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2.7 AS FORMAS DE PROTEÇÃO E COMBATE AO TRÁFICO INTERNACIONAL DE

2.7.4 A participação da Interpol

A Organização Internacional de Organização Internacional de Polícia Criminal (INTERPOL) tem por objetivo ser a primeira organização a atuar em escala mundial a fim de proteger, serviços, organismos ou autoridades que busque a prevenção da delinqüência internacional e a prevenção da mesma.

Como prevê seu estatuto que dispõe em seu art. 2º

A Interpol tem como finalidade principal desenvolver a mais ampla assistência recíproca por parte das autoridades de polícia criminal, bem como estabelecer e desenvolver parcerias com todas as Instituições que possam contribuir para a prevenção e repressão das infrações ao direito comum, dentro do marco das leis dos diferentes países e do respeito à Declaração Universal de Direitos Humanos. (CELESTINO, 2006, p. 8).

Atualmente, o combate ao crime da INTERPOL está focado em cinco prioridades, são elas: tráfico de pessoas, pedofilia, crime cibernético, terrorismo e tráfico de drogas. (PHOENIX, 20__).

Segundo Celestino (2006, p. 13), a missão da INTERPOL é nada mais do que trabalhar com a sua plena capacidade de comunicação e análise de informações em caráter internacional buscando reconstruir os fatos em evidência e assim resolver casos delitivos de repercussão internacional.

O banco de dados de criminosos utilizado pela INTERPOL, segundo Celestino (2006, p. 14) divide os procurados, os crimes cometidos e a gravidade dos delitos em diferentes difusões, separadas e identificadas por diferentes cores.

As difusões, vermelha, azul e verde, são as que mais se relacionam com as práticas de tráfico internacional de seres humanos, e são nessas difusões, que serão especificadas abaixo que se encontram os criminosos envolvidos nessas atividades.

 Vermelha: para prisão de suspeitos para os quais uma ordem de prisão foi expedida com vistas à extradição (fugitivos em geral);

 Azul: para a busca de informações (identificação, registro criminal) sobre suspeitos que tenham cometido crimes. É usada para traçar o paradeiro e localizar suspeitos em que a extradição poderá ser solicitada (criminosos não identificados testemunhas);

 Verde: para fornecer informações sobre criminosos profissionais que cometeram ou estão dispostos a cometer delitos em vários países (criminosos habituais, terroristas, molestadores de crianças, etc.); (CELESTINO, 2006, p.14).

Os avisos e difusões do sistema da INTERPOL permite uma cooperação global entre seus países membros na busca por criminosos e suspeitos, assim como a localização de pessoas desaparecidas ou ainda recolher informações. Especialmente relevante é a difusão verde, é através dela que os Estados podem alertar outros Estados membros da existência de um agressor sexual conhecido viajando para seu território ou região. (Traffinking in Humans beings, 2009, tradução nossa).

Segundo Celestino (2006, p. 22), as atividades desempenhadas pela INTERPOL se concentram em diferentes campos de atuação, entre eles, crimes organizados e drogas; segurança publica e terrorismos; crimes econômicos e financeiros de alta tecnologia; seres humanos e investigação sobre fugitivos.

É neste último grupo que se enquadra o tráfico internacional de mulher para fins de exploração sexual. Para combater esse tipo de tráfico, a INTERPOL possuiu uma política onde seus investigadores, são instruídos em relação a procedimentos, através de treinamentos

específicos e também pelo Manual de Investigações do Tráfico de Mulheres para Exploração Sexual.

No referido manual constam informações de como proceder nas situações de tráfico internacional de mulheres e os diferentes métodos investigativos para o sucesso da investigação e o combate efetivo dessas práticas, analisando as maneiras mais eficazes de combatê-las, as práticas recomendadas, como proceder em situações de terrorismo. Explica também as relações bilaterais e multilaterais dos países. O manual ainda alerta sobre situações de cooperação internacional entre Estados e determina procedimentos padronizados, através de estratégias táticas visando sempre a proteção da vítima e seus familiares.

