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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.4 COLETA DE INFORMAÇÕES

A coleta de informações corresponde ao momento no qual são aplicadas as técnicas e os instrumentos previamente elaborados para a realização da pesquisa de campo (MARCONI; LAKATOS, 2010). Essas autoras consideram esse momento importante, exigindo da pesquisadora/entrevistadora empatia, conhecimento, preparo, habilidade, perseverança e registro rigoroso das informações coletadas. Meihy (2005) aconselha, que nesse momento, o entrevistador não considere o entrevistado como mero objeto informante ou ator social de sua pesquisa, ponderando que o que se busca, numa entrevista de história oral, vai muito além da procura de dados desconhecidos – investiga-se o registro da experiência pessoal ou de um grupo.

Nesta pesquisa realizei a coleta de informações em dois momentos: inicialmente fazendo a busca documental para elaborar a história do Curso e, posteriormente, no segundo momento, as entrevistas com as colaboradoras, que foram agendadas através de contato telefônico.

O momento da entrevista teve um significado singular e prazeroso para mim porque possibilitou o encontro com pessoas queridas, ex-alunas, que também se sentiram felizes e se empenharam em participar do estudo, disponibilizando tempo, e preparando lanches e chás, tornando o encontro intimista.

Gostaria de registrar que essas colaboradoras participaram de alguma forma da minha trajetória pessoal e profissional, enquanto docente do Curso; muitos deles emocionaram-se ao lembrar e reconstruir sua própria trajetória, sendo a primeira vez que se sentiam motivados para narrar suas histórias e refletir sobre elas, correlacionando-as com as mudanças ocorridas a partir da experiência transicional vivenciada.

Freitas (2006) assegura que o momento da entrevista faz com que as pessoas deem-se conta de si e de seu passado: a imersão na subjetividade faz com que, nesse instante, o colaborador torne-se ao mesmo tempo autor e intérprete de sua própria história. Deve-se considerar que o contexto social e a visão de quem o vivenciou e de quem contou são diferentes, pois são épocas diferentes e, consequentemente, as pessoas se tornam diferentes, sendo o momento presente, que possibilita a visão retrospectiva e a compreensão total do que foi vivenciado. É essencial, nesse momento, o respeito e a competência para saber ouvir o que foi lembrado pelo colaborador. Assim, pode-se compreender a colocação de Thompson (1999, p. 28): “aprender a ouvir é uma habilidade humana fundamental”.

3.4.1 Instrumento para a Coleta de Informações

No primeiro momento da pesquisa, que correspondeu à pesquisa documental, visando elaborar a história do curso, utilizei uma matriz para catalogar os documentos encontrados; nesta foram registrados: tipo, nome, data e assunto pertinente ao documento examinado (APÊNDICE A).

Posteriormente, para a coleta de dados junto às colaboradoras, utilizei um roteiro. O roteiro foi elaborado com o intuito de estimular as narrativas e como elemento facilitador, do processo de comunicação, entre eu e a entrevistada. Entretanto, dei liberdade à colaboradora para narrar, para responder ao roteiro de forma diferente, ou para relatar qualquer informação que considerasse relevante para o estudo. Submeti o roteiro a um pré-teste, o qual consistiu na sua aplicação a dez colaboradoras. Esse pré-teste possibilitou a reformulação de algumas questões do roteiro que foi aplicado nas demais entrevistas.

O roteiro foi organizado em duas partes (APÊNDICE B):

A primeira parte do instrumento teve a finalidade de caracterizar as egressas do Curso de Especialização, em Enfermagem Médico-Cirúrgica sob a forma de Residência (CESER) da UFBA, que foram certificadas no período de 1996 a 2009; constou dos dados de identificação dos colaboradores: idade, estado civil, sexo, local de residência, instituição e ano que foi graduada em Enfermagem, tempo de formado, período que realizou o curso de Especialização e área de concentração; intervalo de tempo entre o término da graduação e o inicio do CESER; área de atuação antes e após o Curso; e, realização de outras capacitações.

A segunda parte do roteiro conteve três questões que objetivaram estimular as narrativas:

- Fale-me sobre sua trajetória de vida pessoal e profissional a partir da realização do CESER até o momento atual;

- Fale-me como o Curso contribuiu, efetivamente, para o exercício profissional. Para a aplicação do roteiro, utilizei a técnica da entrevista semi-estruturada. Cada entrevista teve uma duração média de 90 minutos.

