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A proteção dos direitos fundamentais das mulheres no ordenamento jurídico brasileiro

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA MARIA EDUARDA FEDRIGO KLINGELFUS

A PROTEÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DAS MULHERES NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO: UMA REFLEXÃO SOBRE O COMBATE AO TRÁFICO INTERNACIONAL DE MULHERES PARA FINS

SEXUAIS

Florianópolis 2011

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MARIA EDUARDA FEDRIGO KLINGELFUS

A PROTEÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DAS MULHERES NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO: UMA REFLEXÃO SOBRE O COMBATE AO TRÁFICO INTERNACIONAL DE MULHERES PARA FINS

SEXUAIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Graduação em Relações Internacionais, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Denis de Souza Luiz, Esp.

Florianópolis 2011

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MARIA EDUARDA FEDRIGO KLINGELFUS

A PROTEÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DAS MULHERES NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO: UMA REFLEXÃO SOBRE O COMBATE AO TRÁFICO INTERNACIONAL DE MULHERES PARA FINS

SEXUAIS

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em (...) e aprovado em sua forma final pelo curso de Relações Internacionais, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, __ de julho de 2011.

Florianópolis 2011

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DEDICATÓRIA

Para meus pais, Anir e Henrique, pelo exemplo de vida e amor incondicional.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela oportunidade de concluir mais uma importante etapa de minha vida.

A minha mãe Anir, pelo exemplo de vida, pelas noites mal dormidas, pelo exemplo mulher guerreira e batalhadora, pelo amor que me devota, pela paciência, pela dedicação e apoio em todos os momentos de minha vida e por acreditar no meu potencial e me incentivar sempre e pelas longas conversas, pelos momentos de força me mostrando que eu sou capaz de conquistar todos os meus objetivos, sem dúvida foi quem me deu o maior incentivo e auxílio para seguir em frente e concluir esse trabalho;

Ao meu pai Henrique, quem chamo com orgulho de pai, pessoa fundamental na minha formação pessoal, meus agradecimentos pelo amor e dedicação, pelos momentos em que esteve ao meu lado me apoiando, incentivando e dando o exemplo de dedicação, amizade, de pessoa batalhadora que é.

Ao meu amigo Bernardo, que esteve sempre ao meu lado, por dias e noites me auxiliando, me ajudando e dividindo conhecimento, pessoa ímpar, que esteve ao meu lado em muitos momentos dessa batalha, me encorajando e também comemorando nos momentos de vitória, sem dúvida foi uma pessoa fundamental para que eu tenha alcançado meu sucesso.

Aos amigos da faculdade, pela amizade verdadeira, pelos sorrisos nas sextas-feiras à noite, por me dar forças e não me deixar desistir, por esses quatro anos maravilhosos que passamos juntos meu especial agradecimento. Vocês também são responsáveis pelo meu sucesso, pois fazem parte dessa etapa ainda mais especial.

Aos amigos da Polícia Federal, pelos ensinamentos práticos e pela experiência de vida, pelos momentos de descontração e principalmente pelo auxílio com fornecimento de material essencial para a conclusão desse trabalho, sem eles nada teria sido possível.

Ao meu orientador Denis de Souza Luiz, pela dedicação, pelos ensinamentos e auxílio fundamental para a conclusão com sucesso desse trabalho;

Por fim, gostaria de agradecer aos amigos e familiares, pela compreensão, carinho e incentivo nos momentos de ausência, momentos onde tive que me dedicar exclusivamente ao trabalho. Por todos que direta ou indiretamente contribuíram para o sucesso desse trabalho, meus sinceros agradecimentos.

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“Todas as pessoas tem o mesmo valor, independente do valor que elas tenham” (Adriana Falcão)

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RESUMO

Em tempos que o estreitamento das fronteiras acontece cada vez mais rápido trazendo muitas conseqüências positivas para a vida das pessoas, ocorrem paralelamente, práticas inaceitáveis. O tráfico internacional de mulheres é uma delas, e existem muitos motivos para que essa prática se concretize. Por reconhecer a importância da análise dessas práticas, o presente trabalho busca apresentar uma pesquisa acerca do seguinte tema, iniciando pela abordagem dos direitos fundamentais, que muitas vezes são restritos, ou seja, não existem para algumas mulheres que decidem por aceitar a prática do tráfico internacional, também será a abordada à importância da existência e efetividades dos direitos fundamentais. Posteriormente, abordam-se os direitos fundamentais das mulheres, fatores muitas vezes impulsionadores para que as mesmas se disponham a participar desse tipo de prática. Ao abordar o tráfico internacional de mulheres, analisa-se junto a ele os motivos que levam as mulheres a migrar, o perfil dessas mulheres, vítimas dessa prática ilegal e também o perfil dos aliciadores. Ao se submeterem ao tráfico, as mulheres passam a viver uma realidade divergente das promessas feitas pelos traficantes, passam a levar uma vida de subordinação e violência, muitas vezes pior do que a realidade vivida em seu país de origem, despertando o desejo de retornar quando essa possibilidade já não é possível. Para evitar que essas práticas prosperem, finaliza-se o trabalho com a análise da efetividade das políticas públicas de combate, especialmente da Polícia Federal em associação com a INTERPOL e as Embaixadas dos países receptores, que seja realizado um trabalho de cooperação e combate capaz de prevenir e erradicar a propagação dessas práticas, além de investigar as situações de tráfico já existentes para um efetivo resgate das mulheres brasileiras que já se encontram em situação de tráfico internacional de mulheres.

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ABSTRACT

In times of tightening the borders is increasingly the case quickly bringing many positive consequences for the lives of individuals, occur simultaneously, unacceptable practices. The international trafficking of women is one of them, and there are many reasons for this practice to occur. Recognizing the importance of analyzing these practices, this study aims to present a research on the following theme, starting with the fundamental rights approach, which often are restricted, there are some women who decide to accept the practice of trafficking international, will also be addressed to the importance of the existence and effectiveness of fundamental rights. Subsequently, to address the fundamental rights of women, factors often drivers so that they are willing to participate in this kind of practice. Addressing the international trafficking of women, we analyze with him the reasons that lead women to migrate, the profile of these women, victims of this illegal practice and also the profile of traffickers. By submitting to trafficking, women start to live a divergent reality of the promises made by traffickers, they lead a life of subordination and violence, often worse than the reality lived in their home country, arousing the desire to return when this possibility is no longer possible. To prevent such practices to flourish, the work ends up with the analysis of the effectiveness of public policies to fight, especially the Federal Police in conjunction with Interpol and the embassies of receiving countries, which is a cooperative work done and able to fight prevent and eradicate the spread of such practices, and investigate the trafficking situations existing for a effective rescue of Brazilian women who are already in a state of international trafficking in women.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 9

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA ... 11

1.2 OBJETIVOS ... 12 1.2.1 Objetivo geral ... 12 1.2.2 Objetivos específicos ... 12 1.3 JUSTIFICATIVA ... 13 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 13 1.4.1 Caracterização da pesquisa ... 14 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 16 2.1 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS ... 16

2.2 O CONCEITO DE DIREITO FUNDAMENTAL ... 17

2.3 AS CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ... 18

2.4 AS GERAÇÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ... 20

2.4.1 Os direitos fundamentais de primeira geração ... 21

2.4.2 Os direitos fundamentais de segunda geração ... 22

2.4.3 Os direitos fundamentais de terceira geração ... 23

2.5 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA MULHER ... 24

2.5.1 O caráter subordinado dos direitos fundamentais da mulher ... 26

2.5.2 Do direito à vida ... 30

2.5.3 Do direito à igualdade ... 31

2.5.4 Do direito de liberdade ... 31

2.5.5 Do princípio da dignidade da pessoa humana ... 33

2.6 O TRÁFICO INTERNACIONAL DE MULHERES ... 35

2.6.1 O conceito ... 36

2.6.2 As causas do tráfico de mulheres ... 37

2.6.3 O perfil dos traficantes ... 37

2.6.4 O perfil das vítimas ... 42

2.6.5 A realidade social brasileira e a emigração das mulheres ... 42

2.7 AS FORMAS DE PROTEÇÃO E COMBATE AO TRÁFICO INTERNACIONAL DE MULHERES PARA FINS SEXUAIS ... 47

2.7.1 O combate ao tráfico ... 47

2.7.3 A importância da Polícia Federal ... 51

2.7.4 A participação da Interpol ... 53

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 55

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1 INTRODUÇÃO

A prática do tráfico internacional de mulheres para fins sexuais vem sendo facilitada através do estreitamento das fronteiras conseqüentes da globalização desenfreada que acontecem atualmente nos mais variados países do mundo. O presente trabalho tem por objetivo principal analisar o tráfico internacional de mulheres para fins sexuais, assim como os direitos fundamentais e suas vertentes, os direitos fundamentais das mulheres assim como as formas de proteção e combate ao tráfico internacional de mulheres para fins de exploração sexuais.

