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Que discussões são apresentadas sobre localização industrial?

4.4 G EOGRAFIA E A TIVIDADE I NDUSTRIAL

4.4.2 Que discussões são apresentadas sobre localização industrial?

O estudo geográfico sobre a atividade industrial tem como uma de suas questões centrais a investigação das determinações envolvidas na localização

155 das plantas fabris. Naturalmente, as coleções didáticas de Geografia destinam grande atenção ao tema. Entretanto, conforme se verá a seguir, o debate sobre esse tópico geralmente envolve classes sociais apenas quando se refere ao “fator mão de obra”, ao mesmo tempo em que se ressalta o poderio de empresas transnacionais no contemporâneo.

Um exemplo dessa visão pode ser encontrado no segundo livro da obra Fronteiras da globalização. Ao caracterizar o setor industrial contemporâneo, o texto afirma o seguinte:

Os antigos fatores de localização industrial (fontes de energia e matéria- prima) perderam um pouco sua força. As indústrias buscam outras vantagens como incentivos fiscais, mão de obra barata e mercados consumidores, facilidade de transporte e comunicação (infovias). Por isso ocorreu uma reorganização do espaço industrial. (Fronteiras da globalização, v. 2, p. 172)

A coleção Território e sociedade (v. 2, p. 251) também apresenta o “fator mão de obra” como determinante ao discutir a mobilidade de indústrias de bens de consumo:

Mesmo as indústrias de bens de consumo que se desenvolveram nas proximidades dos grandes mercados urbanos tendem a se desconcentrar e se deslocar para regiões menos saturadas e que apresentem custos de infraestrutura e mão de obra mais baixos. É importante ressaltar, porém, que na maior parte dos casos o deslocamento é restrito às unidades de produção, pois diversos outros setores das empresas industriais, como marketing, parte do administrativo e de pesquisa e desenvolvimento, em geral, continuam nos grandes centros ou muito próximos a eles.

As coleções Geografia global (v. 2, p. 130), Geografia para o ensino médio (v. 1, p. 106), Projeto Eco (v. 1, p. 214, 217) e Conexões (v. 3, p. 14) também apresentam a visão da mão de obra como fator de localização. Já a

156 coleção Áreas do conhecimento traz uma visão diferente, ao relacionar a localização de plantas fabris à dominação financeira imposta por empresas. A partir da discussão da instalação de uma indústria no Brasil, a coleção faz a seguinte exposição:

Toda essa disputa pela localização de uma unidade produtiva, sempre de acordo com as leis do mercado, deixou a direção mundial da montadora em uma situação confortável para impor as suas condições. A decisão do local de instalação foi considerada como um privilégio a ser disputado por vários países (no caso, o escolhido foi o Brasil), dezenas de governos estaduais e incontáveis administrações municipais.

Mas, então, qual é a necessidade de um grande conglomerado, cujo segmento bancário é o de maior rentabilidade, em exigir financiamento público de um estado brasileiro?

A necessidade é a de manter a rentabilidade (ou lucratividade) do conglomerado em níveis máximos, em face da implacável concorrência internacional.

Apesar de, aparentemente, os conglomerados mundiais terem um comprometimento direto e absoluto somente com a satisfação do consumidor final de seus produtos (os quais, em nosso sistema de vida, prometem nos levar à realização e felicidade), isso não é verdade. O verdadeiro comprometimento desses grupos é com os seus acionistas e o mercado das bolsas de valores. (Áreas do conhecimento, v. 2, p. 172)

Outra coleção, a Ser Protagonista, também ressalta a ação de empresas multinacionais. A particularidade dessa coleção é a leitura da localização industrial como estratégia para eliminação de concorrentes:

A ascensão dessas empresas se fez tendo por bases a produtividade e a competitividade. Entre as multinacionais sempre existiu uma concorrência que estabelecia estratégias fundamentais, tais como a economia de escala. A partir desta, uma multinacional podia eliminar concorrentes, inclusive utilizando-se dos mecanismos das fusões e da descentralização da produção. São instaladas filiais em outros países que oferecem condições especiais (mão de obra barata, presença de matérias-primas, políticas que garantem às empresas menores custos). (ser Protagonista, v. 1, p. 41)

