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COMO A LINGUÍSTICA APLICADA INFORMA ESTA PESQUISA

CAPÍTULO 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 COMO A LINGUÍSTICA APLICADA INFORMA ESTA PESQUISA

Conhecer a Lingüística Aplicada de forma mais objetiva e direta muito colaborou para esclarecer indagações que me incomodavam como professora de inglês e sobre o campo de trabalho dessa ciência (aqui tratada como LA). Através dos estudos

desenvolvidos, ficou nítido que ohomem está evoluindo e junto com ele também evolui

a Ciência. Essa nova área do conhecimento vem apresentando trabalhos relevantes na pesquisa educacional e científica. Cito aqui os estudos de Celani (1996, 2000 e 2004), Moita Lopes (2006), Kumaravadivelu (1994, 2001 e 2006), Canagarajah (2005), entre outros autores, que têm procurado tornar a vida do homem mais compreensível, tendo como foco principal dos seus estudos a linguagem em vários aspectos e o processo de formação do professor de línguas. As inúmeras possibilidades de estudo que a LA oferece justificam a sua abrangência devido ao fato dela ter buscado aporte teórico- metodológico em outras ciências (Antropologia, Psicologia, Educação, Pedagogia e outras), a fim de compreender, justificar e ampliar seus dados e criar sua teoria própria, autônoma. Nessa ciência, o pesquisador pode ir sempre além daquilo que busca, pois a linguagem e suas manifestações cotidianas – sendo esse seu objeto de estudo - pode e deve ser estudada em qualquer contexto que apresente nuances de transformação social. Na tentativa de compreender porque o ensino de Língua Inglesa é tão falho no Brasil, direciono este trabalho para o que ocorre na preparação do professor de inglês de acordo com os dados coletados e o que dizem os especialistas. Neste sentido, os linguistas aplicados são quem melhor pode orientar e esclarecer a respeito da formação do professor de língua estrangeira.

Para fortalecer e ampliar as minhas convicções de pesquisadora e sintonizar o meu desempenho profissional com a autonomia necessária ao desempenho das minhas funções, resolvi questionar a minha prática docente. A respeito dessa minha inquietação, Moita Lopes (2005: 86) diz,

“a pesquisa diagnóstico está centrada na investigação do processo de ensinar/aprender, conforme realizado nas salas de aula, ou seja, como a prática de ensinar/aprender línguas está sendo efetivamente realizada em sala de aula.”

Os estudos que ora realizo podem ser classificados perfeitamente dentro do tipo de pesquisa acima, pois estou analisando de forma minuciosa os fatores que desestimulam os egressos e concluintes de um curso de Letras/Inglês em ministrar aulas de língua inglesa, apesar do campo de trabalho ser favorável e oferecer muitas oportunidades para crescimento pessoal e profissional.

Ainda de acordo com Moita Lopes (2005:92), o linguista aplicado não pode se conformar com o que está posto, estabelecido, sem questionar. Assim, ele nos faz compreender que a transgressão das regras convencionais, tidas como certas, (uso de livro didático como única fonte de conhecimento, professor detentor do saber, grande número de alunos em da sala de aula, etc.), é necessária para desenvolver ideias e estabelecer novas propostas de caráter científico, a partir das possibilidades vislumbradas em um contexto particular, possibilitadas pelo estudo da linguagem.

As relações sociais da atualidade, de certa forma, tratam de questões humanas que nos levam a refletir sobre a velocidade com que as informações são trocadas e que fazem o homem ver problemas sociais e particulares de forma simplista e objetiva, estabelecendo mudanças de paradigmas e de novos significados. Assim, a LA é tida como prática interrogadora dos fatos sociais consagrados como corretos, possibilitando aos estudiosos questionar e propor novos conceitos científicos - aceitos não só dentro da comunidade científica, como também pelos aprendizes. Conforme Fabrício (2006: 48),

esta “trama movente1” facilita a compreensão dos fatos sociais que estavam “presos”,

isto é, classificados dentro de ciências específicas, e nos levam a buscar a transgressão para compreender determinados fenômenos sob a ótica de outras ciências, focalizando a linguagem como prática social.

