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2.3.1 Paradigma Teórico das Representações Sociais

As Representações Sociais, conceituada por Moscovici, é o efeito das interações humanas existentes entre duas ou mais pessoas. Na verdade, os grandes nomes da teoria retratam-na como compilado de ações que torna o mundo, as pessoas, vozes com mais conhecimento e apropriação de se definir enquanto ser social, ser identificado, independente do cenário, e deste, a percepção da própria realidade e do contexto inserido. É a familiarização do não familiar ou do distante (MOSCOVICI, 2007). O paradigma teórico enaltece o entendimento do todo em especificidades e não apenas de forma isolada e sem identificação, indo ao encontro das mulheres no aprisionamento que sentem necessidade de falar as angústias, os anseios, as alegrias, os medos, sobretudo, de expor as especificidades enquanto ser feminino.

A teorização das Representações Sociais segue pelo menos três caminhos: o antropológico-cultural, mencionado por Jodelet, que visualiza os elementos em diversos aspectos, sociais e organizacionais, com olhar igualitário a grupos, pessoas, classes, mantendo-se a proposição de Moscovici; a abordagem societal de Willen Doise que reverbera a divisão da psicologia social e, sobretudo, na resposta que a teoria traz na contextualização dos indivíduos enquanto ser individual e, ao mesmo tempo, no cenário coletivo, estando integrados psicológica e sociologicamente, centrados nos objetivos da representação social; na configuração de Abric e colaboradores, cuja vertente estrutural se articula à abordagem voltada para estrutura da representação e respectivos significados, necessária ao melhor entendimento de uma representação social, com vistas à interpretação das relações das pessoas, sob perspectiva cognitivo-estrutural, propositura conhecida como Teoria do Núcleo Central (MOSCOVICI, 2007; ABRIC, 2002).

A Teoria do Núcleo Central (TNC) visa entendimento da estruturação de uma representação social composta de crenças, opiniões divergentes ou convergentes e atitudes. Nesse sentido, Abric demonstra as funções elementares na dinâmica de relações, as quais sejam: função do saber, ao permitir melhor compreensão da realidade exposta; função identitária, possibilitando as características marcantes de

cada grupo social, com definições de identidades na socialização; função de orientação, sob direcionamento do processo de orientação das relações sociais e/ou realidade descrita; função justificadora, dando permissibilidade as ações sociais comportamentais, no que tange aos estigmas instituídos pela sociedade, contribuindo, outrossim, para justificativa dos comportamentos e das atitudes do objeto de estudo em pauta. A TNC dará visibilidades às mulheres prisioneiras, a partir do momento que as vozes destas forem escutadas sem pressuposições definidas ou constituídas pelo pré-conceito, reverberando o que existe de mais peculiar de cada ser aprisionado (PINTO; ALVAREZ, 2014; CORTINA, 2015).

Nesse entendimento, a representação social se encontra em torno do núcleo central, o qual determina significação, consistência e organização, com presença dos elementos periféricos que são concretos, embora, apresentem aspecto móvel e evolutivo, contrapondo-se à resistência de alterações do núcleo central. Salienta-se, ainda, a presença da “zona muda” nas representações sociais, região implícita na verbalização dos sujeitos, em detrimento às normatizações encaradas por determinados grupos sociais que não podem externar situações, devido ao contexto (GUIMELLI; DESCHAMPS, 2000; RODRIGUES, 2012; PINTO; ALVAREZ, 2014; BRASIL, 2014; BRAGA; ANGOTTI, 2015).

2.3.2 Grupos minorizados

Por muito tempo, a sociedade contemporânea tentara encapsular os estereótipos da diversificação da população. Para muitos, existia padronização dos atores sociais. Com o passar dos anos, os direitos foram igualados na constituição e repassados para sociedade, o que não significa a praticabilidade. No entanto, as divergências e os estigmas que assolam o contexto social ainda são marcantes nos dias atuais. Vivenciam-se diferenciações nos mesmos espaços de convivência. As condições de vulnerabilidade social refletem diretamente na exclusão das minorias, como mulheres, negros, pobres, população LGBT (JODELET, 2001).

