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Por Alexandre Amorim Coordenador da Comissão de Cometas

https://uba-cometas.blogspot.com/

Em 2021, celebramos o centenário de Rubens de Azevedo, um dos principais astrônomos responsáveis pela criação da UBA. Sabemos que Azevedo se dedicou mais à observação lunar e provavelmente essa atenção especial fez com que ele acompanhasse apenas cometas mais brilhantes no intervalo de 1941 a 1986. Mas sua principal contribuição para a ciência cometária no Brasil foi a publicação do livro “O Cometa de Halley”, lançado em 1985 pela Editora do Brasil S. A. Nessa obra, Azevedo traz várias informações a respeito dos cometas, incluindo desenhos de sua própria autoria.

Um dos cometas intrigantes tem sua gravura estampada na página 15, que reproduzimos na Figura 1. Ao preparar o ​Anuário Astronômico

Catarinense 2021​, páginas 184-187, em que trata exatamente do centenário

de Azevedo, notamos uma aparente discrepância envolvendo a identificação desse cometa disponível nas manhãs de novembro de 1948.

No dia seguinte, em 13 de novembro de 1948, Azevedo observou o mesmo astro e publicou outro desenho nas páginas 84 e 85 do livro “Na Era da Astronáutica”. Ali, o cometa foi identificado como 1948-L (lê-se “1948 éle”). Num artigo publicado no Boletim Zodíaco em junho de 1975, Cláudio Pamplona informa que “A 30 de fevereiro de 1941, entre 1830 e 19 horas era observado p/ populares e jornalistas, o cometa Paraoskvopoulos [sic], muito bem visto a olho nu, no horizonte Oeste.” Depois Pamplona acrescentou que “os cometas de 1947-n e 1948-l mereceram a atenção de Rubens de Azevedo, ambos vistos a olho nu, o primeiro publicado na revista SKY AND TELESCOPE e o segundo figura no Atlas Melhoramentos, do Padre Geraldo Pauwels.” Assim, é preciso dirimir eventuais dúvidas ou equívocos na identificação dos cometas envolvidos. Rubens de Azevedo, de fato, observou os três cometas citados no artigo de Cláudio Pamplona, a saber:

C/1941 B2​ (de Kock-Paraskevopoulos)​:

Na época esse cometa foi identificado como 1941 IV por ter sido o 4º cometa a passar pelo periélio naquele ano de 1941. No Brasil ele foi visível ao anoitecer nos meses de janeiro e fevereiro de 1941.

C/1947 X1​ (Cometa Austral):

Identificado na época como 1947 XII por ter sido o 12º cometa a passar pelo periélio naquele ano de 1947. O astro foi visível ao anoitecer durante o mês de dezembro e o brilho da coma foi avaliado em magnitude +1,6 por Azevedo, conforme nos relata Ronaldo Mourão. Na página 56 do livro “O Cometa de Halley” Azevedo apresenta um esboço de sua autoria que mostra esse cometa ao sul de Vênus no anoitecer de 13 de dezembro de 1947 e que reproduzimos na Figura 2. Se o brilho estimado por Azevedo foi feito nesta data, então esse registro se habilita para integrar nossa Base de Dados, uma vez que priorizamos as estimativas de magnitude da coma.

C/1948 V​1​ (Cometa do Eclipse)​:

Como o próprio nome esclarece, esse cometa foi visualizado por inúmeras pessoas que estavam na faixa de totalidade do eclipse solar ocorrido em 1º de novembro de 1948. Mourão acrescenta que “a totalidade ocorreu desde a Arábia, Oceano Índico até o sul da Austrália, onde vários observadores do eclipse foram surpreendidos com o aparecimento de um cometa próximo ao Sol oculto”. Talvez o equívoco de o denominar “Paraskevopoulus” seja devido ao fato deste observador ter sido um dos primeiros a visualizar o astro no período matutino em 8 de novembro de 1948, estando na África do Sul. No entanto, o observador australiano Wood também detectou o cometa ao amanhecer, dois dias antes, em 6 de novembro. Mas como o cometa foi visualizado simultaneamente por várias pessoas naquele eclipse em 1º de novembro, o cometa recebeu o nome de “Cometa do Eclipse”. Na ocasião a designação provisória desse astro foi 1948l (mais uma vez, 1948 seguido pela letra “éle”, por ter sido o 11º cometa descoberto naquele ano) e depois como 1948 XI (por ser o 11º cometa a passar pelo periélio naquele mesmo ano). Esse é o cometa retratado por Rubens de Azevedo nos dois livros citados acima e

reproduzido na Figura 1. Na página 32 do livro “O Cometa de Halley” Azevedo comenta que esse astro “era de um branco-azulado brilhante”.