Devido ao estreitamento de fronteiras, quando a globalização passa a ser a tônica do comportamento aberto entre países, e abrindo mais suas portas para a facilitação do comércio, mas também se tornando oportunidade para o trânsito mais intenso de pessoas e conseqüentemente, oportunizando também o crescimento gradativo da prática do tráfico internacional de mulheres. Observa-se que embora se consolidem muitos pontos positivos com tal abertura, especialmente no que se refere a questões econômicas, muito se perde por facilitar práticas ilegais, principalmente as atividades que ferem os direitos chamados fundamentais, ou seja, direitos inerentes ao ser humano, os quais, segundo a Constituição Federal, são invioláveis.

O tráfico internacional viola o direito a liberdade, a dignidade e muitos outros direitos previstos em lei, considerando então que além de cruel, a prática do tráfico internacional de mulheres é inconstitucional, pois fere os direitos mais importantes. Inclui-se nestes o direito a vida, considerando que muitas mulheres morrem, tentando voltar para casa, sendo violentadas ou em muitas outras situações expostas pelo tráfico internacional de mulheres.

Neste trabalho pretende-se refletir acerca do perfil das mulheres traficadas, que são em sua maioria, mas não exclusivamente, mulheres negras, entre 18 e 25 anos, de classes menos favorecidas. Na pesquisa, será vislumbrado que grande parte das mulheres sabem do que se trata o tráfico internacional de mulheres e sabem as atividades que terão que desempenhar no país pra onde migrarão, mas ainda assim aceitam a oferta, vislumbrando com a migração uma oportunidade de crescimento pessoal, profissional e financeiro, pois acreditam que ao pagar suas “dívidas” com os traficantes ficarão livres para procurar empregos dignos, para poderem continuar seus estudos e de fato crescerem na vida e encontrarem seu lugar ao sol.

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Outras mulheres aceitam a migração, pela violência sofrida em suas próprias casas, e vêem a fuga como a única solução, como a oportunidade de libertação. O que elas não sabem é que como mulheres traficadas, elas serão tão ou mais exploradas do que são na realidade que enfrentam em casa. Essas mulheres ao se deparem com a realidade do mundo da prostituição internacional, geralmente, desejam voltar para casa quando já é tarde demais, pois seus passaportes já foram tomados e já não encontram meios para voltar para seu país de origem.

Será visto o perfil dos traficantes por sua vez é mais variado, pois para que consigam convencer as vítimas é necessário muito argumento, técnica, e poder de persuasão. No perfil dos traficantes incluem-se homens e mulheres, geralmente de um nível de escolaridade mais elevado, pois trata-se de um crime internacional onde o conhecimento de idiomas e até mesmo da legislação torna-se necessário, senão, fundamental. Comumente aos homens, em sua maioria, cabe a responsabilidade pelo tráfico em si, ou seja, pelo transporte e pela segurança das mulheres no país de origem, entendendo-se aqui a manutenção das mulheres em isolamento e prevenindo a fuga no país de destino.

As mulheres participantes das redes de tráfico internacional são em sua maioria mulheres mais experientes, que trabalham no convencimento, ou seja, tem como principal função persuadir as mulheres a serem traficadas e convencê-las a aceitar suas propostas, apresentando e enfatizando exclusivamente os pontos considerados por elas positivos para que a migração se concretize. O encorajamento também faz parte das atividades desempenhadas por essas mulheres, pois consiste em uma fase decisiva para a consumação da prática do tráfico internacional.

Por fim, o trabalho apresentará as medidas públicas de combate que são utilizadas atualmente para a prevenção e combate ao tráfico internacional de mulheres para fins sexuais, assim como a atuação da polícia federal e da polícia internacional no combate à violação dos direitos fundamentais do ser humano, através das práticas do tráfico internacional de mulheres para fins sexuais, práticas estas que se tornam cada vez mais freqüentes na realidade das mulheres brasileiras.

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1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA

É sabido e concebido que a globalização está cada vez mais presente na vida das pessoas, evoluindo vertiginosamente, principalmente no que tange a aspectos econômicos, trazendo contribuições importantes, mas também nos submetendo aos problemas advindos do estreitamento de fronteiras, ignorando valores ou impondo diferentes culturas. Pode-se afirmar que nenhuma das conseqüências trazidas pela globalização é mais importante do que as que atingem diretamente a vida pessoal, a sexualidade, os relacionamentos e a família.

São muitos os benefícios decorrentes dessa evolução do capitalismo, e são poucos os países que ainda se mantém fechados para esse mundo globalizado, onde atravessar o planeta deixou de ser um acontecimento histórico para se tornar, via de regra, uma experiência de vida, um modo de crescer e evoluir.

Atualmente, milhares de pessoas atravessam oceanos em busca de uma vida melhor, deixando seus países para uma ida muitas vezes sem volta, se envolvendo com traficantes pertencentes a quadrilhas internacionais, interessados apenas na exploração para fins sexuais.

Em relatório, a Organizações das Nações Unidas - ONU (2004), informa que 83% das vítimas do tráfico internacional são mulheres. Pessoas geralmente pobres, sem instrução em busca de um futuro promissor.

Serão efetuadas considerações a respeito da relação existente entre as mulheres envolvidas na prática do tráfico internacional para fins de exploração sexual, em relação ao nível educacional, sócio econômico e cultural dessas que são atualmente submetidas a esse tipo de prática.

Neste trabalho pretende-se apresentar uma pesquisa bibliográfica a respeito da proteção dos direitos fundamentais das mulheres brasileiras exploradas sexualmente e internacionalmente. Será abordada, no conteúdo do trabalho apresentado, uma análise das características e conceitos sobre os direitos fundamentais e suas vertentes, assim como as causas e a importância da atuação das organizações no combate a esse tipo de violência.

O estudo tem como tema de pesquisa a proteção aos direitos fundamentais das mulheres no ordenamento jurídico brasileiro, uma reflexão sobre o combate ao tráfico internacional de mulheres para fins sexuais.

Baseando-se neste problema, será analisado qualitativamente o tráfico internacional de mulheres brasileiras para fins de exploração sexual no exterior, visando assim dar resposta ao seguinte questionamento:

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Quais são as principais formas de proteção ao combate ao tráfico internacional de mulheres para fins sexuais no Brasil?

1.2 OBJETIVOS

O objetivo geral e os objetivos específicos, abaixo elencados demarcam o propósito do trabalho e seus delineamentos.

1.2.1 Objetivo geral

Mostrar quais são as principais formas e os instrumentos utilizados para o combate ao tráfico internacional de mulheres para fins sexuais no Brasil.

