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3. MATERIAIS E METODOLOGIA

3.1 Material e Período de Estudo Utilizado

3.1.2 Climatologia do Centro-oeste

O clima de uma determinada região pode ser entendido como as condições atmosféricas médias que atuam sobre a região. Uma das ferramentas mais utilizadas para analisar e definir os climas de diferentes regiões basea-se nos sistemas de classificação climática (SCC) (ROLIM et al., 2007). Um dos SCC mais difundidos é o de Köppen (ROLIM et al., 2007). Segundo Rolim et al. (2007), diversos autores sugeriram modificações no tal SCC, como, por exemplo, Trewartha (1954), Setzer (1966), Stern et al., 2005. Logo, de acordo com este SCC e de forma geral, a região Centro-oeste do Brasil está compreendidade em duas zonas climáticas: uma de clima equatorial quente e úmido (bastante chuvoso), predominante no norte do Mato Grosso – divisa com Rondônia e Pará; e a outra, que caracteriza grande parte da região, é a de clima tropical típico. Neste tipo de clima, duas estações são bem denifidas: uma chuvosa (no verão – outubro a março) e a outra seca (no inverno – junho a setembro).

Outro SCC bastante difundido é o de Thornthwaite (THORNWAITE, 1948), mas, neste caso, o método utilizado é considerado como um refinamento de Köppen para as aplicações agrícolas(TREWARTHA, 1954). No caso específico dos estados de Goiás e do Distrito Federal, a aplicação deste SCC aponta que o clima é predominantemente úmido; megatérmico ou mesotérmico, com pequena ou nenhuma deficiência hídrica, e a concentração de evapotranspiração potencial no trimestre mais quente é inferior a 40% do total médio anual.

Segundo Nimer (1979), devido a sua posição latitudinal, a região Centro-oeste caracteriza-se por ser uma região de transição entre os climas quentes de latitudes baixas e os climas mesotérmicos do tipo temperado das latitudes médias. Segundo Padilha (2005), a região apresenta o regime de chuvas semelhante à região tropical da América do Sul (AS), com um período chuvoso, que ocorre durante o verão, e um período seco, durante o inverno. Por outro lado, a distribuição de temperatura do ar ao longo do ano é semelhante às latitudes médias, apresentando invernos com temperatura mais amena e verões com temperatura mais elevada.

Em termos gerias, a região é caracterizada pela atuação de sistemas meteorológicos que associam características tropicais e de latitudes médias. O sul da região sofre a influência da maioria dos sistemas meteorológicos de escala sinótica que atuam sobre a região sul do país – observando, evidentemente, as diferenças de intensidade e sazonalidade dos sistemas. De acordo com Rao et al. (1990), na região central do Brasil, mais de 50% da precipitação total anual ocorre entre os meses de

dezembro a fevereiro, enquanto que, menos de 5% desta ocorre entre os meses de junho a agosto. Ainda segundo estes autores, os períodos de transição (término do período chuvoso – março a maio-, e término do período seco – setembro a novembro) são responsáveis, cada um, por aproximadamente de 25% da precipitação anual.

Quanto à circulação atmosférica em altos níveis, durante o verão o escoamento do ar tende a ser mais meridional e fraco, especialmente próximo à costa leste da AS e no inverno o escoamento do ar tende a ser mais zonal (GAN et al., 2004).

Dentre os sistemas meteorológicos que influenciam o regime de chuvas na região Centro-oeste durante os meses de verão destacam-se: a Alta da Bolívia (AB), gerada basicamente pelo forte aquecimento convectivo (liberação de calor latente) da atmosfera, é considerado um sistema típico semi-estacionário da região (VIRGI, 1981); A Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) - extensa banda de nebulosidade que se mantém semi-estacionácio sobre a região - é considerada um dos principais fenômenos que influenciam o regime de chuva na região (QUADRO e ABREU, 1994), responsável inclusive pela ocorrência de elevados volumes de chuva contribuindo assim, para a elevação do nível dos rios e consequentemente inundações e até mesmo deslizamento de encosta.

Além dos fenômenos supracitados, Cavalcanti et al. (1982), apontam que a associação entre os fatores dinâmicos de grande escala e as características de meso- escala são os responsáveis por intensas precipitação na região. Um exemplo dos fatores dinâmicos é a formação dos Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) - oriundos do Oceano Pacífico-, organizam-se com intensa convecção associada à instabilidade causada pelo Jato Subtropical (JS). Já as características de meso-escala podem ser identificadas na formação e das Linhas de Instabilidade (LI) pré-frontais. Vale ressaltar também que, durante o verão, a associação entre temperaturas elevadas (devido ao maior aquecimento radiativo) e a grande concentração de umidade favorecem a forte convecção sobre a região, que por sua vez, dá origem as áreas de instabilidade (AI).

