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A desapropriação de áreas de preservação permanente: a (im)possibilidade de fixação de indenização pela cobertura vegetal

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SILAS MAMEDES BRITES DA SILVA

A DESAPROPRIAÇÃO DE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE: A (IM) POSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO DE INDENIZAÇÃO PELA COBERTURA

VEGETAL

Florianópolis Ano 2020

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SILAS MAMEDES BRITES DA SILVA

A DESAPROPRIAÇÃO DE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE: A (IM) POSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO DE INDENIZAÇÃO PELA COBERTURA

VEGETAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Jeferson Puel, Msc.

Florianópolis Ano 2020

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SILAS MAMEDES BRITES DA SILVA

A DESAPROPRIAÇÃO DE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE: A (IM) POSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO DE INDENIZAÇÃO PELA COBERTURA

VEGETAL

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, 06 de julho de 2020.

______________________________________________________ Professor e orientador Jeferson Puel, Msc

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Prof. Nome do Professor, titulação

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________ Prof. Nome do Professor, titulação

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Universidade do Sul de Santa Catarina

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

A DESAPROPRIAÇÃO DE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE: A (IM) POSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO DE INDENIZAÇÃO PELA COBERTURA VEGETAL

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca deste Trabalho de Conclusão de Curso.

Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Florianópolis, dia 06 de julho de ano 2020.

____________________________________

(5)

Dedico este projeto a minha esposa e todos os professores que me influenciaram na minha trajetória. Em especial ao professor Jeferson Puel, meu orientador, com quem compartilhei minhas dúvidas a respeito do tema.

(6)

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que me deu força e a oportunidade de concluir o Curso de Direito, em uma Instituição de Ensino referência no meio acadêmico nacional.

À minha linda esposa e filho, pelo apoio incondicional, compreensão e paciência durante todo o curso.

Aos meus pais, que sempre estiveram ao meu lado me apoiando ao longo de toda a minha trajetória.

A toda a minha família que me apoiaram, me incentivando a ficar firme nesta caminhada, torcendo pela minha vitória.

Sou grato ao Professor Jeferson Puel, pelo conhecimento compartilhado e pelo tempo dedicado à orientação do presente trabalho. Meus agradecimentos e minha admiração.

A todos os meus amigos do curso de graduação que compartilharam dos inúmeros desafios que enfrentamos, sempre com o espírito colaborativo.

Também quero agradecer à Universidade e o seu corpo docente que demonstrou estar comprometido com a qualidade e excelência do ensino.

(7)

“Ponham em prática tudo o que vocês aprenderam, receberam, ouviram e viram em mim. E o Deus da paz estará com vocês”. (Filipenses 4:9).

(8)

RESUMO

O presente trabalho monográfico tem como objetivo demonstrar a possibilidade ou não de indenização pela cobertura vegetal, na desapropriação de Áreas de Preservação Permanente. O método de procedimento é o monográfico, sendo um trabalho sistemático e focado em tema específico. A técnica de pesquisa é bibliográfica, com base na doutrina, na jurisprudência e na legislação pertinentes. O trabalho está dividido em cinco capítulos, inaugurados pela presente introdução e finalizados pela conclusão. Diante do fato de que a propriedade não é um direito absoluto, expõe-se o conceito da desapropriação, seguido por suas modalidades relacionada à temática, bem como a prévia e justa indenização e sua desistência. A Constituição da República Federativa do Brasil estabelece que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo este um bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida. Externa ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. São apresentadas as Áreas de Preservação Permanente, com suas características e áreas consolidadas e serviços ecossistêmicos. Abordam-se a desapropriação de Áreas de Preservação Permanente e a possibilidade de fixação de indenização pela cobertura vegetal. Denota-se, como resultado da pesquisa, que há divergência jurisprudencial quanto ao tema, com predomínio do entendimento no sentido de fixação da indenização pela cobertura vegetal.

Palavras-chave: Desapropriação. Área de Preservação Permanente. Cobertura Vegetal.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 12

2 DESAPROPRIAÇÃO ... 14

2.1 CONCEITO E ELEMENTOS ... 14

2.2 MODALIDADES ... 18

2.2.1 Por necessidade ou utilidade pública ... 18

2.2.2 De bens públicos ... 19

2.2.3 Por interesse social ... 20

2.2.4 Indireta e desapropriação confiscatória ... 21

2.3 PRÉVIA E JUSTA INDENIZAÇÃO ... 23

2.4 DESISTÊNCIA ... 27

3 AREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE ... 32

3.1 CARACTERISTICAS ... 32

3.2 ÁREAS CONSOLIDADAS E SERVIÇOS ECOSISTÊMICO ... 36

3.3 DESMATAMENTO E ORGAOS AMBIENTAIS ... 39

3.3.1 Utilidade pública ... 40

3.3.2 Interesse social ... 41

3.3.3 Baixo impacto ambiental ... 43

3.4 RECUPERAÇÃO AMBIENTAL ... 45

4 DESAPROPRIAÇAO DE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE: E A (IM) POSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO DE INDENIZAÇÃO PELA COBERTURA VEGETAL 49 4.1 INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE ... 49

4.2 COBERTURA VEGETAL ... 53

4.2.1 Conceito ... 53

4.2.2 Retirada e indenização... 55

4.3 DESAPROPRIAÇÃO DE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE: E A FIXAÇÃO DE INDENIZAÇÃO PELA COBERTURA VEGETAL ... 57

4.4 DECISOES JUDICIAIS A RESPEITO DO TEMA ... 62

4.4.1 Recurso Especial nº 1.732.757 ... 63

4.4.2 Apelação Cível n. 0300429-17.2015.8.24.0003 ... 65

4.4.3 Apelação Cível nº 0004844-88.2012.8.24.0014 ... 67

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1 INTRODUÇÃO

Dentre os atos de intervenção do Estado na propriedade, destaca-se uma das formas de poder da Soberania interna do Estado, no exercício de seu domínio sobre os bens existentes no território nacional, que se denomina Desapropriação. A Constituição da República Federativa do Brasil garante o direito de propriedade, de modo que autoriza, com base nos princípios da supremacia do interesse público sobre o privado e da função social da propriedade, a intervenção legítima do Estado em determinadas situações com o intuito de resguardar a coletividade.

As Áreas de Preservação Permanente visam atender ao direito fundamental de todos os brasileiros a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, conforme assegura a Constituição da República Federativa do Brasil. As Áreas de Preservação Permanente são áreas naturais protegidas por lei, com rígidos limites de exploração, ou seja, não é permitida a utilização econômica direta.

O Código Florestal conceitua a Área de Preservação Permanente como área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas

A partir destas considerações, formulou-se a seguinte problemática: Em que hipóteses é possível, em desapropriação de Áreas de Preservação Permanente, a fixação de indenização pela cobertura vegetal?

O objetivo geral é demonstrar as situações em que é possível, na desapropriação de Áreas de Preservação Permanente, a fixação de indenização pela cobertura vegetal, seguido dos objetivos específicos: conceituar a desapropriação e seus elementos; estudar as Áreas de Preservação Permanente e a recuperação ambiental; demonstrar as hipóteses em que é possível ou não, na unidade da desapropriação das Áreas de Preservação Permanente, a fixação de indenização pela cobertura vegetal.

