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Outra sobreposição de posse de terras do Sudoeste do Paraná deveu-se às disputas pelo controle territorial da região, entre os Estados de Santa Catarina e do Paraná. No início do século XX, o governo de Santa Catarina concedeu a José Rupp, o direito de explorar madeira e erva-mate em terras no território reivindicado pelos dois Estados. Rupp passa então a disputar as terras com a Companhia Estrada de Ferro São Paulo Rio Grande (EFSPRG), terras que já haviam sido tituladas em 1913 e 1920. Rupp perdeu em diversas instâncias até que, em 1938, o Supremo Tribunal Federal confirmou que as reivindicações de Rupp eram justas. Entretanto, como vimos, a EFSPRG foi nacionalizada em 1940 pelo governo Vargas. Desse modo, Rupp se vê credor da União, que se recusa a pagar a indenização. Ele então, procura efetivar diversos acordos com a União, mas não obtém sucesso em nenhuma tentativa. Diante das recusas, decide vender os seus direitos. Em 26/7/1950 transfere o seu crédito para a Clevelândia Industrial e Territorial Ltda. (CITLA), de quem um dos sócios era o governador do Paraná, Moisés Lupion, filiado ao Partido Social Democrático (PSD) (ABRAMOVAY, 1981; LAZIER, 1998; MARTINS, 1985; FERES, 1990).

Diante do novo credor, a dívida passa a ter um tratamento diferente. O que era recusado a José Rupp passa a tramitar e a ser solucionado pela burocracia. Este fato inaugura o capítulo mais importante da posse de terras do sudoeste paranaense. Resolvidas as questões entre Brasil e Argentina; e entre Paraná e Santa Catarina, havia um novo problema a ser enfrentado, ou seja, o das colonizadoras. Para o pagamento do crédito negado a Rupp a empresa de Moisés Lupion recebeu cerca de 500 mil hectares em terras férteis, com enormes riquezas naturais, dentre as quais 3 milhões de pinheiros adultos e rios com potencial hidroelétrico.

O processo foi então denunciado pela oposição, principalmente pelo PTB. A repercussão negativa foi tamanha que, segundo Feres (1990, p. 505), o Tribunal de Contas da União negou o registro da escritura das terras da CITLA, alegando inconstitucionalidade da operação por quatro motivos: 1) era proibida a venda ou concessão de terras na faixa de fronteira (as terras administradas pela CANGO), sem permissão prévia do Conselho de Segurança Nacional; 2) não era permitida a venda ou concessão de terras públicas superiores a 10.000 ha sem a permissão do Senado; 3) a SEIPU não podia vender terras sem concorrência pública; 4) as terras estavam sub judice, não podendo ser objeto de negócio.

Além das irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas da União, dois outros problemas que foram levantados pela oposição. O primeiro refere-se ao fato de que as indenizações devidas a Rupp haviam sofrido uma enorme majoração. O segundo é atinente ao processo de escrituração das terras, em que a suspeita pesava sobre a validade dessa escrituração, pois a minuta da escritura da SEIPU foi modificada quando do seu registro em cartório. O negócio todo foi feito em um cartório de propriedade do sogro do superintendente da SEIPU, Antônio Vieira de Melo, responsável direto pela transação das glebas Missões e Chopim. Houve então um pedido, através de um ofício do Conselho de Segurança Nacional (CSN), para que a escritura da CITLA não fosse registrada (WACHOWICZ, 1987; FERES, 1990; LAZIER 1998). Para contornar esta proibição, a CITLA conseguiu, o desmembramento de um cartório do Sudoeste do Paraná, instalando-o em Santo Antonio do Sudoeste e, antes que o ofício chegasse até o referido cartório, num primeiro ato, a escritura foi registrada. Imediatamente a CITLA passa a agir na região, instalando escritórios da empresa em Francisco Beltrão e Santo Antônio do Sudoeste. Com a atuação da CITLA, o equilíbrio político e social da região será profundamente alterado.

Para Abramovay (1981), mais importante que a lesão aos cofres públicos era o fato de que, com a entrada da CITLA, os agricultores deveriam pagar por aquilo que já haviam

recebido de graça da CANGO. A CITLA, sabedora de que a posse das terras, das glebas Missões e Chopim, seria duramente questionada, passa imediatamente a exigir pagamentos dos colonos.