Meihy (2005, p. 35) reconhece que na história oral “a entrevista precisa ser considerada como o nervo da pesquisa, pois os resultados são obtidos por meio delas”.

Destaca-se a entrevista como uma técnica de coleta de dados que ocorre através da interação direta entre a pesquisadora e a colaboradora. É considerada uma técnica respeitável e enriquecedora para a coleta de informações de idéias, hábitos, culturas, formas de pensar e agir, interpretações e percepções de uma realidade social na perspectiva dos informantes, possibilitando a interação social (MINAYO, 2008; GIL, 2008; FORTINI, 2009; MARCONI; LAKATOS, 2010).

Marconi e Lakatos (2010) elencam como vantagens da entrevista a flexibilidade para esclarecer, repetir e reformular as questões e a possibilidade da aquisição de informações de elevado nível de qualidade, a depender da experiência do entrevistador. Como limitações destacam a indisposição do sujeito em oferecer as informações, a omissão de dados temendo a identificação e a necessidade de tempo para a sua realização. Gil (2008) acredita que possibilita a coleta de dados referentes aos vários aspectos da vida social e comportamental do indivíduo.

Com referência à entrevista semi-estruturada, Minayo (2008) e Fortini (2009) a caracterizam como aquela em que o colaborador fala livremente sobre o tema proposto de forma ampla, encontrando-se guiada por um roteiro de questões que o pesquisador deseja abordar, as quais estão fundamentadas nos objetivos da pesquisa.

Neste trabalho segui o que Laville e Dionne (1999) e Freitas (2006) recomendam: perguntas realizadas verbalmente, com uma sequência pré-estabelecida; além disso, no seu desenvolvimento realizei os esclarecimentos necessários aos colaboradores para assegurar o alcance dos objetivos propostos.

Desse modo, por meio das narrativas, busquei conhecer a experiência transicional na trajetória das egressas do CESER, considerando cada narrativa como um todo.

3.4.2 Procedimentos de Coleta das Informações

Iniciei a coleta das informações após a realização das seguintes etapas: autorização da EEUFBA para o desenvolvimento da pesquisa; encaminhamento do projeto para o Comitê de Ética e posterior aprovação; identificação e localização das egressas; testagem e reformulação do instrumento.

Para a pesquisa dos documentos utilizados para a elaboração do histórico do CESER solicitei, através de ofícios à Diretora da EEUFBA e à Coordenadora dos Cursos de Pós- Graduação, autorização para acesso aos arquivos da Escola e do Programa de Pós-Graduação, de modo a pesquisar documentos referentes ao CESER. Após essas solicitações serem deferidas, levantei, durante três semanas, em atas de reuniões do Programa de Pós-graduação e em projetos e relatórios do Curso, informações que possibilitaram o início da construção do estudo.

Em um segundo momento, encaminhei o Projeto para o Comitê de Ética e Pesquisa da EEUFBA, sendo o mesmo apreciado e aprovado sem recomendações, sob o Protocolo de número 35/2010 (ANEXO A).

A seguir busquei nos registros da Secretaria da Pós-Graduação da EEUFBA a identificação e localização das egressas; Para a minha surpresa percebi que os endereços e contatos estavam desatualizados; deveria-se reiniciar a busca utilizando outros meios, o que ocorreu no próprio programa da Pós-Graduação, junto às alunas que eu conhecia do curso Stricto Sensu; assim, identifiquei colaboradoras dentre as alunas do Curso de Mestrado e por meio dessas consegui contato com outras egressas, esse recurso que utilizei corresponde à chamada técnica Snowball Sampling (bola-de-neve). Essa técnica é utilizada para encontrar sujeitos da pesquisa que são desconhecidos ou ocultos; consiste na indicação pelos primeiros sujeitos de outros, que indicarão outros e assim sucessivamente (GOODMAN, 1961; BIERNACKI, WALDORF, 1981; ATKINSON, FLINT, 2001).

