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O período 1985-2012: o surgimento do Programa Nacional do Livro

3.1 H ISTÓRICO DO LIVRO DIDÁTICO NO B RASIL

3.1.4 O período 1985-2012: o surgimento do Programa Nacional do Livro

Com a posse de José Sarney em março de 1985, os brasileiros voltavam a ter um presidente civil após 21 anos sob governo de militares. A redemocratização em curso traria reorientações para a ação estatal num amplo leque de setores, entre os quais a educação.

Em relação aos livros didáticos, ainda em agosto daquele ano viria a primeira mudança. Por meio do Decreto n.º 91.542 (BRASIL, 1985) foi instituído o PNLD e implantadas importantes modificações, como o aumento da participação dos professores e o maior rigor na avaliação técnica dos livros, fazendo com que a indústria elevasse o padrão do material entregue às escolas. A partir daí, tomou-se como meta o atendimento gradativo aos alunos das séries do primeiro grau das escolas públicas e comunitárias do país, começando por disciplinas prioritárias como Língua Portuguesa e Matemática (HÖFLING, 2000). Mas as transformações mais profundas viriam após 1988, quando foi promulgada uma nova Constituição Federal (BRASIL, 1988), responsável por delinear as características atuais da educação brasileira.

A Constituição (BRASIL, 1988) registra, logo em seu artigo 6°, a educação como um direito social, fato pioneiro na história constitucional brasileira

75 (OLIVEIRA, 1999). O texto constitucional estabelece no artigo 206 os princípios do ensino, dentre os quais se destaca o inciso IV: “gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais” (BRASIL, 1988).

A partir da Carta Magna (BRASIL, 1988), a educação básica, período de formação escolar a ser ofertado obrigatória e gratuitamente pelo Estado a todos os cidadãos, passa a ser organizada em três níveis: educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Ao todo, trata-se de um roteiro planejado para atender estudantes dos 4 aos 17 anos de idade, elaborando princípios, valores, habilidades e competências necessárias para a efetiva participação do indivíduo na sociedade atual, para sua inserção exitosa no mundo do trabalho e para a continuidade de seus estudos em níveis superiores.

O artigo 208 detalha os instrumentos através dos quais o Estado efetivará seu dever com a educação. Nele fica definido a quem se deve ofertar a educação básica. Destaca-se, aqui, o inciso VII, quando diz: “atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde” (BRASIL, 1988). Oliveira (1999) salienta que esse inciso sinaliza uma mudança importante na forma de atuação do Estado brasileiro na educação, pois denota que a oferta de vagas em escolas públicas não esgota o seu dever. O Estado precisa, assim, ser ativo também na oferta de recursos sem os quais estudantes não conseguem efetivar sua presença na escola. Os livros didáticos fazem parte desse conjunto.

A década de 1990 começou para a sociedade brasileira com o desafio de efetivar a redemocratização e a nova Constituição Federal (BRASIL, 1988). Simultaneamente, um acordo selado em 1990 na Conferência Mundial de Educação para Todos, organizada pela Organização das Nações Unidas para

76 Educação, Ciência e Cultura (Unesco) em Jomtien, na Tailândia, estabeleceu um conjunto de metas a serem cumpridas pelos países cujo sistema educacional apresentou baixo desempenho30, entre eles o Brasil, a fim de elevar quantitativa e

qualitativamente a oferta de educação durante o decênio que começava.

No Brasil, os compromissos assumidos em Jomtien cristalizaram-se no Plano Decenal de Educação para Todos (BRASIL, 1993). As metas previam ações em diferentes dimensões, abrangendo desde a melhoria nas condições de formação e trabalho dos professores à equalização na distribuição de recursos entre os entes da federação. Mantovani (2009) sintetiza as relações entre esse plano e a política brasileira sobre livros didáticos nos seguintes itens: melhoria da qualidade dos livros ofertados, maior capacitação para que os docentes avaliem e utilizem os livros didáticos, e ampliação da política de distribuição. Novos marcos legais, como a publicação de uma nova Lei de Diretrizes e Bases, em 1996 (Lei n.º 9.394 – Brasil, 1996), e de resoluções como as Diretrizes Curriculares Nacionais, expedidas em 1998 (BRASIL, 1998), viriam a aprofundar a caracterização de cada etapa da educação básica e do papel de cada componente curricular no ensino. Ao mesmo tempo, reiterou-se o papel do Estado brasileiro, representado pelos municípios, estados e pela União, como principal responsável pela organização e execução de políticas educacionais. Nesse contexto, o PNLD foi reestruturado e expandido, em consonância com outras medidas em prol da universalização da educação básica no Brasil.