Através de informações obtidas neste manual, os policiais aprendem como coletar os dados e como proceder com as investigações, aprende também como garantir a segurança das vítimas e testemunhas. A INTERPOL trabalha com procedimentos padronizados, com pequenas diferenciações para que se molde a cada caso específico. Essa padronização é exigida para que seja de fato exista a segurança das vítimas e testemunhas, assim como a não existência de represálias por parte dos criminosos, essas estratégias também são minuciosamente traçadas e sigilosas, para que não haja falhas e vazamento de informações que tragam a possibilidade de fuga dos traficantes.

Segundo o Traffinking in Humans beings (2009, tradução nossa), o tráfico de seres humanos é considerado um crime bastante sofisticado, e para que haja efetividade no combate a essa prática é necessária a cooperação mútua. Para isso são oferecidas pela INTERPOL uma série de serviços para as polícias de todo o mundo.

No que se refere ao nível operacional, a INTERPOL, auxilia os países membros com apoio em operações táticas. A INTERPOL também possui um grupo, o chamado INTERPOL Expert, que se reúne anualmente com o objetivo de conscientizar e sensibilizar as pessoas para as questões emergentes alem de promover e estimular programas que vislumbram a prevenção e a disponibilização de treinamento especializado para o combate a essas questões. (Traffinking in Humans beings, 2009, tradução nossa).

Na questão referente ao turismo sexual, quando verificado o contexto do tráfico, a INTERPOL objetiva o desenvolvimento de parcerias com polícias de outros países interessados, visando a promoção do julgamento dos agressores e também o resgate das vítimas. É o sistema de comunicação que permite com que as polícias de fronteira, ou as autoridades de imigração, recebam informações imediatas no que se refere a consultas sobre documentos de viagem roubados ou perdidos, veículos roubados e criminosos procurados. Esses meios de comunicação também são úteis para detectar alguns casos de tráfico de seres

humanos na fase inicial de entrada em um país, agilizando o planejamento de operações e permitindo ações mais rápidas que algumas vezes impedem ações criminosas. (Traffinking in Humans beings, 2009, tradução nossa).

Vale destacar que outros órgãos estão diretamente envolvidos na luta contra o tráfico de seres humanos, órgãos esses que também auxiliam no trabalho da INTERPOL, como Eurojust, Europol, a Organização Internacional para as Migrações, a Organização Internacional do Trabalho, a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, no Sudeste Europeu da Iniciativa de Cooperação, os Estados Unidos Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, assim como organizações não-governamentais que trabalham neste campo. Todas essas organizações voltadas para ações que assegurem o pleno respeito aos diretos humanos.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo do objetivo de mostrar quais são as principais formas e os instrumentos utilizados para o combate ao tráfico internacional de mulheres para fins sexuais no Brasil e através da analise dos fatos que contribuem para a necessidade desse tipo de combate foi verificado que o estudo dos direitos fundamentais das pessoas, da aplicabilidade dele na lei, e da falta de materialidade dos mesmos, nos mostra a desigualdade ainda existente na sociedade atual, assim como submissão das mulheres em relação aos homens, a violência domésticas cada vez mais recorrentes e muitos outros fatores levam mulheres a buscar o tráfico internacional de mulher para dar um rumo diferente à em suas vidas.

Os direitos fundamentais são direitos inerentes a todos os seres humanos, que devem ser defendidos por todos, entre eles o direito a vida, que é o mais importante dos direitos e o primeiro que exercemos por sem a existência da vida, não existe a necessidade da existência dos demais direitos. O direito a liberdade e a dignidade também são imprescindíveis para a existência do ser humano, a liberdade de pensamento, expressão, a tomada de decisão e a responsabilidade que cada um tem por decidir o que deve fazer de suas vidas, a dignidade por sua vez, responde pelos direitos mais básicos, necessários para a sobrevivência de um ser humano, como educação, saúde, moradia, conceitos básicos que deveriam ser sabidos e aplicados materialmente a todos os cidadãos.

No que se refere ao direito fundamental das mulheres, foi verificado que eles existem apenas de direito, pois a desigualdade entre gêneros é reconhecida, e já é tema de muitas discussões. A inserção das mulheres no mercado de trabalho aumenta gradativamente, especialmente nos setores públicos e na política, diminuindo a distância entre os homens e as mulheres. Conquistas originadas de luta incansável ao longo da história e que não tem data para terminar. Muito já foi trabalhado na resolução dos problemas referentes à discriminação de gêneros. É bem verdade que muitas barreiras já foram transpostas, porém muito ainda há a conquistar. Como exemplo de questões a serem superadas pode-se citar a diferença salarial entre homens e mulheres que ainda é gritante, e revela o desrespeito a um dos direitos, o da igualdade.

