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Como é vista a organização de trabalhadores?

4.4 G EOGRAFIA E A TIVIDADE I NDUSTRIAL

4.4.3 Como é vista a organização de trabalhadores?

As coleções didáticas de Geografia frequentemente se referem a sindicatos de forma associada à desconcentração industrial. Frente ao predomínio da visão do “fator mão de obra”, a organização de trabalhadores é vista como uma força repulsiva.

Antes, porém, a coleção Ser protagonista registra o nascimento de entidades trabalhistas de modo relacionado às origens do capitalismo e à concentração de trabalhadores provocada pela industrialização. É o que se lê logo no início de seus textos:

Houve uma separação entre o capital e o trabalho. Na pequena produção mercantil, as formas artesanais de manufatura eram dominantes, e o produtor, o comerciante e o proprietário dos meios de produção eram a mesma pessoa. Na estrutura industrial, o trabalhador não é mais possuidor de meios de produção, sendo obrigado a vender a sua força de trabalho como mercadoria. Essa é a principal característica do modo de produção capitalista.

O grande agrupamento de trabalhadores levou a um forte movimento sindicalista, que foi importante nas lutas dos trabalhadores europeus. (Ser Protagonista, v. 1, p. 20)

Na coleção Fronteiras da globalização (v. 3, p. 154-155), a origem do sindicalismo no Brasil é vista como consequência do crescimento industrial ocorrido no início do século XX:

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Mais tarde outro período de desenvolvimento industrial ocorreu durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), principalmente por um motivo: os países fornecedores de produtos industrializados para o Brasil estavam em guerra e diminuíram suas exportações. Alguns estabelecimentos, como frigoríficos e metalúrgicas, foram criadas para suprir essa lacuna e o número de empresas cresceu bastante […]. A produção industrial ficou mais diversificada, abrangendo os seguintes ramos. Alimentos, têxtil, roupas e calçados, fumo, móveis, metalurgia, mecânica, entre os principais.Nessa ocasião, surgiram várias associações ou sindicatos ligados tanto a operários quanto ao patronato.

O sindicalismo brasileiro é abordado também pelo segundo volume da coleção Ser protagonista (v. 2, p. 239):

Os sindicatos são importantes organizações de coordenação e mobilização dos trabalhadores que visam defender seus direitos, principalmente diante do empresariado e do Governo. Sua atuação está historicamente ligada às cidades e ao processo de industrialização. As organizações sindicais atuam nas negociações como porta-vozes dos trabalhadores diante dos empregadores, sejam eles públicos ou privados. Quando todas as alternativas amigáveis de acordo se esgotam, os trabalhadores recorrem ao movimento grevista como forma de pressionar a retomada das reuniões, para, juntos, solucionar o impasse e voltar ao trabalho.

No Brasil, o movimento sindical teve início nas primeiras décadas do século XX, quando surgiram aqui as primeiras fábricas. Em 1917, uma greve geral, que contou com forte participação de anarquistas, praticamente paralisou a cidade de São Paulo, estendendo-se depois para outros estados do país, em especial para o Rio de Janeiro, então capital federal, e o Rio Grande do Sul. Ainda que vigorosamente reprimidos pelas autoridades, os operários obtiveram importantes resultados, como um aumento salarial imediato.

Em todo o mundo, tanto os sindicatos como os movimentos grevistas têm perdido espaço entre os trabalhadores, devido a uma série de fatores. Um deles é o desgaste dessas instituições, cujos métodos de ação e mobilização estão desacreditados e não conseguem mais atrair a atenção dos trabalhadores como em outros tempos. Outro é o avanço da robotização e informatização do processo produtivo, que aumentam a sua produtividade e lucratividade, podendo substituir parte da mão de obra humana. No Brasil, outro importante fator do enfraquecimento dos movimentos sindicais é a dispersão territorial das indústrias.

A coleção Geografia para o ensino médio (v. 1, p. 102), porém, já marca a ideia de sindicatos como força oposta ao crescimento industrial, ao comentar o surgimento das técnicas de organização produtiva denominadas como fordismo:

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A produção industrial do século XX foi organizada segundo padrões de “administração científica” definidos pelos norte americanos Frederick W. Taylor e Henry Ford. O engenheiro Taylor pregava uma parceria entre a administração das empresas e a força de trabalho, que deveriam compartilhar a meta da elevação da eficiência produtiva e rejeitar as interferências dos sindicatos operários. O empresário Ford, por sua vez, aplicou à indústria do automóvel a técnica da linha de montagem, extraindo o máximo de benefícios da mecanização da produção.