Para o desenvolvimento desta pesquisa monográfica, o presente trabalho utiliza-se do método de abordagem de pensamento dedutivo, o qual parte dos aspectos gerais da desapropriação para a especificidade da possibilidade ou não de indenização pela cobertura vegetal. O método de procedimento é o monográfico. A

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técnica de pesquisa é bibliográfica, com base na doutrina, na jurisprudência e na legislação pertinentes.

Desta forma, como meio de se compreender a realização efetiva da pesquisa e de responder a problemática arguida, dividiu-se a presente monografia em cinco capítulos.

O primeiro diz respeito à introdução, visando a apresentação da temática e de seu aposto metodológico, que se faz oportuno.

No segundo capítulo inicia-se o estudo da desapropriação, partindo de uma visão geral, de modo a abordar seu conceito, elementos e algumas de suas modalidades. Destacam-se aquelas por necessidade ou utilidade pública, de bens públicos, por interesse social, e indireta e confiscatória, expondo ainda aspectos sobre a prévia e justa indenização, e sua desistência à luz da Constituição da República Federativa do Brasil.

O terceiro capítulo aborda a temática relacionada às Áreas de Preservação Permanente, expondo aspectos relacionados a suas características, de maneira a adentrar no estudo as áreas consolidadas e serviços ecossistêmicos, juntamente com o desmatamento e os órgãos ambientas

No quarto capítulo, adentra-se na temática principal do trabalho, sobre a desapropriação de Áreas de Preservação Permanente e a (im) possibilidade de fixação de indenização pela cobertura vegetal, seguido dos aspectos da intervenção do estado na propriedade. Acompanha a verificação jurisprudencial que objetiva demonstrar a aplicabilidade prática nas decisões dos tribunais, em especial o colendo Supremo Tribunal Federal.

E por último, no quinto capítulo, faz-se a apresentação da conclusão, em razão do referencial teórico do presente trabalho monográfico.

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2 DESAPROPRIAÇÃO

Dentre os atos de intervenção estatal na propriedade, destaca-se a desapropriação como uma das formas mais drásticas de manifestação do poder de império, ou seja, da Soberania interna do Estado no exercício de seu domínio sobre os bens existentes no território nacional.1 Trata-se da mais gravosa modalidade de

intervenção do Estado na propriedade, porquanto, além de restringir ou condicionar o seu uso, supri o domínio de quem o detinha e transfere compulsoriamente o bem para o acervo de outrem.2

Neste capítulo, estudar-se-á o conceito da desapropriação e seus elementos, bem como a modalidade interventiva, descrevendo-se suas principais características, por necessidade pública ou utilidade pública e interesse social, sendo indireta e confiscatória. Além de abordar a temática da prévia e justa indenização e desistência.

2.1 CONCEITO E ELEMENTOS

Dentre as modalidades de intervenção estatal, a desapropriação ou expropriação é a mais gravosa, em virtude da perda do direito de propriedade pelo seu titular. Consiste no procedimento excepcional de transformação compulsória de bens privados em públicos, mediante o pagamento de indenização prévia e justa.3

Na Constituição da República Federativa do Brasil, os arts.5º, XXIV. 182, III, e 184 denotam que, se de um lado se garantiu o direito de propriedade, de outro percebe-se que não se proibiu que seja realizada a desapropriação. Nesse mister, em sedo relevante à satisfação do interesse público, o Estado pode intervir na propriedade particular e no domínio econômico. A lei estabelecerá o procedimento

1 MEIRELLES, Hely Lopes - Direito Administrativo Brasileiro. 42. ed. São Paulo: Malheiros, 2015

E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

2 ALEXANDRINO, Marcelo. PAULO, Vicente - Direito administrativo descomplicado. 25. ed. São

Paulo: MÉTODO, 2017. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

3 MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo. 8. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018

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para a desapropriação, seja por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro.4

Vários são os conceitos formulados por autores sobre a desapropriação. Nas palavras de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a desapropriação é o procedimento administrativo pelo qual o Poder Público ou seus delegados, mediante prévia declaração de necessidade pública, utilidade pública ou interesse social, de modo que estabelece ao proprietário a perda de um bem, substituindo-o em seu patrimônio por justa indenização.5

Hely Lopes Meirelles disciplina que a desapropriação ou expropriação é a transferência compulsória da propriedade particular para o Poder Público ou seus delegados, por utilidade ou necessidade pública ou, ainda, por interesse social, mediante prévia e justa indenização em dinheiro.6

No âmbito do direito privado, a desapropriação representa um modo de perda da propriedade. Com enfoque no Direito Público, configura um meio de aquisição de bem público ou um instrumento de realização de atividades de interesse público.7 Importante observar que essa transferência compulsória ocorre do

patrimônio do particular para o patrimônio público, o que não impede que, a título de exceção, possa incidir sobre bens públicos. A desapropriação tem natureza jurídica de procedimento administrativo e, em inúmeras hipóteses, revela-se também procedimento judicial.8

O procedimento administrativo se inicia pela declaração de utilidade pública ou pela declaração de interesse social do bem, conforme a situação concreta, realizada pelo sujeito ativo competente, razão pela qual o proprietário que for prejudicado poderá pleitear no Poder Judiciário visando impugná-la. O imóvel será indenizado pelo valor na data da declaração da desapropriação, considerando-se o seu estado. Assim, o Poder Público deverá acessar o imóvel para avaliá-lo, de modo

4 GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: direitos

reais. 20. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

5 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella - Direito administrativo.32. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.

E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

6 MEIRELLES, Hely Lopes - Direito Administrativo Brasileiro. 42. ed. São Paulo: Malheiros, 2015.

E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

7 MEDAUAR, Odete - Direito Administrativo moderno. 21. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2018.

E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

8 NOHARA, Irene Patrícia. Direito administrativo. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2019. E-book. Acesso

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que, a partir dessa declaração, começam também a transcorrer os prazos para que o Poder Público efetive a desapropriação. 9 Esses prazos de caducidade serão de cinco

anos a partir da declaração de utilidade pública, ou dois anos a partir da declaração de interesse social.10

A desapropriação se efetiva por meio de uma sequência de atos praticados pelo Poder Público, e pelo proprietário do bem a ser desapropriado. Esse procedimento, em regra, divide-se em duas fases. A primeira é a fase declaratória, ao passo que a segunda é a executória.11

Na primeira fase, declaratória, o Estado manifesta seu interesse em desapropriar determinado bem e fundamenta essa medida demonstrando a necessidade ou utilidade pública, ou o interesse social, tomando desta forma obtendo o bem expropriado; a segunda fase, executória, pode ser estabelecida pela celebração de acordo extrajudicial entre as partes, sendo que, na hipótese de não haver acordo, é necessário a propositura de ação judicial de desapropriação pelo expropriante.12

