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CAPÍTULO 1: METODOLOGIA

1.3 A COLETA DE DADOS

A coleta dos dados da pesquisa realizou-se em três etapas. A primeira, iniciada em março de 2014, compreendeu a coleta documental, associada à aplicação de questionários a todos os conselheiros dos nove CME pesquisados, com objetivo de identificar e conhecer esses atores, bem como sua atuação no respectivo CME. Na segunda etapa, foram realizadas entrevistas individuais, semiestruturadas, com o objetivo de obter dados complementares, não documentais, acerca do objeto de estudo. A terceira fase da pesquisa consistiu em observação

in loco das sessões plenárias dos respectivos CME.

As dificuldades de acesso ao campo, a desconfiança de alguns Presidentes de Conselho e Secretários Municipais de Educação em relação à pesquisa e, em especial, as dificuldades de localização da documentação nos arquivos dos CME e das secretarias municipais de educação, bem como a dificuldade para conseguir cópias dos documentos, exigiram diferentes arranjos para a coleta de dados em cada CME. Em alguns, as etapas da pesquisa foram realizadas consecutivamente e, em outros, concomitantemente, de modo a adequar-se às possibilidades oferecidas. No entanto, essa condição não comprometeu o andamento da pesquisa; pelo contrário, verificou-se que o atendimento das exigências desses órgãos aproximou a pesquisadora do seu campo de pesquisa.

A elaboração dos instrumentos de coleta de dados (questionários e roteiro de entrevista21) deu-se por meio de uma matriz comum, elaborada de acordo com as seguintes

categorias: i) institucionalização dos CME; ii) perfil do conselheiro; iii) relação do CME com o respectivo Sistema Municipal de Ensino; iv) desenho institucional; v) política pública de educação municipal e vi) da atuação dos CME.

O questionário, “instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas”, conjugou perguntas fechadas e abertas e foi elaborado de forma a ser respondido sem a presença do pesquisador (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 201). O instrumento procurou obter informações sobre o perfil e a percepção dos conselheiros sobre a autonomia do CME e a participação dos atores. O cuidado na elaboração do questionário para que a linguagem fosse clara e direta, bem como os pré-testes realizados com dois conselheiros para os ajustes necessários, não foram suficientes para impedir que alguns conselheiros

21 Ver apêndices A, B, C, D, E, F e G.

apresentassem dificuldades no seu preenchimento, manifestando dúvidas quanto aos elementos relativos à sua atuação e práticas dos CME.

Os questionários aplicados após as sessões plenárias nos CME de Contagem, Divinópolis, Ribeirão das Neves22 e Santa Luzia foram entregues quase pela totalidade dos

conselheiros presentes.23 No CME de Belo Horizonte, os questionários foram aplicados

durante a VII Conferência Municipal de Educação de Belo Horizonte, realizada no período de 24 a 26 de abril e 22 e 23 de maio de 201524. Os questionários disponibilizados antecipadamente para a Assessoria Técnica e/ou Presidentes nos CME de Juatuba, Juiz de Fora, Sabará e Sete Lagoas foram devolvidos em número reduzido, com justificativas de ausências dos conselheiros ou de falta de tempo para o preenchimento.

Foram aplicados 173 questionários e 80 foram respondidos, conforme mostra a Tabela 1. Os dados foram tabulados, organizados em tabelas e gráficos referentes a cada dimensão para análise comparada com os dados coletados na análise documental, entrevistas e observação in loco.

Por meio da coleta documental foram indexados25 os seguintes documentos para

posterior análise: i) leis de criação dos SME e dos CME, ii) decretos; iii) regimentos internos dos CME; iv) produções normativas dos CME, como pareceres26 e resoluções; v) atas das

reuniões plenárias a partir de 198827; vi) Planos Municipais de Educação28; vii) relatórios de

22 A reunião do CME de Ribeirão das Neves na qual foi aplicada os questionários contou com baixa presença de

conselheiros. Dos 24 membros previstos na composição do CME, apenas 13 estavam presentes.

23 Alguns conselheiros saíram da sala de reunião e não entregaram o questionário preenchido.

24 Nem todos os conselheiros do CME de Belo Horizonte participaram da VII Conferência Municipal de

Educação.

25 A indexação consiste em uma das técnicas da análise de conteúdo que permite a classificação dos documentos

de acordo com os assuntos ou critérios comuns.

26 Não foram coletados e analisados pareceres referentes à autorização de funcionamento e/ou renovação de

autorização de funcionamento de instituições dos SME nem pareceres de regularização de vida escolar de alunos. Em que pese a importância desses atos normativos, os quais revelam indicativos de atuação dos CME no âmbito do município, considerou-se que essa documentação não atendia ao propósito da pesquisa: compreender o papel dos CME como formuladores de política no âmbito dos SME.

