CAPÍTULO 2 – referencial teórico: à pesquisa
2.4 Multimodalidade texto e imagem: design
2.4.3 A gramática do design visual
2.4.3.1 O ideacional no visual
Os processos da metafunção ideacional no visual se dividem em duas estruturas representacionais: Narrativa e Conceitual (o conceitual se divide em Classificacional, Analítica e Simbólica). Veremos que a estrutura narrativa possui processos análogos ao processo material do linguístico (fazendo, acontecendo) – (cf. quadro 2 acima). Já a estrutura Conceitual é análoga aos processos relacional, comportamental, existencial e verbal. O processo mental por sua vez “tem uma categoria pequena no visual, porque é difícil distinguir visualmente entre cognição e afeição” (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006, p. 77).
a)
O processo narrativo
Se no processo material temos os participantes ator e meta participando de um processo como vimos na gramática sistêmico-funcional, a gramática visual aponta os vetores entre os participantes da imagem como o processo. Esses vetores são linhas que se formam entre os participantes. A imagem de um homem atirando em outro homem possui como participante ator o homem que realiza o processo e o outro participante meta o homem que recebe essa ação. O processo, na imagem, é o vetor que parte do participante ator e vai até a participante meta que recebe a ação. Há também as circunstâncias de local como a posição dos participantes no 1º plano e fundo, bem como a posição de outros participantes, que não precisam ser necessariamente humanos. Circunstâncias de meio como o instrumento, no caso
do exemplo a arma usada pelo participante ator. Vejamos no quadro os tipos de processos existentes na estrutura narrativa:
Quadro 3 – Quadro com os tipos de processos no visual – Com base em Kress e van Leeuwen (2006)
Tipos de
processos
Subtipos Participantes Significado Vetor
Processos de ação
Transacional Ator (também ator implícito) e Meta
Análogo ao verbo transitivo: o verbo precisa de objeto (meta). Há um vetor entre o ator e a meta. O ator pode estar implícito. Transacional Bidirecional Ator e Meta (inter-atores) Indica simultaneidade de processo um participante é ator do outro e vice-versa.
Há dois vetores simultâneos, partindo em direções
contrárias. Não-transacional Ator Análogo ao verbo
intransitivo: o verbo não precisa de complemento (meta).
O ator não realiza uma ação para uma meta, mesmo havendo vetor. Processos reacionais Transacional Re-ator e fenômeno
O re-ator observa, olhando, um fenômeno.
Parte de uma linha do olhar para o fenômeno. Não-transacional Re-ator O reator observa o nada,
sem fenômeno definido.
Parte de uma linha do olhar para nada definido. Processos de fala ––––––– Dizentes e declaração
Diálogos em balões de Hqs. Formado pelo rabicho de balão de fala. Processo mental ––––––– Experienciador e fenômeno Conteúdo de balões de pensamento. Formado pelo rabicho de balão de pensamento. Processo de conversão _______ Ator, Revezador e Meta. Um participante é ator de uma meta e é meta de outro
ator. Forma estruturas cíclicas como diagramas.
Um chega do ator ao revezador
e outro sai dele para sua meta Simbolismo geométrico ––––––– –––––––– Centra-se metalinguisticamente no modo de dizer. Há somente o vetor indicando um signo infinito. Circunstâncias Locativas Cenário
Participantes que indicam a localização de outros participantes. Usar o primeiro plano, fundo, tonalidade, cores, claro e escuro. Meio Instrumentos Os instrumentos usados na
ação. Geralmente de onde parte o vetor.
Qualquer coisa usada na ação. Acompanhamento Ator Um participante é
acompanhado de outro, sem ação entre eles.
b)
O processo conceitual classificacional
No processo classificacional, não há vetores. Ele relaciona participantes em termos de relações de classe taxionomicamente. Ao realizar classificações, tem pelo menos um participante fazendo papel de subordinado e pelo menos outro fazendo papel de subordinador.
Ele o classifica de três formas:
- classificação velada
O subordinador não é mostrado, apenas seus subordinados. Kress e Van Leeuwen, (2006, p. 79) afirmam que esta estrutura é simétrica, ou seja, os subordinados são colocados lado a lado, em um mesmo nível, para demonstrar equivalência, embora haja um subordinador.
- classificação mostrada nível único
Estrutura com apenas dois níveis, o participante subordinador é colocado em nível hierárquico aos participantes subordinados.
- classificação mostrada múltiplos níveis.
Também o participante subordinador é colocado em nível hierárquico aos participantes subordinados, porém há outros níveis e outros graus de hierarquia. Pode ser uma estrutura em rede, o que torna a noção de hierarquia mais difusa.
Apesar de a estrutura classificacional ser estática, o linguístico que a acompanha não precisa ser estático também. Classificações são hierárquicas, com menos significado de movimentação. Fluxogramas possuem mais sentido de movimentação, pois possuem início e fim determinados, aproximando-se da estrutura narrativa. Já a rede é múltipla; não linear. (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006, p. 84).
c)
O processo conceitual analítico
O processo analítico relaciona participantes em termos de uma estrutura parte-todo. Os participantes são o portador (todo) e um número de atributos possessivos (as partes). Há subtipos de processos analíticos:
- não estruturado
São mostradas apenas as partes (atributos), mas não portador (todo), mais ou menos como em uma lista desordenada.
- temporal
Processo intermediário entre o narrativo e o analítico. Ocorre nas linhas do tempo, que sugerem dimensão temporal, o que sugere narração. No entanto, não há vetores, mas análises graduais da história “narrada”. O que é narrado é o portador e os estágios analisados desse portador são os atributos.
- analítico exaustivo e inclusivo
É exaustivo quando representa exaustivamente os atributos do portador. É inclusivo quando mostra apenas alguns atributos.
- estrutura exaustiva conjoined e compounded
Os atributos são conectados por uma linha que mesmo separados possuem a ideia de serem ligados fazendo o conjoined. Já no compounded os atributos estão juntos, mas retratados com partes separadas.
- topográfico e topológico
O topográfico representa com precisão o espaço físico do atributo possessivo. São topológicas quando representam com precisão a relação lógica entre os participantes.
- topografia dimensional e quantitativa
A escala de representação é formada por participantes que representam espaço e quantidade.
- espaço-temporal
Quase-vetorial e quase-narrativo, além de possuir um portador e atributos, possui um ator e a ação. Ocorre nos gráfico de linha.
d)
O processo conceitual simbólico
Refere-se ao que o participante significa ou é. O participante que é significado é o portador. E o participante que representa o significado é o atributivo simbólico. Neste processo, pode haver também apenas um participante, o portador, e o significado simbólico é estabelecido em outro modo abaixo, chamado de sugestivo simbólico. Ou seja, neste processo, a imagem sugere algo, não necessariamente o significado literal do participante, por isso é simbólico: sugestivo simbólico.
e)
Encaixamento
Assim como há orações complexas subordinadas ou encaixadas no verbal, há também, no visual, imagens encaixadas: processos menores encaixados em maiores, o que forma uma estrutura multidimensional.