Mantovani (2009) relata ainda que a primeira ação realizada sobre os livros didáticos a partir do plano decenal de 1993 (BRASIL, 1993) foi uma avaliação de

30 Nove países ao todo: Bangladesh, Brasil, China, Egito, Índia, Indonésia, México, Nigéria e

77 materiais que haviam sido distribuídos em 1991. Os resultados mostraram graves falhas e motivaram modificações no PNLD a partir de 1995, ao mesmo tempo em que ressaltaram a necessidade de avaliar frequentemente as obras disponibilizadas ao alunado (BRASIL, 1994). Naquele ano, foram contempladas com livros, a título de experimento, as disciplinas de Matemática e de Língua Portuguesa, para o ensino fundamental.

Em 1996, atendeu-se à disciplina de Ciências, e em 1997 foram atendidas História e Geografia, além da aquisição de livros de Alfabetização e Estudos Sociais para as séries iniciais. Também em 1997 foi extinta a FAE, ficando a execução do PNLD a cargo do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Aprimorou-se também a logística do programa, que passou, a partir de 2000, a entregar os livros antes do início do ano letivo. Consolidou-se sua execução em ciclos trienais, que têm início na avaliação das obras por grupos de especialistas das disciplinas envolvidas, passando para a oferta aos professores e posterior distribuição aos alunos. Nos dois anos posteriores à distribuição inicial, são realizadas compras de reposição.

Em 2003, a Resolução n.º 38 do Conselho Deliberativo do FNDE (BRASIL, 2003) instituiu a distribuição de livros didáticos para as escolas públicas por meio do Programa Nacional do Livro Para o Ensino Médio (PNLEM). Partindo dos moldes do programa em execução para o ensino fundamental, o PNLEM teve início com a distribuição de livros de Língua Portuguesa e Matemática, prioritariamente para escolas das regiões Norte e Nordeste do Brasil, passando depois a contemplar as demais regiões. Em 2007, foram incluídos livros de Biologia; em 2008 também foram adotadas obras didáticas de Química e História; e, a partir de 2009, foram contempladas as disciplinas de Geografia e Física.

78 Atualmente, além da aquisição de livros para componentes curriculares, o Estado brasileiro também mantém programas sob o nome “PNLD” para outras modalidades de ensino. É o caso do PNLD Campo (para aquisição de livros para estudantes de escolas em áreas rurais), do PNLD EJA (de Educação de Jovens e Adultos) e PNLD Alfabetização, além da compra de dicionários para utilização em salas de aulas e de materiais para alunos com necessidades específicas, como o sistema MecDaisy para alunos com deficiência visual e materiais em Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) para alunos com deficiência auditiva.

Os dados estatísticos divulgados pelo FNDE retratam que essa é uma ação estatal de grande monta.

Tabela 1 – Evolução do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) – ensino fundamental regular (2003 a 2014)

Ano de aquisição/ano

letivo

Alunos

beneficiados beneficiadas Escolas Exemplares distribuídos Investimento em aquisição e distribuição (R$) 2003/2004 31.911.098 149.968 116.030.521 582.827.171,38 2004/2005 30.837.947 149.968 111.189.126 619.247.203,00 2005/2006 30.837.947 147.407 44.245.296 316.434.307,57 2006/2007 28.591.571 144.943 102.521.965 563.725.709,98 2007/2008 31.140.144 139.839 110.241.724 661.411.920,87 2008/2009 29.158.208 136.781 60.542.242 405.568.003,49 2009/2010 28.968.104 134.791 103.581.176 591.408.143,68 2010/2011 29.445.304 129.763 118.891.723 893.003.499,76 2011/2012 28.105.230 124.285 70.690.142 443.471.524,28 2012/2013 24.304.067 74.360 91.785.372 721.228.741,00 2013/2014 23.452.834 97.581 103.229.007 879.828.144,04 2014/2015 21.806.651 98.987 53.059.972 431.203.009,07

Fonte: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação ([s.d.]). Inclui todos os anos do ensino fundamental. Adaptado pelo autor.

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Tabela 2 – Evolução do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) – ensino médio regular (2004 a 2014)

Ano de aquisição/ano

letivo

Alunos

beneficiados beneficiadas Escolas Exemplares distribuídos Investimento em aquisição e distribuição (R$) 2004/2005 1.304.477 5.392 2.705.048 47.273.737,00 2005/2006 7.012.619 13.253 12.581.620 143.834.244,00 2006/2007 6.896.659 15.570 9.175.439 124.275.397,18 2007/2008 7.141.943 15.273 18.248.846 221.540.849,41 2008/2009 7.249.774 17.276 43.108.350 504.675.101,27 2009/2010 7.630.803 17.830 11.189.592 137.563.421,71 2010/2011 7.669.604 17.658 17.025.196 184.801.877,52 2011/2012 7.981.590 18.862 79.565.006 720.629.200,00 2012/2013 8.780.436 21.288 40.884.935 364.162.178,57 2013/2014 7.649.794 19.243 34.629.051 333.116.928,96 2014/2015 7.112.492 19.363 87.622.022 898.947.328,29

Fonte: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação ([s.d.]). Inclui todos os anos do ensino fundamental. Adaptado pelo autor.