27 Algumas atas disponibilizadas para a análise do período de criação dos CME e SME foram consideradas com

o objetivo de compreender o surgimento dos CME e SME. Exclusivamente no caso de Divinópolis, foram analisadas exaustivamente as atas anteriores a esse período, a fim de compreender a instituição do SME local, que se deu em 2012.

28 Vale lembrar que os princípios constitucionais incidiram nas regulamentações da Lei n. 9.394/96 (BRASIL,

1996b), inciso I do art. 9º, que atribuiu a União à incumbência de elaboração de planos decenais, em colaboração com os entes federados (estados, Distrito Federal e municípios). Tais princípios foram reiterados e acrescidos pela Emenda Constitucional n. 59, de 11 de novembro de 2009, responsável por alterar no seu art. 4º, o caput do art. 214 da CF e de acrescer o inciso VI, que estabelece duração do Plano Nacional de Educação e define “diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas” (BRASIL, 2009a). A Lei n. 13.005/2014 (BRASIL, 2014a), que instituiu o Plano Nacional de Educação (PNE), determina, para o primeiro ano de vigência, a elaboração ou adequação dos planos estaduais, distrital e municipais de educação, em consonância com o texto nacional.

conferências e/ou consultoria técnica; viii) pareceres de exame do CEE/MG acerca de comunicação de criação de SME; ix) demais documentos internos disponibilizados pelos CME (ofícios, relatórios, entre outros). Poucos CME deram acesso ao acervo completo de documentos, conforme solicitado, sendo necessárias várias intervenções para completar essa etapa da pesquisa na maioria dos CME pesquisados (Juatuba, Juiz de Fora, Ribeirão das Neves, Sabará e Santa Luzia). Além disso, as condições em que se apresentam os referidos registros documentais mostraram-se, em alguns casos, bastante precárias quanto à sua legibilidade.

Tabela 1 - Número de questionários aplicados e respondidos pelos membros dos CME de Belo Horizonte, Contagem, Divinópolis, Juatuba, Juiz de Fora, Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia e Sete Lagoas

CME ENTREGUES PARA APLICAÇÃO RECEBIDOS PARA ANÁLISE

BELO HORIZONTE 24 17

CONTAGEM 24 19

DIVINÓPOLIS 20 9

JUIZ DE FORA 21 4

JUATUBA 16 4

RIBEIRÃO DAS NEVES 24 9

SABARÁ 12 4

SANTA LUZIA 24 11

SETE LAGOAS 8 3

TOTAL 173 80

Fonte: Banco de dados da pesquisa intitulada O papel dos Conselhos Municipais de Educação do estado de Minas Gerais na formulação de

políticas públicas de educação (QUEIROZ, 2017).

A segunda etapa da pesquisa consistiu na realização de entrevistas individuais, semiestruturadas, com o objetivo de obter informações discursivas, não documentais, acerca dos CME, procedimento utilizado como “um processo de interação social, no qual o entrevistador tem por objetivo a obtenção de informações por parte do entrevistado” (COLOGNESE; MELO, 1998, p. 143). A opção pela entrevista semiestruturada “face a face” considerou que esse tipo de entrevista permite aos entrevistados responderem “mais nos seus próprios termos do que as entrevistas padronizadas, mas ainda fornecem uma estrutura maior de comparabilidade do que nas entrevistas focalizadas” (MAY, 2004, p. 148).

As entrevistas tiveram duração aproximada de uma hora e meia, seguiram roteiro previamente elaborado, conforme Apêndices C, D, E, F e G, foram realizadas no próprio espaço do CME, gravadas e transcritas posteriormente, com o consentimento dos entrevistados. Foram entrevistados: o Presidente do CME, o Secretário Municipal de

Educação (caso a presidência do CME não fosse exercida pelo secretário)29, dois conselheiros

e dois secretários executivos ou técnicos (quando a instituição contava com o apoio desse profissional)30, conforme Tabela 2.

Tabela 2 - Número de entrevistas realizadas nos CME de Belo Horizonte, Contagem, Divinópolis, Juatuba, Juiz de Fora, Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia e Sete Lagoas

CME PRESIDENTE MUNICIPAL DE SECRETÁRIO EDUCAÇÃO

ASSESSORES

TÉCNICOS CONSELHEIROS TOTAL BELO HORIZONTE 1 1 2 2 6 CONTAGEM 1 - 2 2 5 DIVINÓPOLIS 1 1 1 2 5 JUATUBA 1 - 1 2 4 JUIZ DE FORA 1 1 1 2 5 RIBEIRÃO DAS NEVES 1 1 1 2 5 SABARÁ 1 - - 2 3 SANTA LUZIA 1 - 1 2 4 SETE LAGOAS 1 1 1 2 5 TOTAL 9 5 10 18 42

Fonte: Banco de dados da pesquisa intitulada O papel dos Conselhos Municipais de Educação do estado de Minas Gerais na formulação de políticas públicas de educação (QUEIROZ, 2017).

