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2.7 AS FORMAS DE PROTEÇÃO E COMBATE AO TRÁFICO INTERNACIONAL DE

2.7.1 O combate ao tráfico

As normas de combate ao tráfico de pessoas variam muito de país para país. Alguns países desenvolveram leis e regulamentos, e outros ainda não o fizeram. Contudo, a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional estabeleceu as bases e conduziu a certa harmonização das diferentes legislações.

A questão do tráfico internacional de mulheres, segundo a UNODC (Nações Unidas sobre Drogas e Crime) [200_] encontra-se prevista no protocolo assinado pelos países membros da ONU em 2000. O protocolo para Prevenir, Suprimir, e Punir o Tráfico de pessoas, que faz parte da Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional teve duração de dezembro de 2003 até dezembro de 2005. Esse protocolo proporcionou uma análise com maior detalhamento das leis federais brasileiras, assim como

as alterações no código penal brasileiro, a fim de conhecer mais claramente e profundamente o assunto e a partir daí, especificar mais as práticas de tráfico internacional de mulheres.

Além do combate, deve-se dar ênfase a prevenção ao tráfico internacional de pessoas. Para tal, o art. 9º do Decreto 5.017, de 12 de março de 2004, Protocolo de Palermo, determinou uma série de medidas a serem cumpridas para a realização do combate ao tráfico internacional de seres humanos, entre elas, políticas e programas de combate ao tráfico de pessoas e a proteção das vítimas desse tipo de violência, assim como o incentivo a pesquisas e campanhas de informação e difusão através de órgãos de comunicação, afim de conscientizar as pessoas da existência e das conseqüências da prática do tráfico internacional de seres humanos. BRASIL (2004)

O Protocolo de Palermo prevê também a cooperação entre organizações não governamentais e a cooperação entre Estados no que se refere ao combate à pobreza, ao subdesenvolvimento, e a desigualdade, que são atualmente os fatores que tornam as pessoas vulneráveis a esse tipo de prática criminosa. Nesse decreto, os Estados se comprometem também reforçar as medidas legislativas, assim como as culturais, educacionais e sociais, buscando desencorajar os traficantes a procurar pessoas a serem traficadas. [UNODC, 20__]

Segundo a Pesquisa sobre tráfico de mulheres, crianças e adolescentes para fins de exploração sexual comercial no Brasil, realizada pela PRESTRAF, Leal (2002, p. 208 a 210) afirma que, são muitas as dimensões a que se aplica o tráfico internacional de mulheres – política, social, jurídica e psicológica –, todas elas buscando a defesa dos direitos fundamentais das mulheres, assim como de crianças e adolescentes que também são vítimas dessa forma de violência.

No Brasil, o combate a essas ações são enfrentados, principalmente, através da mobilização de Organizações Não Governamentais (ONGs), de fóruns, centros de defesa, conselhos, movimentos além dos setores do poder público. (LEAL, 2002, p. 204).

Segundo a mesma pesquisa:

[O tráfico internacional de mulheres] acaba por tornar-se um fenômeno não muito visível, em especial nas estruturas de poder governamentais, e nas quais, geralmente, as informações existentes não se referem ao tráfico de maneira específica. Assim, o fenômeno é encoberto por outros tipos de delitos notificados que perpassam a situação de tráfico. (LEAL, 2002, p. 204).

Observa-se que essa dificuldade de obtenção de informações específicas a respeito do assunto, se da pelo fato de este estar totalmente ligado ao crime organizado e a corrupção, o que por sua vez evidencia a complexidade, a quantidade e a diversidade de variáveis

envolvidas e dificultando um possível levantamento de informações a respeito do tema em organismos de esfera pública e na cooperação de possíveis informantes.

As organizações não-governamentais citam, além do silêncio social e da invisibilidade do fenômeno, a falta de recursos financeiros. Revelam também a precariedade de equipamentos públicos de atenção a mulher, à criança e ao adolescente; a morosidade da justiça; e a pesada estrutura do sistema judiciário. Relatam, ainda, o estágio diferenciado de sensibilização e de mobilização da sociedade, segundo distintas localidades, num contexto de miséria, de crise de valores, e da capacitação insuficiente de pessoas que atuem no sistema de atendimento e nos espaços de defesa e de responsabilização. (LEAL, 2002, p. 205).

Além do tráfico em si, a falta de recursos financeiros para o combate a este mal é um dos grandes empecilhos. A falta de estrutura governamental e de equipamentos públicos para atuar nas medidas públicas de combate, tornam ainda mais difícil a atuação pública para alcançar o sucesso, pois quando não há estruturação, preparação e capacitação de pessoas para atuaram especificamente no combate ao tráfico, ou ao menos no efetivo auxilio, ou seja, no suporte às pessoas que sofrem com esse tipo de prática, a atividade torna-se menos papável e, portanto, perde a importância. (LEAL, 2002, p. 205 a 207).

