Neste tópico abordar-se-á a terminologia da cobertura vegetal a partir da exposição dos pressupostos conceituais, buscando procedimentos ambientais que possibilitem mensurar a medida da retirada e indenização. Outrossim, serão tratados aspectos da desapropriação de Áreas de Preservação Permanente que viabilize a possibilidade de fixação de indenização pela cobertura vegetal, buscando conhecer o entendimento dos tribunais através de suas decisões a respeito do tema.
4.2.1 Conceito
A alteração das características do meio ambiente não é um fato novo, esteve presente no decorrer da história e, de certo modo, fez-se necessária para que o indivíduo conquistasse seus anseios materiais e sociais de crescimento. A controvérsia consiste em como, quanto e até que limite essas intervenções antrópicas podem ser realizadas sem causar desequilíbrio ecológico.185 Para evitar a ocorrência
de danos, a prevenção consiste em um princípio basilar do Direito Ambiental pela constatação de que é bem mais eficiente e menos dispendioso prevenir danos ambientais do que repará-los.186
As Áreas de Preservação Permanente foram instituídas pelos art. 3º e 4º do Código Florestal, com objetivo de preservar a cobertura vegetal e as formações geológicas e paisagísticas necessárias à conservação de ecossistemas. Visam assegurar situações de estabilidade de encostas ou de cursos, nascentes ou reservatórios d’água, impedindo o assoreamento, a erosão ou desmoronamentos.187
185 BARBOSA, Rildo Pereira. Avaliação de risco e impacto ambiental. 1. ed. São Paulo: Erica,
2014. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
186 BELTRÃO, Antônio F. G. Curso de direito ambiental. 2. ed. São Paulo: MÉTODO, 2014. E-book.
Acesso restrito via Minha Biblioteca.
187 SOUZA, Motauri Ciocchetti de. Interesses difusos em espécie: direito ambiental, direito do
consumidor e probidade administrativa. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
A vegetação é um dos componentes mais importantes da biota188, na medida em que
seu estado de conservação e de continuidade definem a existência ou não de hábitats para as espécies, a manutenção de serviços ambientais ou mesmo o fornecimento de bens essenciais à sobrevivência de populações humanas.189
Ademais, cobertura vegetal são tipos ou formas de vegetação de origem natural ou plantada que recobrem uma determinada área ou terreno. Essa proteção é de extrema importância para o meio ambiente, pois atua como uma espécie de telhado e protege o solo contra erosão, resguarda a fauna e a flora e equilibra a temperatura.190 A cobertura vegetal tem um papel importante no deflúvio superficial,
como no deflúvio de base191, de modo que se desloca em baixas velocidades,
alimentando os rios e lagos. A remoção da cobertura vegetal reduz o intervalo de tempo observado entre a queda da chuva e os efeitos nos cursos de água, diminui a capacidade de retenção de água nas bacias hidrográficas e aumenta o pico das cheias.192
A cobertura vegetal é relacionada, pela maioria dos cidadãos, como uma função de satisfação psicológica e cultural do que propriamente com utilidades físicas.
193Entretanto, a cobertura vegetal contribui ainda para manter o substrato permeável,
permitindo que a água da chuva alimente o lençol freático, cujo nível, por sua vez, garante o fornecimento de água potável na região e a manutenção do nível dos corpos d’água. A retirada da vegetação acarreta a lavagem acelerada dos nutrientes, que são
188 Biota é o conjunto de seres vivos, flora e fauna, que residem em um espaço físico. (Fabiano Melo
2017).
189 Ministério do meio ambiente. Mapa de cobertura vegetal. [2005] Disponivel em:
https://www.mma.gov.br/component/k2/item/7626-mapas-de-cobertura-vegetal.html Acesso em: 04 maio 2020
190 Redação Pensamento verde. Você sabe o que é cobertura vegetal. São Paulo. 2014. Disponível
em: https://www.pensamentoverde.com.br/meio-ambiente/voce-sabe-o-que-e-cobertura-vegetal/ Acesso em: 07 maio 2020
191 Deflúvio superficial: parte da chuva que ecoa pela superfície do solo, Deflúvio de base: resultado
do movimento subterrâneo da água através do solo. (Vladimir Polízio 2012)
192 POLÍZIO JÚNIOR, Vladimir. Novo Código Florestal. comentado, anotado e comparado. São Paulo:
Rideel, 2012. E-book
193 NUCCI, João Carlos. CAVALHEIRO, Felisberto. Cobertura Vegetal em Áreas Urbanas. São
Paulo.2016. Disponível em:
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:hwXn1vEQrXEJ:www.revistas.usp.br/geo usp/article/download/123361/119697/+&cd=2&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br Acesso em: 07 maio 2020
carreados para as profundezas do solo fora do alcance das raízes, num processo de empobrecimento gradual do sistema194
Diante do que foi exposto sobre o conceito da cobertura vegetal, será iniciado, no tópico seguinte, o estudo da retirada e da indenização pela cobertura vegetal.
