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Por Adriano Aubert S. Barros Observatório Astronômico Genival Leite Lima (OAGLL)

adriano.aubert@gmail.com

Um dos meus objetos de maior interesse no céu é a Lua. Talvez, por ter sido um dos primeiros objetos que procurava observar quando montava uma luneta de um kit experimental de óptica, que ganhei de uma tia. Também, com algumas lunetas cromáticas que construí utilizando lentes de ópticas comerciais, de lupas e câmeras fotográficas; Apesar da aberração cromática e do pouco aumento dos brinquedos, conseguia distinguir algumas crateras, montanhas e os mares. Aquelas eram para mim, uma visão fantástica que me fazia sonhar.

A Lua é realmente fascinante. Nas noites claras do verão, seu brilho pálido, parece nos hipnotizar. A evolução constante de sua fase, sua metamorfose mensal, prende nossa atenção e nos convida a refletir sobre luz e sombra, ângulos, movimentos e visão. Entretanto, todos os mistérios se perdiam, na minha mente juvenil. Somente quando me tornei um jovem, e em 1986, quando comecei a frequentar o grupo de Astronomia que Genival Leite Lima havia fundado, o CEAAL - Centro de Estudos Astronômicos de Alagoas, que se reunia semanalmente, aos sábados, no Centro de Ciências de Alagoas no CEPA - Centro Educacional de Pesquisas Aplicadas, aqui em Maceió, Alagoas, é que resolvi explorar a superfície lunar e conhecer mais sobre o nosso satélite.

Genival Leite Lima (1958 - 2006) no CEAAL em 1987, no antigo Centro de Ciências de Alagoas, no CEPA, Maceió, AL.

Naqueles anos das décadas de oitenta e noventa, li alguns livros de autores como Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, Romildo Póvoa Farias, Jean Nicolini e Rubens de Azevedo. Nos livros de Mourão e Romildo encontrei as explicações para o mistério do movimento, das fases, da origem e dos processos de formação da superfície lunar. No manual do astrônomo amador de Nicolini encontrei mapas da superfície que me permitiram explorar e reconhecer as feições lunares. Foi uma época de grandes descobertas, pelo menos para mim. Mas, foi no texto de Rubens Azevedo, do seu livro Selene - A Lua ao alcance de todos - que mais fiquei impressionado.

Capa do livro “Selene - A Lua ao alcance de todos”, de Rubens de Azevedo.

Rubens de Azevedo (1921 - 2008).

Genival tinha levado o livro de Rubens de Azevedo para a A.A.A-AL (Associação de Astrônomos Amadores de Alagoana), que foi uma denominação dada ao grupo que veio a se tornar o CEAAL. O livro, publicado em 1959, tem vários capítulos interessantes. Muitos deles ricos em detalhes e textos excelentes sobre o nosso satélite. Somente para citar alguns: Capítulo I, intitulado “Lendas e mitos lunares”; Capítulo III, “Movimentos da Lua”; Capítulo IV, sobre os eclipses e as marés; Capítulo V, sobre a evolução do estudo da Lua; e o Capítulo IX, sobre as hipóteses sobre a origem da Lua.

Esses capítulos complementavam e aprofundavam tudo o que já havia lido sobre o satélite natural. No livro, há também capítulos curiosos e surpreendentes, como o Capítulo VII, que trata de modificações observadas na superfície lunar e de possíveis registros de eventos transitórios ocorridos nela. Neste capítulo, li pela primeira vez sobre a atividade recorrente na região do Vale Schröeter e a cratera de

Aristarco. Também das modificações inexplicadas das crateras de Messier e Pickering, além de outros mistérios da época. Fiquei surpreso em descobrir que no final da década de 50, ainda discutiam sobre atmosfera e possíveis formas de vida na Lua! Nos capítulos XII e XIII, Rubens apresenta e discute essas possibilidades.

