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2.6 O TRÁFICO INTERNACIONAL DE MULHERES

2.6.3 O perfil dos traficantes

O tráfico de seres humanos é em grande parte controlado por grupos criminosos organizados. Os benefícios potenciais dessa atividade são os riscos mínimos de detenção e punição, tornando o tráfico, principalmente para fins de exploração sexual um negócio tentador e economicamente viável em muitos países. (INTERPOL, 2004, p. 4, tradução nossa).

Dias (2005, p. 23) afirma que o Ministério da Justiça (MJ) junto ao Escritório das Nações Unidas Contra Drogas e Crime (UNODC), fez uma pesquisa, através da análise de inquéritos de diferentes Estados brasileiros, constatando que a maioria dos traficantes e aliciadores são homens. Porém, existem muitas mulheres aliadas a essas práticas, estas trabalhando no recrutamento das vítimas, são habitualmente mulheres mais experientes, mais maduras, com idade um pouco avançada que buscam apresentar credibilidade, conquistando a confiança das potenciais vítimas a fim de convencê-las de que a proposta é um bom negócio e sucesso garantido, para ambos.

O perfil dos acusados, analisados nos inquéritos, tem como uma das características a faixa etária superior a 30 anos, idade que denota credibilidade às vítimas, aconselhando-as e convencendo-as a aceitar as propostas de vida promissora no exterior. Todos os detalhes são estrategicamente planejados para passar credibilidade às vítimas do tráfico internacional de mulheres. Por isso as mulheres traficantes aparentam ser maduras, experientes, saber falar com propriedade sobre o assunto assegurando dominar o assunto e os trâmites que envolvem toda a operação. E em virtude da proximidade tornam-se um porto seguro para as vítimas, pois se encontram em situação de grande vulnerabilidade, muitas vezes sozinhas e sem ter alguém em quem confiar. Alcunhados pela condição de “poder” sobre essas mulheres fragilizadas, que acabam por confiar suas vidas e delegar decisões aos traficantes. Os aliciadores, nesta condição, aconselham as vítimas a aceitar as propostas vislumbrando uma vida nova, uma proposta de crescimento pessoal e profissional, e principalmente, de independência financeira. (DIAS, 2005, p. 23).

Assim,

nos processos em inquéritos examinados, os acusados declaram ter ocupações em negócios como casa de show, comércio, casa de encontros, bares, agências de turismo, salões de beleza e casas de jogos.

A maioria dos brasileiros acusados nos inquéritos e processos examinados está associada a um conjunto de negócios escusos (drogas, prostituição, lavagem de dinheiro e contrabando), que, por sua vez, mantêm ligações com organizações sediadas no exterior. (DIAS, 2005, p. 23).

No que se refere à escolaridade, os traficantes são em sua maioria pessoas com nível médio ou superior, escolaridade que está estabelecida praticamente como pré-requisito ao tráfico internacional, seja de pessoas, seja de drogas, visto que envolve questões que exigem compreensão de determinadas situações, a fim de garantir as condições mínimas para o sucesso das operações de tráfico. Dias (2005, p. 23 – 24)

Em relação à nacionalidade dos traficantes, a mesma pesquisa citada anteriormente, confere a grande escala de brasileiros envolvidos na prática do tráfico internacional de mulheres brasileiras. Os inquéritos analisados apontam o percentual de 88,2% de brasileiros entre as nacionalidades envolvidas nessa prática. Entre as demais nacionalidades destacam- se: espanhóis, holandeses, venezuelanos, paraguaios, alemães, franceses, italianos, portugueses, chineses, israelitas, belgas, russos, entre outros. [UNODC, 20__].

A Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial (PRESTRAF), contesta as informações acima.

Leal (2002, p. 58) aponta que os homens estão mais ativos que as mulheres nesse tipo de prática, indicando um percentual correspondente a 59% de homens, com faixa etária que oscila entre os 20 e 56 anos. As mulheres representam 41% dos envolvidos, e estas com faixa etária entre 20 e 35 anos. A pesquisa realizada pela PRESTRAF concorda que os brasileiros estão mais presentes no tráfico de mulheres do que os estrangeiros, pois, do total de 161 aliciadores identificados, 52 são estrangeiros de diferentes países, e 109 são brasileiros, discordando da pesquisa realizada pela UNODC sobre o percentual de brasileiros envolvidos.

Leal (2002, p. 59) ainda afirma que a pesquisa averiguou que os aliciadores brasileiros pertencem a diferentes classes sociais, passando de proprietários de boates, de classe econômica mais elevada e por isso, mais instruídos, a funcionários que trabalham como os chamados body guarder, pessoas menos instruídas que trabalham apenas na segurança das

mulheres. Foi averiguada também a existência dos sueta1, esses são responsáveis pelo recrutamento de mulheres em outros países.

Prosseguindo com sua análise, Leal (2002, p. 59 – 60), faz observar que não são apenas os proprietários de casas noturnas e seus funcionários os responsáveis pelo aliciamento e tráfico internacional de mulheres brasileiras, mas também pessoas detentoras de poder político e econômico de pequenas cidades, com poder aquisitivo alto, estão muitas vezes envolvidas com essas práticas, segundo os relatórios da pesquisa. É freqüente

no relato das meninas, a presença de nomes políticos da cidade, funcionários públicos ligados a Justiça e Segurança, figuras proeminentes e indivíduos conhecidos como pertencentes ao grupo econômico dominante na cidade. (LEAL, 2002, p. 59)

Constata-se que a maioria dos envolvidos nos esquemas de tráfico internacional de mulheres, são homens com alto grau de instrução e alto poder aquisitivo. Porém, eles não são os únicos. As mulheres também envolvidas nessa prática, são mulheres de perfil calculista, que ganham a confiança das vítimas, as convencem de que migrar para outro país é uma grande oportunidade de crescimento, escondendo a realidade de submissão, prisão e sofrimento que irão enfrentar em um mundo desconhecido, onde muitas vezes não poderão nem ao menos se comunicar para pedir ajuda, de modo a garantir o sucesso da operação .

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