4.2.2 Retirada e indenização
Segundo o art. 3º, X do Código Florestal, considera intervenção ou supressão de vegetação, eventual e de baixo impacto ambiental, em Área de Preservação Permanente,195 a abertura de pequenas vias de acesso interno e suas
pontes e pontilhões, quando necessárias à travessia de um curso de água, ou à retirada de produtos oriundos das atividades de manejo agroflorestal sustentável praticado na pequena propriedade ou posse rural familiar.196
A vegetação de um modo geral serve como proteção ao solo, na medida em que consegue reduzir o impacto das chuvas ao diminuir a velocidade das águas, por meio das árvores e das raízes. Pode-se perceber que a retirada da cobertura vegetal, quando não for planejada, é um forte determinante da erosão.197 Quando se
rompe o equilíbrio entre solo e ambiente, como a retirada da vegetação e o desvio de cursos hídricos, expõem-se o solo a erosão. Deixa-se o subsolo, que é uma camada menos resistente, sujeita a remoção de partículas, de modo que, com o passar do tempo, origina as voçorocas198.199
Há duas formas de reparação do dano ambiental, ou seja, aquela com o retorno ao status quo ante, e a indenização em dinheiro por dano ambiental, tendo
194 LEUZINGER, Márcia Dieguez e CUREAU, Sandra. Direito ambiental. Rio de Janeiro: Elsevier,
2008. E-book.
195 RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito ambiental esquematizado. 3. ed. São Paulo: Saraiva,
2016. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca
196 BRASIL. Lei Federal nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Novo Código Florestal. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm. Acesso em 12 maio 2020
197 Almeida, Danilo Sette de. Recuperação ambiental da mata atlântica. 3. ed. São Paulo. Ilhéus:
Editus, 2016. E-book.
198 Voçorocas é um fenômeno geológico que consiste na formação de grandes buracos de erosão
causados pela água da chuva e intempéries em solos onde a vegetação não protege mais o solo, que fica cascalhento e suscetível de carregamento por enxurradas. (Carla Samara dos Santos Ferreira 2018)
199 BAKONYI, Sonia M. C. Manejo e Recuperação de Áreas Degradadas. Ministério da Educação.
seu conteúdo reparatório, sendo devida a partir do momento em que configurado o efetivo dano ao meio ambiente.200 O mais adequado é que se busque a reconstituição
ou recuperação do ambiente, embora, não sendo viável a restauração, admite-se a condenação em pagamento de indenização em dinheiro, que será destinada a um fundo de meio ambiente. O dano ambiental demanda reparação integral, ainda que seu custo gere a diminuição da capacidade econômica do agente.201
A indenização da denominada cobertura vegetal deve ser observada em decorrência da tutela jurídica da flora, como bem ambiental interpretado em face do sistema constitucional e infraconstitucional em vigor.202 Na hipótese de
desapropriação de imóvel por utilidade pública ou interesse social, entende-se que a melhor posição é a que exclui da indenização a cobertura florestal em Área de Preservação Permanente, justamente porque a regra é a impossibilidade de supressão vegetal.203
A fixação da indenização pode ser realizada por acordo administrativo ou por avaliação judicial. É oportuno que a Administração realize um acordo com o expropriado em relação ao valor da indenização, embora na hipótese de divergência entre a oferta do Poder Público e a pretensão do particular, a controvérsia se resolverá em juízo, mediante avaliação por perito técnico de livre escolha do juiz.204 A
indenização ofertada deve corresponder ao real valor do bem expropriado, ou seja, essa modalidade de contraprestação deve ser suficiente para recompor o patrimônio do particular.205
Em razão do que foi estudado sobre a retirada e a indenização, iniciar-se- á a temática seguinte abordando a desapropriação de Áreas de Preservação Permanente e a fixação de indenização pela cobertura vegetal, sendo este um dos pontos mais importante deste estudo.
200 THOMÉ, Romeu. Direito Ambiental, leis Especiais para Concursos. 9. ed. Salvador: Juspodivm,
2016. E-book.
201 LEITE, José Rubens Morato. Dano ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. São
Paulo: RT, 2000. E-book.
202 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro.19. ed. São Paulo:
Saraiva, 2019. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
203 AMADO, Frederico Augusto Di Trindade. Direito ambiental esquematizado. 5.ª ed. São Paulo:
MÉTODO, 2014. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
204 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 42. ed. São Paulo: Malheiros, 2015.
E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.
4.3 DESAPROPRIAÇÃO DE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE: E A