O capítulo que mais me prendeu a atenção foi o XIX - Observando, Desenhando e Fotografando a Lua. Neste capítulo, Rubens de Azevedo descreve o registro da superfície de nosso satélite. Filho do pintor Otacílio de Azevedo, Rubens também desenhista, dá dicas fundamentais para quem deseja aprofundar-se em selenografia, fazendo desenhos e imagens. Seguindo as dicas do mestre, procurei desenhar e também fotografar a Lua.

Toda essa atividade me foi preciosa e prazerosa do ponto de vista da observação e da prática da astronomia amadora. Além disso, deu-me uma série de conhecimentos e de habilidades que ainda hoje se fazem presentes na minha atividade como professor de astronomia. Abaixo estão alguns textos publicados no boletim Apolo, do CEAAL, onde apresentei algumas das minhas observações e desenhos sobre a superfície da Lua.

A Família Cassini

(Publicado no Apolo n°02, volume 6 de outubro de 1996) Por Adriano A. S. Barros

Numa noite clara, onde a lua possa ser apreciada no seu oitavo ou nono dia de lunação, podemos observar Cassini. Uma cratera com aproximadamente 56 km de diâmetro e 1240 m de profundidade, situada nas coordenadas 40° N e 5°E da superfície lunar. A oeste dos Cáucasos e ao sul dos Alpes lunares, Cassini distingue-se dessas regiões por apresentar paredões baixos em relação ao seu diâmetro. Após sua formação devido ao choque de um meteoróide, o interior da cratera foi coberto com lava, que novamente sofreu impactos. Cassini mostra-se, como vemos no esboço abaixo, um círculo de pedra envolvendo duas jovens crateras: Cassini A com 17 km de diâmetro e Cassini B com 10 km. Há ainda outra pequena Cratera que faz parte do complexo, ao noroeste, localizada pouco além dos paredões está Cassini M. Da mesma forma que os homenageados Giovani D. Cassini, Jean Jacques Cassini, César F. Cassini e Jacques D. Cassini, as crateras formam uma notável família.

Esboço da cratera de Cassini de Adriano Barros. Velhas e novas crateras

(Publicado no Apolo n° 3, volume 3 de maio de 1993) Por Adriano A. S. Barros

As crateras da Lua são geralmente formadas por impactos de meteoróides, contudo ao observarmos ligeiramente as crateras, não identificamos quais as mais antigas e novas. Apesar de na Lua não existir um conjunto de agentes erosivos, como na Terra, as crateras e/ou acidentes mais antigos são erodidos por impactos mais recentes. Dessa forma, a evolução do relevo lunar é bastante interessante, pois sua história é mais evidente.

Um bom exemplo, do que acabei de falar, são as crateras de Theóphilos, Cirillus e Catharina. As três situam-se ao oeste do Mare Nectaris (Mar dos Néctares). Por volta do quinto e décimo nono dias de lunação, é possível observar estas crateras, sob o Terminador. As crateras de Cirillus e Catharina são bastante antigas. Suas bordas estão carcomidas por pequenos impactos, e sua forma parece pouco precisa. Já a cratera de Theóphilos apresenta-se com paredões altos e bem definidos. Da análise deste fato é que entendemos serem as Crateras de Cirillus e Catarina mais antigas que a de Theóphilos. Outro fato que diferencia, também a idade das crateras, são seus picos centrais. Catharina não possui pico central, Cyrillus tem um pico remanescente pouco definido. Theóphilos possui um proeminente pico central, que se divide em dois. Sob determinado ângulo de iluminação, os picos lembram pirâmides. Theóphilos e Cirillus são um perfeito exemplo da aparência de uma cratera nova e uma antiga. Assim sendo, com uma observação mais cuidadosa, podemos usar este exemplo para aprender mais sobre a Lua.

