• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 4 – A leitura: Já nas bancas!

4.1 Coleta de dados

Para observar e registrar os procedimentos de leitura utilizados pelos participantes, ou seja, a produção da leitura, escolhemos a técnica do protocolo verbal. Ela se mostra o mais adequado método para se registrar o processamento cognitivo, ou seja, as escolhas, caminhos e motivações, enfim as estratégias do leitor na sua tarefa de ler o infográfico. Usaremos especificamente o protocolo de auto-observação, como explica Tomitch (2007. p. 43-44), esse protocolo refere-se à

descrição que o leitor faz de uma situação específica de leitura que acabou de fazer. Nesse tipo de protocolo verbal, apesar de os dados sobre a leitura já não estarem mais na memória de trabalho e o que temos então é uma „percepção‟ do leitor sobre como se deu o seu próprio processo, essa percepção, por si só, pode ser importante para a pesquisa em questão ou para que possa ser feita uma triangulação com dados coletados através de outras ferramentas de pesquisa. A observação ou verbalização retrospectiva seria própria para um estudo envolvendo a percepção do leitor sobre sua leitura numa situação específica, para que pudesse ser contrastada com a sua efetiva compreensão do texto.

Esse tipo de protocolo se encaixa nas nossas necessidades, devido a sua função de registrar a os procedimentos de leitura e fornecer pistas do processamento de leitura. Interessa-nos, nessa fase de experimentação, observar a produção da leitura e não ainda o produto. Flores (2007, p. 58) aponta os protocolos verbais como a ferramenta mais apropriada para isso:

os chamados protocolos verbais, em suas várias modalidades, averiguam o processamento da compreensão que é acompanhado, mensurado, expresso e monitorado pelo próprio leitor, enquanto faz a leitura. O pressuposto metodológico é o de que, idealmente, o próprio sujeito tem condições de descrever de forma fidedigna a maneira como ele vai processando o texto e construindo o seu entendimento a respeito dele. O propósito das investigações dessa natureza é o de acompanhar o desenrolar daquilo que acontece no cérebro do leitor durante a ocorrência da leitura. Ou seja, nesse caso, o interesse concentra-se no processo de leitura e não apenas no seu produto.

Por outro lado, no intuito de verificar os resultados da leitura, seu produto, propomos a aplicação de um questionário com questões de interpretação para os sujeitos da pesquisa. O objetivo é observar e analisar as duas etapas de leitura e confrontar as análises das respostas com os dados obtidos no protocolo verbal na tentativa de compreender como os procedimentos de leitura, observados durante o processo no protocolo verbal, influenciam no produto da leitura, que são as respostas ao questionário assim explicado por Flores (2007, p. 58):

A ciência também se vale justamente dessa mesma condição empírica, e as avaliações do que foi compreendido buscam registrar o entendimento obtido através de respostas a uma série de perguntas de interpretação, de testes de múltipla escolha, de testes de preenchimento de lacunas como o cloze (...). Esse tipo de avaliação centra-se, pois, no produto da leitura.

Com os dados coletados, será possível observar regularidades na leitura do infográfico, ajudando-nos a compreendê-la. Pelo mostrado até aqui, contudo, as outras partes de compreensão dos elementos dos gêneros, como aspectos de sua produção e textualidade, são necessárias para compreender o infográfico, além de fornecer parâmetros para criação dos instrumentos de coleta de dados.

Portanto, os dados dos protocolos verbais apontarão quais os procedimentos de leitura o leitor utiliza para ler os tipos e subtipos de infográficos da revista Superinteressante analisados por nós. Já o questionário de interpretação vai apontar como o leitor compreende

as informações de um infográfico. O confronto dos dados das duas coletas de dados servirá para que possamos saber como os procedimentos de leitura do infográfico influenciam na compreensão das informações veiculadas nele.

4.1.1 Natureza dos instrumentos de coleta de dados

Esses instrumentos de coleta de dados se enquadram na pesquisa de modelo qualitativo, uma vez que busca compreender o processamento cognitivo do leitor do infográfico. De acordo com Gass e Mackey (2007), é uma pesquisa sobre os processos cognitivos, capacidades e estratégias. Esse tipo de pesquisa consiste na investigação através de técnicas de observação do processo interno de compreensão, utilizando-se de questionários, observando sujeitos fazendo tarefas, através de comentários sobre o que eles escreveram ou leram. Para esses autores, o que há de diferente nessas pesquisas é o nível de indução na produção de respostas dos participantes. Quanto mais induzidas as respostas, menos naturais serão os dados. No entanto, ressaltam que esse nível de indução das respostas será mais baixo ou mais alto, dependendo do objetivo da pesquisa.

O nosso objetivo é observar os procedimentos de leitura utilizados pelo leitor de infográfico e como eles influenciam na compreensão das informações sem o intuito de generalizar, por isso usaremos instrumentos da pesquisa qualitativa como protocolos verbais e questões de interpretação. Serão respostas induzidas, porém com o mínimo necessário para que tenhamos dados confiáveis.

Alguns dados do questionário de interpretação serão computados e apresentados quantitativamente, entretanto, dado o número reduzido de sujeitos, não podemos classificá-lo como instrumento de uma pesquisa quantitativa, pois não teremos o critério de generalização de resultados. O objetivo desse questionário é oferecer dados para efeitos de confronto com os dados obtidos no protocolo verbal.

4.1.2 Sujeitos da pesquisa

O grupo de sujeitos participantes da coleta de dados são alunos do primeiro período do curso de Engenharia Mecânica do Centro Federal Tecnológico de Minas Gerais – Cefet-MG. São 22 alunos para cuja idade a revista Superinteressante é direcionada, entre 17 a 19 anos. Eles passaram por exame de seleção vestibular, o que denota sujeitos leitores de diversos gêneros e suportes textuais, muito embora não sejam alunos da área de estudos da linguagem,

assim podemos ter leitores proficientes, porém sem uma perspectiva tecno-científica sobre a linguagem, o que poderia influenciar nas respostas deles.

Seis deles realizaram um protocolo verbal e outros dezesseis responderam a um questionário de interpretação baseado em descritores de leitura sobre o infográfico retirado da revista Superinteressante. Não haverá nenhum prejuízo educacional, físico ou moral para os participantes, que têm seus nomes ocultados. Eles aceitaram de livre consentimento participar da coleta de dados e foram colaborativos em todas as etapas. O número de participantes atende a nossa necessidade, uma vez que não é nossa intenção apontar generalizações, mas, sim, dentro de um universo reduzido, observar e analisar como se dá a leitura dos infográficos analisados no capítulo 3.

4.2 O protocolo verbal