1.2.2 Objetivos específicos

a) Compreender a importância dos direitos fundamentais.

b) Demonstrar a existência dos direitos fundamentais das mulheres. c) Refletir acerca do tráfico internacional de mulheres para fins sexuais.

d) Analisar a importância dos instrumentos de proteção e combate do tráfico internacional de mulheres para fins sexuais.

e) Refletir sobre a atuação da Polícia Federal no tráfico internacional de mulheres para fins sexuais.

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1.3 JUSTIFICATIVA

Em tempos em que a globalização se faz cada vez mais presente na vida das pessoas, percebemos a facilitação do acesso a bens de consumo, viagens internacionais, e o estreitamento das relações entre os países se mostra cada vez mais presente na atualidade. Porém, junto com essa evolução também decorrem inúmeros acontecimentos que muitas vezes não são esperados, ultrapassando negativamente as expectativas, entre eles o tráfico internacional de drogas, tráfico de pessoas e outras faces dessa facilitação.

A exploração sexual de mulheres brasileiras no exterior cresce gradativamente, e a falta de instrução das pessoas é uma das principais variáveis que vem dificultando a regressão desses números.

O presente estudo visa instigar os bacharéis de Relações Internacionais para as problemáticas que a expansão dos horizontes traz para a sociedade como um todo. Busca também chamar a atenção da sociedade sobre os riscos e a falta de informação sobre o referente tema, motivo pelo qual mulheres migram na esperança de um crescimento inexistente.

Para universidade o projeto faz-se necessário para auxilio em futuras pesquisas sobre o tema e para o enriquecimento e amadurecimento das relações entre os países que cada vez mais abrem suas portas uns para os outros.

Justifica-se também ao governo, que há muito vem buscando combater o tráfico internacional de mulheres para fins sexuais, por meio de organizações governamentais e não governamentais.

Por fim, a pesquisa visa apresentar às pessoas interessadas, como se concretiza as ações necessárias para o efetivo combate ao tráfico e as maneiras de prevenção a esse trágico acontecimento e infortúnio social.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A seguir serão apresentados aos leitores os métodos de pesquisa que foram utilizados para a realização do projeto.

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1.4.1 Caracterização da pesquisa

Para Gil (2002, p. 41) “[...] é possível classificar as pesquisas em três grupos: exploratórias, descritivas e explicativas.”

Sendo a primeira, o tipo de pesquisa que busca familiarizar o leitor com o tema abordado no artigo.

Na maioria dos casos, essas pesquisas envolvem: (a) levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências prática com o problema pesquisado; e (c) análise de exemplos que “estimulem a compreensão (SELLTIZ et al., 1967 apud GIL, 2002, p. 41).

O tipo de pesquisa supracitado tem por principal objetivo a organização e o aprimoramento de idéias, contribuindo para a reflexão acerca do assunto no meio acadêmico, estimulando e aprofundando o conhecimento .

As pesquisas descritivas por sua vez buscam descrever características ou fenômenos. Gil (2002, p. 42) afirma que:

Entre as pesquisas descritivas, salientam-se aquelas que têm por objetivo estudar as características de um grupo: sua distribuição por idade, sexo, procedência, nível de escolaridade, estado de saúde física e mental etc.

Gil (2002, p. 42) ainda identifica como explicativa as pesquisas que buscam identificar fatores que determinam ou contribuem para que os fatos realmente se consumem. Ele ainda afirma que “esse é o tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porque das coisas ”.

Ainda podemos identificar a existência de outros dois grupos, o das quantitativas e qualitativas.

As pesquisas quantitativas como é de se pensar, são medidas e mensuráveis, exatas, segundo Mazzaroba (2004, p. 109)

O perfil desse tipo de pesquisa é altamente descritivo, o investigador pretenderá sempre obter o maior grau de correção possível em seus dados, assegurando assim a confiabilidade do seu trabalho. Descrição rigorosa das informações obtidas é a condição vital para uma pesquisa que se pretenda quantitativa.

Mazzaroba (2004, p. 110) afirma ainda que as pesquisas qualitativas ao contrário das quantitativas observam as informações de uma maneira genérica, relacionando-as com

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diferentes fatores a fim de favorecer sua relação com determinados contextos. Ele afirma que, Mazzaroba (2004, p. 10)

A pesquisa qualitativa também pode possuir um conteúdo altamente descritivo e pode até lançar mão de dados quantitativos incorporados em suas análises, mas o que vai preponderar sempre é o exame rigoroso da natureza, do alcance e das interpretações possíveis para o fenômeno estudado e (re)interpretado de acordo com as hipóteses estrategicamente estabelecidas pelo pesquisador.

O presente estudo se utilizará de uma pesquisa descritiva e qualitativa, para responder seus objetivos e problemas previamente citados.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Inicia-se agora o desenvolvimento do artigo, em que se abordará o conteúdo sobre os direitos fundamentais da pessoa humana, assim como as suas características e gerações. Será analisado os direitos fundamentais das mulheres, que são freqüentemente ignorados pelas práticas de tráfico internacional de mulheres, a fim de compreender o motivo pelo qual essas práticas vêm se tornando cada vez mais comuns.

2.1 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Os Direitos Fundamentais são os direitos encontrados no texto constitucional e são considerados os mais importantes por tratarem das garantias individuais do ser humano, e responsáveis por assegurar as condições básicas para o exercício da vida.

Para Mendes (2009, p. 265):

A relevância da proclamação dos direitos fundamentais entre nós pode ser sentida pela leitura do Preâmbulo da atual Constituição. Ali se proclama que a Assembléia Constituinte teve como inspiração básica dos seus trabalhos o propósito de “instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança”.

Segundo Bulos (2008, p. 102 – 103), os Direitos Fundamentais são em sua maioria, encontrados no título II do texto constitucional, e são protegidos pelo artigo 6º parágrafo 4º inciso IV da Constituição Federal (CF). Esses direitos são ainda subdivididos em três dimensões determinados conforme sua evolução histórica.

Nos ensinamentos de Bulos (2008, p. 103):

Tanto podem ser vistos enquanto direitos de todos os homens, em todos os tempos, em todos os lugares – perspectiva filosófica ou jusnaturalista; como podem ser considerados, direitos de todos os homens (ou categoria de homens), em todos os lugares, num certo tempo – perspectiva universalista ou internacionalista; como ainda podem ser referidos aos direitos dos homens (cidadãos), num determinado tempo e lugar, isto é, num Estado concreto – perspectiva estadual ou constitucional.

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Os direitos fundamentais são direitos inerentes ao homem, pois são concebidos com o seu nascimento e deixam de ser válidos, ou seja, se extinguem no momento em que ocorre a sua morte.

2.2 O conceito de direito fundamental

Ao conceituar direito fundamental, Canotilho (2003, p. 377–378) afirma que os direitos fundamentais são a incorporação dos direitos naturais e inalienáveis do ser humano na ordem jurídica, são os direitos do homem livre, em face do Estado. Enfatizando ainda que para ser considerado fundamental, não basta qualquer positivação em relação ao tema, para que seja direito fundamental é necessário que esteja colocado nas normas da constituição.

Canotilho (2003, p. 403, grifo do autor)

Os direitos consagrados e reconhecidos pela constituição designam-se, por vezes, direitos fundamentais formalmente constitucionais, porque eles são enunciados e protegidos por normas com valor constitucional formal (normas que tem forma constitucional). A constituição admite (cfr. Art. 16º), porém outros direitos fundamentais constantes das leis das regras aplicáveis de direito internacional. Em virtude de as normas que os reconhecem e protegem não terem a forma constitucional, estes direitos são chamados direitos materialmente fundamentais.

O referido autor ainda divide o direito em direito formal e materialmente constitucional e direito só formalmente constitucional. (2003, p 403).