Guericke, Parry e Tolansky

(Publicado no Apolo n° 3, vol. 6 de novembro de 1996) Por Adriano Aubert S. Barros

Antes de iniciar uma de minhas sessões de observação de estrelas variáveis, detive-me a observar a Lua. Em seu nono dia de lunação, confortavelmente localizada às 19:00h, próxima ao meridiano local e com mais da metade de seu hemisfério visível iluminado. Iniciei a observação pelo norte da Lua, percorrendo os Alpes, os Cáucasos, as crateras de Eratóstenes e Copérnico até chegar num complexo de três crateras localizadas no Oceano das Tormentas, o que chamou minha atenção. Eram as crateras de Guericke, Parry e Tolansky. Das três, a mais impressionante era Guericke, cratera que homenageia o astrônomo e físico alemão Otto Von Guericke. Situada nas coordenadas lunares 12°S e 14°W, apresenta paredões relativamente baixos, e interior preenchido. Uma cratera da velha geração da Lua. Guericke tem paredões irregulares e descontínuos que perfazem um diâmetro de aproximadamente 58km. Une-se por meio de um conjunto de montanhas a outra cratera de nome Parry. Esta, localizada nas coordenadas celestes 8°S e 16°W, recebeu o nome do Almirante inglês William Eduard Parry. Possuindo paredões bem definidos, diferentemente de Guericke, Parry é uma cratera de geração mais recente, que sobrepôs-se a região. Tem cerca de 46 km de diâmetro e 560 m de profundidade. No momento da observação destacava-se a sombra de uma montanha que cortava a cratera ao meio. Entre Parry c Guericke, está a pequena cratera de Tolansky, localizada a 10°S e 18°W, uma jovem cratera, com seus 15 km de diâmetro compondo, com as outras, uma interessante região lunar.

Esboço das Crateras de Guericke, Tolansky e Parry, por Adriano Aubert. Observando a Lua

(Publicado no Apolo n° 11, vol. 2 de janeiro de 1993) Por Adriano A. S. Barros

Observar a Lua pode parecer algo pouco construtivo, pois o satélite já foi amplamente estudado. Entretanto a Lua oferece ao amador da Astronomia um vasto ambiente de pesquisa. Entender seu movimento, reconhecer seus acidentes, apreciar um eclipse faz parte da formação do Astrônomo Amador. Assim sendo, resolvi apresentar uma observação do Mar das Crises, que realizei com um pequeno refrator de 60 mm.

No dia 11 de dezembro de 1992 às 23:00 horas observei a Lua com um Refrator Tasco de 60 mm de abertura e 800 mm de distância focal. De início, utilizei uma ocular de 23 mm acoplada a uma lente zoom, mas resolvi utilizar uma ocular de 4 mm. O aumento proporcionado foi de 200x, ou 3,3x por milímetro de abertura, o que não é recomendado por apresentar um aumento muito forte. Contudo, a imagem proporcionada foi bastante satisfatória .

Neste dia, o que mais me chamou a atenção na Lua foi o Mar das Crises, pois estava sendo coberto pelo Terminador. Planície Lunar de aproximadamente 500 km de diâmetro, de forma circular, situada no nordeste do hemisfério visível da Lua. O fundo do Mar apresentava um forte tom cinza, num primeiro ensaio da escala de G. Vacouleurs, daria valor 5 (0 Branco - 10 Preto) . Os limites do Mar das Crises se apresentavam bem definidos e foi possível ver os Promontórios Lavinium (ao norte) e Olivium (ao sul). Pude ver também as crateras de Picard, Peirce e Greaves no interior do mar.

Esboço do Mare Crisium impresso com impressora matricial. Adriano Aubert.

Esses textos e desenhos são alguns dos registros da superfície lunar, que fiz motivado principalmente pelo livro “Selene - A lua ao alcance de todos”, de Rubens de Azevedo. Rememorando esses textos e relendo o livro, novamente me vejo estimulado a explorar a superfície lunar registrando com desenhos e fotografias as paisagens de nosso satélite. Obrigado, mestre Rubens.