2.3.3.3 - A situação dos colonos frente à nova situação das terras

A insegurança dos colonos frente às companhias colonizadoras era enorme. Sem o título das terras as terras não lhes pertenciam. Os títulos provisórios dados pela CANGO eram ilegais. O processo se arrasta por diversos anos, até 10 de outubro de 1957. Nessa data, os colonos ocuparam várias cidades e localidades do Sudoeste, entre elas Francisco Beltrão, sede da CITLA, e mais de 4.000 agricultores se concentram e, de armas em mãos, liderados pelo médico Walter Pecóits, comerciantes, membros da CANGO e sob o acompanhamento e proteção do exército, ocupam a cidade, expulsam os jagunços e os grileiros, destroem a sede da companhia e queimam os documentos das companhias.

Segundo Pecóits, os colonos orgulham-se do caráter pacífico da revolta, pois em nenhum momento da ocupação foi necessário o uso das armas que carregavam, o que sinaliza, segundo Abramovay, que o colono lutava pela lei e pela propriedade. Não se constituía em uma revolução política. A revolta dá início a um novo capítulo na história da posse da terra na região Sudoeste do Paraná, com a criação do Grupo Executivo para as Terras do Sudoeste do Paraná (GETSOP), e com ela o a criação de uma identidade singular que formará um dos patrimônios fundamentais mobilizados pelos atores da agricultura familiar regional.

2.3.4 - A regularização das terras pelo GETSOP, o esgotamento do modelo colonizador e a criação da Assesoar

O problema da legalização da posse a terra começará a ser solucionado apenas em 1961, quando o então presidente Jânio Quadros declara que a Gleba Missões e parte da Gleba Chopim são de utilidade pública. A desapropriação ocorre em 27 de março de 1961 pelo Decreto Federal n.º 50.379. No ano seguinte começa a funcionar o GETSOP, órgão criado pelo presidente João Goulart especialmente para demarcar e emitir os títulos de posse no Sudoeste do Paraná. Dessa forma, dava-se continuidade aos trabalhos interrompidos durante a década de 1950, contudo agora sob uma base social mais consolidada, com interesses e lideranças políticas cristalizadas no processo da revolta.

O GETSOP trabalhou até 25 de agosto de 1972, e expediu, no período da sua atuação, 35.856 títulos de posse. Destes, 30.221 foram para o setor rural e 5.653 no setor urbano.

Francisco Beltrão, na época, recebeu 11.733 títulos. Os levantamentos efetuados pelo GETSOP foram bem mais amplos, pois foram medidos 56.917 lotes, dos quais 30.256 rurais e, destes, 7.133 eram abaixo de cinco hectares, o que representava 22,11% dos lotes rurais.

A atuação do GETSOP, contudo, recebeu duras críticas dos técnicos do INCRA, pois a sua jurisdição se sobrepunha às funções daquele órgão. As críticas tinham dois pontos principais Primeiramente o INCRA criticava o modo como se operacionalizou o parcelamento, atividade em que não foram adotados critérios técnicos de viabilidade econômica para a divisão dos lotes. Em segundo lugar, o processo foi considerado populista, pois o colono dizia de quantos hectares era a sua propriedade, e o GETSOP demarcava as terras, ouvindo apenas os vizinhos, a concordância determinava o tamanho da posse. Dessa forma, o GETSOP titulava toda propriedade que tivesse posseiro, sem respeitar os módulos agrários do INCRA (7 alqueires). Não havia critérios técnicos claramente definidos, podendo ser propriedades de 0,5 hectare, ou de mais de 100 hectares; o tamanho das posses era apenas respeitado e titulado como estava. Desse modo, grande parte da estrutura, herdada dos caboclos pelos posseiros, permaneceu inalterada após a solução do conflito de 1957.

O GETSOP deixa uma herança híbrida na região. Ao mesmo tempo em que resolve a questão da posse da terra , todo o processo é executado de forma populista, não obedecendo a critérios técnicos necessários à viabilidade das propriedades rurais. Obviamente, é preciso dizer que a ocupação, no momento em que o GETSOP age na região, já estava toda truncada pela atuação de “agentes familiares” que subdividiam seus lotes distribuindo-os a parentes e conhecidos, e por interesses políticos e econômicos constituídos nos anos anteriores e solidificados na revolta de 1957. Mas o fato é que apenas pouco mais de dez anos após o término dos trabalhos do GETSOP, em 1984, a Assesoar apontava que 40% dos agricultores do Sudoeste do Paraná eram sem terra, ou a terra de que dispunham era insuficiente para a sua reprodução. Este problema levou a entidade a assessorar as comunidades de base e os sindicatos rurais na organização do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra do Sudoeste do Paraná (MASTES). A divisão dos lotes, que permanece até os dias atuais, gera uma forte pressão social por terras na região, cujo reflexo mais imediato é a existência de 44 assentamentos do MST.