E continua

No âmbito dos direitos fundamentais, a distinção reconduz-se ao seguinte: há direitos fundamentais consagrados na constituição que só pelo facto de beneficiarem da positivação constitucional merecem a classificação de constitucionais (e fundamentais), mas o seu conteúdo não se pode considerar materialmente fundamental; outros, pelo contrário, além de se revestirem de forma constitucional, devem considerar-se materiais quanto a sua natureza intrínseca (direitos formal e materialmente constitucionais). (CANOTILHO, 2003, p. 406)

A diferenciação desses direitos deve ser observada na subjetividade pessoal, é o que caracteriza os direitos fundamentais materiais.

Para Mendes (2009 p. 271), “Os direitos e garantias fundamentais, em sentindo material, são pretensões que, em cada momento histórico, se descobrem a partir da perspectiva do valor da dignidade humana.”

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Os direitos fundamentais são, portanto, os direitos inerentes ao homem, são direitos invioláveis, intransferíveis e inalienáveis, são os direitos estabelecidos na constituição, para garantir a liberdade, a vida, e outros direitos que se concretizam com o nascimento do ser humano, extinguindo-se somente com a morte.

2.3 As características dos direitos fundamentais

Os direitos fundamentais, como observado acima, são aqueles que surgem com o nascimento, ou seja, com o surgimento da vida humana, e se extinguem com a sua morte, tais direitos estão dispostos no texto constitucional, a fim de proteger, entre outros direitos, a liberdade, dignidade e o mais importante dos direitos, o direito a vida.

Para Bonavides (1988, p. 561), direitos fundamentais são todos os direitos e garantias dadas ao ser humano disposto nos textos constitucionais, são imutáveis ou de mudança dificultada e só podem ser alterados através de mudança da legislação ou no texto constitucional através de emenda. São os direitos que o homem tem para consigo mesmo e lhes são inerentes, tendo como um dos principais exemplos, a liberdade. Porém, liberdade, direito que possui em face do Estado e poderá ter sua cessão, ou melhor, sua limitação, em caráter de exceção, quando prevista em lei.

Bonavides (1988, p. 562) afirma que estão vinculados aos direitos fundamentais o direito a liberdade e a dignidade da pessoa humana, assim como a universalidade, que garante que esses direitos pertençam a todos os seres humanos.

Entre as características dos direitos fundamentais estão: a universalidade, historicidade, inalienabilidade e a constitucionalização.

Mendes (2009, p. 274), declara que os direitos fundamentais são absolutos, por se encontrarem no patamar máximo de hierarquia jurídica, por não tolerarem restrição e serem considerados o motivo da existência do Estado, que visa proteger tais direitos. Não se pode de todo concordar com essa informação, o autor continua afirmando a dificuldade de aceitação dessa assertiva, uma vez que os direitos fundamentais podem sim, ser limitados, perdendo assim, seu caráter universalista.

Segundo Bobbio (apud Mendes 2009, p. 275), não há, portanto, em princípio, que falar, entre nós, em direitos absolutos. Tanto outros direitos fundamentais como outros valores com sede constitucional podem limitá-los.

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O caráter histórico dos direitos fundamentais, segunda Mendes (2009, p. 275) mostra-se necessário para que haja a compreensão do demostra-senvolvimento desmostra-ses direitos, e facilitando também a compreensão dos mesmos.

O caráter da historicidade, ainda explica, que os direitos possam ser proclamados em certa época, desaparecendo em outras, ou que se modifique no tempo. Revela-se, desse modo, a índole evolutiva dos direitos fundamentais. Silva (apud Mendes, 2009, p.275).

Quanto à inalienabilidade dos direitos fundamentais, entende-se os direitos que são inerentes ao homem e por ele não podem ser abdicados, renunciados, doados. Segundo Martínez-Pujalte (apud Mendes, 2009, p. 276) exemplo desse tipo de direito é a integridade física, que se caracteriza como inalienável uma vez que um homem, mesmo por vontade própria, não pode vender ou doar parte do seu corpo, ou qualquer função que seja vital de maneira voluntária.

A constitucionalização dos direitos fundamentais segundo Mendes (2009, p. 278) é a divisão entre eles e os direitos humanos, que por muitas vezes se confundem. Os direitos humanos são os princípios, que não estão necessariamente vinculados a normas jurídicas particulares, e tem por objetivo a pretensão do respeito a pessoa humana, que se encontram em documentos de direito internacional.

Ao conceituar direito fundamental Mendes (2009, p. 278),

[...] a locução dos direitos fundamentais é reservada aos direitos relacionados com posições básicas das pessoas, inscritos em diplomas normativos de cada Estado. São direitos que vigem numa ordem jurídica concreta, sendo, por isso, garantidos e limitados no espaço e no tempo, pois são assegurados na medida em que cada Estado os consagra.

Vale ressaltar que, conforme Mendes (2009, p. 273), o verdadeiro conteúdo dos Direitos Fundamentais, está atrelado a vários fatores, muitos deles extrajurídicos, que implicam na existência e formação de uma sociedade, ou seja, as peculiaridades, de cada sociedade, povo ou nação, sua cultura e a história dos povos, elementos ímpares para a criação de seus princípios e crenças.

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2.4 As gerações dos direitos fundamentais

Os direitos fundamentais são divididos conforme suas gerações, pois foram criados cronologicamente, de acordo com as necessidades observadas pela sociedade conforme sua evolução histórica.

Para Bobbio (1992, p. 50), são várias as perspectivas a serem utilizadas na análise do tema dos direitos dos homens, são elas: a perspectiva política, filosófica, histórica, ética, jurídica.

Bobbio (1992, p. 16) ainda afirma que:

Direitos do homem são aqueles que pertencem, ou deveriam pertencer, a todos os homens, ou dos quais, nenhum homem pode ser despojado. [...] Direitos do homem são aqueles cujo reconhecimento é condição necessária para o aperfeiçoamento da pessoa humana, ou para desenvolvimento da civilização.

Segundo Mendes (2009, p. 267) são três as gerações de direitos fundamentais que são divididas em ordem cronológica de acordo com a evolução do direito. Bobbio (1992, p. 18) afirma que os direitos se modificaram e continuam a se modificar, de acordo com a história, que nos trás diferentes interesses.

Inicialmente cabe dizer que, entre os direitos humanos, como já se observou várias vezes, há direitos com estatutos muito diversos entre si. Há alguns que valem em qualquer situação e para todos os homens indistintamente: são os direitos acerca dos quais há exigência de não serem limitados nem diante de casos excepcionais, nem com relação a esta ou aquela categoria, mesmo restrita, de membros do gênero humano (é o caso, por exemplo, do direito de não ser escravizado e de não sofrer tortura). Esses direitos são privilegiados porque não são postos em concorrência com outros direitos, ainda que também fundamentais. Bobbio (1992, p. 20).

Bobbio (1992, p. 20) segue com a afirmação:

São bem poucos os direitos considerados fundamentais que não entram em concorrência com outros direitos também considerados fundamentais, e que, portanto, não imponham, em certas situações e em relação a determinadas categorias de sujeitos, uma opção.

Assim como confere Bobbio (1992, p. 20) o Supremo Tribunal Federal (STF) afirma que, todos os direitos fundamentais podem ser restringidos, e eles não são absolutos. Opiniões estas que vão contra a visão da ONU (Organização das Nações Unidas), que por sua vez afirma que dois desses direitos são absolutos, a não escravidão e a não tortura. E para que essa

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restrição seja legal, existem dois tipos de restrição: a restrição direta, a que está prevista no texto constitucional, e a indireta, onde a constituição admite que a lei restrinja um direito fundamental.

Mendes (2009, p. 267) define como direitos de primeira geração, os direitos de liberdade. Posteriormente, Mendes (2009, p. 267) continua afirmando que os direitos de segunda geração por sua vez estão vinculados ao princípio da igualdade, são chamados direitos sociais, que dizem respeito à assistência social, saúde, educação, trabalho e lazer.

Por fim o autor descreve a terceira geração de direitos fundamentais, como baseada nos direitos coletivos, ou seja, direito que não estão exclusivamente atrelados a proteção do homem, e sim a proteção de um todo. São esses direitos, a paz, o desenvolvimento, à qualidade do meio ambiente, e a conservação do patrimônio histórico e cultural.

