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CAPÍTULO 2 – referencial teórico: à pesquisa

2.5 Leitura do infográfico: pensando no leitor

2.5.1 Leitura e hipertextualidade mostrada e constitutiva

Vimos que o processamento da leitura se dá por domínios que não ocorrem de maneira estanque, mas, sim, simultânea. Aliado a isso, não podemos considerar que esse fenômeno aconteça de modo linear. Há partes do texto que hierarquizam sua leitura, deixando muito comum a ideia de que a leitura de textos possui sempre o mesmo caminho da esquerda para a direita, da primeira letra maiúscula ao último ponto final, letra por letra, palavra por palavra, frase por frase, parágrafo por parágrafo. Entretanto, Coscarelli (2002, p.73) ressalta que:

O fato de a hierarquia estar sinalizada de várias formas não garante que o leitor reserve a essas partes ou elementos do texto um lugar especial em sua memória. Há outros fatores que podem interferir na construção da hierarquia

das informações geradas na leitura, como, por exemplo, os interesses do leitor, seu objetivo na leitura e o conhecimento prévio sobre o assunto. É possível que o leitor alce para uma posição alta na hierarquia proposicional um elemento secundário ou de pouca relevância para a idéia central do texto. Isso pode acontecer quando esse elemento secundário é o alvo de seu interesse ou quando o leitor compreende apenas algumas partes do texto, sendo obrigado, então, a promovê-las a uma posição alta na hierarquia proposicional.

Esse comportamento do leitor defendido pela autora se ampara na noção de hipertextualidade, que seria para ela um princípio cognitivo e não apenas uma característica reservada ao hipertexto digital da WEB, composto por links que ligam um texto ao outro:

Na compreensão ligamos dados e informações de várias naturezas e de várias fontes e isso é uma operação cognitiva comum. Quando ouvimos uma música, por exemplo, ligamos a letra à melodia, à harmonia, aos instrumentos usados, à dinâmica, ao ritmo, ligamos tudo isso a outras experiências musicais que tivemos, a situações que elas nos fazem lembrar e assim por diante. Na compreensão de textos escritos acontece o mesmo. Ligamos uma palavra ou expressão a outras, relacionamos com nossos conhecimentos e experiências anteriores, conectamos com outras idéias e sensações, avaliamos, julgamos, reanalisamos sob outros prismas, consideramos elementos não-verbais, situacionais ou extra-lingüísticos e assim por diante, estabelecendo uma rede pludirimensional de relações, a que podemos chamar também de hipertexto (lembrando da diferença que apontei acima de texto - e por conseguinte, hipertexto - como produto físico e como processo cognitivo. Aqui estou falando do processo cognitivo. (COSCARELLI, 2003, p. 03)

Ambas as noções de hipertextualidade, tanto como princípio cognitivo de relação entre textos quanto a ligada à materialidade dessas ligações no hipertexto digital, parecem ser defendidas com base na suposta não linearidade das leituras. Pressupor que a leitura seja não- linear induz a pensarmos em procedimentos de leitura que não sejam sequenciais. Entretanto, para efeito de estudos é necessário considerarmos os percursos seguidos pelo leitor durante a leitura, qual hierarquia foi criada por ele e qual informação foi mais saliente, que inferências ele gerou, como percebeu Lobo-Souza (2009, p. 135)

Tendo mostrado que o conceito de não-linearidade estava fortemente atrelado somente a uma das perspectivas pelas quais se pode analisar um objeto de ler/escrever (a perspectiva da recepção ou da leitura) e mais brandamente à perspectiva da produção, acabamos por considerar que o prefixo –não, no termo não-linearidade, implica um certo rompimento com a linha e com a ordem.

A autora sugere o termo mutlilinearidade para se referir aos vários direcionamentos de um texto. Embora ela utilize o termo para designar o hipertexto digital, vamos lançar mão desse conceito para analisar a hipertextualidade presente no infográfico impresso.

Isso por que, diferentemente de Lobo-Souza (2009), que realizou uma pesquisa teórica confrontando e discutindo as linhas de estudo do hipertexto, consideramos a hipertextualidade um princípio cognitivo que, portanto, não está presente apenas no hipertexto digital, on-line ou não. Preferimos pensar que, como um princípio constitutivo de todos os textos, na leitura ou na sua produção, a hipertextualidade se diferencia apenas no modo como ela se manifesta. Há textos cuja hipertextualidade é mostrada, como nas páginas da WEB, em outros textos digitais off-line, nos infográficos convencionais, nas notas de rodapé. Por outro lado, em outros textos, como os que se convencionou chamar de linear, a hipertextualidade é constitutiva; está presente na sua formação, mas não é materialmente expressa, pois a hierarquia de informações impõe uma leitura sequencial de cima para baixo e da esquerda para a direita, embora não saibamos se o leitor segue essa sequência. Contudo, em textos como os infográficos, essa hierarquia é rompida ao se criar um texto cujas partes são dispostas simultaneamente com os modos verbais e visuais, podendo o leitor criar caminhos múltiplos de sequência de sua leitura, não obstante veremos mais adiante que há infográficos que indicam caminhos de leitura para o leitor.

O que buscamos, nesta pesquisa, com as análises dos infográficos da revista Superinteressante e com a coleta de dados de leituras através de instrumentos apropriados para isso, são recorrências e tipificações da leitura desses textos, a fim de verificar como a construção dos infográficos e os procedimentos envolvidos na sua leitura interferem na compreensão das suas informações.

Após essa discussão a respeito da leitura, sugerimos a seguinte linha de análise das regularidades presentes na leitura do infográfico.

Quadro 6 – Critérios de análise das regularidades na leitura do infográfico

Optamos por dois instrumentos de coleta de dados e observação da leitura, cada qual apto para as duas fases da leitura: a produção e o produto. Este se refere ao que o leitor entendeu, absorveu e fará da leitura – será coletado pelo questionário de interpretação; já a produção, refere-se ao que o leitor realiza durante a leitura, seu processamento – será observado pelo protocolo verbal. No capítulo 4, vamos descrever a coleta de dados. Antes passemos à análise dos conjuntos de infográficos.

Regularidades na leitura do infográfico

Instrumento de coleta de dados Verificar Critérios para observação

Para observar a produção da leitura Protocolo verbal Relação entre leitor e produtor.

Regularidade ao ler, opinião do leitor sobre o design, eficiência dos tipos de infográfico, relação entre os papéis assumidos.

Relação entre leitor e texto.

Relevância de informações, saliência das informações, percurso de leitura, hipertextualidade, processos do visual, legibilidade do design, percepção da integração entre os modos. Para observar o produto da leitura Questionário de interpretação Construção da coerência

Localizar informações, identificar tema, diferenciar partes principais de secundárias, interpretar o posicionamento dos participantes nas imagens, inferir uma informação implícita, inferir sentido de palavras e

expressões, relacionar imagens ao texto escrito.

Posicionamento enunciativo

Perceber ponto de vista, distinguir um fato da opinião relativa a esse fato, explicitar a opinião sobre o tema do