A inaplicabilidade dos direitos fundamentais, ou seja, sua existência em caráter apenas formal e não material, o difícil acesso a educação, a saúde, à moradia, a condições dignas de vida, à falta de empregos ou sua reserva por questões de gênero, fazem com que as mulheres

sintam-se inferiores aos homens, e esses por sua vez, se sentem donos dessas mulheres, que a eles se submetem para garantir seus direitos fundamentais.

Mulheres que não tem voz e não sabem o significado do direito a liberdade, que desconhecem o significado direito a vida, que são subjugadas e escravizadas por viver em contínua submissão masculina, tem como objetivo de vida servir a esses homens que lhes exploram, para então ter a garantia do direito a vida, se é que podemos assim conceituar essa condição. Essas mulheres têm sua liberdade tolhida e a palavra dignidade não existe em seus vocabulários, tampouco, fazem sentido à realidade que vivem.

É objetivando usufruir dos direitos à elas negados que as mulheres sentem a necessidade de fugir, sozinhas, deixando pra trás maridos, filhos, e qualquer outro vínculo em busca que oportunidades duvidosas. E são nesses momentos de vulnerabilidade que os traficantes e aliciadores aproveitam para conquistar suas vítimas, mostrando a elas que nessa nova experiência por eles oferecida, existe a chance do crescimento, da evolução pessoal, da oportunidade de uma vida melhor.

Entre as principais causas do tráfico internacional de mulheres identifica-se a pobreza, a falta de oportunidade de trabalho, a discriminação de gênero, entre outras, e é nesse contexto que os traficantes encontram as mulheres, muitas dessas já deixaram suas casas, já trabalharam como prostitutas e vêem o tráfico como um fator positivo, como uma oportunidade e não como uma ameaça à vida.

A globalização também é um fator que está diretamente ligado ao tráfico internacional de mulheres para fins sexuais, pois a facilitação do acesso de todos a novos Estados, muitas vezes sem documentação específica torna-se um facilitador para o tráfico. Diante dessas facilidades, juntamente com essa oportunidade de uma vida melhor vislumbrada pelas mulheres traficadas, o tráfico parece ser a melhor decisão a ser tomada.

O poder de persuasão dos traficantes e falta de perspectiva de vida dessas mulheres também facilitam a decisão de migrar. São muitas promessas feitas pelos traficantes, entre elas, oportunidades de emprego, crescimento pessoal, oportunidade de estudo, uma melhor condição financeira, entre outros atrativos que fazem com que as mulheres aceitem essa situação. Porém ao chegar no país de destino, verificam outra realidade, aquelas que buscavam a independência, liberdade e principalmente o fim da violência, se encontram em uma situação de submissão novamente, submissão essa igual ou pior do que as que sofriam no seu ambiente familiar, dessa vez vinda por parte de estranhos.

E é nesse momento que a realidade vem a tona e elas percebem que se encontram novamente sendo escravizadas, vêem que as oportunidades eram falsas e que as ótimas

oportunidades de trabalho não existem, ou seja, não existem escolhas, seu futuro volta a ser servir.

Com longas jornadas de trabalho essas mulheres não têm tempo para estudar e, muitas vezes, são mantidas em cárcere privado, impedidas de qualquer decisão que lhes possibilite se desvincular da realidade a que se submeteram. Os traficantes necessitam de controle total sobre as traficadas, pois, temem a fuga, o que poderia se tornar risco, possibilitando denúncias e conseqüentemente as penalidades legais

Essas mulheres decidem por voltar, quando já é tarde demais, quando já foram confiscados seus documentos, quando já adquiriram enormes dívidas com os traficantes e não existem brechas para que consigam se desvincular da rede tráfico ou oportunidade para que possam pedir ajuda.

É para combater as grandes redes e erradicar o tráfico internacional de mulheres e dar proteção as que já migraram para outros países que a ação da Polícia Federal necessita estar sintonizada com outros poderes, outras organizações e outros países, defendendo-as da subordinação de traficantes perigosos.