À medida que encontrei uma colaboradora, ela sempre forneceu o contato de outra; as colaboradoras foram registradas em formulário elaborado para mapear as mesmas; o formulário contém no de telefone, local e unidade de trabalho, dia e horário da entrevista (APÊNDICE C). Após a obtenção do telefone celular, residencial ou do local de trabalho da egressa, realizei contato prévio, através de telefonia móvel, para explicar a intenção da pesquisa, seus objetivos, à importância da participação da egressa no estudo, que a entrevista seria realizada em local e horário a ser definido pela própria egressa. É importante ressaltar a receptividade, a disponibilidade imediata e a ausência de dificuldade dessas colaboradoras em

relação à participar da pesquisa, transformando a coleta de dados em um momento de satisfação.

Assim, identifiquei, localizei e entrevistei 60 egressas durante os meses de novembro e dezembro de 2010 e janeiro a março de 2011, sendo a primeira entrevista realizada no dia 16 de novembro de 2010 e a última em 04 de março de 2011. Das 60 entrevistas realizadas, transcritas e lidas, dez foram utilizadas para testar o instrumento e dez não foram utilizadas na análise, pois percebi que não havia informações novas. Corroborando, Meihy (2005) assevera que o elemento definidor do número de entrevistas a ser realizado é a repetitividade das informações. Neste estudo, das quarenta entrevistas transcritas, (APENDICE D) utilizadas na análise, 08 foram agendadas pelas colaboradoras nas dependências da Escola de Enfermagem da UFBA, 29 no local de trabalho e 03 na residência da própria colaboradora. O local para as entrevistas foi escolhido por cada colaboradora, assegurado o critério de privacidade e o horário de disponibilidade para a realização da mesma, evitando-se a possibilidade de interrupção por terceiros.

No momento inicial da entrevista li o roteiro da mesma, expliquei sobre os objetivos, a natureza, as possíveis repercussões do processo investigativo e garanti às colaboradoras o seu anonimato e do local da entrevista. A carta convite para participação da pesquisa foi apresentada as colaboradoras (APÊNDICE E) e foi solicitado o preenchimento e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE F) em duas vias, ficando uma comigo e a outra com elas. Essas etapas visaram atender às recomendações da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que dispõe sobre Pesquisa Envolvendo Seres Humanos.

Para a entrevista utilizei uma abordagem que englobou respeito a individualidade e autonomia das colaboradoras e informação quanto à sua participação, avaliação de riscos e benefícios, relevância da pesquisa, liberdade de participação, possibilidade de interrupção a qualquer momento, garantia do sigilo das informações, anonimato da egressa e do local da entrevista, o que propiciou o estabelecimento de empatia e confiança entre a colaboradora e eu, favorecendo a criação de um ambiente amistoso e de interação.

Após os esclarecimentos, solicitei aquiescência da colaboradora para a gravação por meio do MP4 e gravador digital, visando o registro de todas as informações da narrativa e de toda a subjetividade possível de existir durante o momento dessa interação pesquisador- colaborador.

A gravação permitiu uma relação menos técnica e mais intimista entre a colaboradora e eu, deixando-a mais à vontade, livre para falar; o mais relevante é a capacidade de registrar

os momentos de silêncio, hesitações, dúvidas, tons de voz, interrupções, dentre outros, além de possibilitar redução de distorções que poderiam ter ocorrido durante a transcrição. Destarte, a utilização da gravação é condição essencial para o método de história oral.

Dando prosseguimento, iniciei a entrevista utilizando como guia o roteiro pré- elaborado, como já havia sido previsto, registrando o número da entrevista, local e hora da entrevista. As entrevistas realizadas nos locais de trabalho, muito embora tenham sofrido algumas interrupções pela equipe de trabalho, não sofreram prejuízo na qualidade.

Ao término da entrevista, solicitei às colaboradoras que ouvissem as gravações para verificarem se concordavam ou não com o que disseram, sendo permitido complementarem e esclarecerem suas idéias caso achassem pertinente. A duração média de cada entrevista foi de aproximadamente 90 minutos. Ao final, sem a presença da colaboradora, registrei a minha percepção quanto aos aspectos subjetivos que emergiram no momento da entrevista.

Percebi que nas primeiras entrevistas houve a necessidade da minha intervenção para a continuidade da narrativa; porém, à medida que as outras foram transcorrendo as interferências foram poucas, demonstrando, provavelmente, que desenvolvi habilidade para a realização das mesmas.

Algumas entrevistas precisaram ser repetidas em consequência da má qualidade da gravação e da perda do material gravado; outras precisaram ser remarcadas por impossibilidade das colaboradoras comparecerem no dia agendado.