• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II A PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NA GESTÃO DE FLORESTAS:

II. 5 Experiências de Gestão Comunitária das Florestas na África

Nas últimas décadas têm sido testadas, em África, inúmeras iniciativas de gestão comunitária das florestas. Tais iniciativas, segundo Mandondo e Kowero (2004) incluem florestas comunitárias, estabelecidas entre as décadas de 60 e 70 do século XX, das quais se destaca três variantes comuns na literatura actual, designadamente:

f) A variante gestão comunitária dos recursos naturais, que incorpora recursos para além das florestas, sendo a fauna bravia o recurso mais comum na África Austral;

g) A variante de co-gestão de florestas, também conhecida como gestão florestal colaborativa ou gestão colaborativa dos recursos naturais, comum na Índia e em alguns países em desenvolvimento. A gestão colaborativa envolve a gestão comunitária em parceria com o governo local e central; h) A gestão das florestas baseada na comunidade, que é a gestão florestal

exclusivamente baseada nas comunidades locais, muitas vezes com limitada extensão de assistência do governo.

Entre as razões pelas quais os governos da África Austral (incluindo Moçambique) se têm deparado com uma crescente procura do envolvimento público na tomada de decisões para a utilização de recursos naturais, particularmente ao nível local, Matakala (2004), faz menção a três questões em volta do debate, a saber:

(i) A distribuição da autoridade e responsabilidades na tomada de decisões; (ii) A distribuição dos custos e benefícios e;

(iii) Questões relacionadas com a sustentabilidade ao nível local (ecológica, social e económica).

Concordando com Matakala, sublinha-se que as questões referidas anteriormente, relacionam-se com o fluxo da distribuição existente, tanto da autoridade, como de benefícios, que não tem sido equitativo nem tampouco

sustentável. A este respeito, Katerere (2002) considera a existência de experiências na região austral de África que mostram a falta de cometimento dos Estados na entrega do poder aos actores locais. Tal, apesar de inúmeras políticas advogando a devolução. No lugar desta, a tendência corrente é a centralização, isto é, os Estados mantêm um grau de controlo.

Todavia, nesta mesma região do continente africano, há exemplos de iniciativas de gestão florestal comunitária com resultados relevantes em países como Namíbia, Botswana e Zâmbia, cujas experiências são baseadas na gestão da fauna selvagem e turismo, exercida como uma estratégia de desenvolvimento rural com base na devolução de algum nível de controlo sobre os recursos para as comunidades locais. As iniciativas referidas anteriormente baseiam-se numa gestão tradicional em que as comunidades são reconhecidas como proprietárias dos recursos, especialmente da terra (como em Botswana); outros têm direitos claros de uso da fauna selvagem e outros recursos, mas não de posse sobre a terra. Como por exemplo, o modelo de conservação da Namíbia (Nhantumbo et.al., 2003).

No que diz respeito aos benefícios, a sua distribuição tem estado em causa, pois nalguns casos deixa-se a autoridade para as comunidades locais (Namíbia e Botswana), enquanto, em outros ainda existe um forte controlo do governo por meio de representantes a nível local - distritos, no caso de Comunal Areas Management

Programme for Indigenous Resource - CAMFIRE, na Zâmbia. Outros casos são baseados

numa liderança tradicional forte, em que, de facto, controla o processo, como é o caso de Administration and Management Design-ADMADE na Zâmbia (Chidiamassamba 2001, Nhantumbo et.al. 2003).

Existem também diferentes modelos e bases para a implementação de gestão comunitária na África do Sul pós-apartheid, que mostram um passo significativo no envolvimento dos parceiros e das comunidades locais na governação dos recursos naturais. Por exemplo, a proclamação do Richtersveld National Park nos anos noventa

e, actualmente, parte de Richtersveld/Ais-Ais Transfrontier Park, envolveu negociações com as comunidades locais.

A comunidade de Nama entrou em negociações com as autoridades dos parques Sul Africanos (SANParks), culminando numa parceria através de um acordo contratual que reconhece a comunidade como proprietária da terra. Ela mantém os direitos sobre os pastos, beneficia-se das taxas do pagamento das entradas e foi formado um comité de co-gestão, onde a presidência é alternada, anualmente, entre a SANParks e a comunidade (Jones & Murphree 2004, Child 2004, Reid & Turner 2004, Magome & Murombedzi 2003, Myburgh 2003, Mahomed 2002, Turner et al. 2002, Turner & Meer 2001).

Ainda na África do Sul, as comunidades de Makuleke no Kruger National Park (Child 2004, Reid & Turner 2004) e a de Khomani San em Kgalagadi Transfrontier Park, celebraram contratos com a SANParks depois de terem reclamado as suas terras com sucesso.

Fora os exemplos já apresentados, há ainda inúmeras experiências noutros países como Quénia, Uganda, Tanzânia e Zimbabwe, cujo envolvimento das comunidades locais na gestão florestal tem resultado não só em benefícios consideráveis para as próprias comunidades, mas também para a conservação dos ecossistemas florestais e na defesa e Conservação do ambiente. A tabela 1 apresenta, em resumo, algumas das iniciativas em África.

Tabela 1. - Experiências de gestão comunitária das florestas na África Oriental e Austral

Nome da floresta Tipo de

floresta Benefícios para as comunidades locais

Floresta de Jiri

(Zimbabwe) Miombo seco

 Receita e alimentos;

 Apoio à modernização da comercialização e troca de experiências;

 Capacidade de gestão e organizacional

Reserva florestal de Mpanga (Uganda)

Floresta sempre verde

 Habilidades e rendimentos do ecoturismo, artesanato, catering para turistas;

 Alimentos e plantas medicinais do projecto de reflorestamento;

 Reconhecimento do papel no governo central

Reserva florestal da aldeia de Duru Haitemba (Tanzânia)

Miombo seco

 Várias habilidades de organização das comunidades, instituição de estruturas comunitárias, bem como implementação de actividades de CBFM;

 Rendimentos da pastagem para a pecuária, venda de produtos florestais, taxas e visitantes para as florestas;

 Restauração dos fluxos de água como consequência do recobramento da vegetação;

 Oferta sustentável de estacas para construção e lenha;

 Reconhecimento do seu papel pelo governo central

Floresta de Arabuko Sokoke (Quénia)

Florestas costeiras indígenas

 Rendimento das vendas de pupas de borboletas e do ecoturismo

 Habilidades na criação de borboletas e gestão de ecoturismo;

 Reconhecimento do seu papel pelo governo central;

 Visão do seu futuro através do plano de gestão

Floresta de mangal

de Tanga (Tanzânia) Mangais

 Reconhecimento do seu papel pelo governo central;

 Aumento da segurança de fornecimento de materiais de construção para casas e barcos, combustível lenhoso e rendimentos da venda destes produtos e da piscicultura;

 Visão do seu futuro através do plano de gestão Reserva florestal de

Masindi e Mukondo (Uganda)

Floresta húmida

 Fortalecimento do acesso a uma veriedade de produtos florestais;

 Aspecto negativo: canalização das rendas para o distrito e não para as comunidades

II.6 - O caso de Moçambique: a Adopção da Descentralização e