Vale ressaltar que existem divergências no que se refere às gerações de direitos fundamentais e há autores como Bonavides (1982, p. 563), que já estudam uma quarta geração e até a quinta geração de direitos fundamentais, gerações estas que ainda não são reconhecidas por todos do meio jurídico.

2.4.1 Os direitos fundamentais de primeira geração

A primeira geração de direitos fundamentais é caracterizada pelos direitos conhecidos como os direitos da liberdade, esses foram os lemas que dominaram o século XVIII, e são eles por sua vez, o direito a igualdade, a liberdade, a propriedade e os direitos políticos.

Segundo Bonavides (1982, p. 563)

Os direitos de primeira geração são os direitos da liberdade, os primeiros a constarem do instrumento normativo constitucional, a saber, os direitos civis e políticos, que em grande parte correspondem, por um prisma histórico, àquela fase inaugural do constitucionalismo do Ocidente.

Esses direitos colocam o indivíduo por titular, caracterizando-se por uma liberdade ilimitada do ser humano diante do Estado, que por sua vez tem o direito de intervenção. São direitos absolutos, que a princípio só estão restritos as leis, de maneira que possa ser mensurado.

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Para Bonavides (1982, p. 564), “fazem também ressaltar na ordem dos valores políticos, a nítida separação entre Sociedade e Estado.” Pois quando não se observa essa diferenciação não tem como se compreender o real direito a liberdade.

Por fim, Bonavides (1982, p. 564) define os direitos de primeira geração como os que dão valor ao homem em si mesmo, o homem com todas as suas liberdades, que compõe a sociedade.

Ou seja, os direitos de primeira geração são os direitos que preconizam a liberdade ilimitada do homem, que diferenciam o homem do Estado, valorizando o homem por si mesmo, com suas idéias, diferenças e liberdades, características estas indispensáveis para a criação, ou existência de uma sociedade livre e democrática.

2.4.2 Os direitos fundamentais de segunda geração

A segunda geração de direitos fundamentais é caracterizada pelos direitos sociais, culturais, econômicos e coletivos, direitos esses que dominaram o século XX, conforme afirma Bulos (2008, p. 104) têm por objetivo assegurar ao ser humano, o bem-estar e a igualdade, ou seja, encorajando o Estado a fazer algo em favor da natureza do homem.

Os direitos sociais estão previstos no artigo 6º da Constituição Federal de 1988, “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. (BRASIL, 1988, p. 20).

Eles também estão previstos no artigo 170º da mesma Constituição, onde faz referencia aos direitos econômicos, com a seguinte afirmação em seu parágrafo único “é assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei”. (BRASIL, 1988, 121).

Os direitos culturais, por fim, estão encontrados no artigo 215º da Constituição que prevê em seu caput que “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”. (BRASIL, 1988, 139).

Esses direitos protegem o bem-estar e a igualdade do homem como ser individual, pertencente a uma sociedade dirigida pelo Estado, e são a segunda geração de direitos fundamentais, a responsável por assegurar os direitos sociais como fundamentais ao ser

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humano, direitos imprescindíveis como o direito, a saúde, educação, trabalho, moradia, direitos que garantem a dignidade dos seres humanos, como participantes de uma sociedade, que buscam o crescimento cultural e pessoal de todos os membros de uma sociedade, seus cidadãos.

2.4.3 Os direitos fundamentais de terceira geração

É ao final do século XX que se dá o surgimento dos então considerados direitos fundamentais de terceira geração. Essa geração de direitos fundamentais é composta pelos direitos também conhecidos como direitos de solidariedade e fraternidade. São os direitos a paz, ao desenvolvimento e ao meio ambiente.

Segundo Humenhuk (2011) Estes não se objetivam especificamente a proteção dos indivíduos, grupo ou Estado. Logo, os direitos de terceira geração são direitos fundamentais requeridos pelo indivíduo, conseqüência de um processo de descolonização e também pela proteção dos avanços tecnológicos, considerando-os assim como direitos de titularidade coletiva ou difusa. Ou seja, que dependem de uma ajuda recíproca entre Estados, sendo elas bilaterais ou multilaterais, para que sejam de fato efetivadas.

Os direitos fundamentais de terceira geração não são especificamente inerentes ao homem ou ao Estado. Esses direitos, diferentemente dos outros, estão atrelados aos avanços tecnológicos, e além da soberania do Estado, eles também dependem do equilíbrio e da reciprocidade entre os Estados do globo, para que exista a efetividade no cumprimento desses direitos. Humenhuk (2011).

São através destes meios que Bonavides (1982, p. 570) afirma que “a formulação de novos direitos são e serão um processo sem fim, de tal modo que quando um sistema de direitos se faz conhecido e reconhecido, abrem-se novas regiões da liberdade que devem ser exploradas.”

O referido autor leva à reflexão acerca da evolução das gerações dos direitos fundamentais, os quais vão adequando-se a medida do desenvolvimento da história da humanidade e a evolução do pensamento e dos valores das sociedades como um todo.

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2.5 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA MULHER

Conforme dispõe o 5º artigo da Constituição Federal (CF/88), Brasil (1988, p. 15), em seu caput, “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, à propriedade [...]”.

Para assegurar esses direitos preconizados em lei, é necessário que a população no seu todo tenha acesso à educação para o pleno exercício da cidadania e também ao conhecimento dando condições para que cada ser humano, cada brasileiro de modo particular, possa se posicionar diante de situações que caracterizam a violação de tais direitos. (CAMPOS, 2009, p. 113 a 117).

Consideradas as condições adversas que atualmente enfrentadas pela população geral, é necessário que se leve em consideração os preconceitos históricos arraigados e ainda cultivados pela humanidade, onde as questões de gênero, embora cada dia mais ultrapassadas, mas que são ainda praticadas com muita freqüência e até com considerável aceitação. (MARCO, 2002).

De acordo com a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), onde se observa que as mulheres ainda recebem salários inferiores aos oferecidos aos homens. E a partir do exemplo citado, poderíamos enumerar infinitas situações de violação de direitos. Daí percebe-se que os direitos fundamentais muitas vezes não passam de escritas democráticas, pois a realidade nos aponta práticas antagônicas e nos faz questionar: onde está a igualdade preconizada pela constituição? Quem realmente assegura esse direito senão a imposição e exigência dos tolhidos dos seus direitos? Porém, como poderá fazer um ser humano analfabeto, sem cultura, sem auto-estima, sem a mínima escolaridade, sem educação, sem referências e sem conhecimento, exigir esses direitos? [SILVA, Leomara, 2010].

É necessário que se admita que não há meio de dominação, escravidão e manipulação mais eficiente do que a ignorância e a garantia de que tal ignorância se perpetue. E essa verdade é válida para qualquer segmento e se libertará quando desenvolvido os aspectos culturais e educacionais. (MARCO, 2002).

A escravidão e o tráfico de seres humanos são violações dos direitos humanos mais fundamentais, como o direito à vida, à dignidade, à segurança, ao trabalho justo, à saúde e à igualdade. Esses são direitos que todos nós possuímos, independente do sexo, nacionalidade ou condição social. A escravidão e o tráfico de seres humanos têm que ser erradicados, e devemos reafirmar nosso compromisso com o fim das

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práticas inaceitáveis e intoleráveis. [NAÇÕES UNIDAS, ESCRITÓRIO CONTRA DROGAS E CRIME, 20__].

É preciso salientar que embora a mulher tenha se libertado de inúmeros estigmas e conquistado vários espaços, ainda sofre situações de discriminação, de negação de alguns direitos, de preconceito, de violência física, sexual e de submissão. Até pouco tempo atrás a discriminação da mulher era tão gritante que muitos cursos, eram exclusividade masculina. Atualmente, muitas barreiras foram transpostas. Vemos mulheres dirigindo táxi e ônibus, pilotando aviões, engenheiras, promotoras, juízas e outras profissões caracterizadas pela sociedade como masculinas. E essa evolução tem ocorrido principalmente pelo acesso à educação.