Sendo a desapropriação uma forma originária de aquisição da propriedade, decorrem duas importantes consequências13. A primeira consiste na irreversibilidade

da transferência, ainda que a indenização seja adimplida para terceiro que não o dono do bem desapropriado. A segunda representa a extinção dos direitos reais sobre a coisa, o que significa que o Poder Público adquire o bem livre de qualquer gravame. Ficam sub-rogados no preço da indenização quaisquer ônus ou direitos que incidiam sobre o objeto da desapropriação, por força do disposto no artigo 31 do Decreto-Lei nº 3.365.14

9 KNOPLOCK, Gustavo Mello, Manual de direito administrativo: teoria, doutrina e jurisprudência.11.

ed. São Paulo: MÉTODO, 2018. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

10ALEXANDRINO, Marcelo. PAULO, Vicente. Direito administrativo descomplicado.25. ed. São

Paulo: MÉTODO, 2017. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

11 ALEXANDRE, Ricardo. DEUS, João de. Direito administrativo. 3. ed. São Paulo: MÉTODO, 2017.

E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

12 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 29. ed. São Paulo:

Malheiros, 2012. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca

13 CARVALHO, Matheus. Manual de direito administrativo. 4. ed. Salvador: Juspodivm, 2017.

E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

14 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo:

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As modalidades de intervenção estatal do Poder Público na propriedade, têm como seu fundamento a supremacia do interesse público sobre o particular e a função social da propriedade, embora só podem ser desapropriados por um ente federado em cujo território estejam situados. Assim, um estado não pode desapropriar bens imóveis localizados no território de outro, da mesma forma que um município não pode desapropriar bens imóveis situados no território de outro município. Essa restrição, não se aplica à União, que pode desapropriar bens que se encontrem em qualquer ponto do território nacional.15

Essa temática da desapropriação envolve, ainda, determinados elementos jurídicos como a tredestinação e a retrocessão. A primeira é o desvio de finalidade da desapropriação, e subdivide-se em lícita ou ilícita. Será lícita quando, embora haja desvio, a finalidade conferida ao bem expropriado continuar a atender ao interesse público. É ilícita quando se desviar, não apenas da finalidade antes apontada, mas do próprio interesse público.16

A retrocessão, entretanto, corresponde à consequência da tredestinação ilícita. Há divergência doutrinária e jurisprudencial quanto à natureza da retrocessão, que implica diferentes resultados jurídicos. Prevalece no âmbito do colendo Superior Tribunal de Justiça17 o posicionamento de que a retrocessão tem natureza de direito

real, de modo que poderá o expropriado reivindicar a coisa caso a destinação do bem não seja aquela declarada no momento da desapropriação. Deverá devolver à Administração o valor recebido a título de indenização.18

Na hipótese de a Administração Pública deixa de utilizar o imóvel desapropriado, não lhe concedendo a destinação mencionada no decreto de expropriação, exsurge a obrigação de oferecê-lo ao ex-proprietário, pelo preço contemporâneo da coisa19. Nesse sentido dispõe o art. 519 do Código Civil: Se a coisa

15 ALEXANDRINO, Marcelo. PAULO, Vicente- Direito administrativo descomplicado. 25. ed. São

Paulo: MÉTODO, 2017. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

16 OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de direito administrativo. 7. ed. São Paulo:

MÉTODO, 2019. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

17 Nesse sentido o STJ REsp. nº 1234476/PR, Rel. Min. OG FERNANDES, DJ de 06/08/2019, data

julgamento 25/06/2019

18 ARAS NETO, José Soares Ferreira. Direito administrativo sintetizado. 3. ed. São Paulo:

MÉTODO, 2019. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

19 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, Direito das Coisas. volume 5, 14. ed. São

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expropriada para fins de necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao expropriado direito de preferência, pelo preço atual da coisa.20

Demonstrados os conceitos relacionados ao processo de desapropriação, e para uma melhor compreensão dessa temática, devem-se destacar algumas de suas modalidades.

2.2 MODALIDADES

Neste item verificar-se-á que a desapropriação depende de fundamentação do Poder Público, que será pautado na necessidade pública, utilidade pública ou interesse social, de forma que deverá indenizar mediante prévia e justa indenização. Pode ser confiscatória, sendo que é permitida a desistência até a incorporação do bem, no caso de bem móvel, até a tradição e, para o imóvel, até o trânsito em julgado da sentença ou o registro do título resultante do acordo, consoante permitido pela Constituição da República Federativa do Brasil.21

A seguir será tratado a respeito da desapropriação por necessidade ou utilidade pública.

2.2.1 Por necessidade ou utilidade pública

A desapropriação por necessidade ou utilidade pública pode ser utilizada em todos os níveis da Federação22, ainda que a propriedade atenda a sua função

social, pois não há sanção ao particular, mas sim necessidade de atender o interesse público. Por essa razão, é oportuna a indenização prévia, justa e em dinheiro. As duas principais características da desapropriação ordinária são: a) competência: todos os

20 BRASIL. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Brasília, DF: Presidência da

República, 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 10 mar 2020

21 CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em juízo. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense,

2018. E-book.

22 FILHO, Marçal Justen. Curso De Direito Administrativo, 4º.ed. São Paulo: editora Revistas dos

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Entes federados podem desapropriar por meio dessa modalidade; e b) indenização: será devida a indenização prévia, justa e em dinheiro. 23

A finalidade de necessidade ou utilidade pública é uma exigência constitucional para legitimar a desapropriação, sendo disciplinada no arts.5º, XXIV da Constituição da República Federativa do Brasil. Não pode haver expropriação por interesse privado de pessoa física ou organização particular. O interesse há de ser do Poder Público ou da coletividade. Quando o interesse for do Poder Público, o fundamento da desapropriação será a necessidade ou utilidade pública; quando for da coletividade, será o interesse social.24

Por necessidade pública entende-se a situação emergencial, como na hipótese de calamidade pública provocada pelas fortes chuvas que assolam as mais diversas regiões do país, contexto que leva à desapropriação de um imóvel como a solução para alojar as famílias desabrigadas.25

O tópico a seguir será abordado o item sobre a desapropriação de bens públicos.

2.2.2 De bens públicos

No Brasil, sabe-se que a União atua tendo em vista interesse público de caráter nacional, enquanto os Estados-membros buscam atender ao interesse público de caráter regional; o Município zela por matérias de interesse estritamente local. Dessa forma, é permissiva a desapropriação de bem público do Estado-membro pela União.26

Em regra, qualquer bem-dotado de valoração patrimonial pode ser desapropriado, seja móvel ou imóvel, corpóreo ou incorpóreo. Também se admite a

23 OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo. 7. ed. São Paulo:

MÉTODO, 2019. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca

24 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 42. ed. São Paulo: Malheiros, 2015.

