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Impactos das Mudanças Climáticas nos Ecossistemas Brasileiros

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.4 Impactos das Mudanças Climáticas nos Ecossistemas Brasileiros

Segundo Dajor (1973), ecossistema é a unidade funcional de base em ecologia, porque inclui, ao mesmo tempo, os seres vivos e o meio onde vivem, com todas as interações recíprocas entre o meio e os organismos. Para Hurtubia (1980):

Ecossistema é definido como um sistema aberto integrado por todos os seres vivos e os elementos não viventes de um setor ambiental definido no tempo e no espaço, cujas propriedades globais de funcionamento (fluxo de energia e reciclagem de matéria) e autoregulação (controle) derivam das relações entre todos os seus componentes, tanto pertencentes aos ecossistemas naturais, quanto aos criados ou modificados pelo homem.

As distribuições e as estruturas básicas dos ecossistemas remotam de milhões de anos, aonde as variáveis abióticas9 se associam a variáveis bióticas10 para produzir o padrão natural de distribuição da biodiversidade (SALATI et al., 2002). A composição da biosfera resulta de um longo processo co-evoluído entre a parte viva do planeta e seu suporte físico, sendo que o clima aparece como a principal variável na distribuição da vegetação (SIGMAN e BOYLE, 2000).

Desta forma, o clima exerce um papel fundamental para a manutenção e o equilíbrio dos ecossistemas. Ao longo da história evolutiva do planeta, várias mudanças climáticas ocorreram (BERGER e LOUTRE, 2002). Sabe-se que as mudanças climáticas naturais ou antropogênicas estão relacionadas tanto ao ciclo do carbono quanto aos níveis de GEE’s. Diversos estudos demonstram a relação entre as mudanças climáticas globais e seus efeitos sobre a distribuição dos ecossistemas (SALETI et al., 2002). De acordo com Malcom et al.(2000), estas mudanças poderão induzir profundas alterações na atual composição da biodiversidade.

De acordo como o IPCC (2007), o aquecimento atual do sistema climático é inequívoco, e isto pode ser evidenciado a partir das observações do aumento na temperatura média global tanto do ar quanto dos oceanos, mudanças generalizadas na quantidade de precipitação, do derretimento da neve e do gelo e na elevação do nível médio global do mar. As previsões do IPCC (2007) – baseadas em diversos cenários climáticos- sinalizam que poderá haver diminuição da diversidade de espécies de plantas e animais, com mudanças nas composições dos ecossistemas e na distribuição

9 Todas as influências que os seres vivos possam receber em um ecossistema, derivados de aspectos físicos, químicos ou físico-químicos do meio ambiente, tais como a luz, a temperatura, vento, etc. Disponível em <www.sobiologia.com.br> Acessado em 28 de março de 2012.

10 Todos os elementos causadores pelos organismos em um ecossistema que condicionam as

dos biomas. De acordo comCanhos et al. (2002), estes cenários partem do pressuposto que novos valores climáticos poderem ser incompatíveis com a biodiversidade atual. No entanto, Marengo et al. (2007) ressalta que as incertezas associadas às projeções dos modelos climáticos ainda são grandes. Considerando tais incertezas, os autores apontam a necessidade de validação das simulações de extremos usando observações do clima do presente, assim como, de calcular os mesmos índices usados em projeções regionalizadas de cenários climáticos futuros.

Quantos os cenários projetados para 2100 peloIPCC (2007), a maioria destes indicam que as áreas costeiras de mangue, estarão muito vulneráveis ao aumento do nível do mar e da temperatura. Para as regiões Sudeste do Brasil, Paraguai, Uruguai, Pampas Argentinos e algumas áreas da Bolívia prevê-se um aumento na precipitação, com o impacto direto no uso da terra, na atividade agropecuária e possibilidade de ocorrência de inundações.

