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O CURRÍCULO E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LÍNGUAS

CAPÍTULO 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.7 O CURRÍCULO E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LÍNGUAS

O dicionário Aurélio define o termo currículo como: [do lat.curriculu] S.m. 1. Ato de correr. 2. Atalho, corte. 3. Bras. Parte de um curso literário. 4. Bras. p. ext. As

matérias constantes de um curso. Neste trabalho, concentrarei as minhas reflexões na

última definição aqui apresentada, pois é esta que está intimamente relacionada à vida

do professor. Essas disciplinas/matérias, que são a estrutura de qualquer curso, é que vão favorecer o desenvolvimento dos processos de conservação, transformação e renovação dos conhecimentos que são acumulados ao longo da história.

A reforma nos cursos de graduação de 2004, proposta pelo Ministério da Educação, visando colocar o Brasil dentro das ações da nova ordem mundial, tem como centro o currículo. Ao ser elaborado, é preciso que não se perca o foco nos conteúdos a serem trabalhados e no contexto onde ele será desenvolvido.

O Ministério da Educação sugere uma estrutura curricular que deve ser seguida pelas instituições de ensino. Nela, de acordo com Apple (1982: 127) está embutido o currículo oculto que é entendido como normas e valores que são implícitos, porém

efetivamente transmitidos pelas escolas e que habitualmente não são mencionados na

apresentação feita pelos professores. Esse currículo oculto acentua o papel da escola de

reprodutora de conhecimentos e mantenedora do controle social. Em outras palavras, a escola pode estar exercendo uma posição reducionista como instrumento utilizado para manutenção dos privilégios de grupos dominantes, o que pode acarretar conflitos e resistências.

Ao se definir um currículo, algumas questões podem ser levadas em conta: - Para que servem os conteúdos trabalhados?

- Para quem servem?

- A serviço de quem ou de que interesses está esse (curso)conteúdo?

Quando levantamos essas questões, fica mais fácil entender a dimensão ideológica de um currículo e algumas pesquisas demonstraram que é possível detectar interesses ideológicos muito grandes, tanto nos conteúdos como nos procedimentos ou métodos de ensino e avaliação.

Muitos estudiosos discutiram a respeito do ensino e as questões curriculares que no Brasil. Quando tratam do tema currículo em seus diálogos, Paulo Freire e Shor (1986: 15) afirmam que

[...] o currículo padrão lida com a motivação como se esta fosse externa ao ato de estudar. As provas, a disciplina, os castigos, a 50 

recompensa, a promessa de emprego futuro são considerados os motores da motivação, alienados do ato de aprender aqui e agora.

O currículo é um tema que muito preocupa os profissionais de educação. A necessidade de atualização para acompanhar as mudanças educacionais do mundo contemporâneo e a flexibilidade necessária a todo programa de ensino, levam os professores e alunos a apresentarem, ainda hoje, os mesmos problemas escolares de tempos atrás, pois, principalmente, os professores não conseguem acompanhar a evolução pela qual passa o mundo fora da sala de aula. A escola continua trabalhando com práticas desatualizadas que afetam o desempenho tanto dos professores quanto dos alunos. Alguns professores ainda tentam desenvolver um trabalho diferenciado do que é imposto (sugerido) pela escola, mas, no final, acabam agindo da mesma maneira de sempre por causa do sistema.

A palavra currículo remete-nos a uma outra de tamanha abrangência e complexidade nas escolas brasileiras: a autonomia. Paulo Freire (1996: 59) diz: o respeito à autonomia e à dignidade é um imperativo ético e não um favor que podemos

ou não conceder uns aos outros. Quando se dá espaço à autonomia na elaboração dos

currículos escolares, chegamos de forma bem próxima da liberdade para trabalhar de acordo com o contexto onde aquele curso será desenvolvido. Retorno à questão do conhecimento necessário para ensinar; ele é a mola mestra para que o professor possa desenvolver seu trabalho com autonomia e dignidade. Esta autonomia também é construída com a prática e a experiência que são adquiridas ao longo do desempenho profissional.