E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

25 ALMEIDA, Fabrício Bolzan de. Manual de direito administrativo. 3. ed. São Paulo: Saraiva

Educação, 2019. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

26 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, Direito das Coisas. volume 5. 14. ed. São

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desapropriação do espaço aéreo, do subsolo e das ações, cotas ou direitos relativos ao capital de pessoas jurídicas.27

Entretanto, para que essa medida se efetive, dois requisitos devem coexistir: autorização legislativa e respeito à “hierarquia federativa”. Desta forma, o Decreto nº 3.365/1941, no art. 2º, § 2º disciplina que os bens do domínio dos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios poderão ser desapropriados pela União, e os dos Municípios pelos Estados, embora, em qualquer hipótese, ao ato deverá preceder autorização legislativa.28 Dessa forma, a regra é que somente o ente federativo de

maior abrangência tem a prerrogativa de proceder à desapropriação. Assim, é proibido ao Estado desapropriar um bem da União, e o Município um bem do Estado.29

Também se admite a desapropriação de que se observem as condições do tombamento, o direito de preferência de quem o realizou. Ademais, o ônus relacionado ao tombamento acompanha o bem, qualquer que seja o proprietário.30

No tópico seguinte será verificada a desapropriação por interesse social.

2.2.3 Por interesse social

O interesse social consiste naquelas hipóteses em que mais se realça a função social da propriedade. O Poder Público, nessas situações, tem preponderantemente o objetivo de neutralizar, de alguma forma, as desigualdades coletivas.31 A desapropriação por interesse social tem sua aplicação nas hipóteses

listadas no rol do art. 2º, da Lei nº 4.132/62. Objetiva auxiliar às camadas de maior vulnerabilidade econômica, de modo a contemplar melhoria das condições de vida, e a atenuação das desigualdades como, por exemplo, a desapropriação para

27 ALEXANDRE, Ricardo. DEUS, João de. Direito administrativo. 3. ed. São Paulo: MÉTODO, 2017.

E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

28 CAMPOS, Ana Cláudia. Direito Administrativo Facilitado. Rio de Janeiro: Forense, 2019. E-book.

Acesso restrito via Minha Biblioteca.

29 BORGES, Cyonil Adriel Sá. Manual de Direito administrativo facilitado. 2. ed. E-book. Acesso

restrito via Minha Biblioteca.

30 MARINELA, Fernanda. Direito administrativo. 12. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

31 CARVALHO FILHO, José dos Santos, Manual de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo:

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construção de casas populares, proteção de solo e a preservação de cursos de água e de reservas florestais.32

A desapropriação por interesse social ocorre objetivando a distribuição ou condicionamento da propriedade para que seja melhor aproveitada, em benefício da coletividade ou certas categorias sociais merecedoras da tutela especial do Estado como, por exemplo, a desapropriação para construção de casas populares. Admite-se a desapropriação de imóveis para fins de reforma agrária, caracterizando-Admite-se, no caso, a desapropriação por interesse social.33

O interesse social se configurará, na hipótese de que a desapropriação seja a única ou a melhor solução administrativa para amparar um grupo social, que o Estado deva proteger ou pretenda atender de modo especial.34 Por isso, na maioria

das vezes, os bens expropriados destinam-se ao transpasse aos particulares, para que lhes seja dado melhor aproveitamento em prol da coletividade.35

O tópico seguinte tratará da desapropriação indireta e confiscatória.

2.2.4 Indireta e desapropriação confiscatória

Nas palavras de DI PIETRO, a desapropriação indireta é a que se processa sem observância do procedimento legal. Costuma ser equiparada ao esbulho e, por isso, pode ser obstada por meio de ação possessória. No entanto, se o proprietário não o impedir no momento oportuno, deixando que a Administração lhe dê uma destinação pública, não mais poderá reivindicar o imóvel, pois os bens expropriados, uma vez incorporados ao patrimônio público, não podem ser objeto de reivindicação.36

A desapropriação confiscatória, prevista no art. 243 da Constituição da República Federativa do Brasil, tem pôr fim a expropriação, sem indenização, de

32 FERNANDA, Marinela. Direito administrativo. 12. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

33 TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

34 MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo: parte introdutória, parte

geral e parte especial. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

35 ARAGÃO, Alexandre Santos de. Curso de direito administrativo. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense,

2013. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

36 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 32. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.

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propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País, onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo.37 É

importante transcrever o citado dispositivo constitucional, na forma que segue:

Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. 38

De acordo com o parágrafo único do art. 243 da Constituição da República Federativa do Brasil, com redação dada pela Emenda Constitucional nº 81/2014, os bens que tenham valor econômico e que forem apreendidos em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo, serão confiscados, de forma que o valor correspondente reverterá ao fundo especial com destinação específica, na forma da lei.39

É importante destacar que a expropriação deve englobar toda a propriedade, ainda que o cultivo ocorra em parte do terreno, conforme entendimento do colendo Supremo Tribunal Federal.40 O proprietário tem o dever de zelar por sua

propriedade, sendo responsável por sua utilização indevida.41

Contextualizados os tópicos das modalidades da desapropriação, a seguir será abordada a prévia e justa indenização.

37 ALEXANDRINO, Marcelo. PAULO. Vicente. Direito Administrativo Descomplicado. 25. ed. São

Paulo: MÉTODO, 2017. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

38 BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:

Presidência da República, 1988. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 15 mar 2020.

39 OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de direito administrativo. 7. ed. São Paulo:

MÉTODO, 2019. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

40 Nesse sentido: STF, Tribunal Pleno, RE 638.491/PR, Rel. Min. Luiz Fux. julgado em 17/05/2017.

ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-186 DIVULG 22-08-2017 PUBLIC 23-08-2017) Informativo de Jurisprudência do STF n. 865.

41 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo:

(22)

2.3 PRÉVIA E JUSTA INDENIZAÇÃO

O Poder Público, através da desapropriação, causa uma desigualdade ao patrimônio do expropriado. Desta forma, para restabelecer a igualdade, deve responder nos termos da Constituição da República Federativa do Brasil, que estabelece no art. 5º, XXIV que a indenização expropriatória deve ser prévia, justa e, como regra, em dinheiro. Deve equipara-se ao valor do bem expropriado, de maneira que ao expropriado não seja ocasionado prejuízo em seu patrimônio.42

Todavia, naquela que se fundar no interesse social, para a realização da política agrícola e fundiária e da reforma agrária, incidente sobre imóvel que não esteja cumprindo a sua função social, será paga com títulos da dívida agrária, clausulados de preservação de seu valor real e resgatáveis em prazo de até 20 anos a partir do segundo ano de sua emissão, cuja utilização será definida em lei43. Quanto às

benfeitorias existentes, necessárias ou úteis, serão indenizadas em dinheiro.44

De acordo com Edmir Netto Araújo, dada a diversidade dos bens passíveis de desapropriação, suas características, prazos e circunstâncias em que esta ocorre, nem sempre é simples estabelecer-se um valor que dê à indenização a conotação de justa. Quanto à exigência de ser prévia, a desapropriação se consuma com o levantamento do valor pelo expropriado, ou sua consignação em seu nome, possibilitando a integração da propriedade ao patrimônio do expropriante.45

A indenização justa é aquela equivalente ao valor real e atual dos bens expropriados como, também, os danos emergentes e os lucros cessantes do proprietário decorrentes do despojamento do seu patrimônio, bem como honorários advocatícios e despesas processuais. Na hipótese do bem produzir renda, essa há de

42 Art.5º, XXIV. “A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade

pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição”. (BRASIL. 1988)

43 Art. 184. “Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel

rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei”.

