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5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5.4 COLETA DE DADOS

De acordo com Yin (2005, p. 109) os dados de um estudo de caso, ou melhor, suas evidências, podem emanar de seis fontes distintas: “documentos, registros em arquivos, entrevistas, observação direta, observação participante e artefatos físicos”. Foram utilizadas três delas: a entrevista, os documentos e a observação direta. As entrevistas foram realizadas a partir de roteiro semiestruturado (Apêndice II). A escolha da entrevista semiestruturada se deu pela maior flexibilidade que a pesquisadora encontraria em campo, caso fosse necessário realizar novos questionamentos a partir da entrevista. Utilizar esse roteiro proporciona maior mobilidade e enriquece o estudo, à medida que não há controle sobre as respostas dos entrevistados (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013) e há a possibilidade de agregar novas informações que não estavam previstas (FLICK, 2009a).

As pessoas entrevistadas foram selecionadas a partir da técnica bola de neve. Esse tipo de escolha foi proposital, uma vez que os atores envolvidos no desenvolvimento das práticas sobre inovação no setor público no executivo federal se inter-relacionam frequentemente por meio de eventos organizados e ações que envolvem a rede de inovação Rede Federal de Inovação no Setor Público (InovaGov). Nesse tipo de amostragem os participantes das entrevistas são selecionados com base em referências

realizadas pelos entrevistados (YIN, 2011). Yin (2011) destaca que nesse tipo de técnica é importante que a seleção dos entrevistados inicie com um estudo sobre os atores, tendo o pesquisador a liderança sobre a escolha dos entrevistados. As indicações sobre possíveis entrevistados foram realizadas, entretanto a decisão sobre quais pessoas entrevistar ficou sob a decisão da pesquisadora.

A escolha dos atores-chave do caso se deu por meio de exploração do campo. Essa exploração iniciou pelo concurso de inovação, sendo o primeiro ator a ser contatado o ex ministro do extinto Ministério da Administração e Reforma, por e-mail, com o objetivo obter informações sobre a concepção do concurso. A partir da troca de e-mails houve a indicação de dois atores envolvidos diretamente no processo, onde foi selecionado um para ser entrevistado, que trabalhou diretamente com a concepção do concurso, atuando nele de 1995 a 2002.

Os outros atores entrevistados se estabeleceram a partir da 4º Semana de Inovação. Ao comparecer ao evento a pesquisadora já havia selecionado uma das práticas premiadas como um importante contato a ser feito em Brasília para realizar a pesquisa, em que foram entrevistados os dois atores envolvidos na concepção e implementação da prática. Ao participar do evento em novembro de 2018, um professor de uma Universidade Federal gaúcha, que naquele momento trabalhava no Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), promoveu a aproximação da pesquisadora a um dos principais organizadores do evento, pertencente ao Departamento de Modernização da Gestão Pública (INOVA), que passou a ser um dos entrevistados.

O ator pertencente a INOVA indicou outro contato-chave, também organizador do evento pertencente a ENAP. Foi realizado contato com ele durante o evento e se agendou uma visita à ENAP em Brasília para uma conversa informal, onde esse ator indicou outras possíveis pessoas a serem entrevistadas envolvidas com o concurso e com o GNova ao longo do tempo. Essas pessoas já haviam sido mapeadas pela pesquisadora, reforçando, assim, a importância de entrevistá-las. Houve um entrevistado que foi definido como necessário para compor o estudo a partir da participação do lançamento de um livro de inovação no setor público organizado e publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Destaca-se que, a escolha de alguns entrevistados não se deu apenas pelo cargo que ocupava no momento das entrevistas, mas por sua trajetória que envolvia

a participação em outras práticas analisadas ou diretamente relacionado ao tema de pesquisa. A Figura 2 representa a cadeia de referências para escolha dos entrevistados.

Figura 2 - Escolha dos Entrevistados através da técnica bola de neve

Fonte: Elaborado pela autora.

As entrevistas ocorreram de novembro de 2018 a março de 2019, utilizando roteiro semiestruturado para conduzir as entrevistas. Ao iniciar as entrevistas foi apresentado ao entrevistado um breve contexto sobre o estudo que a pesquisadora estava realizando, além de ser solicitado a possibilidade de gravação da entrevista. A seguir estão descritos os entrevistados do estudo:

• Diretor de Inovação e Gestão do conhecimento da ENAP – Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental (EPPGG);

• Coordenador de Governança e Capacidades Estatais do IPEA e EPPGG;

• Gerencia programa de pesquisas em inovação em governo, é membro do GNova e EPPGG;

• Diretor do Departamento de Modernização de Serviços Públicos e Inovação do MPlan e EPPGG;

• Coordenador Geral do Programa Cisternas e EPPGG;

• Membro do MindLab que trabalhou na implementação do GNova (designer); • Sócio-diretor de consultoria de Inovação no Setor Público;

• Professor Universitário e um dos criadores do Concurso de Inovação; • Coordenador Geral de Inovação da ENAP e EPPGG;

• Gestor na Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento (MPlan) e EPPGG; • Especialista em gestão de pessoas no setor público, trabalha com o Concurso de

Inovação e com a equipe do GNova;

• Gestor de projetos de inovação em política no poder legislativo.