A autonomia me faz lembrar outro ponto muito importante no desempenho do professor, que é a competência. De acordo com Sacristan (2000: 244)

A competência dos professores não está em planejar tarefas próprias ou escolher a partir de um conhecimento de um hipotético repertório muito amplo elaborado pela tradição e pelo conhecimento profissional coletivo. Tem a ver muito mais com sua capacidade para prever, reagir e dar solução às situações pelas quais transcorre seu fazer profissional num campo institucionalizado.

Sua competência profissional se expressa melhor no como

enfrenta as situações que lhes são dadas5. Trata de ver mais a originalidade no modelar pessoalmente as situações que já lhes são dadas prefiguradas ou ver como se choca com elas, driblando os limites impostos ou adotando uma posição de submissão.

O autor mostra-nos que o binômio competência e autonomia estão intimamente relacionados. No desenvolvimento das atividades, automaticamente, uma suscita a outra. A autonomia para escolher ante o que já está institucionalizado e a competência para modelar o programa oficial de acordo com a sua realidade. O professor trabalha em condições que lhe permitem certa flexibilidade para desenvolver seu trabalho e fazer as escolhas. Durante o curso de formação, deve-se desenvolver competências necessárias para que o professor possa fazer suas escolhas e tomar decisões concretas e coerentes de acordo com a situação real de ensino-aprendizagem quando estiver assumindo uma sala de aula.

Segundo o Plano Nacional de Educação (BRASIL, 1997: ??), as autoridades educativas centrais (MEC) conceberam programas de ensino que são obrigatórios em todo o território nacional nas escolas públicas. Vejamos:

Está prevista a extensão da escolaridade obrigatória para crianças de s eis anos de idade, quer na educação infantil, quer no ensino fundamental, e a gradual extensão do acesso ao ensino médio para todos os jovens que completam o nível anterior, como também para os jovens e adultos que não cursaram os níveis de ensino nas idades próprias.

Ao elaborar o planejamento, o professor precisa incluir no seu plano de trabalho a lista de conteúdos e as sugestões metodológicas apontadas no plano nacional, sem esquecer a autonomia e o contexto. As sugestões dadas pelas diretrizes nacionais precisam prever a flexibilidade necessária ao planejamento do processo de ensino- aprendizagem, a fim de que esse processo possa executar as adaptações necessárias a fim de responder de maneira diversificada às realidades variadas que têm o ensino brasileiro. Quando trato de adaptação curricular, refiro-me à autonomia necessária à escola e aos professores na seleção e organização dos conteúdos; eles devem conduzir a

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adaptação curricular mantendo o núcleo básico de conteúdos sugerido pelas autoridades educacionais, considerando a importância dos mesmos no desenvolvimento educacional dos seus alunos. Os demais tópicos sugeridos (parte diversificada) devem ser trabalhados de acordo com a necessidade dos alunos, a cultura local, e conhecimento a respeito dos conteúdos que o professor tem.

O currículo do atual curso de Letras - Inglês que é abordado neste trabalho é uma mostra clara de autonomia educacional. Nele, o aluno pode escolher o que estudar de acordo com as disciplinas oferecidas e o seu interesse acadêmico a cada semestre. Essa autonomia pedagógica necessária à vida docente e discente também perpassou os professores quando da reforma universitária à qual foram submetidos os cursos de educação superior, pois o grupo que organizou esse novo curso ousou e transgrediu a proposta que lhes foi apresentada pelos órgãos setoriais, com a intenção de habilitar um profissional de Letras diferente daquele de anos atrás. Essa transgressão, no entanto, está vinculada à ética profissional que é imprescindível na atuação democrática que deve existir em todo ambiente acadêmico. O respeito à hierarquia foi cumprido, porém, o desejo comum daquele grupo de formar profissionais mais conscientes e com melhores condições acadêmicas/profissionais de assumir uma sala de aula foi tida como prioridade.

Um dos objetivos deste trabalho pretende investigar as concepções sobre o curso de formação de um grupo específico de professores. Sendo assim, acho conveniente falar um pouco de um tema que muito angustia os professores formadores: o método.