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PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Capítulo 2 – Apresentação e análise dos dados

2.4. Colaboração Versus Cooperação

No enquadramento teórico efetuamos uma clarificação concetual entre colaboração e cooperação. Sendo que estes conceitos são utilizados recorrentemente nos relatórios de AEE, tentamos verificar se, por parte da IGEC, existe uma distinção concetual na sua utilização, ou se os mesmos são utilizados indistintamente. Da análise indutiva dos relatórios emergiram três subcategorias:

Colaboração – sempre que esta expressão é referida nos relatórios:

“Os docentes desenvolvem trabalho colaborativo ao nível do planeamento e na elaboração de instrumentos de avaliação” (E7-2).

Cooperação – criada segundo o mesmo critério da subcategoria anterior:

“Existência de um trabalho cooperativo na construção de instrumentos comuns de avaliação e na partilha de experiências e de boas práticas” (E5-2).

Outros – Refere-se à utilização de outras expressões que não sendo expressamente Colaboração/Cooperação, prendem-se com as mesmas práticas:

108 “Partilha de práticas cientifico-pedagógicas…” (E1).

“Docentes realizam algumas partilhas no que diz respeito aos materiais didáticos…” (E4-2).

Quadro 17 – Colaboração Versus Cooperação

Dimensão Domínio Subcategorias

Unidades de Registo Frequência Absoluta % Prestação do Serviço Educativo Colaboração/Cooperação entre docentes Colaboração 10 27,0 Cooperação 13 35,2 Outras 14 37,8 Total 37 100,0

Detenhamo-nos na análise relativa dos dados obtidos. Constata-te que nos relatórios analisados, maioritariamente recorre-se às asserções Colaboração/Cooperação para caraterizar as dinâmicas de trabalho conjunto realizado nas escolas. Nos restantes, prefere-se a utilização de expressões como “partilha”, “trabalho conjunto”, “trabalho de equipa”, “elaboração conjunta”.

A análise global dos dados permite-nos constatar que não se verifica uma clara prevalência da utilização de uma expressão em detrimento das outras, embora exista uma maior frequência, embora ligeira, na utilização de termos como partilha/trabalho em conjunto/elaboração conjunta.

No que diz respeito à utilização dos conceitos Colaboração/Cooperação não conseguimos descodificar uma diferença concetual na sua utilização, parecendo-nos que os mesmos são utilizados indistintamente. Eis alguns exemplos:

“Práticas colaborativas de construção de matrizes e instrumentos de avaliação” (E3- 2).

“Trabalho cooperativo para a realização de planificações como de instrumentos de avaliação” (E2-2).

“Trabalho colaborativo em especial na elaboração das planificações e na criação de materiais” (E20-2).

“Modo cooperativo de trabalho na definição de estratégias e produção de materiais didáticos” (E8).

109 No enquadramento teórico defendemos que estes conceitos não devem ser utilizados como sinónimos (Boavida & Ponte; 2002, Freitas & Freitas, 2002; Jorge Lima, 2002), uma vez que encaramos a colaboração no seu modo mais abrangente, que implica uma corresponsabilização de todos os intervenientes, implicando, para isso, segundo Alarcão & Canha (2013), “uma dimensão emocional e afetiva”, já que pressupõe uma atitude de abertura face ao outro e a “possibilidade de autotransformação” (Chioca & Martins, 2004, citados por Alarcão & Canha, 2013).

O modo como estas formas de trabalho em conjunto estão descritas nos relatórios não nos permitiram distinguir graus de abrangência distintos na sua abordagem. Identificamos, inclusivamente, alguma confusão na utilização destes conceitos, uma vez que, por vezes, se associa o trabalho cooperativo à partilha de experiências e boas práticas, quando a partilha de tarefas pressupõe o desenvolvimento das mesmas coletivamente recorrendo-se à discussão coletiva e negociação na negociação das tarefas propostas, o que pressupõe uma abordagem colaborativa de trabalho:

Algum trabalho cooperativo, nomeadamente na partilha de experiências e divulgação de boas práticas (E-8) [sublinhado nosso].

O trabalho cooperativo entre os docentes é visível no âmbito da partilha de práticas científico-pedagógicas (E8-2) [sublinhado nosso].

Quando nos relatórios é mencionado que os docentes partilham tarefas, materiais didáticos ou práticas cientifico-pedagógicas, a forma como é descrita esta partilha não permite antever uma distinção entre o trabalho colaborativo ou cooperativo que a precedeu:

“Os docentes realizam algumas partilhas no que respeita aos materiais didáticos e às estratégias de ensino (…)” (E4-2).

“O trabalho colaborativo tem sido reforçado, designadamente ao nível da planificação” (E13-2) [sublinhado nosso].

110 “O trabalho cooperativo entre os docentes é visível ao nível da elaboração do planeamento”. (E8-2) [sublinhado nosso].

Pela análise dos relatórios, estamos em condições de subscrever a apreensão de Figueiredo (2002, cit. por Machado, 2014), quando questiona se o trabalho colaborativo existente nas nossas escolas não será antes um trabalho cooperativo, caraterizado pela fragmentação, disciplinarização e pseudocolaboração, conceções e práticas pouco abonatórias de uma perspetiva globalizante e integradora dos diferentes saberes (Figueiredo, 2002, cit. por Machado, 2014, p. 152). Esta constatação converge com a opinião de Roldão (2007), de que a colaboração docente é, geralmente, mais desejada pelos professores do que propriamente vivenciada.

A análise dos relatórios permite-nos verificar a existência de um trabalho conjunto ao nível das reuniões de departamento curricular centrado essencialmente na planificação, na elaboração de materiais didáticos, de matrizes e instrumentos de avaliação, arredando o foco de discussão e reflexão sobre os problemas sentidos na sala de aula. Tal como referimos anteriormente neste estudo, das catorze asserções encontradas sobre a reflexão conjunta entre os docentes, nove referem-se à reflexão em torno dos resultados. Em apenas três escolas/agrupamentos verificamos a existência de hábitos reflexivos em torno das práticas desenvolvidas, ainda assim, com indefinição na utilização dos conceitos de colaboração e cooperação:

O trabalho colaborativo entre os docentes, promotor da reflexão e partilha de práticas facilitadoras das aprendizagens, contribuindo para enriquecer as dinâmicas pedagógicas e para o aperfeiçoamento profissional (E10-2) [sublinhado nosso].

O trabalho cooperativo entre os docentes é visível no âmbito da reflexão conjunta (E8-2) [sublinhado nosso].

No entanto, e sabendo que as formas conjuntas de trabalho docente têm como objetivo comum a melhoria da organização escolar, podemos inferir que apenas em algumas escolas/agrupamentos estaremos, eventualmente, perante práticas colaborativas de natureza pontual, uma vez que os docentes trabalham não numa relação hierárquica, mas numa base de igualdade, de modo a haver ajuda mútua para a consecução de objetivos que a todos beneficiem.

111 Não obstante, e apoiando-nos na opinião de Fullan e Hagreaves (2001), os relatórios analisados levam-nos a concluir que estas dinâmicas colaborativas “não devem ser confundidas com a consumação de uma cultura de colaboração” (p.71), uma vez que são exercidas por subgrupos, ações conjuntas ocasionais, ou determinadas pelos superiores hierárquicos, o que Roldão (2007) denomina por práticas casuísticas de autêntico trabalho colaborativo docente.

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