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Nogueira (2005) apresenta estudo sobre a concepção do realismo político, parâmetro conhecido como clássico e estatocêntrico, surgido como reação ao período denominado idealista das relações internacionais, que conforme mostra esse autor, encontra raízes inspiradoras em pensadores como Nicolau Maquiavel, em especial na sua obra O Príncipe (1513), e Thomas Hobbes, na obra O Leviatã (1651). Maquiavel, apud Nogueira (2005), concentra-se na ação política da cidade de Florença, Itália e dos seus acontecimentos políticos. Sua ação torna-se mais radical, pois é empírica. Deixou como herança para os realistas a ênfase na sobrevivência do Estado como ator predominante. Para sobreviver, o poder se faz necessário, e o seu equilíbrio é crucial para lidar com o desafio da segurança. Dessa forma, Maquiavel mostra o mundo real, como ele é, onde a ação dos governantes é sempre no sentido de manter o exercício do poder político. Também como homem da virtú, deve saber atuar em

circunstâncias orientadas pelo fluxo de eventos, os quais não dependem somente de sua vontade própria.

Com Maquiavel, mudam-se as finalidades, pois as relações de poder são reguladas pelo equilíbrio, no qual, o uso da força é o entendimento fundamental para a manutenção de um Estado. Nesse sentido, os meios que vier a empregar serão sempre justificados pela finalidade que se busca obter. Origina-se, a partir de Maquiavel, a isenção de qualquer preceito moral na responsabilidade e na conduta dos governantes, tanto no campo interno, como no externo.

Ainda conforme Nogueira (2005), de Hobbes, os realistas destacaram a construção simbólica do estado de natureza anárquico, que comparam com a ausência de governo ou anarquia do sistema internacional. No estado de natureza, somente o mais forte tem possibilidade de sobrevivência. Para Hobbes, apud Nogueira (2005) não há utopia, pois a interação entre os indivíduos sempre levará ao conflito, sendo necessário criar-se um corpo cívico encarnado no soberano. Para os realistas, a falta de um soberano que tenha o monopólio do uso legítimo da força nas relações internacionais é comparável ao estado de natureza de Hobbes. De acordo com Nogueira (2005, p. 22-23), “a impossibilidade de estabelecer um Leviatã no plano internacional – pela própria admissão de Hobbes – torna a anarquia internacional uma característica definitiva das relações internacionais”.

Essas considerações foram sustentadas pelos teóricos realistas, principalmente após a Segunda Guerra mundial, mantendo-se a concepção do Estado como forma de organização política, social, e coercitiva em nível interno, e descentralizado e anárquico no âmbito internacional. Dessa forma, o Estado é considerado pelo viés realista, como o ator definidor das relações internacionais. Nesse sistema, impera a lei do mais forte, em que o conceito de segurança e equilíbrio de poder passou a caracterizar o fator decisivo nas relações entre os Estados. Esse paradigma, que recebeu diferentes formulações de seus estudiosos ocupou-se, da investigação sobre as causas da guerra entre as

unidades do sistema internacional, e a constituição dos organismos internacionais (OLIVEIRA, 2007).

Ainda conforme essa autora, no início da Guerra Fria, em 1948, Hans Morghenthau publicou a obra Politics Among Nations, consolidando esse modelo teórico. Nessa obra, Morghenthau, apud Oliveira (2005) estabeleceu alguns princípios básicos para o relacionamento entre os Estados. Tais princípios afirmam que a política, assim como a sociedade, é governada por leis objetivas que refletem a natureza humana. Portanto, para entender, analisar e lidar com a política, é necessário referir-se à natureza humana, isto é, ao que há de mais profundo e mais imutável no ser humano. Morghenthau, apud Oliveira (2005) definiu os interesses em termos de poder, numa perspectiva estadista, protegendo, dessa forma, os realistas das preocupações com as motivações e preferências ideológicas, já que bons motivos, não levam necessariamente ao sucesso das políticas. Dessa forma, demonstrou que todos os Estados têm o mesmo objetivo: o poder. Com esses princípios, elevou a racionalidade ao instrumento central do processo político.

Vale destacar, ainda, dentro do modelo realista clássico que a política interna e a política externa são consideradas duas áreas distintas e independentes. Conforme Oliveira (2007, p.8), “os princípios morais e democráticos não podem ser aplicados às relações internacionais. Na política externa, prevalecem as questões de poder e de segurança”. Por esse motivo, a política externa de um Estado deve ser determinada pela defesa da soberania e do interesse nacional. Nesse sentido destaca-se a ênfase das duas vertentes do realismo apresentada por Nogueira (2005, p. 25).

O Estado convive, portanto, com uma dupla realidade: uma interna, em que é soberano e tem a autoridade e a legitimidade de impor decisões e diretrizes, e uma outra realidade externa, que está ausente qualquer autoridade que tenha a legitimidade de tomar ou impor decisões. Nesta segunda realidade, o Estado tem como função principal – para não dizer única – a defesa do interesse nacional, isto é a preservação e a permanência do Estado como ator nas relações internacionais.

Para os realistas, o interesse nacional do Estado é algo predeterminado e resulta da dupla realidade interna e externa. Esse interesse nacional é a sobrevivência do Estado como ator fundamental, que deve levar à mobilização de todas as capacidades nacionais e ao qual, se submetem todos os demais interesses. Finalizando esse breve resumo do quadro teórico das relações internacionais, observa-se que para os realistas, a segurança do indivíduo só é garantida, uma vez que, a segurança do Estado do qual faz parte é mantida. Com isso, as duas funções fundamentais do Estado – que se caracterizam pela manutenção da paz no plano doméstico, e a segurança no plano internacional – são preenchidas, ao se garantir a sobrevivência do Estado.