A sociedade se encontra imbricada em um leque de preconceitos de diferentes aspectos. É a necessidade humana de poder sobre o outro, sobretudo, é a concepção errônea projetada sobre o outro. Gênero, cor de pele e posição financeira são os estigmas mais recheados de preconceitos nas diversas populações (JODELET, 2001; NASCIMENTO et al., 2012).

Nessa conjuntura, surgem os grupos minoritários ou menos favorecidos socialmente, com necessidades, direitos e deveres iguais aos da população privilegiada. Diante dessas circunstâncias de vida, o PTRS se apresenta como porta voz desses grupos desfavorecidos, ao assumir o papel de explanar com embasamento científico e metodológico as vozes, os desejos, os anseios, as necessidades dos contextos vulnerabilizados, importantes na sociedade como os demais (ARAUJO et al., 2014; LIMA, 2014). Jodelet (1993) afirma que o ser humano precisa saber da condução do mundo que se vive. Nessa configuração, constroem-se as representações dos espaços, contextos, cenários, fenômenos (JODELET, 2001).

Dessa forma, as mulheres sempre estiveram presentes nessa minoria social, mais ainda quando são postas a cenários estigmatizados, como as que vivenciam doenças ou status de vida não condizente com o padrão elencado pelos mais contemplados. As mulheres profissionais do sexo são apedrejadas pelas escolhas, necessidades e/ou desejos. As ideologias de gênero as colocam em níveis sociais ínfimos, sem a permissibilidade destas, apenas pelo entendimento que o trabalho delas não tem rotulagem adequada para o convívio sociocultural (ARAÚJO et al., 2014).

A população vulnerada em situação de estigmatização ou de preconceito transversaliza a sociedade, de forma geral e histórica. Os negros, outrora foram marginalizados, excluídos do convívio social, inicialmente pela cor da pele, uma vez que a pobreza permeava esse campo. Diversas intitulações foram direcionadas à população negra e pobre; de preguiçosos a insolentes, os prejulgamentos ganharam espaço até a contemporaneidade. Para isso, as representações sociais canalizam a percepção das pessoas sobre a população negra e pobre em peculiaridades e, no protagonismo social, tão importante quanto o de todos seres sociais (NERI, 2016; ASSIS, 2017).

No que concerne à homossexualidade, no processo das representações sociais, é factível a presença da teoria para desmistificar tamanha aspereza da sociedade com o tema. Preconceitos estabelecidos pela sociedade ao julgar o estado do outro. A identificação do gênero é escolha intrínseca do ser humano. A sexualidade vai além das normatizações, é o que o corpo pede e escolhe. Partindo desse entendimento, faz-se necessária presença marcante do PTRS para ascender o que os menos favorecidos querem enaltecer, atribuir significado e dar sentido à voz de

cada ser pensante e dono das próprias escolhas, decisões, vontades e desejos (GONZAGA; PRAÇA; LANNES, 2014; CARMO; RESENDE, 2018).

As representações sociais são entidades quase tangíveis. Elas circulam, se entrecruzam e se cristalizam continuamente, através duma palavra, dum gesto, ou duma reunião, em nosso mundo cotidiano. Elas impregnam a maioria de nossas relações estabelecidas, os objetos que nós produzimos ou consumimos e as comunicações que estabelecemos. Nós sabemos que elas correspondem, dum lado, à substancia simbólica que entra na sua elaboração e, por outro lado, à prática específica que produz essa substância, do mesmo modo como a ciência ou o mito correspondem a uma prática cientifica ou mítica (MOSCOVICI, 2007, p. 10).

Por fim, a presença das representações nas populações vulnerabilizadas precisa ser vista como mecanismos de entender a subjetividade do outro, compreender o posicionamento ideológico de todos no mesmo contexto, dando ênfase à fecundidade do pensamento próprio. Destarte, o PTRS enaltece o estado da arte em totalidade e no caminho metodológico (CORREIA et al., 2017).

2.4 CUIDADO DE ENFERMAGEM ÀS GESTANTES EM PRIVAÇÃO DE