157 fartos em exemplos de como a classe trabalhadora é vista como fator mão de obra. Eles aparecem sobretudo quando se discute a concentração e posterior desconcentração industrial envolvendo a região Sudeste. É o que se lê também na coleção Ser protagonista (v. 2, p. 124): “Outro fator importante para a desconcentração das indústrias foi a possibilidade de redução de custos com mão de obra. As empresas instalaram-se em regiões onde os sindicatos não estão estruturados e a população local aceita salários menores.” A coleção Projeto Eco (v. 2, p. 165) segue a mesma linha, ao comentar o crescimento industrial na região Nordeste:

A região nordeste, ao mesmo tempo, assemelha e difere da Região Centro-Oeste. Houve aumento na geração de empregos em cinco setores industriais, como o calçadista e o extrativista mineral. A produção de calçados encontra-se vinculada à transferência de empresas e de capital das regiões Sul e Sudeste, que instalaram-se no Nordeste por causa de mão de obra mais barata. Já o extrativismo mineral relaciona- se diretamente aos minérios existentes localmente.

A mesma lógica é seguida pelas coleções Fronteiras da globalização (v. 2, p. 174) e Geografia: sociedade e cotidiano (v. 2, p. 181), que enfatizam o encarecimento da mão de obra nas áreas de dispersão industrial. A coleção Geografia: o mundo em transição destaca que a busca das empresas não é sempre por mão de obra barata, colocando a qualificação em questão. Mas, apesar da diferença, não rompe com a lógica conceitual das coleções anteriores:

Justamente esses fatores fundamentais constituem uma grave carência do Brasil, que não consegue ingressar de fato na revolução técnico- científica. A mão de obra nacional, em média, possui baixa qualificação; o mercado interno de produtos avançados é escasso, por causa dos baixos rendimentos da maioria da população; e existem poucos centros de produção de tecnologia avançada. (Geografia: o mundo em transição, v. 3, p. 33)

158 A obra Geografia para o ensino médio (v. 2, p. 93) também se diferencia brevemente, ao enfocar a industrialização na região Sul brasileira e ponderar a qualificação dos trabalhadores que lá se encontravam:

Na Região Sul, de Porto Alegre a Curitiba, estendem-se concentrações industriais cada vez mais integradas às estruturas produtivas e financeiras do Sudeste (veja o mapa). Historicamente, as empresas industriais mais importantes surgiram de capitais locais, conquistaram o mercado regional e passaram mais tarde a atuar no mercado nacional. A expansão industrial apoiou-se em fatores regionais. O fluxo imigratório que formou colônias alemãs, italianas e eslavas trouxe muitos artífices e trabalhadores qualificados. Um empresariado regional apareceu nas áreas coloniais.

O vale do Itajaí e o nordeste catarinense ilustram esse modelo de industrialização.

Por fim, também se encontram referências ao “fator mão de obra” em algumas análises sobre a espacialidade da indústria dos Estados Unidos. Novamente, o par concentração-desconcentração é visto à luz do custo da mão de obra, como faz a coleção Geografia: sociedade e cotidiano (v. 3, p. 246) a respeito do Nordeste estadunidense:

A grande concorrência mundial fez com que muitas indústrias dessa região, a partir da segunda metade do século XX, migrassem para outros lugares em busca de menores custos de produção, mão de obra barata, diminuição de impostos e leis ambientais mais brandas, levando dessa forma ao surgimento de novos centros industriais no sul e no oeste do país. Esse fenômeno levou a região do manufacturing belt a ser chamada de rust belt ou o “cinturão da ferrugem”, em virtude da grande quantidade de prédios abandonados que antes funcionavam como fábricas nas cidades dessa região.

A mesma lógica é encontrada na coleção Ser Protagonista (v. 2, p, 103), que destaca a instalação de fábricas de empresas estadunidenses no território mexicano em busca de mão de obra barata. Já a coleção Conexões (v. 3, p. 18) discute a qualificação da mão de obra como fator determinante para a localização

159 de indústrias de alta tecnologia na costa oeste dos Estados Unidos.