§ 1º “As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro”. (BRASIL. 1988)

44 Moreira Neto, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo: parte introdutória, parte geral

e parte especial. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

45 ARAÚJO, Edmir Netto de. Curso de direito administrativo. 8. ed. São Paulo: Saraiva Educação,

(23)

ser incorporada ao preço, porque não será justa a indenização que deixe qualquer desfalque econômico ao expropriado. O que compunha seu patrimônio e integrava sua receita há de ser reposto em pecúnia no momento da indenização,46 abrangendo,

se for o caso, o valor do terreno, das benfeitorias, do ponto, da freguesia e de todos os demais valores materiais e imateriais afetados pela desapropriação.47

Assim, a legislação pátria estabelece como dano emergente o que foi efetivamente perdido no patrimônio da vítima, enquanto os lucros cessantes tratam a respeito do que a vítima razoavelmente deixou de lucrar.

Quanto ao dano emergente, Silvio de Salvo Venosa ressalta que é o chamado dano positivo, que consiste na efetiva diminuição do patrimônio, uma perda da vítima. Na prática, diz respeito ao dano mais facilmente avaliável, porque depende exclusivamente de dados concretos. Sobre os lucros cessante, o autor afirma, partindo da previsão legal do que a vítima razoavelmente deixou de lucrar, que se trata de uma projeção contábil nem sempre muito fácil de ser avaliada. Nessa hipótese, deve ser considerado o que a vítima teria recebido se não tivesse ocorrido o dano48.

Um elemento importante da composição da indenização é a fixação do valor do bem, que deve ser real e contemporâneo, acrescidos de juros moratórios e compensatórios. Deve ser incluído nesse cálculo o valor histórico, artístico ou paisagístico do bem. Quanto às benfeitorias, devem ser adimplidas somando-se todas as preexistentes por ocasião da decretação da desapropriação. Após esse momento, devem ser incluídas apenas as benfeitorias necessárias e aquelas úteis previamente autorizadas, ficando excluídas as de mero deleite, ou seja, as voluptuárias.49

Oportuno destacar que os juros moratórios são aqueles devidos pelo expropriante, em decorrência da demora no pagamento da indenização. Era de se esperar que, tão logo se encerrasse o processo expropriatório, o expropriante se incumbisse de cumprir, de imediato, seu dever de indenizar o expropriado pela perda

46 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 42. ed. São Paulo: Malheiros, 2015

E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

47 MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo. 8. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

48 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Obrigações e Responsabilidade Civil. 17º ed. São Paulo:

Atlas, 2017 E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

49 MARINELA, Fernanda. Direito administrativo. 12. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

(24)

da propriedade. Os juros compensatórios são os decorrentes do uso e da fruição legal, decorrente de decisão do Poder Judiciário ou convencional do bem jurídico, a fim de que seja evitado o enriquecimento sem causa do beneficiário e que o titular do direito não seja prejudicado.50

Desse modo, na imissão provisória da posse, quando o valor do bem fixado na sentença judicial for superior ao importe oferecido inicialmente pelo desapropriante, haverá a incidência de juros compensatórios a serem pagos ao desapropriado. São calculados sobre aquela diferença, desde a imissão na posse até a sentença judicial transitada em julgado.51 É o que dispõe o art. 15-A do Decreto-Lei n° 3.365/1941.

Art. 15‐A. A No caso de imissão prévia na posse, na desapropriação por necessidade ou utilidade pública e interesse social, inclusive para fins de reforma agrária, havendo divergência entre o preço ofertado em juízo e o valor do bem, fixado na sentença, expressos em termos reais, incidirão juros compensatórios de até seis por cento ao ano sobre o valor da diferença eventualmente apurada, a contar da imissão na posse, vedado o cálculo de juros compostos. (Incluído pela Medida Provisória n. 2.183-56, de 2001) §1o Os juros compensatórios destinam‐se, apenas, a compensar a perda de renda comprovadamente sofrida pelo proprietário. (Incluído pela Medida Pro- visória n. 2.183-56, de 2001) (Vide ADI n. 2.332-2)

§2o Não serão devidos juros compensatórios quando o imóvel possuir graus de utilização da terra e de eficiência na exploração iguais a zero. (Incluído pela Medida Provisória n. 2.183-56, de 2001) (Vide ADI n. 2.332-2)

§3o O disposto no caput deste artigo aplica‐se também às ações ordinárias de indenização por apossamento administrativo ou desapropriação indireta, bem assim às ações que visem a indenização por restrições decorrentes de atos do Poder Público, em especial aqueles destinados à proteção ambiental, incidindo os juros sobre o valor fixado na sentença. (Incluído pela Medida Provisória n. 2.183-56, de 2001)

§4o Nas ações referidas no §3o, não será o Poder Público onerado por juros compensatórios relativos ao período anterior à aquisição da propriedade ou posse titulada pelo autor da ação.” (Incluído pela Medida Provisória n. 2.183-56, de 2001) (Vide ADI n. 2.332-2)

Art. 15‐B. Nas ações a que se refere o art. 15‐A, os juros moratórios destinam‐ ‐se a recompor a perda decorrente do atraso no efetivo pagamento da indenização fixada na decisão final de mérito, e somente serão devidos à razão de até seis por cento ao ano, a partir de 1o de janeiro do exercício seguinte àquele em que o pagamento deveria ser feito, nos termos do art. 100 da Constituição. (Incluído pela Medida Provisória n. 2.183-56, de 2001)52

50 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 33. ed. São Paulo:

Atlas, 2019. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

51 KNOPLOCK, Gustavo Mello. Manual de direito administrativo: teoria, doutrina e jurisprudência.

11. ed. rev. São Paulo: MÉTODO, 2018. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

52 Brasil. Decreto Lei nº 3365, de 21 de junho de 1941. Dispõe sobre desapropriações por

utilidade pública. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3365.htm. acesso em: 15 de mar 2020

(25)

Os art. 15‐A e 15‐B incidem sobre todos os tipos de desapropriação, inclusive indireta, estabelecendo os critérios de fixação dos juros compensatórios e moratórios devidos pelo expropriante.53

Quanto à base de cálculo dos juros compensatórios contida também no

caput do art. 15-A, acima referido, para que não vulnere o princípio constitucional do

prévio e justo preço, deve-se dar interpretação conforme à Constituição54, para se ter

como constitucional o entendimento de que essa base de cálculo será a diferença eventualmente apurada entre 80% do preço ofertado em juízo, e o valor do bem fixado na sentença.55

A indenização deve ser em dinheiro, salvo duas exceções. A primeira delas é a desapropriação para reforma agrária, ao passo que a desapropriação sanção urbanística, o pagamento deve ser efetuado em moeda corrente. Na hipótese de transação56, poderá́, entretanto, ser estabelecida outra forma de pagamento. Fixado

na ação de desapropriação, o valor em dinheiro será́ pago através de precatório57 se

o expropriante for pessoa jurídica de direito público. O pagamento da indenização, na hipótese de acordo, será realizado na forma nele estabelecida.58

