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CAPÍTULO IV CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA DO PAÍS E ÁREA DE ESTUDO

IV. 2 – Clima

O clima de Moçambique é de tipo tropical, influenciado no extremo Sul pela transição de clima moderado na área que se localiza fora dos trópicos. Esta influência é atenuada por temperaturas extremas na costa de Moçambique.

De acordo com Muchangos (1999) existem no país três zonas climáticas:

a) Zona Norte com clima tropical de monções, influenciado por monções do Oceano Índico;

b) Zona Central - Entre-os-Rios Ligonha e Pungué com uma forte influência do sobreposto regime do Norte e do Sul;

c) Zona Sul – Sul do rio Pungué influenciado pelo regime de anticiclones e depressões de média latitude.

As temperaturas apresentam variações regionais, em função da acção dos factores latitude, continentalidade e relevo. Em geral, os valores da temperatura tendem a aumentar para as menores latitudes. Porém, por interferência do relevo, verificam-se baixas temperaturas, nas regiões mais altas a Noroeste do país, entre as províncias do Niassa, Zambézia, Tete, Manica e Maputo.

A temperatura média no verão é de 300 C, as temperaturas médias no Inverno atingem 180 C. O período mais quente do ano ocorre entre Dezembro e Janeiro, e o período mais frio entre Junho e Agosto. Durante o mês de Janeiro, a Zona de Influência Intertropical (ITCZ) está localizada perto dos 15° S, e a zona Equatorial da costa da África Oriental sofre influência de ventos do Nordeste. No entanto, durante o mês de Julho, a ITCZ desloca-se para Norte, ficando situada na latitude 15° N, para que grande parte da África Oriental fique sob a influência de ventos Sul e Sudeste (INGCC, 2009).

Assim, de acordo com a fonte anteriormente citada, o clima deste território está sujeito a duas épocas distintas: húmida (Novembro a Abril) e seca (Março a Outubro). Os meses mais húmidos (com 140 a 170 mm de precipitação), são os de

Dezembro a Fevereiro, sendo os meses de Julho a Outubro os meses mais secos (com precipitação inferior a 40 mm).

De um modo geral, as temperaturas médias anuais distribuem-se do seguinte modo: de 18 a 200 C, nas regiões montanhosas; de 22 a 240 C, nas regiões centrais e planálticas do Norte e do Cento, bem como nas zonas leste e oeste, das províncias do Sul; de 24 a 260 C, todo o Leste das regiões Norte e Centro e o interior das regiões ao Sul do país.

Os ciclones são comuns à linha de costa de Moçambique, de Outubro a Abril. Os ventos fortes, tempestades, chuvas torrenciais, causam danos em infra-estruturas, perturbam os sistemas de saneamento de água, de fornecimento de energia eléctrica e degradam o ambiente costeiro.

Segundo o INGCC (2009), os registos disponíveis revelam que as principais zonas de incidência de ciclones situam-se na costa do território nacional, havendo no entanto alguns que atingiram fortemente certas zonas do interior. Das mais de 32 ocorrências de depressões tropicais e ciclones registadas no País desde 1946, abrangendo todas as províncias, assinalou-se maior incidência nos seguintes distritos:

 Província de Cabo Delgado: Pemba-Metuge, Mecufi, Mocímboa da Praia, Palma, Ibo, Quissanga e Mueda;

 Província de Niassa: Cuamba, Mandimba e Maúa;

 Província de Nampula: Mossuril, Angoche, Memba, Moma, Ilha de Moçambique, Namapa, Mogincual, Mogovolas, Muecate e Nacala;

 Província de Zambézia: Chinde, Mopeia, Pebane, Quelimane, Maganja da Costa, Namacurra e Inhassunge;

 Província de Tete: Mutarara.