Outra fonte de evidências consultada foram documentos. Os documentos são importantes fonte de dados, sempre tendo cuidado para não os tomar como verdades absolutas (YIN, 2005). Os documentos foram sendo coletados ao longo do tempo e estão ligados quatro eixos centrais, são eles: publicações internacionais, documentos sobre o concurso de inovação, documentos de geração de conhecimento e documentos oficiais. Os documentos que foram utilizados na análise desse estudo estão apresentados no Quadro 6.

Quadro 6 - Documentos Analisados

Publicações Internacionais Manual de Oslo - terceira e quarta edição (OCDE)

Innovando para una mejor gestión: La contribución de los laboratorios de innovación pública (BID) Improving Public Sector Performance: through innovation and inter-agency coordenation – Banco Mundial Nesta's work in Government innovation (2017)

Memorando de entendimento Brasil - OCDE Acordo de Cooperação Brasil – Dinamarca

Review of the innovation skills and leadership in Brazil’s senior civil servisse (Preliminary Findings from the OECD)

The Innovation System of the Public Service of Brazil (Preliminary Findings from the OECD) Concurso de Inovação

Publicações do 1º ao 20º concurso, com a síntese das práticas premiadas17.

ENAP Cadernos (34): Sustentabilidade de Iniciativas premiadas no Concurso Inovação: indícios de mudança da gestão governamental?

ENAP Ensaio: Inovações no Governo Federal Brasileiro: Concurso de Inovações na Gestão Pública Federal — Prêmio Helio Beltrão

ENAP Cadernos (32): Concurso Inovação na Gestão Pública Federal: análise de uma trajetória (1996-2006) Geração de Conhecimento

Inovação no setor público: teoria, tendências e casos no Brasil (IPEA) Inovação e Políticas Públicas: superando o mito da ideia (IPEA)

Rede de Inovação no Setor Público – INOVAGOV: o desafio da disseminação da cultura de inovação no setor público.

Uma análise dos principais efeitos da Lei nº 11.890, de 24 de dezembro de 2008, sobre a carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental

Design Etnográfico em Políticas Públicas (GNova – Coleção inovação na Prática)

Experimentação e novas possibilidades em governo: aprendizados de um laboratório de inovação (GNova – Coleção inovação na Prática)

Imersão Ágil – checagem de realidade em políticas públicas (GNova – Coleção inovação na Prática)

Colaboração Internacional para Inovação: O caso do GNova e do Mindlab (GNova – Coleção inovação na Prática)

Documentos Oficiais Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE)

Acordo de Cooperação Técnica para Formação da Rede de Inovação no Setor Público Termo de Adesão à Rede de Inovação no Setor Público

Cooperação Setorial Estratégica Brasil - Dinamarca Fonte: elaborado pela autora.

Parte dos documentos analisados foram encontrados por meio de pesquisa realizada pela pesquisadora na Internet, e outra parte, indicada pelos entrevistados como documentos relevantes. Os documentos indicados passaram por análise prévia para determinar se seriam incorporados ou não as análises.

No estudo também foram realizadas observações. A observação é utilizada quando se faz necessário captar informações a partir do que se é visto, ouvido e até mesmo sentido pelo pesquisador no campo (STAKE, 2011). A observação direta foi utilizada nesse estudo e tem como característica a ausência interferência do pesquisador (GIL, 1999). Em uma observação o mais importante sobre o acontecimento analisado é “enxergá-lo, ouvi-lo, tentar compreendê-lo” (STAKE, 2011, p. 107), e não apenas do que pensar em formas de como registrá-lo. As observações ocorreram na 4ª Semana de Inovação na Gestão Pública, nas oficinas da OCDE ofertadas no evento e ao assistir ao lançamento do livro do IPEA na ENAP que teve transmissão realizada dia 21 de junho de 2019. As observações foram registradas por meio de notas de campo.

Mais do que utilizar diversas fontes de evidências, a pesquisadora preocupou-se em coletar informações relevantes para o desenvolvimento do estudo e o uso da triangulação de dados foi necessário para reforçar a veracidade das evidências apresentadas. Na compreensão de Stake (2011, p. 139) haveria necessidade de triangular dados quando eles “forem evidência de uma afirmação principal”, contudo quando se trata de algo incontestável, ou de uma descrição relevante, mas contestável, ou se a assertiva for a interpretação de alguém, há poucas necessidades de triangulação.