Por outro lado, nos meses de inverno, após a passagem das frentes frias - pela região sul do país-, os anticiclones oriundos de latitudes mais a sul podem causar diminuição significativa de temperatura do ar, o que na região é conhecido com “Friagem” e, em algumas localidades no Mato Grosso do Sul é observada também a formação de geada (GARREAUD, 2000; PEZZA, 2003).

Ainda durante o inverno, a região Centro-oeste costuma ficar sob a influência da massa de ar tropical marítima, devido à penetração da Alta Subtropical do Oceano

Atlântico Sul (ASAS) sobre o continente sulamericano (NIMER, 1979; BASTOS e FERREIRA, 2000). Esta massa de ar, ao permanecer sobre o continente durante alguns dias, torna-se seca e transforma-se em uma massa de ar tropical continental.

Outra característica marcante do clima na região Centro-oeste é o registro de baixos índices de umidade relativa do ar, especialmente no inverno e na primavera, em decorrência da estagnação de massas de ar quente e seco (EMAQS) (PADILHA, 2005). Segundo a autora, as EMAQS são os sistemas atmosféricos de bloqueio e fazem parte da variabilidade intrasazonal atmosférica do continente sul-americano e do Hemisfério Sul. Ainda com relação a estes sistemas, a duração de um bloqueio é de no mínimo seis dias e são mais frequentes na faixa latitudinal de 30°S a 50°S (VAN LOON, 1956). A autora ainda sugere que, a variação de intensidade, duração e frequência dos eventos de EMAQS pode estar relacionada a situações de grande escala que ocorrem em outras regiões do mundo, como, por exemplo, o El Niño Oscilação Sul (ENOS) (KOUSKY e ROPELEWSKY, 1989; RAO e HADA, 1990). Entretanto, ressalta ainda que, não há estudos que relacionem a EMAQS às fases do ENOS.

Um fenômeno similar a EMAQS é o conhecido como “Veranico”. Nos trópicos, este termo é usado para períodos secos no meio de uma estação chuvosa. Já na Região Sul do Brasil, o termo “Veranico” é definido como um período de alguns dias em que há predomínio de baixa umidade do ar e elevação da temperatura do ar durante o inverno austral (JACÓBSEN, 1999).

Alguns dos fatores geográficos como, por exemplo, relevo, vegetação e latitude, conferem à região Centro-oeste uma variabilidade climática relativamente complexa, principalmente no que tange as temperaturas. No inverno, devido às incursões de massas de ar frio (de origem polar), são registradas as menores temperaturas. Principalmente no Mato Grosso do Sul, eventualmente, são registradas temperaturas negativas e pode inclusive haver a formação de geada. Ressaltando que nesta região do país, a queda busca nas temperaturas do ar é conhecida como “Friagem”. De acordo com as Normais Climatológicas do Brasil 1991-1990 (INMET, 2009), as temperaturas médias compensadas na região variam entre 20,6°C (Brasília-DF) e 25,2°C (Cáceres, sudeste do Mato Grosso). Enquanto que, a média das temperaturas máximas varia entre 26,6°C (Brasília-DF) e 32,9ºC (Cáceres, sudeste do Mato Grosso). Já a média das temperaturas mínimas esta compreendida entre 16,1°C (Brasília-DF) e 21,4°C (Cuiabá, sul do Mato Grosso). Notar que, as temperaturas mais elevadas são registradas nos meses de primavera e verão. Na primavera, as temperaturas mais elevadas, geralmente,

estão associadas às EMAQS (Padilha, 2005). Também em decorrência da atuação deste fenômeno, a umidade relativa do ar costuma, normalmente, atingir valores muito baixos, podendo atingir até valores em torno dos 10%. Sendo que, de acordo com a média climatológica (INMET, 2009), os menores valores médios de umidade relativa do ar registrados às 18 UTC da região ocorrem no mês de agosto e variam entre 75% (no sul do Mato Grosso do Sul) e menor do que 40% (no norte do Mato Grosso).

Em relação à precipitação, a região tem duas estações bem definidas, uma seca (junho a setembro) e outra chuvosa (outubro a março). Em temos médios, o total anual de precipitação na região é bastante elevado e varia entre 921 mm/ano (Corumbá, noroeste do Mato Grosso do Sul) e 2091,6 mm/ano (Gleba Celeste, norte do Mato Grosso) (INMET, 2009).