As desapropriações podem consumar-se de forma amigável, mediante acordo entre as partes, no qual muitas vezes será melhor para o expropriado aceitar um acordo, ainda que aparentemente não lhe seja muito vantajoso. Como não

53 COUTO, Reinaldo. Curso de Direito Administrativo. 2.ed. São Paulo. Saraiva. 2015. E-book 54 A Interpretação conforme à Constituição enquadra-se no estudo das técnicas de decisão

operadas pela jurisdição constitucional. Não se trata propriamente de um método específico ou diferenciado de interpretação da Constituição, mas sim das leis. Assim, quando uma norma infraconstitucional contar com mais de uma interpretação possível, uma (no mínimo) pela

constitucionalidade e outra ou outras pela inconstitucionalidade, múltipla interpretação dentro dos limites permitidos ao intérprete, este deverá sempre preferir a interpretação que consagre, ao final, a constitucionalidade. E isso é assim porque as leis são consideradas expressão da vontade popular, e, pois, se possível, devem ser preservadas pelo Judiciário. (ANDRÉ RAMOS TAVARES 2017)

55 SCATOLINO, Gustavo. TRINDADE, João. Manual de Direito Administrativo 4 ed. Salvador, Ed.

Juspodivm, 2016 E-book.

56 Código Civil art. 840. É lícito aos interessados prevenirem ou terminarem o litígio mediante

concessões mútuas.

57 O art. 100 da Constituição Federativa do Brasil estabelece os pagamentos devidos pelas Fazendas

Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim.

58 ARAGÃO, Alexandre Santos de. Curso de direito administrativo. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense,

(26)

resultará de condenação judicial, não estará́ sujeito a ordem dos precatórios, que pode ser postergado por vários anos.59

No que tange aos honorários advocatícios, incidirá sobre o percentual fixado pelo juiz sobre a diferença entre o valor oferecido na inicial e aquele da indenização, corrigidas ambas monetariamente. Incluem-se no cálculo da verba advocatícia as parcelas relativas aos juros compensatórios e moratórios, também corrigidas monetariamente.60 O pagamento da indenização será realizado por acordo,

ou na forma prevista na decisão judicial, hipótese em que seguirá a ordem cronológica das requisições (precatórios) endereçadas ao Poder expropriante.61

No próximo tópico será realizada a abordagem da desistência da desapropriação.

2.4 DESISTÊNCIA

Como ocorre nas hipóteses relacionadas aos direitos individuais, a desapropriação se sujeita ao princípio da proporcionalidade. Dessa maneira, há invalidade da desapropriação em que o Estado não evidenciar que esta é a solução adequada e necessária para o cumprimento de suas funções, e a que mais privilegia direitos e valores protegidos constitucionalmente.62

Em que pese o interesse da Administração Pública, é permitido ao Poder Público desistir da desapropriação, inclusive no curso da ação judicial. O expropriado não pode opor-se à desistência, mas terá direito à indenização pelos prejuízos causados pelo expropriante.63 Nessa situação, o expropriado poderá́ pleitear os

prejuízos suportados com a expropriação iniciada e não concluída.64

59 CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em juízo. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense,

2018. E-book.

60 MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo moderno, 21. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2018 E-book.

Acesso restrito via Minha Biblioteca.

61 ROSA, Márcio Fernando Elias. Direito administrativo. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. E-book.

Acesso restrito via Minha Biblioteca.

62 FILHO, Marçal Justen. Curso De Direito Administrativo. 4.ed. São Paulo: editora Revistas dos

Tribunais. 2016 E-book.

63 ALEXANDRINO, Marcelo. PAULO, Vicente. Direito Administrativo Descomplicado. 25. ed. São

Paulo: MÉTODO, 2017. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

64 COSTA, Elisson Pereira da. Direito administrativo III: bens públicos, licitação, contratos

administrativos e intervenção do Estado na propriedade privada. v.33. São Paulo: Saraiva,

(27)

Embora o trânsito em julgado sobressaia como o marco para que o ente expropriante possa desistir da ação de desapropriação, a jurisprudência65 já assentou

a possibilidade de aceitar a desistência depois do trânsito em julgado da sentença na ação de desapropriação, se ainda não tiver sido pago o preço.66

Desta forma a desistência é possível enquanto não ocorrer o pagamento do preço, até a incorporação do bem ao patrimônio do expropriante, ou seja, para o móvel, até a tradição e, para o imóvel, até o trânsito em julgado da sentença ou o registro do título resultante do acordo. Pode ocorrer, todavia, a retrocessão do bem,67

e não mais desistência da desapropriação, porque seus efeitos já se exauriram com a transferência do domínio.68

A Administração Pública, como expressão do poder estatal, pode anular seus próprios atos no exercício do controle interno de legalidade, de legitimidade e de moralidade.69 O critério é discricionário. Se os efeitos materiais produzidos pelo ato

até sua revogação ocasionaram prejuízos ao particular, devem ser indenizados, embora a coisa retorne a seu domínio. Enquanto não incorporado o bem ao patrimônio público, os efeitos serão os mesmos da revogação.70

O ato discricionário da Administração Pública concernente a revogação, está contemplado na Súmula n.º 47371 do colendo Supremo Tribunal Federal, com

65 REsp 1.368.773/MS, Rel. Ministro OG FERNANDES, Rel. p/ Acórdão Ministro HERMAN

BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/12/2016, DJe 02/02/2017. Sobre o tema, a jurisprudência do STJ consolidou-se no sentido de que é possível a desistência da

desapropriação, a qualquer tempo, mesmo após o trânsito em julgado, desde que ainda não tenha havido o pagamento integral do preço e o imóvel possa ser devolvido sem alteração substancial que impeça que seja utilizado como antes.

66 Cunha, Leonardo Carneiro da A Fazenda Pública em juízo. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense,2018.

E-book.

67 Art. 519. “Se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade pública, ou por interesse

social, não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao expropriado direito de preferência, pelo preço atual da coisa”. (BRASIL, 2002)

68 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 42. ed. São Paulo: Malheiros, 2015.

E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

69 MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo: parte introdutória, parte

geral e parte especial. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

70 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Obrigações e Responsabilidade Civil. 17º ed. São Paulo:

Atlas, 2017 E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

71 A Sumula 473 do STF estabelece que a administração pode anular seus próprios atos, quando

eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.

(28)

alguns aspectos específicos detalhados no art. 74 da própria Constituição da República Federativa do Brasil.

Sobre a acepção contemporânea do poder discricionário, esclarece Odete Medaua:

A discricionariedade significa uma condição de liberdade, mas não liberdade ilimitada: trata-se de liberdade onerosa, sujeita a vínculo de natureza peculiar. É uma liberdade-vínculo. Só vai exercer-se com base na atribuição legal, explícita ou implícita, desse poder específico a determinados órgãos ou autoridades. Por outro lado, o poder discricionário se sujeita não só às normas específicas para cada situação, mas a uma rede de princípios que asseguram a congruência da decisão ao fim de interesse geral e impedem seu uso abusivo.