Campos (2009, p. 130) diz que, “Sem educação, o poder das mulheres é lesado e fica exposto a pautas de subordinação aos homens”.

Outro fator que dificulta o acesso à independência das mulheres, é a concentração de poder dos homens no acesso ao direito a propriedade, ao emprego, ao poder político, à riqueza. Se formos tomar como exemplo o poder político, observaremos facilmente um domínio masculino, mesmo que existam cotas favorecendo a inclusão de mulheres. (CAMPOS, 2009, p. 130).

Para finalizar, as mulheres devem observar a legislação, e fazer com que ela deixe de existir apenas em caráter formal e não se aplicar na materialidade legislativa.

Campos (2009, p. 131) “A efetividade da aplicação das leis é a única garantia de que se dispõe para construir sociedades mais desenvolvidas, democráticas e igualitárias”.

O poder conquistado pelas mulheres é

Uma forma de consolidar o poder das mulheres é fortalecer a rede de mulheres para compartilhar boas práticas, zelar pelo cumprimento das leis e dos compromissos assumidos pelos governos, gerar modelos de bom governo e impulsionar uma agenda comum baseada no poder e nos compromissos coletivos das mulheres para a igualdade. (CAMPOS, 2009, p. 131).

Concluísse então que esse poder adquirido pelas mulheres contribui para a existência de uma nova ordem social, política e cultural, mais igualitária tanto para as mulheres quanto para os homens.

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2.5.1 O caráter subordinado dos direitos fundamentais da mulher

A subordinação das mulheres em relação aos homens, também é um fator que induz muitas mulheres a se submeterem ao tráfico. Essa aceitação, muitas vezes decorrente da falta de educação, e por muitos outros efeitos, entre eles, o ambiente cultural onde vivem, efeitos socioeconômicos e até mesmo o sentimento de inferioridade existente em relação aos homens, é de fato algo que até hoje se vê presente. Subordinação essa, que vai contra os direitos fundamentais do ser humano, onde se garante, às vezes apenas formalmente, os direitos a liberdade, dignidade da pessoa humana, e outros que são formalmente previstos, ditos e garantidos em lei para todos os seres humanos, independente de sexo, raça, e nível social. (CAMPOS, 2009, p. 130 a 132).

Esta liberdade interior de poder reconhecer segundo sua própria razão qual é a decisão correta e a possibilidade de decidir de acordo com seu próprio julgamento somente estão presentes – pelo menos em tal amplitude – no homem. Quando essa liberdade é invadida por outrem, o homem tem sua liberdade violada. A dignidade humana pressupõe o respeito do âmbito da liberdade que as pessoas necessitam para formar suas opiniões e, de acordo com estas, determinar suas ações. Ademais, é mister dar ao homem a possibilidade de desenvolver-se segundo seus projetos de vida. Qualquer medida coercitiva que prejudique essencialmente a sua liberdade de decisão se constitui num ataque conta a dignidade humana. A liberdade de decisão (autodeterminação) faz parte do núcleo essencial do ser humano. (Fleiner apud Campos 2009, p. 132 grifo do autor)

Além de ferir o direito a liberdade, e outros direitos fundamentais, a subordinação, e o sentimento de prisão, despertam freqüentemente o desejo da fuga, e é decorrente desse sentimento que ocorre à migração, que muitas vezes, aparecem como a única saída para a vida, a única saída para que encontrem a tão desejada e merecida liberdade, bem como a possibilidade da conquista da independência financeira. (DIAS, 2005, p. 28 a 30).

Essa busca pela independência financeira não é uma busca atual, existem muitos estudos que buscam determinar de onde surgiu essa subordinação das mulheres em relação aos homens. E são muitas teorias que discursam a esse respeito. Pena [20__, p. 2 - 3] afirma que para os católicos isso vem junto com a criação da mulher, e que ela nunca será completa, pois é uma parte do homem, surgida da costela de Adão, como consta da bíblia sagrada do cristianismo. Outras teorias afirmam que a mulher trouxe o pecado, através do fruto proibido, e Deus, como castigo a colocou como subordinada do homem. Pena [20__, p. 3] ainda cita autores que afirmam que a mulher não estava nos planos de Deus, e que Ele a criou devido à

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decorrência da necessidade do homem. E com foco em tais teorias, surge no século XII, a teoria de que as mulheres existem para procriar, para cuidar e ajudar os homens. Pena demonstra que segundo alguns intérpretes essa submissão das mulheres para com os homens se origina na história da bíblia, teoria essa que em muitos lugares se usa até hoje para explicar essa diferença entre os gêneros.

Pena [20__, p. 3] ainda discorre, afirmando que mais difícil do que embasar a bíblia, foi encontrar uma explicação do período Iluminista, como poderia uma sociedade baseada na igualdade e fraternidade, permitir tamanha submissão entre gêneros? Para responder essas perguntas os Iluministas defendiam a teoria de que as mulheres não eram subordinadas aos homens, e sim complementares a eles, e isso justificaria, por sua vez, a exclusão das mulheres no mercado do trabalho. Os homens trabalhariam fora (na esfera pública), e as mulheres complementariam o dever do homem, cuidando da casa, dos filhos e de seus maridos. Para os Iluministas essa era a ordem natural das coisas. A autora segue afirmando que na colonização brasileira não era diferente das práticas/teorias Iluministas, pois a mulheres não tinham espaço para que pudessem mostrar suas idéias e pensamentos, visto que o controle do homem reprimia essas demonstrações. Essa situação muda, de forma até significativa, com a chegada da Família Real e com a abertura comercial do Brasil, pois proporcionaram a inserção da mulher nos ambientes sociais.

A autora segue seu discurso, afirmando que a luta das mulheres por mais direitos se deu no início do século XIX, quando as mulheres, buscando sua inclusão na sociedade, começaram a lutar por direito ao trabalho, a educação, a política, e outros setores que até então eram destinados somente para os homens, e posteriormente no século XX com as reivindicações aos direitos de igualdade e liberdade. [PENA, 20__, p. 4].

Com a conscientização dos problemas referentes ao gênero, essas questões começam a ser discutidas pelas organizações, que observaram a importância das mulheres para o desenvolvimento dos países. Em tais discussões, reconheceu-se a vulnerabilidade das mulheres, sugerindo a construção de espaços institucionais para as mesmas.

Segundo a INTERPOL (2004, p. 3) a situação de vulnerabilidade das mulheres em muitas sociedades e a falta de oportunidades para elas no mercado de trabalho em seus países, pode criar condições mais favoráveis para o tráfico.

No Brasil, Pena [20__, p. 6] destaca que a evolução dos direitos da mulher, foi impulsionado com a criação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), reflexo da Conferência Mundial de Nairóbi, em 1985. A partir daí, surgiram muitas outras conferências, entre elas a Conferência Mundial dos Direitos Humanos, que aconteceu no ano

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de 1993 em Viena, onde foi declarada a necessidade da luta contra a discriminação e violência contra as mulheres, e também que os direitos das mulheres são direitos humanos, que devem ser assegurados no exercício da vida civil, cultural, social e econômica.

Essa luta iniciada pelas mulheres há tanto tempo ainda não chegou ao final, embora grandes avanços tenham ocorrido. É notório que o espaço da mulher na sociedade evoluiu e já está bem mais visível, porém, essa luta prossegue até hoje para garantir os seus direitos e, conseqüentemente extinguir a subordinação, ou seja, alcançar a efetivamente do direito a igualdade preceituada pela nossa Constituição.

