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O atendimento aos preceitos éticos e legais ocorreu por meio da apreciação do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP), autorização da SEJUC e, em sequência das unidades prisionais femininas do Estado do RN. O período de coleta de dados se deu entre maio e setembro de 2019.

Realizou-se teste piloto do instrumento de coleta de dados, composto pelo questionário sociodemográfico, entrevista semi-dirigida e desenho estória com a finalidade de avaliar a aplicabilidade, no que diz respeito à validade, fidedignidade e credibilidade deste. Desta forma, o instrumento foi analisado por cinco expertises na área temática e metodológica a partir do envio via e-mail, com objetivo de consolida- los. Ressalta-se que as alterações solicitadas pelos experts foram sobre a organização e configuração do instrumento, sem modificações do conteúdo.

A coleta de dados ocorreu em três momentos, seguindo os seguintes passos: apresentação do pesquisador no ambiente prisional, esclarecimento dos objetivos e propósitos do estudo e solicitação de leitura e preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para as prisioneiras, informando-as sobre anonimato, sigilo dos dados e guarda do material coletado, sob a responsabilidade do coordenador da pesquisa. Após o consentimento e/ou assentimento das mulheres, iniciou-se a coleta de dados, mediante utilização do instrumento da pesquisa.

Para coleta de dados, utilizou-se de um instrumento de pesquisa composto por questionário sociodemográfico, entrevista semidirigida, com a técnica de associação livre de palavras e de substituição e de descontextualização - Zona Muda e Desenho- estória (APÊNDICE A).

O processo de entrevista aconteceu mediante conversa prévia com a participante, a fim da construção de melhor vinculação para o desenvolvimento do estudo.

4.5.1 Questionário sociodemográfico

Trata-se de questionário com roteiro semiestruturado, composto por perguntas fechadas acerca do perfil sociodemográfico e obstétrico das mulheres do estudo, sobre a idade, estado civil, escolaridade, naturalidade, quantidade de gestações, abortos, tipo de pena e tempo a ser cumprido no presídio.

Vale ressaltar que os dados oriundos do instrumento de pesquisa no que diz respeito ao questionário sociodemográfico são para descrever e favorecer uma melhor visualização do perfil das participantes da pesquisa.

4.5.2 Desenho-estória

Inicialmente, o desenho-estória foi desenvolvido para auxiliar no diagnóstico psicológico (TRINCA, 2003). Logo, diante da perspectiva e das possibilidades que o procedimento do desenho-estória fornecem para conhecer as características particulares dos indivíduos, ao permitir focalizar sentimentos, desejos, angústias, anseios, representações, foi válido utilizar-se dessa técnica para presente pesquisa, no intuito de fortalecer a representação social elaborada e permitir melhor visualização dos significados atribuídos. Assim, um quadro se fez presente no instrumento de coleta de dados, solicitando que as participantes atribuíssem significados, da seguinte forma: “Dê significados às palavras mencionadas acima com frases, versos, imagens ou desenhos” (TRINCA, 2003).

4.5.3 Entrevista semidirigida

Ao considerar a vertente estrutural das representações sociais, ao visualizar o núcleo central e as periferias, fez-se necessária análise da estrutura das representações postas pelas mulheres gestantes, lactantes e que vivenciaram a gestação em privação de liberdade, no sistema prisional. Diante dessa contextualização, com a presença de componentes sociais com necessidades humanas fragilizadas, esta vertente apresenta a Técnica de Associação Verbal ou Livre de Palavras (TALP), que se inicia a partir de termo indutivo designado pelo pesquisador e, em sequência, a análise prototípica, técnica utilizada para caracterizar as evocações que aparecem na organização das respostas para elencar o elemento central e periférico da representação, concretizando com o cálculo da frequência das palavras e a construção de categorias (LIMA et al., 2013; FRAGA; SILVA, 2017; ANGOTTI; SALLA, 2018; BRASIL, 2018).

Assim, a TALP, comumente utilizada nas representações sociais, busca compreender os contextos e as peculiaridades encapsuladas dentro da sociedade, foi,

inicialmente, utilizada por Carl Jung, ainda no século XX, na área da Psicologia, quando o estudioso identificou, no campo de cada indivíduo, as especificidades e estruturas pertinentes à personalidade (COUTINHO; BÚ, 2017).

Nesse sentido, a entrevista semidirigida, utilizada na presente pesquisa, ocorreu a partir do termo indutor da TALP “Ser mãe na prisão”, o qual se encontra, intrinsecamente, ligado ao objeto de estudo para gestantes, lactantes ou mulheres que vivenciaram a gestação no sistema prisional feminino, com a proposta de cada mulher mencionar, em ordem hierárquica, palavras com descrição de importância. Após descrição, solicitou-se que a mesma mencionasse o significado de cada termo de forma espontânea, a fim de externar o contexto com naturalidade, a fim de encontrar as representações no campo semântico (TAVARES et al., 2014).

Diante da estratégia da TALP, sem a intencionalidade de persuasão na resposta da mulher em privação de liberdade, no sistema prisional, reformulou-se o termo indutor, na seguinte pergunta: “Se eu lhe digo “X”, o que vem a sua mente?” (COUTINHO; BÚ, 2017).

Dessa forma, na pesquisa em questão, a pergunta com o termo indutor foi mencionada após o seguinte esclarecimento: “Por favor, escreva ou diga-me (caso não queira escrever) as cinco primeiras palavras (ou frases curtas) que lhe vêm à mente após escutar a expressão: “Ser mãe na prisão”. Posterior a resposta dada sobre “ser mãe na prisão”, definiu-se cada uma das cinco palavras com um significado às palavras mencionadas (CARAVACA-MORERA et al., 2015).

No que concerne à ZM, essa é, para Abric (2005), a composição dos elementos representacionais de caráter contra normativo, uma vez que as pessoas se isentam em determinadas situações e cenários das opiniões/ideias. Entende-se a ZM como um grupo de pensamentos cognitivos confidenciáveis diante da normalidade vivenciada, os quais sendo enaltecidos, podem ser questionados. Assim, elementos pertencentes à representação podem ficar encapsulados no discurso do indivíduo. Desta forma, a TALP consegue encontrar a ZM dos elementos da representação social diante da técnica apresentada e torná-los normativos. No estudo em questão, a utilização da TALP - ZM se deu pelo fato dessas mulheres serem instituídas por normatizações, leis e protocolos, levando-as à omissão de informações pessoais, decorrentes do medo de externalizar as percepções frente ao contexto inserido (ABRIC, 2005; MENIN, 2006).

Após esse momento, a mesma técnica foi aplicada com direcionamentos diferentes, no intuito de encontrar a ZM, da seguinte forma: “Se eu lhe digo: ‘Ser mãe na prisão’, o que a senhora acha que as demais mulheres presas aqui pensam?” Logo em seguida, defina-as. Neste sentido, Nóbrega e Andrade (2017) afirmaram que, ao seguir a técnica TALP, é dada a permissibilidade das representações sociais da temática emergir de forma natural.