por isso, dependem de organizações, como por exemplo dos clubes automóveis, que atribuem placas às UH com uma classificação, que nada tem a ver com os sistemas de classificação jurídica. Na Suíça é a Societé Suisse des Hôteliers que atribui a classificação das UH, que adota um critério rigoroso, com exigências mínimas, como o rácio de empregados por cliente, mudança de toalha de mesa, facilidades de estacionamento sem limite de tempo, facilidade de acesso (Quintas, 2006).

Apesar de não existir nenhum sistema de classificação reconhecido internacionalmente, a OMT refere a hotelaria comercial (pagamento pelo serviço), não comercial (serviço fornecido pela família e amigos) e de caráter social. Na hotelaria comercial, a OMT recomenda a existência de um sistema de classificação, que pode variar na forma de organização, no tamanho e nos serviços oferecidos, que permita obter informação para comparar os dados estatísticos por tipologias (Cunha, 2003; Colin Johnson, 2012; UNWTO, 2008).

A existência de uma classificação é importante, não só do ponto de vista jurídico e legislativo porque fixa parâmetros homogéneos e permite o controlo administrativo e fiscal do Estado. Ao cliente cabe-lhe escolher a tipologia de alojamento em função dos seus desejos e necessidades, podendo comparar os serviços disponíveis e os preços, entre outros, proporcionando uma maior transparência dos mercados (Cunha, 2003; Cunha & Abrantes, 2013; Popp et al., 2007). Um dos aspetos distintos é a simbologia

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utilizada na classificação das tipologias. Podemos encontrar categorias por estrelas (de 1 a 5, ou até 7 estrelas), por designação (classificado de luxo, superior de luxo, superior, bom e razoável, hotel rural, pousada, paradores, etc.), por ordem (classificado em luxo, primeira classe, segunda classe, …) e por letras (A*, A, B*, B, C, D e E).

Em Portugal existe um sistema misto, que pode ir desde a classifcação por estrelas (de 1 a 5 estrelas) e por designação (hotel; hotel rural; casa de campo; pousada; etc.). As empresas prestadoras de serviços de alojamento são classificadas em função da qualidade das instalações e dos serviços disponíveis (Cunha, 2003; Cunha & Abrantes, 2013). Do ponto de vista jurídico, estão organizadas em Empreendimentos Turísticos e em Alojamento Local.

No âmbito dos Empreendimentos Turísticos, o Decreto-Lei nº 15/2014 de 23 de janeiro que procede à segunda alteração do Decreto-Lei nº 39/2008, 7 março, alterado pelo Decreto-Lei n.º 228/2009, de 14 de setembro, e estabelece o regime jurídico da instalação, exploração e funcionamento dos empreendimentos turísticos que os define como “estabelecimentos que se destinam a prestar serviços de alojamento, mediante remuneração, dispondo, para o seu funcionamento, de um adequado conjunto de estruturas, equipamentos e serviços complementares” (nº1 do artigo 2º). São consideradas unidades de alojamento o espaço destinado ao uso exclusivo e privativo do utente do empreendimento turístico, que podem ser quartos, suites, apartamentos ou moradias, consoante o tipo de empreendimento (nº1 e 2 do artigo 7º). A capacidade do empreendimento turístico é determinada pelo número de camas fixas instaladas nas unidades de alojamento (nº 1 do artigo 8º). Podem ser integrados (artigo 4º) em estabelecimentos hoteleiros (mínimo de 10 unidades de alojamento): Hotéis (1, 2, 3, 4 e 5 estrelas); Aparthotéis; Pousadas; aldeamentos turísticos; apartamentos turísticos; conjuntos turísticos (resorts); empreendimentos de turismo de habitação; empreendimentos de turismo no espaço rural (Casas de campo; Agroturismo; Hotéis Rurais); parques de campismo e de caravanismo.

A figura do Alojamento Local, segundo o Decreto-Lei nº 129/2014, de 29 de agosto, foi criada em 2008 através do Decreto-Lei nº 39/2008, de 7 de março, alterado pelos Decretos-Leis nº 228/2009, de 14 de setembro, e 15/2014, de 23 de janeiro, (Decreto-Lei no 128/2014, de 29 de agosto, 2014) como forma de enquadrar legalmente os estabelecimentos que prestam serviços de alojamento, e que não reuniam os requisitos exigidos aos empreendimentos turísticos, aqueles que estavam à margem da lei e sem qualquer formalismo jurídico, e procurou dar resposta a alguns dos empreendimentos turísticos extintos (pensões, motéis, albergarias e estalagens) pelo Decreto-Lei nº 39/2008, de 7 de março.

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Considera-se Alojamento Local os estabelecimentos que prestem serviços de alojamento temporário a turistas, mediante remuneração e que reúnam os requisitos previstos no Decreto-Lei 129/2014, de 29 de agosto (Artigo 2º). A capacidade máxima dos estabelecimentos de Alojamento Local é de nove quartos e de trinta utentes. Esta nova categoria jurídica autónoma justifica-se pela evolução e pelas novas dinâmicas do mercado da procura e da oferta turística, que deixou de ser residual e passou a ser um fenómeno consistente e global. Destacam-se, assim, (artigo 3º) a moradia (unidade de alojamento constituída por um edifício autónomo, de caráter unifamiliar); o apartamento (unidade de alojamento constituída por uma fração autónoma de edifício ou parte de prédio urbano suscetível de utilização independente, onde cada proprietário só pode explorar por edifício, nove no máximo (Artigo 11º); e o estabelecimento de hospedagem (unidades de alojamento constituídas por quartos e podem ter a denominação de ‘hostel’, quando a unidade de alojamento é constituído por um número mínimo de quatro camas, podendo ser inferior se as mesmas forem em beliche).