Esta pesquisa tem essa trama movente no seu centro, pois um dos cursos de Letras que está em análise transgrediu muitos pontos na sua formatação final para atender às necessidades da realidade onde ele acontece e ao mundo atual que urge por mudanças que tragam resultados eficazes para a sociedade como um todo.

Celani (1996) lembra que até 1955 a Linguística Aplicada ainda não era considerada uma área específica de conhecimento e pesquisa, o que justifica o apelo à

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1 Termo utilizado pela autora para se referir ao conjunto de relações em permanente flutuação, que

entende que a LA é inseparável das práticas sociais e discursivas que constroem sustentam ou modificam as capacidades produtivas, cognitivas e desejantes dos atores sociais. 

aplicação de conhecimentos da Linguística Comparativa e Histórica ao ambiente de ensino de Língua Inglesa. Aliados a esses conhecimentos, também estavam: a aprendizagem seguindo a teoria behaviorista, a insistência para que se formassem hábitos advindos do modelo de reforço positivo e a repetição de exercícios padronizados descontextualizados – o que ainda acontece até hoje. Na formação profissional dos professores, a ênfase era dada aos métodos e técnicas e o “falante nativo” era o modelo; o mais importante era o domínio do sistema da língua e das técnicas de ensino, através de exercícios (drills). Não se falava no aluno e na interação necessária que é preciso haver na sala de aula.

1.1.1 A Linguística Aplicada e a Ética Profissional

Para considerar este trabalho ético e político, são levadas em consideração as escolhas dentro de parâmetros construídos em determinado contexto. É preciso respeitar o tempo, o espaço e as circunstâncias em que os fenômenos sociais acontecem, constroem e desconstroem verdades outrora estabelecidas por aqueles que observam determinados fatos sob um único prisma para análise. Uma postura crítica da realidade faz-nos refletir sobre a necessidade e desenvolvimento de uma agenda transformadora sem perder de vista princípios éticos, a política e a transformação social.

A desconstrução do que sempre foi considerado correto faz-se necessária para que possamos enxergar inquietações que foram ocultadas ao longo do tempo por profissionais que acreditam que eram detentores do poder/saber. Esse fato pode ter sufocado, em muitas circunstâncias, saberes diversos que poderiam ser utilizados em benefício de toda uma comunidade que estivesse apresentando sinais de necessidade de transformação e que, por muito tempo e por causa das circunstâncias, teve sua voz silenciada.

Acredito que a transformação social está acontecendo, pois a partir do momento que aqueles que tiveram sua voz calada por muitos anos – refiro-me aos egressos do curso de Letras/1997 - puderam, através deste estudo, externar suas inquietações e angústias e buscar alternativas para solução de problemas que foram criados e

calcificados durante a formação acadêmica, talvez, por causa da dinâmica docente e discente, e também do currículo ao qual foram submetidos.

Podemos criar uma nova realidade a partir da análise dos fatos, pois o discurso

sobre as coisas é que cria as coisas em si (NIETZSCHE, [1882] 2001 apud

FABRÍCIO, 2006: 54). O fato de poder falar e externar as angústias pode levar aqueles que são os participantes da pesquisa (egressos e concluintes) a criarem uma realidade que possa modificar de forma positiva o trabalho que executa; pode também possibilitar àqueles estudantes dos cursos de Letras que têm suas vozes caladas e reprimidas de alguma forma, a oportunidade de visualizar e criar, através da reflexão crítica, novas possibilidades de trabalho e realização pessoal/profissional.

É possível observar que muitos professores têm os seus valores profissionais cristalizados. Isso impossibilita a eles vislumbrar a realidade sob outro ponto de vista. A Linguística Aplicada mostra-nos que a desconstrução racional dessas verdades pode favorecer o estabelecimento de novos caminhos que possam ser percorridos por aqueles que comungam ideias semelhantes, diferentes daquelas consideradas como únicas e verdadeiras.

O ensino-aprendizagem de língua inglesa é um dos focos da Linguística Aplicada, por essa razão, considero importante fazer um breve relato a respeito do ensino de inglês no Brasil no próximo tópico deste trabalho.