Outro cometa que recebeu a atenção de Azevedo foi o C/1969 Y ​1

(Bennett) que foi visível a olho nu em março de 1970 cujo esboço reproduzimos na Figura 3. No fim de 1973 era grande a expectativa em torno do Cometa Kohoutek, porém não encontramos nenhum registro desse cometa feito por Azevedo. No entanto, ele escreveu um breve poema em janeiro de 1974 que foi publicado no Boletim Zodíaco em junho de 1976. Anos depois, entre 12 e 24 de março de 1976, Azevedo participou de várias sessões matutinas de observação do Cometa C/1975 V ​1 (West) junto

com Cláudio Pamplona e demais integrantes do Observatório Herschel-Einstein em Fortaleza/CE. Um esboço do Cometa West, feito por Cláudio Pamplona em 12 de março de 1976, aparece na página 32 do livro “O Cometa de Halley”. Ronaldo Mourão informa que Rubens de Azevedo também observou o Cometa IRAS-Araki-Alcock em 1983, porém ainda não recuperamos esse registro.

Na década de 1980, Rubens de Azevedo foi um dos vários autores a publicar um livro sobre o Cometa Halley. Cabe ressaltar que dentre a literatura sobre cometas daquela época, Azevedo ressaltou a União Brasileira de Astronomia, destacando as demais entidades que observariam o famoso cometa na ocasião, conforme verificamos nas páginas 66 a 72 do livro “O Cometa de Halley”. No entanto, apesar de toda a agitação sobre a passagem desse cometa, não encontramos a inscrição de Azevedo no PBOCH (Programa Brasileiro de Observação do Cometa Halley), a julgar pelas 158 fichas recebidas de Nelson Travnik​1​. Embora ele tenha escrito o artigo “O

Observatório Christus e o Halley”, publicado no Boletim Zodíaco, em fevereiro de 1986, ainda não encontramos quaisquer registros que Azevedo tenha feito acerca do Cometa 1P/Halley. Uma vez que ao longo de 2021 voltaremos a tratar do centenário de Rubens de Azevedo, é possível que venhamos a resgatar alguns de seus registros cometários que tenham sido publicados nos boletins antigos da UBA, da SBAA ou de outras associações.

Figura 4: “Mulheres da Astronomia Paraibana: Juerila, Clotilde, Ângela, Lourdes e Elsa”, em 1990. Detalhe para o livro “O Cometa de Halley”, de Rubens de Azevedo,

segurado pela Srª Ângela de Aquino.

Fontes consultadas

AZEVEDO, Rubens de. ​Na era da astronáutica​. São Paulo: Editora do Brasil, 1985.

AZEVEDO, Rubens de. ​O Cometa de Halley​. São Paulo: Editora do Brasil, 1985.

AZEVEDO, Rubens de. Kohoutek. ​Zodíaco​ (Junho de 1976)

AZEVEDO, Rubens de. O Observatório Christus e o Halley. ​Zodíaco (Fevereiro de 1986)

AZEVEDO, Rubens de. Astronomia de amadores na Paraíba. 42 Eridani (ano 7, n. 2, jan-dez de 1990)

MOURÃO, Ronaldo R. de F., ​Introdução aos Cometas​. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1985.

PAMPLONA, Cláudio B. Pequena história da Astronomia no Ceará. ​Zodíaco (Junho de 1975)

Contas a fio, cálculos profundos, o lápis teque-teque,

olho na busca, entre os mundos, do Kohoutek.

Ascenção Reta vinte; doze, declinação.

Duro trabalho até que a pena seque antes da grande desilusão

do Kohoutek.

O telescópio aponta entre as estrelas,

desligado o breque;

mesmo as menores, fácil percebê-las. E o Kohoutek?

Noites inteiras esperou, de pé, como um espeque,

aquele que, afinal, nunca passou: o cometa moleque,

o Kohoutek