Igualdade esta que,

apesar de novas concepções humanitárias de reconhecimento da igualdade como um direito fundamental, próprio à dignidade humana, a discriminação – explicita ou encoberta – por motivo de sexo, no âmbito familiar, no mercado formal de trabalho, no acesso a posições de chefia e direção, é figura comum na sociedade. (CAMPOS, 2009, p.140).

Conseqüência dessa discriminação surge às primeiras idéias para a criação da Lei Maria da Penha (11.340/06), que tem como seus objetivos prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher.

Segundo Campos (2009, p. 140-141), a então nova lei se encontra fundamentada na CF/88, pois busca garantir e reafirmar os princípios já previstos nessa constituição, ou seja, a dignidade da pessoa humana, a prevalência dos direitos humanos, a garantia da igualdade de gêneros, entre outras garantias fundamentais. A lei Maria da Penha, não busca estabelecer uma desigualdade entre homens e mulheres como muitos conferem. Ela tem como principal objetivo proteger as mulheres que por muitas vezes são violentadas por homens, que vêem esse tipo de prática como um fator cultural e não como uma atitude criminosa.

Campos (2009 p. 143) afirma que em casos relacionados à violência familiar, a maioria (90%) das vítimas são do sexo feminino, a violência de gênero é cada vez mais presente nos casos de mortalidade, e a pouco vem se considerando como questão e tema de saúde pública, e conseqüentemente vem se discutindo mais enfaticamente, em busca de estratégias e meios de prevenção. Afirmando ainda que

Estimativas recentes do Banco Mundial sobre prejuízos causados por doenças associadas à violência, através do cálculo de um índice global das enfermidades, a vitimização de gênero é responsável por um em cada cinco dias de vida saudáveis perdido pelas mulheres em idade produtiva. (CAMPOS, 2009, p. 143).

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O reflexo histórico da sociedade e o contexto de privação, submissão e subordinação em relação aos homens ainda atual, vivido pelas mulheres, são fatores desencadeantes, motivadores e pode-se afirmar, uma das conseqüências que geram o tráfico internacional de mulheres.

É difícil compreender, mas elas passam a acreditar que o tráfico, ou migração para outro país seja um tipo de libertação da reprimida ou inexistente liberdade que possui dentro de seu ambiente sócio-cultural. Imaginam que a fuga, ou a experiência de viver em outro país trará a liberdade e que não haverá ninguém que as vá reprimir. Desta forma, migram sem consciência das atividades que por elas serão realizadas no exterior, e pior, sem imaginar que a privação de liberdade que lhes espera pode ser igual, ou maior do que o tipo de privação já existente no seu ambiente sócio-cultural. As promessas de uma vida glamurosa como dançarina ou modelo que geralmente são prometidas na ocasião da abordagem, dão lugar à condições desumanas, onde os direitos fundamentais do ser humano são aviltosamente violados. (LEAL, 2002, p. 105 a 107).

É assim que muitas mulheres são enganadas, ludibriadas por promessas de vida melhor e após deslocarem-se para outros países ficam submetidas a tratamento de escravidão, pois, então se confrontam com um novo mundo, onde geralmente não dominam a língua, não possuem a família ou pessoas que poderiam lhes prestar o necessário apoio por perto, muito menos terão condições financeiras que lhes permita outros meios de subsistência. Desta forma, tornam-se escravas, algumas vezes submetidas à cárcere privado, onde dominadas pelos “donos do negócio” que se apropriam de parte significativa dos rendimentos gerados pela exploração sexual, cobram altíssimos custos pela estrutura disponibilizada , de modo que estas mulheres não tenham condições de saldar suas eternas dívidas de moradia, alimentação, enfim de subsistência, impossibilitando-as de se desvencilhar de uma vida que não escolheram. [Organização Internacional de Polícia Criminal, 20__, p. 40].

Isso passa a ser um ciclo, a vida em busca de uma liberdade, que se torna por muitas vezes, ainda mais difícil de ser alcançada. Pois em outros países há de se convir que existem muitos outros desafios além dessa restrição de liberdade, entre eles, a solidão e os distúrbios psicológicos gerados pela situação vivida, motivos que muitas vezes deixam as mulheres vítimas e as deixarão “presas” por uma vida. (DIAS, 2005, p. 28).

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2.5.2 Do direito à vida

O direito a vida é por muitos autores denominado o mais importante dos direitos, pois este é elemento crucial para que sejam exercidos todos os outros direitos e liberdades previstas na Constituição.

Mendes (2009, p. 393.) afirma que

A existência humana é o pressuposto elementar de todos os demais direitos e liberdades dispostos na Constituição. Esses direitos têm nos marcos da vida a cada indivíduo os limites máximos de sua extensão concreta. O direito à vida é a premissa dos direitos proclamados pelo constituinte; não faria sentido declarar qualquer outro se, antes, não fosse assegurado o próprio direito de estar vivo para usufruí-lo. O seu peso abstrato, inerente à sua capital relevância, é superior a todo outro interesse.

A Constituição brasileira e o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos de 1966, em seu artigo 6º, III, reportando-se ao direito a vida, afirma que o principal direito do ser humano é a vida pois os demais direitos não tem razão de ser sem este primeiro. O direito à vida deve ser sempre assegurado por lei, por tratar-se de um direito inalienável, ou seja, não poderá nenhum ser humano abdicar desse direito. (GAGLIANO, 2010, p. 196)

Segundo Xavier (2007) A vida humana inicia a partir da fecundação, porém, o exercício do direito a vida, ou seja, a proteção jurídica da vida começa a partir da nidação, ou seja, quando o óvulo fecundado está fixado na parede uterina iniciando assim o processo de gestação.

O autor Gagliano (2010, p. 196), ainda define o direito a vida como o mais precioso, ou o mais importante dos direitos, pois, em sua análise, conclui que este direito é pressuposto indispensável para que se exerçam os demais direitos. Se não temos a vida, nada de fato existe, nem um dos outros direitos são praticáveis e durante a vida, a única certeza concreta que temos é de que um dia ela vai acabar.

Bittar, (1999, p. 67) sintetiza ainda como, o direito

[...] que se reveste, em sua plenitude, de todas as características gerais dos direitos de personalidade, devendo-se enfatizar o aspecto da indisponibilidade, uma vez que se caracteriza, nesse campo, um direito à vida e não um direito sobre vida. Constituiu-se direito de caráter negativo, impondo-se pelo respeito que a todos os componentes da coletividade se exige. Com isso, tem-se a ineficácia de qualquer declaração de vontade do titular que importe em cerceamento a esse direito, eis que se não pode ceifar a vida humana, por si, ou por outrem, mesmo sob consentimento, por que se entende universalmente que o homem não vive somente para si, mas para cumprir missão própria da sociedade. Cabe-lhe assim, perseguir o seu

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aperfeiçoamento pessoal, mas também contribuir para o progresso geral da coletividade, objetivos esses alcançáveis ante o pressuposto da vida.

Por ser considerado o mais importante, mais essencial dos direitos fundamentais, o direito a vida se encontra em primeiro lugar entre os outros cinco direitos fundamentais previstos no artigo 5º do texto constitucional, onde busca, de todas as formas, proteger e garantir esse direito à todos os cidadãos, e principalmente enfatizar que está resguardado, inclusive, aos mais vulneráveis. (MENDES, 2009, p. 393 - 394).

O referido autor, no intuito de enfatizar a importância do direito à vida, faz a seguinte afirmação:

Proclamar o direito à vida responde a uma exigência que é prévia ao ordenamento jurídico, inspirando-o e justificando-o. Trata-se de um valor supremo na ordem constitucional, que orienta, informa e dá sentido último a todos os demais direitos fundamentais (MENDES, 2009, p. 394).

A essencialidade do direito à vida, ou seja, sua importância, preciosidade se dá pelo fato de uma vez que esse direito deixe de existir, todos os outros direitos se extinguem, pois são dependentes ou inerentes ao direito mais fundamental.