O segmento dos conselheiros entrevistados está discriminado na Tabela 3, na qual se observa maior representação nas entrevistas dos conselheiros do segmento dos trabalhadores em educação. Nesse segmento, estão incluídos os diretores das instituições escolares, representantes de sindicatos, professores e demais funcionários municipais. A incidência maior desse segmento indica, entre outros aspectos, sua disponibilidade para a entrevista, elucidando os recursos de que dispõe para a participação na pesquisa e dedicação ao CME. Como os representantes dos trabalhadores em educação utilizam o tempo de trabalho para dedicar-se à atuação nos CME, nota-se maior facilidade de participação. Um único representante de pais de alunos foi entrevistado. Os riscos de viés para a pesquisa resultantes

29 Não foi possível realizar entrevista com o Secretário Municipal de Educação de Contagem. A pesquisa

coincidiu com a mudança de mandato; sendo assim, foram feitos contatos e agendamentos com dois Secretários. O primeiro foi afastado por motivo de doença e, ao retornar, o acúmulo de trabalho na finalização da gestão impediu a realização da entrevista. O Secretário que assumiu a gestão em 2017 iniciou com trabalho em meio período (somente na parte da manhã) e, com a justificativa de organização da educação municipal, postergou a agenda, que foi remarcada quatro vezes. Por fim, não havia tempo hábil para a entrevista, considerando o cronograma desta pesquisa para transcrição e análise dos dados.

30 A maioria dos CME conta com apenas um apoio técnico que, muitas vezes, é funcionário da Secretaria

Municipal de Educação. No caso de Belo Horizonte, para melhor compreender a dinâmica institucional local, foi entrevistada também a Gerente da Gerência de Colegiados da Secretaria Municipal Adjunta de Gestão Compartilhada de Belo Horizonte e, no caso de Contagem, a ex-conselheira e ex-membro da Assessoria Técnica do CME.

dessa composição dos entrevistados foram, sempre que possível, compensados por meio das evidências documentais e aportes do escopo teórico adotado.

Tabela 3 - Número de conselheiros entrevistados por segmento representado nos CME de Belo Horizonte, Contagem, Divinópolis, Juatuba, Juiz de Fora, Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia e Sete Lagoas

CME EXECUTIVO PODER LEGISLATIVO PODER USUÁRIOS TRABALHADORES DA EDUCAÇÃO TOTAL BELO HORIZONTE 1 1 - - 2 CONTAGEM - - - 2 2 DIVINÓPOLIS - - 1 1 2 JUATUBA - - - 2 2 JUIZ DE FORA - 1 - 1 2 RIBEIRÃO DAS NEVES - - - 2 2 SABARÁ 2 - - - 2 SANTA LUZIA - - - 2 2 SETE LAGOAS 1 - - 1 2 TOTAL 4 2 1 11 18

Fonte: Banco de dados da pesquisa intitulada O papel dos conselhos municipais de educação do estado de Minas Gerais na formulação de políticas públicas de educação (QUEIROZ, 2017).

A observação in loco, terceira etapa da pesquisa, finalizada em maio de 2016, consistiu em valioso instrumento de coleta de dados. Foi realizada informalmente nos nove CME, com o intuito de observar os processos e o funcionamento de cada um dos órgãos (MINAYO, 2012, p. 623). As observações nas sessões plenárias, realizadas nos CME de Belo Horizonte, Contagem, Divinópolis, Ribeirão das Neves, Santa Luzia e Sete Lagoas, foram gravadas, com o consentimento dos presentes, e depois transcritas. As observações nas sessões plenárias dos CME de Juiz de Fora, Sabará e Juatuba foram inviabilizadas por diferentes situações adversas. O CME de Juiz de Fora foi integrado à pesquisa em meio a um conturbado período de mudança da Secretária Municipal de Educação; por isso, o órgão solicitou que o agendamento fosse feito no início de 2016. No início do ano, o Presidente ficou afastado por motivo de doença e as reuniões foram adiadas, tornando inviável o cumprimento da observação, em virtude dos prazos definidos para a finalização da pesquisa. O CME de Sabará não realizou nem mesmo uma reunião em 2015, justificando esse fato pelo envolvimento da Secretaria Municipal de Educação com a elaboração do Plano Municipal de Educação (PME). A Secretária Executiva do órgão informou que havia previsão de reunião para o final de 2015, para a aprovação do calendário escolar de 2016; contudo, tal reunião não

foi confirmada. Em maio de 2016, o Presidente, também Secretário Municipal de Educação, confirmou, por telefone, que não houve reunião no período definido para a pesquisa. O calendário das reuniões do CME de Juatuba coincidiu com agendas de observação e realização de entrevistas em outros CME, acordadas anteriormente. Por essa razão, a agenda da pesquisa também foi postergada para fevereiro de 2016, mas não aconteceu por alteração do calendário do CME de Juatuba.

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