[...]

A autoridade, ao exercer o poder discricionário, deve atender ao interesse público referente à competência que lhe foi conferida, e, por isso, a escolha que realiza é finalística. Evidente que há diversos interesses no contexto social, o que leva à ponderação comparativa de todos ante aquele atinente à sua competência. Por isso, um setor da doutrina menciona a relevância do conhecimento fiel e completo dos fatos relacionados à decisão a ser tomada e da consideração de todos os interesses envolvidos, atribuindo a cada um o peso justo.72

A desistência, de acordo com o colendo Supremo Tribunal Federal, ainda que manifestada após a apresentação da contestação, não depende da concordância do réu, sendo inaplicável o art. 485, § 4º do Código Processo Civil de 2015. Ainda que se pretendesse exigir a concordância do réu, o Poder Público poderia revogar o decreto expropriatório, na via administrativa, o que ensejaria a extinção do processo por ausência superveniente do interesse processual.73 (art. 485, VI do referido

Diploma Legal).

Cumpre registrar que a desistência da desapropriação somente não é possível depois que a indenização foi paga pelo Poder Público, e adjudicado o imóvel ao patrimônio público, esgotada a fase do art. 34 do Decreto-Lei nº 3.365/4174. O caput

do art. 10 do referido Decreto-Lei, estabelece que é de cinco anos o prazo de caducidade do decreto expropriatório, ou seja, que a desapropriação deverá

efetivar-72 MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo moderno, 21. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2018 E-book.

Acesso restrito via Minha Biblioteca.

73 OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo. 7. ed. Rio de. Janeiro:

Forense; São Paulo: MÉTODO, 2019. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

74 DL nº 3.365/41, art. 34: O levantamento do preço será deferido mediante prova de propriedade, de

quitação de dívidas fiscais que recaiam sobre o bem expropriado, e publicação de editais, com o prazo de 10 (dez) dias, para conhecimento de terceiros.

(29)

se mediante acordo ou judicialmente, dentro deste prazo, contado da data da expedição do decreto, findo o qual somente decorrido um ano poderá ser o mesmo bem objeto de nova declaração.75

O instrumento de intervenção do Estado na propriedade privada tem seu uso autorizado e disciplinado pelo próprio ordenamento jurídico. Entretanto, há situações como a desapropriação indireta, em que a intervenção estatal é realizada por meio de um ato ilícito violador da ordem jurídica, sem a observância do devido processo legal.76 No entanto, a “desistência” é inadmissível para furtar-se ao

pagamento da indenização, em analogia com a expropriação direta e regular. Por se tratar de ação de reparação de danos submetida à disciplina do Código de Processo Civil, transitada em julgado a sentença, não pode uma das partes, por ato unilateral, livrar-se de seus efeitos.77

A modalidade de desapropriação indireta é a que se processa sem a observância do procedimento legal estipulado, sendo por esse fato equiparada a um esbulho. Pode ser impugnada por intermédio de ação possessória ajuizada no momento oportuno, ou seja, antes de se conferir destinação pública ao bem.78

Os atos administrativos são passíveis de revogação pela própria Administração, ou de anulação ordenada pelo Poder Judiciário. Assim, na ausência dos requisitos legais, o ato poderá ensejar a impetração de mandado de segurança ou o ajuizamento de ação popular (Lei nº 4.717/65, art. 1º, 2º e 6º). O expropriado poderá valer-se, ainda, da ação direta (Dec.-Lei nº 3.365/41, art. 20) para questionar judicialmente o ato ilegal.79

Haja vista que a propriedade é um direito real que estabelece para a pessoa o domínio de um bem, com a prerrogativa de usar gozar e dispor, vê-se que a desapropriação é uma forma de intervenção por parte do Poder Público em despojar

75 NOHARA, Irene Patrícia. Direito administrativo. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2019. E-book. Acesso

restrito via Minha Biblioteca.

76 MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo. 8. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

77 ARAÚJO, Edmir Netto de. Curso de direito administrativo. 8. ed. São Paulo: Saraiva Educação,

2018. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

78 SPITZCOVSKY, Celso. Direito administrativo esquematizado. 2. ed. São Paulo: Saraiva

Educação, 2019. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

79 ROSA, Márcio Fernando Elias. Direito administrativo. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. E-book.

(30)

alguém de sua propriedade, com o fundamento em razão de uma necessidade ou utilidade pública, ou ainda diante do interesse social, mediante prévia e justa indenização.

No presente capítulo foram abordados os principais conceitos a respeito da intervenção, as modalidades de desapropriação e seus fundamentos normativos e a efetivação do procedimento expropriatório, de forma a proporcionar um melhor entendimento sobre conteúdo proposto. Ainda neste estudo vê-se que o bem expropriado, uma vez incorporado à Fazenda Pública, não podem ser objeto de reivindicação, sendo permitido ao proprietário prejudicado o ajuizamento de ação indenizatória. Demonstrada, assim, a importância desse capítulo para o desenvolvimento deste trabalho monográfico.

O capítulo subsequente versa sobre as Áreas de Preservação Permanente, que são espaços especialmente protegidos com a função de preservar a biodiversidade, a paisagem e, principalmente, para a manutenção da qualidade do solo, e da água. Aborda-se com especial atenção às suas modalidades e requisitos, bem como os serviços ecossistêmicos, desmatamento e Órgãos Ambientais, além da recuperação ambiental das áreas degradadas.

(31)

3 AREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE

As Áreas de Preservação Permanente, as de uso restrito, as áreas de reserva legal, as não edificantes e as unidades de conservação são os principais institutos da política nacional de meio ambiente que interferem, modulam ou até retiram o direito de propriedade do titular, objetivando a preservação do meio ambiente.80 As Áreas de Preservação Permanente são área protegida, coberta ou não

por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.81

Neste capítulo será iniciado o estudo das Áreas de Preservação Permanente, tratar-se-á de suas características, abordando desta forma as áreas consolidadas e serviços ecossistêmicos. Também serão objeto de discussão o desmatamento, os órgãos ambientais e a recuperação ambiental.

3.1 CARACTERISTICAS

Extrai-se da Constituição da República Federativa do Brasil, que o Poder Público e a coletividade têm o dever fundamental de preservar o meio ambiente. É oportuno destacar que o meio ambiente ecologicamente equilibrado não é um patrimônio do Poder Público ou dos particulares. Cuida-se de um bem de uso comum do povo, em que o Poder Público passa a figurar não como um proprietário, mas como um gestor ou gerente que administra bens que não são dele e, por isso, deve explicar convincentemente sua gestão.82

Uma das formas de se proteger o meio ambiente se faz por intermédio da criação83 de unidades de conservação, que é uma das maneiras mais importantes

para a proteção dos recursos naturais ambientais. Veja-se que no âmbito da

80 Silva, Adão Daniel da. Direito ambiental: livro didático. Palhoça: Unisul Virtual, 2016.p59 81 Brasil. Lei Federal nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Art. 3º, II Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm. Acesso em: 30 de mar de 2020.