Para avaliar quantitativamente as prováveis alterações e redistribuição dos biomas na América do Sul para o século XXI, em resposta aos cenários de mudanças climáticas, Salazar et al. (2007) utilizaram o modelo de vegetação potencial CPTEC- PVM (Oyama e Nobre, 2004 para calcular biomas de equilíbrio com as saídas de quinze modelos climáticos globais preparados pelo IPCC (2007). Neste estudo os autores utilizaram os cenários climáticos A2 e B1 que representam cenários de alta e baixa emissão de CO2, respectivamente. Dentre os vários resultados obtidos nestas simulações, observou-se que mais de 75% dos modelos coincidem na condição futura, onde um determinado bioma permanece, desaparece, aparece ou não existe consenso entre os modelos e suas condições futuras, para os dois cenários analisados em três períodos de tempo (2020-2029; 2050-2059 e 2090-2099) durante o século XXI. Na América do Sul tropical, existe consenso entre os modelos quanto à redução da floresta tropical em substituição por savana tropical. Para a caatinga, no Nordeste do Brasil, não existe consenso da sua condição futura, especialmente para o período 2090-2099. Esta divergência está relacionada com as diferenças nas projeções de precipitação e temperatura entre os modelos para esta região do país.

Experimentos realizados por Lapola (2007) a partir de uma nova versão do CPTEC-PVM, no qual inclui o ciclo do carbono e o bioma de floresta tropical sazonal, indicam que não há consenso entre os modelos no que tange à substituição da floresta tropical por savana no sudeste da Amazônia. De acordo com o autor, este resultado mostra o efeito da fertilização do CO2 – o que favoreceria a manutenção ou mudança

para biomas de maior porte nas áreas onde a temperatura aumenta. Com isto, nota-se que a diminuição da precipitação precisa ser maior para que haja substituição da floresta por savana. Ainda segundo este autor, este resultado mostra que a resposta da floresta tropical para elevados níveis de CO2 é um questão crítica e que precisa ser melhor estudada.

Devido ao fato da floresta Amazônica conter uma grande parte da biodiversidade do planeta (NOBRE, 2008), ameaças à sua existência indicam ameaças a toda biodiversidade global. No entanto, ainda são tímidos os estudos que relacionam as mudanças climáticas com a distribuição das espécies. Um estudo realizado por Thomas et al. (2004) avaliou o risco de extinção para 1103 espécies (incluindo mamíferos, aves, anfíbios, répteis, plantas, borboletas e outros invertebrados) numa área que abrange 20% da superfície terrestre. Os resultados indicam que entre 15% e 37% das espécies estariam ameaçadas de extinção até o ano de2050.

No Brasil, estudos focados nos impactos das mudanças climáticas sobre a biodiversidade também são poucos. Miles (2004) realizou simulações baseadas em cenários futuros do HADCM2Gsa111 para analisar a distribuição de 69 espécies de angiospermas12 na Amazônia entre 1990 e 2095. Dentre os resultados, concluiu-se que 43% das espécies podem se tornar inviáveis até 2095 e que os maiores impactos poderão ser sentidos no nordeste da Amazônia, enquanto que as áreas de várzea do oeste poderão apresentar maior resiliência. Outros estudos relevantes dos impactos das mudanças climáticas em espécies arbóreas de Cerrado e da Mata Atlântica foram realizados por Siqueira e Peterson (2003) e Colombo (2007), respectivamente.

Como citados pelos vários estudos mencionados anteriormente, os diversos ecossistemas brasileiros são vulneráveis as mudanças climáticas e poderão sofrer graves impactos. Desta forma, ressalta-se a necessidade de ampliar os estudos destes inexoráveis impactos frente às mudanças climáticas na biodiversidade no Brasil.

11 Modelo de Circulação Geral (GCM) do Met Office Hadley Centre, Reino Unido. Tal modelo assume um aumento anual de 1% na concentração de CO2. Disponível em <www.ipcc- data.org/is92/hadcm2_info.html > Acessado em 29 de março de 2012.

12 Do grego angeios, que significa ‘bolsa’, e sperma ‘semente’. Estas plantas representam o grupo mais variado em número de espécies entre os componentes do reino Plantae ou Metaphyta. Disponível em <www.sobiologia.com.br/centeúdos/Reinos4/angiospermas.php> Acessado em 29 de março de 2012.