Nas últimas duas décadas, verificaram-se várias alterações legislativas ao nível da classificação e das tipologias das UH, como forma de resposta às novas exigências e necessidades dos turistas, mas também por alguma inquietação política de alguns governos. Esta instabilidade temporal da legislação pode provocar alguns constrangimentos aos investidores e uma certa confusão a uma grande parte dos turistas. Para além da classificação jurídica, vários autores (Clarke & Chen, 2008; Marques, 2003; Mullins, 2008; Popp et al., 2007; Quintas, 2006; Walker, 2002) apresentam outras formas de distinguir e classificar as UH, que dependem sempre dos critérios que se utilizam. Por exemplo, Quintas (2006) refere que podemos encontrar as tipologias que se encontram na Tabela 9

Tabela 9 - Tipologias de UH

Hotéis super económicos Hotel centro de talassoterapia

Hotéis budget Hotéis de termas

Hotéis economy (ou de serviço limitado) Hotéis de aeroporto

Hotéis de preço médio Hotéis casino

Estabelecimentos de bed and breakfast (B&B) Estabelecimentos hoteleiros de turismo religioso

Hotéis do tipo extended stay Motéis (estrada; autoestrada; resort; suburbanos e de cidade)

Residências hoteleiras para estudantes Motéis “Sleep & Go”

All suites hotéis Hotéis cápsula

Hotéis comerciais ou de negócios Alojamento eriloge

Hotéis de classe mundial Alojamento anthénéa

Hotéis de congressos Aldeamentos turísticos

Hotéis boutique Apartamentos turísticos

Hotéis de assinatura ou lifestyle hotels Turismo no espaço rural

Hotéis de saúde e desporto (sporthotel) Parques de campismo

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Nos Estados Unidos da América (EUA), Walker (2002) refere que as UH podem ser classificadas de acordo com a localização (centro da Cidade; resorts; hotel casino; etc.), o preço e os serviços disponibilizados (completo; económicos e super económicos; Bed & Brekfast; etc.). Refere, ainda, que este tipo de classificações proporciona uma referência objetiva aos hóspedes, ajudando-os na escolha do tipo de UH. Com critérios mais abrangentes, Mullins (2009) dá o exemplo de Medlik, que adota os critérios do local (cidade; praia; montanha; campo); acessibilidade fácil através de um meio de transporte (aeroporto; estações ferroviárias; portos de mar e cruzeiros); propósito da estada (negócios, conferências, férias); duração da estada (hotéis de trânsito ou residenciais); variedade de instalações e serviços; UH licenciadas e não licenciadas; dimensão/tamanho (pequeno, médio e grande); classificação (hotéis de 1 a 5 estrelas); e a propriedade e a administração da UH (unidade independente ou de cadeia/GH).

Marques (2003) utiliza alguns critérios semelhantes e outros diferentes, tais como a dimensão (pequeno até 150 camas; médio entre 151 e 300 camas; e grande mais de 301 camas); nível de serviço (luxo; primeira classe; médios e familiares); localização (montanha; praia; cidade; de estação e de Aeroporto); o tipo de hóspede (nacionais; internacionais; executivos; estudantes, artistas ou técnicos; de grupos; idosos; turistas; e familiares); período de funcionamento (aberto o ano todo ou parte dele). No entanto, Clarke e Chen (2008) referem que, nos últimos anos, apareceram UH que procuram adaptar-se às novas tendências da procura dos turistas, tais como hotel de negócios, económico, de aeroporto, boutique hotel, com centros de conferências e de convenções, hotel condomínio e de casino. Associam a cada uma destas categorias um nível do modelo da hierarquia das necessidades de Maslow, conforme se pode ver na Tabela 10.

Tabela 10 - Categorias de UH em função do modelo de Maslow

Modelo de Maslow Categoria de UH

Nível 1 – alojamento e alimentação Hotéis de estradas e económicos

Nível 2 - segurança Hotel de aeroporto

Nível 3 – necessidade social Hotéis com centros de conferências e convenções;

Hotéis de negócios; Resorts temáticos; Resorts-casino

Nível 4 – status e autoestima Hotéis de resorts

Nível 5 – autorrealização Boutique hotel

Fonte: Adaptado de Clarke e Chen (2008)

Num ambiente globalizado e competitivo, segundo Quintas (2006), as empresas hoteleiras, especialmente as cadeias hoteleiras têm necessidade de segmentar os seus hóspedes em função da tipologia de cada UH, procurando ajustar a sua oferta à realidade do mercado. Apesar do preço ser um elemento influente na seleção da maioria dos hóspedes, apresenta critérios de segmentação das UH por tipo de produto (Hotéis;

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Resorts; Motéis; Bed and Breakfast); pelo preço (luxo; nível superior); Económicos; por localização (hotéis urbanos; hotéis suburbanos; resorts; hotéis de Aeroporto; hotéis de Estrada ou autoestrada); por tipo de management ou entidade exploradora (independentes; de cadeia hoteleira; franchisados); por natureza temática (design hotels; ligados à natureza, à história, ao património e a atividades desportivas).

No fundo, em função da cultura turística e legislativa de cada país, há uma forma diferente de classificar as UH. As empresas hoteleiras, para posicionar a sua oferta no mercado, segmentam as suas UH em função das suas caraterísticas, especificidades e serviços disponíveis para corresponder às necessidades e desejos dos hóspedes. De seguida vamos abordar a hotelaria como uma indústria de serviços.