A resposta política da sociedade e do Poder público ao fenômeno do tráfico de pessoas para fins sexuais no Brasil, deve ser o fortalecimento de uma concepção que articule, na prática, a globalização dos direitos e do desenvolvimento de mulheres, homens, crianças e adolescentes em situação de tráfico para fins sexuais, enfrentando as desigualdades sociais, de gênero, de raça e etnia, e combatendo a impunidade numa ação conjunta entre sociedade e governo, em nível local e global. (LEAL, 2002, p. 207).

Por fim, vale ressaltar que embora o tráfico de seres humanos seja conseqüência de origem histórica, como o foi a escravidão entre outras mazelas da sociedade, deve-se reconhecê-lo como um problema atual. Porém, combatê-lo a fim de erradicar essa prática cruel, que subjuga, julga, condena, sem avaliar e ponderar sobre as verdadeiras variáveis que deram origem à aviltosas práticas que escraviza seres humanos e que se intensifica cada vez mais na realidade de muitas mulheres brasileiras, que se encontram sem perspectiva em buscam seu lugar na sociedade, é dever de todos os cidadãos.

2.7.2 A políticas públicas de combate

Segundo Dias (2005, p. 52 a 55) existem diferentes tipos de redes criminosas, das mais desestruturadas, chamadas também de redes amadoras, as super estruturadas, ou seja, as redes profissionais. O tráfico internacional de mulheres, não é realizado por grandes redes, e sim por pequenas redes especializadas que trabalham de forma associada, dividindo suas funções, ou seja, alguns trabalham no recrutamento de mulheres, outros com o transporte e com a administração e outros ainda com os prostíbulos, casas noturnas, casas de show entre outros tipos de atividades associadas à prostituição. Muitas vezes também há a associação com outros tipos de tráfico, entre eles o tráfico de drogas

Para combater o tráfico internacional de mulheres para fins de exploração sexuais, é necessário que exista uma união, ou seja, devem existir outras medidas aliadas aos programas de combate, devem existir atividades conjuntas entre diferentes Estados, através de uma a atuação ostensiva de interesse multilateral.

Em depoimento, o Delegado de Polícia Federal, Luciano Ferreira Donerlas, afirma que

A colaboração das polícias dos países receptores é excelente e muito eficiente. Elas têm ajudado muito. Fornecem abrigo temporário às vitimas e fazem investidas contra os aliciadores e traficantes. Fazemos um contato na embaixada em Brasília com o policial, que é um adido civil, e ele prontamente atende. Essa cooperação internacional ocorre especialmente nos países receptores de vítimas do Brasil, que são Espanha, Portugal e Suíça. [...] (DIAS, 2005, p. 53 a 55).

Esse relacionamento existente entre a polícia brasileira e as polícias de outros Estados facilita o combate a esses atos criminosos, pois a associação e troca de informações facilitam tanto a localização das redes de tráfico e o local de atuação, e também a assistência adequada às vitimas. Além disso, a busca interligada do combate ao tráfico, trás uma facilitação das medidas cabíveis aos praticantes desses atos, ou seja, aos traficantes internacionais. (INTERPOL, 2005).

No decreto n. 5.017 de 2004, que promulga o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças, declara em seu preâmbulo que:

Declarando que uma ação eficaz para prevenir e combater o tráfico de pessoas, em especial mulheres e crianças, exige por parte dos países de origem, de trânsito e de

destino uma abordagem global e internacional, que inclua medidas destinadas a prevenir esse tráfico, punir os traficantes e proteger as vítimas desse tráfico, designadamente protegendo os seus direitos fundamentais, internacionalmente reconhecidos.

Tendo em conta que, apesar da existência de uma variedade de instrumentos internacionais que contém normas e medidas práticas para combater a exploração de pessoas, especialmente mulheres e crianças, não existe nenhum instrumento universal que trate de todos os aspectos relativos ao tráfico de pessoas. (BRASIL, decreto n. 5.017, de 12 de março de 2004).

O decreto ainda enfatiza em seus objetivos mais do que combater o tráfico internacional de pessoas deve-se sempre procurar a prevenção dessas práticas criminosas, e ainda adotar programas de auxilio as vítimas desse tipo de prática e por fim promover a cooperação entre os Estados a fim de atingir o principal objetivo, qual seja, de inibir e erradicar o tráfico internacional de pessoas.

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