2.5.3 Do direito à igualdade

Segundo Campos (2009, p. 178) as desigualdades que existem hoje entre os sexos, são conseqüências da origem histórica na sociedade brasileira. Nossa sociedade patriarcal observa o homem como o centro do mundo e a mulher como seu alicerce, ou seja, sujeitos socialmente inferiores. Conseqüências dessa cultura, mais do que as diferenças salariais recorrentes entre homens e mulheres, se escondem práticas violentas dos homens contra as mulheres.

Campos (2009, p. 178), afirma que a violência doméstica é conseqüência dessa desigualdade entre homens e mulheres, e afirma que, “a violência doméstica é a forma mais desumana de exclusão das mulheres, de seus direitos enquanto cidadãs”.

Com o objetivo de proteger essas mulheres, a Lei 11.340/06 reafirma o que já está previsto em lei, e incluído na Constituição Federal, no seu artigo 3º, onde afirma:

Art. 3º. Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à

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moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. (BRASIL, Lei 11.340, de 07 de agosto de 2006).

É evidente que todos os seres humanos, ou seja, todos os portadores de direitos fundamentais possuem essas garantias, mas se fez necessário enfatizá-las a fim de confirmar a sua igualdade tanto para as mulheres quanto para os homens. A aplicabilidade do referido artigo enseja que os direitos das mulheres deixem de ser meramente formais e passem a se tornar direitos efetivamente aplicados, ou seja, direitos materiais.

Embora exista uma luta constante ao longo da história, as mulheres ainda vivem em uma situação de desigualdade grotesca em relação aos homens. Como exemplo dessa discrepância, temos a diferença salarial entre os homens e as mulheres que continua aumentando.

Segundo Terra (2010), dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), afirma que os homens recebem no ato do contrato de trabalho 13,3% a mais que as mulheres no ano de 2010, ou seja, houve um aumento significativo em relação ao registrado no ano anterior, quando os homens recebiam 10% a mais, e nos cargos que exigem maior escolaridade, a diferença ainda é mais gritante, chegando a aproximadamente 20% a menos, em relação aos homens.

Ainda na mesma reportagem, Terra (2010), de acordo com o Ministro do Trabalho, Carlos Lupi, "Há muito preconceito, falta visão aos empresários de que a mulher é tão ou mais competente que nós, homens. Desejo uma melhora nesse quadro, mas até agora, não vejo isso acontecendo".

Vale ressaltar que este combate, não tem em seus objetivos a busca pela igualdade dos sexos, e sim uma luta pela igualdade dos gêneros, é sabido que os sexos são diferentes, porém essas diferenças não admitem de forma alguma um tratamento secundário, ou seja, inferiorizado para nenhum desses gêneros. (CAMPOS, 2009, p. 180).

Segundo Campos (2009, p. 180)

Entre os indivíduos mais vulneráveis da nossa população aos que não tem acesso a renda, ao poder e, portanto, não conseguem galgar patamares sociais mais dignos, estão as mulheres, as crianças, os idosos, os portadores de necessidades especiais e as minorias étnicas. O respeito aos direitos humanos pressupõe o engajamento na luta para resgatar os excluídos, como também, prestar essa assistência pública não significa apenas apoio a uma causa, mas o sentido moral que vincula o individuo à vida com dignidade.

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Nas últimas décadas, as mulheres vêm aos poucos se inserindo cada vez mais no cenário público e político, o que é um grande passo, pois abre portas, facilita os discursos, e gera visibilidade para as causas defendidas pelas mulheres. Aos poucos se conseguiu mostrar para a sociedade que a inserção da mulher na tomada de decisões é importante, se não essencial para o desenvolvimento e para o progresso da sociedade. Basta observar o passado e percebe-se que as responsabilidades e atividades que as mulheres exerciam, limitavam-se a educação dos filhos, as atribuições do lar, e muitas outras atividades que a sociedade caracterizava e empunha como de exclusividade feminina, permitindo submeter as mulheres a jornada dupla ou tripla de trabalho. (CAMPOS, 2009, 180 a 182).

Isso já caracteriza uma violência inviabilizadora do exercício igualitário das oportunidades sociais, bem como torna, patente a violência de gênero a qual a mulher é submetida, tornando inviável o exercício equânime das potencialidades internas, bem como dos famigerados direitos legalmente estabelecidos. (CAMPOS, 2009, p. 182).

A falta de materialidade no que se refere aos direitos à igualdade impossibilita o direito aos indivíduos menos favorecidos exercer a sua igualdade, enquanto permanecermos a viver em uma sociedade meramente formal, não haverá evolução no que se refere à igualdade de gêneros em nossa sociedade.

2.5.4 Do direito de liberdade

Os direitos fundamentais consagram diferentes tipos de liberdade, que são protegidos pela Constituição através de diferentes normas. A união do direito a liberdade e igualdade forma o conceito de dignidade da pessoa humana.

A proclamação das liberdades tem por objetivo oferecer ao portador desse direito alcançar sua auto-realização, assim como as escolhas dos meios utilizados para que a alcance. São vários os direitos de liberdade proclamados em nosso texto constitucional, entre eles a liberdade de expressão, a liberdade de reunião e de associação, o direito à intimidade, à vida e a liberdade religiosa. Porém, assim como os outros direitos, o direito a liberdade, principalmente no que se refere as minorias, existem apenas de direito, pois ainda não existe de fato, não se materializaram, o que dificulta a inserção desses na sociedade, não permitindo

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uma adaptação, o que resulta muitas vezes na migração ilegal dessas pessoas. (CAMPOS, 2009, p. 189).

Segundo o 5º artigo da CF/88, que em seu caput leva a seguinte afirmativa “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, e à propriedade [...]”. (BRASIL, 1988, p. 15).

Esta frase tão conhecida por todos os brasileiros faria muito mais sentido se deixasse de existir apenas em um sentindo formal e passasse a existir de fato através de um direito material. Onde está a igualdade prometida na constituição, se continuamos a ver os menos favorecidos cada vez mais carentes e os abonados cada vez mais ricos? Como exigir liberdade se ainda temos muitos brasileiros trabalhando em situação de escravidão para poder sobreviver? Como acreditar que um dia teremos liberdade se vemos cada vez mais mulheres sofrendo agressões de seus companheiros, mulheres submissas, mulheres sem voz, que nunca exerceram e nem sabem que existe o direito a liberdade, pessoas que não tiveram chance de provar a liberdade, pois não sabem nem que ela existe e muito menos que lhe é de direito? (CAMPOS, 2009, p. 190).

Segundo Campos (2009, p. 189), o exercício do direito da liberdade está atrelado ao reequilíbrio da questão de gênero, pois liberdade material, só será atingida quando existir de fato a liberdade entre os sexos, com a conquista da chamada justiça, que visa o tratamento igual aos iguais e o tratamento desigual aos desiguais.

Enquanto o equilíbrio dos gêneros não existir, a liberdade continuará a ser um privilégio de poucos, e a justiça artigo de luxo, pois enquanto não forem aplicadas medidas afirmativas, solucionando, ou ao menos trazendo equilíbrio as diferenças não haverá meios para que liberdade se estabeleça para a maioria dos brasileiros, uma vez que lhes é negado o direito de exercer suas escolhas, de buscar seus objetivos e de atingir sua auto-realização, ocorrerá um aumento da escravidão e da subordinação para que seja garantido aquele primeiro direito, que muitos dos autores têm como o mais importante, o direito a vida, o direito de viver. (LEÃO, 2010, p. 4 a 7).

O artigo 3º da CF tem dentre os principais objetivos a construção de uma sociedade livre, justa e solidária. Esse objetivo preceitua o fim da pobreza, o desenvolvimento nacional e o não preconceito e discriminação, independente de suas origens, idealizando e preconizando o que representa formalmente o exercício de todos os direitos fundamentais para todos os cidadãos. (CAMPOS, 2009, p. 190).

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