A Polícia Federal atua na prevenção articulando-se a outros órgãos a fim de conscientizar as mulheres e a população de modo geral da existência desse tipo de tráfico, através da exposição de cartazes em aeroportos, e também na entrega dos passaportes. Disponibiliza também um número de telefone para que sejam feitas denúncias, pois essas são imprescindíveis, uma vez que são ricas fontes de informações que contribuem para desvendar e elucidar atividades que objetivam unicamente o tráfico.

Os programas de combate ao tráfico adotam diferentes medidas para que ocorra de fato a erradicação, ou pelo menos, a diminuição gradativa. É com essa finalidade que foram criadas e veiculadas campanhas a fim de conscientizar a população da existência dessas práticas, buscando assim diminuir o número de mulheres traficadas.

A conscientização não é, porém, o único caminho. É necessário também agir em defesa das mulheres que já se encontram em outros países e querem voltar para suas origens. É imprescindível que ocorra a evolução jurídica e se estabeleça mais enfaticamente o planejamento de ações e a cooperação entre os Estados, outros poderes, outras organizações que tenham dentre seus objetivos, a solução deste problema. Somente a articulação de ações, o compartilhamento de informações e a união dos países receptores e emissores trabalhando ativamente e ostensivamente no combate ao tráfico internacional de mulheres, é que poderá se obter resultados mais positivos.

No que se refere ao combate, existem uma longa luta, pois o combate exige atuação caso a caso, de forma minuciosa e sigilosa envolvendo um longo período de investigação.

A Polícia Federal trabalha em conjunto com a INTERPOL, o que facilita significativamente o combate ao tráfico internacional de mulheres, uma vez que através deste trabalho existe um contato com representantes dos países receptores, que junto ao Brasil, vem lutando contra a prática do tráfico internacional de mulheres para fins sexuais, e vem também auxiliando no que se refere à proteção das vítimas dessa prática e principalmente contribuindo no que se refere à punição dos traficantes e aliciadores.

Observa-se que ainda serão necessários muitos anos de combate para que se erradique o tráfico internacional de mulheres para fins sexuais, e para que sejam recuperados todos os cidadãos que já se encontram em outro país tolhidos do direito de recomeçar uma nova vida. Porém, não depende apenas das medidas preventivas e de combate. Para a erradicação efetiva, deve-se iniciar uma ação que atue na raiz do problema, que é garantir que todos os cidadãos exerçam seus direitos fundamentais, pois é a ausência material desses direitos o principal motivo da exploração de mulheres jovens.

É viabilizando a evolução educacional, sociocultural e conseqüentemente financeira que proporcionará à população alvo do tráfico internacional de mulheres se inserir e se estabelecer no mercado de trabalho interno, de modo a garantir uma vida digna e sem violência, que corroborará para demover e desmotivar a adesão a esse tipo de prática ilícita.

ANEXO

ANEXO A – Depoimento de Simone Borges Felipe, vítima do tráfico

Dados Pessoais

Nome: Simone Borges Felipe Idade: 25 anos

Residência: Setor Santos Dumont, região norte de Goiânia (GO) Estado Civil: Solteira / noiva de Maurício Guimarães

Filhos: João Clezer – 4 anos Escolaridade: Não identificada. Profissão/Trabalho: Balconista

Condições Socioeconômicas: Morava com a família composta por 5 pessoas e sustentada

pelo salário de R$ 128,00 do pai.

Data da Morte: 06/04/1996 – sábado

Simone Borges Felipe, de 25 anos de idade, residia no Setor Santos Dumont, região norte de Goiânia (GO) com seu filho de 4 anos, sua irmã (Joana D‟arc), e seus pais, a dona de casa Maria Leite Felipe, de 55 anos, e o músico da banda da prefeitura, João José Felipe, de 60 anos, que sustentava a família com um salário de R$ 128,00 mensais. No dia 22 de janeiro de 1996, Simone embarcou para a Espanha com um objetivo: juntar muito dinheiro para oferecer melhores condições de vida aos seus familiares.