A Assesoar surge no período entre a revolta de 1957 e a titulação das terras pelo GETSOP em 1972. Atuando na lacuna deixada pelo Estado, parte da assistência técnica oferecida pela CANGO passa a ser feita pela ONG, mas, além da atuação na formação técnica dos agricultores, a Assesoar tem outras pretensões, dado que o conjunto da sua movimentação

política e social vinculado ao campo tem uma abrangência maior fundada na ação pastoral da Igreja Católica, cujas preocupações e formas de atuação eram bem mais amplas que apenas a questão da terra. Desse modo, a Assesoar, como a primeira organização da agricultura familiar do sudoeste paranaense, tem ampliado cada vez mais a abrangência da sua área de atuação, extrapolando os seus interesses imediatos. Para isso ela procura romper com uma visão setorizada da agricultura e lançar questões, reivindicações e articulações em torno de novos modelos de gestão e organização que se localizam além das agendas imediatas do setor

agrícola. Um exemplo disso é o próprio objeto desta tese, o Projeto Vida na Roça. Esse

projeto, é para a Assesoar, mais que apenas uma de suas atividades. Ele se constituirá, como veremos a seguir em uma experiência que procura mostrar a sua capacidade de conceber políticas públicas, organizar os agricultores e oferecer-lhes uma formação escolar diferenciada. Desse modo, a sua atuação no PVR enfeixa outras questões além da posse da terra, tais como: educação superior, meio ambiente, agroindústria, assistência técnica, cultura, qualidade de vida, saúde e um projeto político articulado ao Partido dos Trabalhadores, dentre outros fatores.

2.3.5 – O contexto histórico de criação da Assesoar

A Assesoar foi criada em 1966 por um grupo de jovens agricultores católicos27 e contou com o apoio decisivo de padres belgas ligados ao Sagrado Coração de Jesus (SCJ), além da participação de profissionais liberais e de comerciantes da cidade28 de Francisco Beltrão.

No contexto de formação da entidade, a atuação dos religiosos foi de fundamental importância, pois permitiu à entidade recém-fundada o acesso a uma ampla rede de contatos nas diversas comunidades espalhadas pela área. Essa rede, além do apoio logístico em todo o Sudoeste do Paraná, abriu a possibilidade para a Assesoar com um discurso “cristão unificador”, que encontrava fácil assimilação entre os jovens agricultores, quase todos católicos fervorosos que, após a revolta de 1957, estavam conscientes de que a organização política era fundamental. Assim, embalados pelos episódios da revolta, juntamente com os

27Ao todo, foram 33 jovens, alguns dos quais continuam a fazer parte da diretoria da Assesoar ou a participar

das suas atividades.

28De 1966 a 1977, a Assesoar foi dirigida por: Euclides Scalco, farmacêutico e bioquímico (1966, 67, 68, 70, 71,

72 e 73), José Emanuelli, em 1969; Natalino Faust, comerciante, em 1974-75 e o Pe. Afonso de Niss, em 1976- 77 ( ASSESOAR, 1998).

padres belgas, este grupo inicia os trabalhos em um momento também específico da Igreja Católica.

A atuação da Igreja na Assesoar29 é de grande expressão, pois marca fortemente as diversas fases da entidade30. Um dos religiosos que mais se destacaram na construção da entidade foi o padre Joseph Caeckelbergh, filho de operários belgas. Segundo a própria Assesoar, ele foi um dos idealizadores e o seu principal líder e articulador desde a fundação até 1978, quando a entidade passa por uma profunda mudança (ASSESOAR, 1998)31.

No que se refere ao aspecto religioso, profundas mudanças começam a ocorrer. O modelo de Igreja apoiada pelo Estado entra definitivamente em crise. A Igreja, para conter a saída de membros e para combater o comunismo, abre-se a um novo modelo, denominado “Igreja dos pobres”, que começa a ganhar terreno e a se desenvolver. O principal instrumento dessa mudança é criado no pontificado de João XXIII, que convoca o Concílio Vaticano II, realizado entre 1962 e 1965. Em essência, a proposta de revisão de João XXIII estava centrada na visão da Igreja como uma congregação de fé, substituindo a concepção hierárquica anterior, que declarava inclusive a infalibilidade papal. Além dessa, outras transformações importantes foram introduzidas por esse concílio, sobretudo no sentido de democratizar os ritos religiosos, que deixam de ser realizados em latim e passam a ser ministrados nas línguas nacionais, o que permite, além de uma melhor compreensão dos leigos, uma abertura interpretativa das escrituras, antes uma prerrogativa exclusiva do clero.