 Província de Manica: Machaze e Gondola;

 Província de Inhambane: Inhambane, Vilanculos, Inhassoro, Govuro; Maxixe, Morrumbene, Jangamo, Inharrime, Zavala e Massinga;

 Província de Gaza: Xai-Xai, Bilene, Chókwè, Chibuto e Manjacaze;

Província de Maputo: Magude, Manhiça, Boane e Marracuene.

Conforme os registos aqui apresentados, excepto o Distrito de Maúa, em Niassa, os distritos seleccionados para a presente pesquisa não têm sido frequentemente assolados por ciclones, diferentemente do que acontece nos distritos das demais Províncias do País.

O facto de Moçambique coincidir com os sectores de foz de numerosos rios transnacionais e a ocorrência de inundações nos seus deltas tem sido uma ameaça constante tanto para os agricultores como para as infra-estruturas, especialmente quando combinada com surtos da tempestade ciclónica. O país tem uma longa história de inundações catastróficas, que ocorrem quase que anualmente, durante a estação chuvosa, e são em grande parte influenciadas pelo La Niña e Zona de Convergência Intertropical.

A figura 11 apresenta as áreas mais susceptíveis aos ciclones no país. É durante o período chuvoso, em geral de Outubro a Março, que se regista maior risco de ocorrência de ciclones, embora estes possam ocorrer fora desta época.As áreas Entre- os-Rios Save e Limpopo estão frequentemente sob a acção de uma crista de altas pressões, associada ao anticiclone do Índico, dando origem a um regime de ventos divergentes e a céu pouco nublado no interior com pequena quantidade de precipitação.

Figura 11 - Zonas de risco de ciclones (INGC, 2003).

A ocorrência de cheias cujas marcas ainda se fazem sentir em Moçambique foi registada em três momentos, desde o início do século XXI: as primeiras em 2000/2001, as segundas em 2007/2008, e as mais recentes em 2013. A economia do país é significativamente prejudicada por eventos hidrológicos e climáticos recorrentes estimando-se que os prejuízos resultantes destes eventos atinjam em média 1,1 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) por ano. Mais agravante ainda é que as catástrofes naturais, como as cheias e os fenómenos climáticos extremos, os ciclones,

têm um impacto de longa duração que afecta desproporcionalmente os mais pobres (World Bank, 2014).

Além do que foi acima supracitado, Moçambique experimenta altos níveis de secas. As secas são frequentes nas regiões Centro e Sul, contribuindo para a perda de colheitas, redução da produtividade primária na zona costeira, redução de áreas de pastagem, aumento da importação de alimentos, perdas de vidas humanas e animais, surtos de doenças e perda de biodiversidade. A ocorrência de secas regista-se a cada três a quatro anos, e representa um dos entraves ao desenvolvimento já que a maioria da população do País, especialmente os pobres, residem em áreas rurais e dependem da agricultura de sequeiro.

Actualmente Moçambique está a investir na prevenção dos riscos naturais e na melhoria dos seus sistemas de alerta precoce. Aliado a isto, algumas medidas de adaptação estão a ser implementadas nos sectores da água, da agricultura, pescas, energia, ambiente, com particular atenção para as zonas costeiras e no controlo de erosão.

Entretanto, apesar de actualmente se manifestem irregularidades no comportamento dos elementos do clima, as previsões publicadas pelo Instituto Nacional de Gestão de Calamidades em Moçambique, indicam a possibilidade de alterações na precipitação na maior parte do território, por volta dos anos 2046-2065, nos períodos compreendidos entre os meses de Dezembro, Janeiro, Fevereiro e Março, Abril, Maio. A mesma fonte refere que a média anual de todo o país mostra uma ligeira subida da pluviosidade (10-25%) quando comparada com a média anual dos últimos 40 anos (INGCC, 2009).

Os dados sobre as pevisões apresentadas implicam um desafio na adopção de estratégias de adaptação e mitigação com um horizonte de médio e de longo prazo, com vista a minimizar os efeitos destas mudanças climáticas, que poderão afectar negativamente a vida de muitos habitantes no futuro.