82 SILVA, Anderson Furlan Freire da. Elementos de direito ambiental: noções básicas,

jurisprudência e questões de concursos públicos. São Paulo: MÉTODO, 2011. E-book.

83 RODRIGUES, Marcelo Abelha Direito ambiental esquematizado. 3. ed. São Paulo: Saraiva,

(32)

Constituição da República Federativa do Brasil foi estabelecido como sendo um dos deveres do Poder Público84, de forma que se definiu no art. 225, § 1º inc. III que em

todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos. A alteração e supressão permitida somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção.85.

As Áreas de Preservação Permanente são locais definidos pelo Código Florestal ou por regulamento específico, de maneira que, a rigor, não são permitidas alterações antrópicas, ou seja, interferências do homem sobre o meio ambiente, a exemplo de um desmatamento ou de uma construção.86 Áreas de Preservação

Permanente são áreas ambientalmente relevantes e, como tal, devem ter sua vegetação preservada. São destinadas exclusivamente à proteção de suas funções ecológicas caracterizadas, regra geral, pela intocabilidade e vedação de uso econômico direto.87

Segundo o Código Florestal considerar-se Área de Preservação Permanente aquela protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.88 Pela definição legal, percebe-se que a Área

de Preservação Permanente poderá ou não ser coberta por vegetação nativa, devendo esta ser mantida por questões ambientais e, também, para preservar a segurança das pessoas.89

84 MUKAI, Toshio. Direito ambiental sistematizado. 10 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. E-book.

Acesso restrito via Minha Biblioteca.

85 BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:

Presidência da República, 1988. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 03 abr. 2020

86 FARIAS, Talden. NÓBREGA COUTINHO, Francisco Seráphico da. MELO, Geórgia Karênia R. M.

M. Direito ambiental. 3º ed. Juspodivm. Bahia 2015. E-book.

87 SILVA, Romeu Faria Thomé Da. Manual De Direito Ambiental. editora juspodivm. 5º Edição 2015.

E-book.

88 BRASIL. Lei Federal nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Código Florestal. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm. Acesso em: 03 de abril de 2020

89 AMADO, Frederico. Resumo de direito ambiental: esquematizado. 3. ed. São Paulo, Método.

(33)

Desse modo, a supressão de vegetação em Área de Preservação Permanente deve ser uma exceção. De acordo com o art. 8º do Código Florestal, a Área de Preservação Permanente90 possui uma limitação florestal importante, na

medida em que a supressão da vegetação se constitui de uma exceção. É possível apenas mediante autorização do Poder Público, em caso de utilidade pública ou interesse social ou de baixo impacto da atividade91

Uma questão que tem suscitado discussão é a aplicação de dispositivos do Código Florestal em áreas urbanas, especialmente aqueles referentes as Áreas de Preservação Permanente em margens de rios. Na verdade, o contexto normativo é contraditório e deve ser interpretado sistematicamente, e não de forma isolada e sem organicidade92 O Código Florestal expressamente dispõe no caput do art. 4.º, que as

hipóteses de caracterização de Áreas de Preservação Permanente também são aplicáveis às zonas urbanas.93

O Capítulo II do Código Florestal foi dedicado às Áreas de Preservação Permanente, sendo dividido em duas seções distintas: a primeira delas dedicada à delimitação das Áreas de Preservação Permanente, ao passo que a segunda, ao seu regime jurídico diferenciado.94 Na primeira existem duas modalidades de Áreas de

Preservação Permanente: por força de lei, do art. 4º do Código Florestal; e Área de Preservação Permanente declarada de interesse social por ato de Poder Público, também conhecida como administrativa, na forma do art. 6º do Código Florestal.95

Nesse sentido se infere:

As Áreas de Preservação Permanente por força de lei são aquelas que pela sua simples localização são consideradas Áreas de Preservação Permanente, como as faixas marginais de rios e córregos, o entorno dos lagos e lagoas etc. O simples fato de existir uma nascente em uma propriedade já caracteriza o seu entorno como Área de Preservação Permanente, observando as metragens do Código Florestal.

90 THOMÉ, Romeu. Direito Ambiental I. 9. ed. Salvador: Juspodivm. 2016. E-book.

91 LEITE, José Rubens Morato. Manual de direito ambiental. São Paulo. Saraiva, 2015. E-book.

Acesso restrito via Minha Biblioteca.

92 ANTUNES, Paulo de Bessa. Manual de direito. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2015. E-book. Acesso

restrito via Minha Biblioteca.

93 BELTRÃO, Antonio F. G. Curso de direito ambiental. 2. ed. MÉTODO, 2014. E-book. Acesso

restrito via Minha Biblioteca.

94 RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito ambiental esquematizado 6. ed. São Paulo: Saraiva

Educação, 2019. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

95 OLIVEIRA, Fabiano Melo Gonçalves de. Direito ambiental. 2. ed. São Paulo: MÉTODO, 2017.

(34)

As Áreas de Preservação Permanente declaradas de interesse social por ato do Chefe do Poder Executivo, em áreas cobertas com florestas ou outras formas de vegetação, são também chamadas de Áreas de Preservação Permanente administrativas. Isso porque o enquadramento em uma das finalidades do art. 6º do Código Florestal permite ao Chefe do Poder Executivo (Presidente da República, Governador de Estado ou Prefeito Municipal) a instituição de uma Áreas de Preservação Permanente. 96

Importante ressaltar que o inciso III do artigo 4º deve ser aplicado conforme definido na licença ambiental. Não se exigirá faixa de Áreas de Preservação Permanente nos entornos das acumulações naturais ou artificiais de água com superfície inferior a 1 (um) hectare, vedada nova supressão de áreas de vegetação nativa, salvo autorização do órgão ambiental competente do Sistema Nacional do Meio Ambiente.97 Observa que o regime jurídico do uso do solo não pode

desconsiderar a proteção ambiental. Do mesmo modo, a proteção das áreas de Preservação não pode desconsiderar as necessidades vitais dos habitantes das cidades.98

Em síntese verifica-se que o Código Florestal estabelece a prerrogativa de o particular explorar sua propriedade, desde que sejam preservadas as Áreas de Preservação Permanente. Cada propriedade se submeterá a restrições administrativas como, por exemplo, o monitoramento básico de todo o sistema de zoneamento ambiental. Deve-se frisar que a definição dos locais da propriedade para a instituição dessa restrição será́ a critério da autoridade competente, como estipula o art. 16 do Código Florestal.99

O próximo tópico será abordado o conteúdo das áreas consolidadas e serviços ecossistêmicos.

96 OLIVEIRA, Fabiano Melo Gonçalves de. Direito ambiental. 2. ed. São Paulo: MÉTODO, 2017.

E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca.

97 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2019. E-book. Acesso

restrito via Minha Biblioteca.

98 THOMÉ, Romeu. O Valor Indenizatório em Desapropriações de Áreas de Preservação

Permanente em Zona Urbana. Fortaleza, v. 15. 2018 p7 disponível em:

https://periodicos.uni7.edu.br/index.php/revistajuridica/article/download/543/468/ Acesso em: 08 de abril de 2020.

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