Na linha de montagem, o ritmo definido pelas máquinas organiza o trabalho, subordinando os operários à lógica geral da produção. O fordismo, ao converter os trabalhadores em engrenagens de um sistema mecânico, atingiu a meta a que se propunha o taylorismo.

No fim, a oposição entre sindicatos e empresariado é sintetizada da seguinte forma:

Os trabalhadores se organizam em sindicatos para defender seus interesses de classe, que são definidos por oposição aos interesses dos empresários. Os últimos buscam antes de tudo maximizar seus lucros; os primeiros almejam aumentar seus salários e melhorar as suas condições gerais de trabalho. (Geografia para o ensino médio, v. 1, p. 103)

A relação entre as ideias de Taylor e a exploração de trabalhadores também é discutida na coleção Projeto Eco (v. 1, p. 207). No mais, a força de organizações trabalhistas passa a ser representada como uma contraforça. Posteriormente, ao comentar o caso da industrialização japonesa, a coleção Geografia para o ensino médio (v. 3, p. 112-113) destaca a debilidade do movimento sindical como diferencial em relação aos países europeus:

A capitalização dos conglomerados industriais apoiou-se no baixo custo da força de trabalho e na fragilidade do movimento sindical. Diferente da Europa, o movimento operário japonês nunca teve forte influência política e social, o que conferiu à reconstrução econômica seus traços nitidamente favoráveis ao empresariado.

162 A coleção Fronteiras da globalização (v. 3, p. 170) relaciona também organizações trabalhistas à desconcentração industrial: “as empresas estão fugindo da poluição, dos congestionamentos, dos altos preços dos terrenos, de sindicatos fortes, e procurando cidades menores, que oferecem, entre muitas facilidades, uma excelente qualidade de vida. A coleção Geografia: o mundo em transição (v. 3, p. 31) diz o mesmo, ao discutir a saída de indústrias de São Paulo:

Para essa deseconomia de escala na Grande São Paulo também concorreu a grande combatividade de vários sindicatos de trabalhadores nessa região, que, nos anos 1970, foram a vanguarda em termos de reivindicações salariais e greves. Tratava-se de um novo sindicalismo, mais atuante na defesa dos direitos de suas categorias profissionais.

Outros exemplos semelhantes podem ser encontrados nas coleções Ser protagonista (v. 2, p. 82), Projeto eco (v. 2, p. 163) e Geografia para o ensino médio (v. 2, p. 85; 87-88).

A coleção Áreas do conhecimento (v. 3, p. 156) também traz essa visão ao discutir a instalação de indústrias no Nordeste. Mas ela se diferencia quando, ao discutir a flexibilização de leis trabalhistas, relaciona o enfraquecimento de sindicatos ao aumento da exploração de trabalhadores no mundo contemporâneo:

A flexibilização também se estende para as contratações. Com a anuência do Estado e com o enfraquecimento dos sindicatos, os contratos de trabalho não obedecem mais às antigas leis trabalhistas. Segundo os neoliberais, desonerar as empregas de encargos trabalhistas traz benefícios a todos. Mas quem são todos?

O empregado fica sem nenhuma estabilidade e garantia legal, mas os preços não estão baixando em decorrência disso. Ao contrário, com o monopólio de mercado, a lei da oferta e da procura é coisa do passado. Novamente, observa-se que a flexibilização atende somente aos interesses de maior acumulação de capital por parte dos grupos empresariais em detrimento da qualidade de vida e bem-estar dos trabalhadores. E ainda assim, grande parte da população mundial

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pleiteia esses empregos, porque não há uma outra perspectiva, apenas o desemprego e a diminuição das políticas públicas de amparo aos desempregados. (Áreas do conhecimento, v. 3, p. 151)

A debilidade do movimento sindical é vista como consequência das alterações das relações de trabalho pela coleção Projeto Eco. Relacionando essa mudança à informatização, a coleção faz o seguinte comentário:

Um número cada vez maior de trabalhadores vêm exercendo suas atividades em casa, sem a presença diária e com horário determinado na empresa. Por se tratar de um processo recente de relação de trabalho, ainda há poucos dados a respeito. Porém, já se percebe enfraquecimento geral dos sindicatos (organizações que representam as diversas classes de trabalhadores), menor mobilização e integração entre os trabalhadores, principalmente no que se refere ao aumento de salários e benefícios, e até mesmo amplo debate sobre o custo dos trabalhadores para as empresas. (Projeto Eco, v. 1, p. 225)