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Essa nova fase do PT consolida-se com a formação da União do Povo Muda

Brasil formado pela coligação entre PT, PDT, PSB e PC do B116, que uniu as esquerdas e cedeu lugar a Leonel Brizola do PDT como vice de Lula. A base desse novo leque de partidos havia sido formulada com o bloco de oposição117 ao governo Fernando Henrique Cardoso no Congresso Nacional.

Entretanto, outros fatores interferiram na formação da política de alianças do PT a partir de 1997. As eleições presidenciais de 1998 ocorreram sob uma nova perspectiva institucional, com a aprovação da proposta de reeleição para o executivo nacional, sem a necessidade de afastamento do cargo durante o período eleitoral. Como principal beneficiado pela aprovação do projeto, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), ampliou a coligação de centro-direita, que

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PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resoluções de Encontros e Congressos 1979-1998. Item 74-75. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 1998, p. 629.

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PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resoluções de Encontros e Congressos 1979-1998. XI Encontro Nacional, item VIII. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 1998, p. 659-661.

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PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resoluções de Encontros e Congressos &

Programas de Governo 1979-2002. Carta do Rio de Janeiro, frente de oposição atuante no

Congresso Nacional constituída em 1997 pelo PT, PDT, PSB e PC do B. XI Encontro Nacional, São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2005, p.01.

passou a contar com o apoio do Partido Progressista Brasileiro – PPB, de Paulo Maluf, e de amplos setores do PMDB.

Por outro lado, o bloco de oposição ao governo, já iniciado no Congresso Nacional, foi então ampliado com a entrada do PCB, definindo-se uma candidatura única das oposições. Um dos pré-requisitos para que o PDT apoiasse a candidatura Lula e indicasse Brizola como vice era o apoio formal do PT nos Estados onde o PDT disputava com candidatura própria.

As primeiras conseqüências dessa estratégia de aliança ampla foram as reações dos Diretórios Estaduais petistas. Um caso expressivo ocorreu na recusa do Diretório Estadual do Rio de Janeiro em apoiar o candidato do PDT ao governo do Estado, Anthony Garotinho. Naquela conjuntura, o Diretório Estadual do PT desejava sair com candidatura própria. O impasse só foi solucionado no Encontro Nacional Extraordinário ocorrido em maio de 1998, que revogou a decisão do Encontro Estadual e votou pelo apoio ao candidato do PDT, indicando Benedita da Silva (PT) como vice de Garotinho (PDT).

Buscando consolidar os apoios à candidatura Lula e evitar o isolamento do PT, o Encontro Nacional Extraordinário118 reafirma as orientações para a nova política de alianças, opondo-se ao governo Fernando Henrique Cardoso e à sua política neoliberal. Dessa forma o PT decide,

[...] adotar tática eleitoral de alianças mais amplas que o campo democrático-popular para as disputas estaduais e nacionais, sem cair no sectarismo e na desfiguração do programa partidário, coibindo o oportunismo eleitoreiro e o isolacionismo. O que deve definir nossas alianças eleitorais é a oposição a FHC, ao neoliberalismo e aos partidos de direita. A tática eleitoral em nível estadual deve estar subordinada à consolidação da Frente de apoio à candidatura Lula. 119

Além da aprovação do projeto de reeleição, o Brasil convivia ainda com o “nervosismo” do mercado que passava por uma crise, provocada pela moratória da Rússia, junto aos organismos internacionais. O candidato Fernando Henrique

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Ocorrido em 1988.

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PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resoluções de Encontros e Congressos 1979-1998. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 1998, p. 670.

Cardoso, na condição de Presidente da República, tratou de construir um discurso otimista que pudesse tranqüilizar a população. Afirmava que a crise era passageira e que o país teria condições de superá-la (OLIVEIRA, 1999).

Entretanto, os partidos da coligação União do Povo Muda Brasil, liderados pelo PT, procuraram demonstrar que os inimigos a serem combatidos eram as elites nacionais e o capital estrangeiro representado pelos especuladores internacionais. De acordo com o PT, “a política de FHC desestruturou e desnacionalizou nossa indústria e nossa agricultura, provocando desemprego e exclusão social” 120. Argumentava-se, ainda, que “as elites rejeitam um projeto nacional de desenvolvimento e se recusam a adotar políticas agrícola, industrial e de ciência e tecnologia. Com isso, o Estado perde instrumentos estratégicos de defesa dos interesses nacionais”. 121

Assim, a proposta da oposição era reverter esse quadro, opondo-se tanto a FHC quanto às forças especulativas do capital internacional. Para Amaral (2003), o então presidente Fernando Henrique teria se beneficiado com a crise, aparecendo para o eleitorado como o candidato mais apto a contorná-la. Lula tentaria ainda reverter a situação que lhe era favorável no final da campanha, enfatizando, em seu horário Gratuito de Propaganda Eleitoral, que o governo Fernando Henrique Cardoso era o principal responsável pela crise. No entanto, essa tentativa se mostrou ineficiente. Afinal, mantendo boa margem nas pesquisas durante a campanha, mais uma vez, FHC derrotou seus adversários, reelegendo-se no primeiro turno.

Novamente tentou-se buscar explicações para a terceira derrota consecutiva de Lula. A avaliação do partido não apontou para a falta de uma ampla coligação, conforme ocorrera em 1994, mas à ineficiência das propostas políticas da

Frente, na área econômica. Teria faltado “um eixo central que lhe desse

consistência e lógica na elaboração de um programa viável de suas críticas ao

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PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resoluções de Encontros e Congressos &

Programas de Governo 1979-2002. Programa de Governo de 1998. São Paulo: Fundação

Perseu Abramo, 2005. p.04.

121 Ibid.,

governo” (AMARAL, 2003, p. 130-131). Deve-se, contudo, considerar ainda a vantagem natural de um presidente em exercício quando disputa sua reeleição.