Segundo seus familiares, a jovem teria viajado para trabalhar inicialmente como empregada doméstica e depois como garçonete, aceitando o convite feito pelas irmãs Elícia Magalhães de Brito (Costureira, 31 anos) e Eleuza Magalhães de Brito (23 anos), que trabalhava como prostituta, na Espanha: “Elas foram na minha casa, convidaram

a Simone e a levaram para a Espanha, prometendo que ela iria trabalhar como garçonete”, disse o pai, que perguntou a Elícia “ se era coisa séria”, e esta respondeu que “era coisa boa”, que se não fosse, “a Simone voltaria”.

A versão das irmãs, no entanto, difere da que foi apresentada pela família de Simone. Eleuza teria passado alguns meses trabalhando na boite Cesar Palace, em Bilbao, e no final de 1995, procurou o dono do estabelecimento, o espanhol Luiz

Ignácio Lasterra Santos, e argumentou que gostaria de viajar para o Brasil a fim de rever sua filha, familiares e amigos. No entanto, Eleuza demonstrou interesse em retornar ao trabalho, embora não tivesse condições de arcar com as passagens aéreas.

Lasterra propôs pagar os custos da viagem, desde que ela arregimentasse, através do contato de Juan Figueiroa, dono da agência de viagens Ibéria, no Rio de Janeiro, outras goianas para trabalharem em suas boates.

“Quando cheguei em Goiânia, toda a vizinhança sabia em que eu estava trabalhando e o papo que corria é que eu estava ganhando muito dinheiro. Imediatamente, todas as nossas amigas, inclusive a Simone, foram lá pra casa. Queriam explicações de como fazer para virem também para a Espanha. Foi quando indiquei o nome de Juan Figueiroa e dei também o número do telefone. Nem eu e nem Elícia aliciamos ninguém, elas é que foram atrás”.

Elícia, que morava no mesmo bairro de Simone e que também havia decidido seguir os passos de Eleusa e embarcar para a Espanha, apresenta um discurso semelhante. Diz que não é agenciadora, apenas ajudou sua irmã a contatar as mulheres para não precisar pagar a passagem aérea:

“Quando a minha irmã chegou aqui no Brasil, em dezembro, para passar o natal e o ano novo... todas as mulheres começaram a vir aqui querendo ir também. Todas nós vamos prá lá pensando que vamos ganhar muito dinheiro. Dá pra ganhar, mas não é tanto assim. Todas nós sabíamos que estávamos indo para nos prostituir. Elas sabiam, assim como todas as famílias. Inclusive, até a própria irmã da Simone, a Joana D’arc, cansou de vir aqui na minha casa para que a Simone fosse, porque ela estava devendo demais da conta, precisava pagar as contas... Eu receberia U$ 200 por cada garota, valor que seria abatido no preço da passagem, que custava U$ 3,5 mil.”

Lasterra, por sua vez, em carta enviada ao pai de Simone, incrimina as irmãs pelo esquema de envio de mulheres para a Espanha:

“Quem tem se dedicado a esse trabalho, cobrando dinheiro das meninas, tem sido precisamente Elícia, que armou todo esse absurdo, mandada por Victor Acebo (ex sócio de Lasterra em suas boites), que é namorado de sua irmã, Eleusa”.

Na primeira quinzena de fevereiro de 1996, Simone telefonou para sua mãe. Ela chorava copiosamente, disse que estava ligando de um telefone público e que estava exausta. Perguntou a hora do Brasil. A mãe informou que eram oito horas da manhã e Simone disse que na Espanha já era meio dia e que havia trabalhado até àquela hora. Pediu, então, que a família contatasse o consulado Brasileiro na Espanha para tirá-la de lá - “isso aqui é um inferno!”, disse à mãe.

A mãe de Simone, no entanto, afirma que a jovem não mencionou o fato de estar se prostituindo: “ela sempre foi muito respeitosa! Não teve coragem de falar abertamente que estava sendo obrigada a se prostituir, mas nós sabemos que foi isso, e também que ela viajou enganada. Quando ela telefonava para dar notícias, a gente percebia que não estava sozinha, que tinha alguém vigiando, ou o telefone estava grampeado. Nas únicas vezes que ela reclamou do tratamento na Espanha, estava na rua e falava rapidamente, porque as fichas

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