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CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

I. 3 Definição da Problemática da Tese

As questões acima apresentadas são investigadas recorrendo a estudos de caso em quatro distritos das Províncias de Cabo Delgado e Niassa, nomeadamente Montepuez, Maúa,Marrupa e Majune, que foram seleccionados intencionalmente por fazerem parte de áreas que, ao nível nacional, apesar de ainda apresentarem uma taxa

anual de desflorestamento mais baixa e área florestal relativamente maior (Marzoli, 2007), ainda não têm estudos que revelem os factores determinantes desta realidade.

Esta tese apresenta-se num contexto simultaneamente prático e teórico. Por um lado, como será destacado nos capítulos subsequentes, Moçambique deu um passo fundamental no sentido de criar um quadro legal de suporte à participação das comunidades locais na gestão das florestas. Por outro, estes avanços baseiam-se numa série de suposições teóricas que necessitam de uma análise no contexto das localidades e comunidades locais em Moçambique, tais como: o contexto local da implementação das políticas e instrumentos legais promovendo a participação das comunidades na gestão das florestas; o papel exercido pelas instituições e estruturas de poder locais; os impactes sócio ambientais resultantes da utilização das florestas; os padrões de uso da terra e recursos naturais, entre outros.

Com uma percentagem que ronda 65 por cento da população a viver nas zonas rurais, a economia do País continuará em grande parte a basear-se na exploração dos recursos naturais. Mesmo com as rápidas taxas de urbanização, a subsistência e o bem-estar de inúmeros moçambicanos continuará a depender do seu acesso à terra, recursos de água, produtos florestais, pescas, minas e outros recursos naturais. Tudo isto implica o desafio de uma gestão inclusiva e sustentável de recursos naturais (World Bank, 2005).

A gestão participativa dos recursos naturais, dos quais fazem parte as florestas, é hoje uma via recorrente para o auto-sustento, combate à pobreza, uso racional e conservação dos recursos naturais e ainda da biodiversidade em geral (CNUMAD 1992, IPCC 2007, Macucule 2006). Tais factos devem-se ao reconhecimento crescente de que os diferentes intervenientes incluindo o Estado, o sector privado e as comunidades locais, desempenham melhor o seu papel quando vêm os seus esforços conjugados, comparando aos resultados obtidos por cada um destes actores separadamente (Teixeira, 2009).

A pertinência da participação na gestão de recursos naturais foi destacada na Agenda 21, ao preconizar a integração entre o ambiente e o desenvolvimento nos planos políticos, de planeamento e de gestão, recomendando sobretudo, a promoção da participação do público em todas as esferas da vida, de forma a garantir um desenvolvimento sustentável. Neste contexto, urge promover-se a capacitação dos pobres para a obtenção de meios de subsistência sustentáveis. Considera-se, igualmente, que uma política de gestão florestal voltada para a conservação e a protecção dos recursos deve considerar devidamente aqueles que dependem desses mesmos recursos para a sua sobrevivência, ademais de gerir os recursos de forma sustentável (Agenda 21, 1992).

A presente tese, pode ser uma contribuição para a compreensão de alguns problemas da gestão florestal no País em geral e em particular o papel que as comunidades desempenham neste processo. Adicionalmente, esta pesquisa, ao analisar a participação das comunidades locais na gestão dos recursos florestais em Moçambique, pretende considerar esta abordagem como um dos factores que poderá impulsionar o desenvolvimento do meio rural sem que isso implique o recurso a grandes investimentos do Estado e, ao mesmo tempo, assume-se que a participação comunitária poderá garantir o uso sustentável dos recursos florestais (Teixeira, 2009).

É de fundamental interesse reconhecer que as comunidades locais que representam uma parcela significativa da população mundial, têm uma relação histórica com as suas terras e, em geral, descendem dos habitantes originais dessas mesmas terras. Durante muitas gerações, elas desenvolveram um conhecimento tradicional dos seus territórios, dos seus recursos naturais e do seu ambiente (Barbieri, 2005). Os factores anteriormente mencionados são mais uma das razões pelas quais as comunidades locais devem ser actores centrais em processos de conservação e gestão sustentável de recursos florestais.

A necessidade de estudar a participação das comunidades locais na gestão das florestas, surge na medida em que as constatações documentadas por vários estudos

sustentam que a exploração dos recursos florestais no País tem sido realizada de uma forma que ameaça a sua conservação e perpetuação a médio e longo prazo. Isto, apesar das medidas preconizadas para o seu uso e conservação (Nhantumbo 2004; Ribeiro 2008; Tankar et. al. 2011). Esta preocupação constitui um dos Problemas Globais da Humanidade, nomeadamente o desenvolvimento sustentável das florestas tropicais.

Existe a convicção de que é necessário identificar os obstáculos ao nível local e criar condições para removê-los, de forma a que as comunidades locais se possam tornar agentes, na exploração sustentável e conservação das florestas e dos serviços ecossistémicos que estas proporcionam (Tankar et. al., 2011).

Em Moçambique, a terra é propriedade do Estado, não pode ser vendida, alienada nem tão pouco penhorada (Lei nº1, 2004). Todavia, a legislação (Lei nº 19/97, de 1 de Outubro - Lei de Terras e a Lei nº 10/99 de 7 de Julho, Lei de Florestas e Fauna Bravia) reconhece os direitos costumeiros das comunidades locais sobre a terra e os recursos naturais.

Através deste estudo de caso, a tese, poderá contribuir por um lado para a compreensão das formas de interacção ser humano-recursos florestais na área de estudo, por outro, proporcionar informação que poderá ser útil não só para os debates académicos, ONG’s e potenciais actores de desenvolvimento, mas também para as autoridades locais e nacionais, na concepção de instrumentos de apoio à decisão, respeitando as diferentes realidades representativas ao nível do País.