Focando no nível nacional, vemos que, em toda a década de 1940, período que se estenderá até meados de 1960, o Brasil vivia sob o comando de um programa nacional- estatista, implantado no governo Vargas. Este modelo é baseado fundamentalmente na soberania nacional e no desenvolvimentismo. O programa nacional-estadista de Vargas, para ser eficaz e impulsionar o desenvolvimento, necessitava de um Estado forte e

29Há, por parte da Assesoar, a tentativa de construir, no imaginário popular, a idéia de que a atuação dos padres

belgas foi algo ímpar, singular, que só poderia ser elaborada por europeus e os seus descendentes. Obviamente, a atuação da Igreja Católica não está restrita apenas ao Sudoeste do Paraná. É possível encontrar esse mesmo modelo em outras regiões brasileiras, como mostra Eliano Sérgio Azevedo Lopes, professor e pesquisador da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Segundo Lopes, a atuação da Igreja Católica, através das Comunidades Eclesiais de Base (CEB) exerceu um papel fundamental no Estado do Sergipe. Já em 1962, por intermédio da Igreja, foram criados nove sindicatos rurais em diversos municípios e, em 1963, com a união desses sindicatos, foi criada a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (CONTAG), ou seja, quatro anos antes da criação da Assesoar. Embora a constituição histórica das populações rurais dos dois Estados seja diferente, a atuação pastoral segue um padrão de organização.

30Para fins didáticos, separamos a história da Assesoar em quatro fases. Três dessas fases são reconhecidas e

adotadas pela entidade nos seus documentos; a quarta fase decorre de pesquisa de campo. Veremos cada uma dessas fases na seqüência do trabalho.

intervencionista. As suas bases estavam assentadas em dois eixos fundamentais: na construção e na atuação de grandes empresas estatais e no corporativismo sindical. Este período marca também o que ficou conhecido como a Marcha para o Oeste, um programa lançado pelo presidente Getúlio Vargas, na década de 1940, que pretendia efetivar o processo de integração territorial do Brasil.

A Marcha para o Oeste tem na expansão das fronteiras agrícolas um dos seus elementos centrais. No que se refere à agricultura, é necessário lembrar que os anos de 1950 serão divisores de água. As mudanças das políticas agrícolas ocorridas são tributárias do surgimento dos novos modelos produtivos para a agricultura e a pecuária. Com esse modelo, a agricultura será objeto de uma rápida intensificação tecnológica, gerencial e financeira, intensificação que provocou transformações radicais nos sistemas produtivos tradicionais.

No sudoeste paranaense, tais movimentos ocorrem entre o início do processo de colonização patrocinada pelo Estado e a crise gerada pelas disputas territoriais entre as companhias colonizadoras e agricultores. Deste modo, a modernização da agricultura começa a ser implementada no momento em que a configuração do Sudoeste do Paraná estava em constituição. Esse processo encontra agricultores descapitalizados que, com o fechamento da CANGO, vêem-se desamparados pelo Estado. Esse é o contexto que envolve a fundação da Assesoar. É a partir desse cenário que ela começará a organizar o seu discurso e a estruturar sua atuação. A seguir, passamos a estudar sucintamente os principais aspectos das fases da Assesoar.

2.3.5.1 - Aspectos da constituição histórica da Assesoar

O quadro abaixo sintetiza as quatro fases da Assesoar que identificamos no curso da pesquisa, bem como as suas principais atividades desenvolvidas. Em cada uma dessas fases, a ONG desenvolve políticas de parcerias e financiadores que lhe dão capilaridade e sustentabilidade institucional. Em todas elas, o foco de atuação prioritário é direcionado aos agricultores. Nessa interface, a Assesoar desenvolve um longo processo de reflexão, do qual surgem propostas de atuação na realidade, embasadas por amplo arco de influências teóricas e metodológicas, em que se destacam, entretanto, o marxismo e o cristianismo (as outras fontes são conjunturais, como: educação, desenvolvimento sustentável, desenvolvimento local etc.). A seguir passemos à análise das duas primeiras fases que correspondem aos anos iniciais da fundação da entidade até 1990 quando, na nossa avaliação se encerra um importante ciclo de intervenção de constituição da Assesoar e de outras instituições da agricultura familiar na

região. As fases seguintes (III e IV) serão analisadas no capítulo IV. Optamos por esse corte temporal para demonstrar a interação entre as alterações da entidade e as atividades do PVR.

Quadro 4: Resumo sinóptico das fases I e II da Assesoar

P ri n ci p a is a ti v id a d es d es en v o lv id a s Fase I Fase II

1963 - Catequese Familiar, Juventude

Agrária Católica.

1964 - Fundação de Sindicatos, e de

Cooperativas.

1967 - Capacitação Técnica. 1968 - Grupos de Reflexão.

1971- Movimento "Renovação Litúrgica". 1972- Grupos de Adolescentes.

Oposições Sindicais.

1975 - Assessoria Sindical; Oposição

Cooperativista.

1973 – Revista Cambota.

1976- Experimentação Agrícola.

1977- Formação de Monitores Agrícolas;

Monitoras Domésticas.

1984 - Formação Bíblico-Teológica para o

Quadro Social; Banco de Sementes Nativas.

1985 - Formação de Associações

[MASTES].

1986 - Apoio à CUT/Sudoeste.

1989 - Implantação do Fundo de Crédito

Rotativo.

Fonte: Pesquisa de Campo (2006). Organização: ALVES, A.F. 2006.

2.3.5.2 – A ação pastoral e a relação Igreja e Estado – aspectos da primeira fase (1966/1978)

Essa fase dura 12 anos. É marcada por uma atuação pastoral com a presidência e a direção da entidade sendo conduzida por religiosos e líderes políticos regionais, como o já citado padre Joseph Caeckelbergh e, depois, Euclides Scalco (um dos fundadores nacionais do PSDB). Para a ONG, isso feria o princípio basilar de autonomia do agricultor frente aos outros grupos sociais. Segundo a entidade, isto ocorreu porque nenhum agricultor associado se sentia apto a assumir o cargo de presidente da entidade. Embora o estatuto proibisse tal prática, para sanar esse problema, foi aberta uma exceção: “qualquer pessoa que não fosse agricultor, podia ajudar mas nunca anular a participação dos agricultores.” (ASSESOAR, 1998). Desse modo, nos primeiros anos de organização, os principais cargos de direção foram exercidos por não agricultores, os diretores preenchiam os critérios religiosos impostos pelo estatuto da Assesoar.

Assim, nos primeiros 12 anos, a Assesoar teve como presidentes: o Sr. Euclides Scalco, farmacêutico e bioquímico, nos anos de 66, 67, 68, 70, 71, 72 e 73; o Sr. José Emanuelli, em 69; o Sr. Natalino Faust, comerciante, em 74 e 75, e o Pe. Afonso de Niss em 76 e 77. A participação dos agricultores ocorria mais a título de oportunidade de formação do que no sentido de influenciar no direcionamento da entidade (ASSESOAR, 1998, p. 7).

O processo de tomada dos cargos de direção pelos agricultores percorreu um longo e difícil caminho. Para tal processo, em 1978, os agricultores se mobilizaram e realizaram a maior assembléia da entidade, até então. A assembléia de 1978 marca não apenas a alteração na qualificação dos dirigentes, mas também, e fundamentalmente, um processo de mudança ideológica e dos rumos da Assesoar. O processo de politização já vinha ocorrendo desde meados dos anos de 1970, sobretudo com a entrada da Assesoar nas disputas pelas direções sindicais e cooperativistas nos anos de 1975 e 1976.

Na interface com o movimento sindical, os agricultores líderes da Assesoar vão ganhando uma consciência de esquerda que vai conflitar com a direção conservadora dos profissionais liberais e dos religiosos. Um exemplo disso é apontado por Euclides Scalco, que, juntamente com os religiosos, começa a abandonar a instituição em 1974. Em entrevista cedida ao jornalista Aroldo Murá G. Haygert, do jornal de Ciência e Fé32, Scalco esclarece alguns pontos da sua saída e o modo de atuação da Assesoar:

Atendendo aos apelos dos sacerdotes, Scalco, católico de sólida formação, jamais um beato, deixa cargos políticos e engaja-se com os padres na criação da mais bem arregimentada instituição civil já vista no Estado, a Associação de Estudos e Orientação Rural (Assesoar), em 1966. Coordena 500 núcleos rurais na região, nos