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Como avalia o processo de financiamento com base nos seus pontos fortes e

CAPÍTULO 5 VISÃO DOS AGENTES SOBRE A GESTÃO PÓS-FOGO REALIZADA EM PORTUGAL:

5.2. Casos de estudo

5.4.1. Visão dos agentes sobre o processo de financiamento da gestão pós-fogo

5.4.1.3. Como avalia o processo de financiamento com base nos seus pontos fortes e

Foi pedido aos agentes para avaliarem o processo de financiamento da gestão pós-fogo e identificarem pontos fortes e fracos deste processo. Apenas três agentes não apresentaram qualquer tipo de respostas. As avaliações foram muito diversas o que demonstra a diversidade de

opiniões e de visões existentes sobre um mesmo assunto. Sete agentes utilizaram adjetivos para avaliar o processo de financiamento. Os adjetivos utilizados “extremamente importante”, “bastante positivo”, “relativamente bem adequado”, “exigente” demonstram que o financiamento é necessário pois permite a realização de intervenções no terreno que de outro modo não seriam realizadas, havendo uma divisão de visões sobretudo ao nível do modo como este é realizado. Por sua vez, adjetivos como “insuficiente” “mau”, “mal” que também foram utilizados poderão demonstram que este financiamento não está a ser suficiente para os fins que são pretendidos. O tempo que demora todo o processo é o ponto fraco mais identificado pelos agentes (N=17) que leva inclusive alguns agentes a referir que as intervenções quando chegam ao terreno já estão desajustadas das necessidades existentes como é possível verificar através dos seguintes discursos:

“A experiência que eu tenho (…) é que aquilo que era chamado estabilização de emergência, com os timings e as exigências da autoridade de gestão na altura, fazia com que (…) estamos a falar de um incêndio que ocorre no verão e o ideal era que fosse intervencionado antes das chuvas e isso, realmente, da experiência que eu tenho é que, esse em 2012 as coisas aconteceram, aconteceram já um bocado fora de tempo. (…) E portanto a forma como a decisão das candidaturas acontecia já saía um bocadinho fora da necessidade.” (agente regional 1)

“A estabilização de emergência devia ter sido feita no próprio ano, até às primeiras chuvas, devíamos ter feito a estabilização de emergência, não foi feito, foi feito no ano a seguir. (…) Depois naquela altura já devíamos estar a tomar outras medidas, já devíamos estar a cortar as árvores que estavam secas já se sabia o que estava seco, o que é que tinha morrido, o que é não tinha morrido, devíamos ter tido medidas para tirar a cortiça queimada caso fosse necessário, devíamos estar a reflorestar se fosse o caso, (…) estávamos a fazer estabilização no terreno ainda. (…) Exatamente achei que já não era adequado, já não era o tempo, devia ter sido antes, bem antes.” (agente local 4)

Um outro ponto fraco também bastante identificado (N=14), e que está diretamente relacionado com o anterior, é todo o processo burocrático que é necessário desde a ocorrência do incêndio até a sua efetiva realização das intervenções no terreno pelos promotores e executores das propostas aprovadas, sendo salientado por alguns agentes a mudança de regras a meio do processo o que ainda torna o processo mais burocrático. Um processo que deveria ser célere, sobretudo ao nível

da estabilização de emergência, está dependente de burocracias e prazos diretamente relacionados com o código de procedimentos administrativo, e a processos de contratação pública, quando os promotores são entidades pública. Esta situação não se coaduna com a necessidade de intervenção no terreno. A falta de monitorização e de avaliação dos resultados efetivos do financiamento é um ponto fraco também mencionado por alguns agentes (N=7), o que demonstra que não são conhecidos os resultados reais obtidos com o investimento realizado e que poderiam servir para melhorar o processo. A liquidez financeira necessária para a realização da intervenção é um aspeto mencionado por cinco agentes. O financiamento ao ser realizado por reembolso implica que os promotores têm que ter meios para efetuar a intervenção o que nem sempre se coaduna com o tipo de promotor que se pode candidatar a este tipo de financiamento (ex. CM; OPF; JF), para além do fato de terem que suportar o IVA das intervenções o que para algumas entidades pode ser incomportável. Dificuldade/limitação ao nível do planeamento das intervenções com base nas orientações (REE e PRODER) e território existente é referido por quatro agentes locais, embora com escalas de intervenção diferentes como é possível ver pelos seguintes excertos:

“(…) O relatório [Relatório de estabilização de emergência] não identifica as ações no terreno, identifica tantos quilómetros de rede viária, mas não diz qual é o ponto da rede viária e depois a associação pode entender que na minha candidatura os 10 quilómetros são necessários, mas existem mais 10 candidaturas que também podem identificar.” (agente local 2)

“E de muitas vezes serem situações também avulsas… Arde toda uma encosta e a candidatura é feita para um terço… num canto… quer dizer… a erosão vai-se fazer sentir em toda a encosta, independentemente do regime de propriedade, não é?” (agente local 9)

Outros pontos fracos identificados foram a falta de continuidade do investimento; processo desmotivador; complexidade dos processos para entidades que não têm recursos humanos e financeiros para fazer candidatura (p. ex. JF, CM); não ser necessária existência de alvará florestal das empresas para que as intervenções sejam mais especializadas; a necessidade de identificar as propostas de intervenção no parcelário; falta de campanhas de sensibilização junto dos proprietários sobre a necessidade de intervenção; falta de protocolo de intervenção com identificação de situações tipo e medidas tipo a serem adotadas; valores desajustados das necessidades; e falta de prestadores de serviço na área.

O ponto forte do processo de financiamento mais mencionado pelos agentes foi a possibilidade de intervir nas áreas ardidas, referido por 10 dos 15 agentes que identificaram pontos fortes. O facto do ponto forte mais mencionado ser mencionado por menos de metade dos agentes que conhecem o processo de financiamento da gestão pós-fogo (N=22), poderá ser demonstrativo de que os resultados que são obtidos com a gestão pós-fogo que vem sendo realizada com recurso a financiamento não estão a surtir efeitos que demonstrem a sua importância. Outros pontos fortes identificados, mas apenas por um agente foram: a diversidade e multiplicidade de investimentos que têm sido realizados permitindo a identificação de bons e maus resultados obtidos com os investimentos realizados; investimentos que têm um retorno elevado; a criação de povoamentos ordenados e o rápido reembolso do investimento; valores pagos ajustado às necessidades; envolvimento do ICNF na gestão das áreas públicas; e facilidade em arranjar prestadores de serviços.

Fazendo uma relação entre os pontos fortes e fracos também se verifica que há aspetos que uns agentes consideram fortes e outros consideram como fracos. São exemplo os valores pagos e a (não) existência de prestadores de serviços. Esta situação poderá estar relacionada com as condições naturais e diversidade geográfica onde os trabalhos são realizados, demonstrando que a resposta face às necessidades existentes não podem ou não devem ser as mesmas.

Não obstante os pontos fortes e fracos identificados, as avaliações dos agentes demonstram que existe um caminho a percorrer e que existe margem para haver evolução ao nível dos montantes investidos e das políticas existentes atualmente como é possível verificar através dos excertos seguintes.

Montantes investidos

“(…) Em função dos grandes incêndios aparece concursos para a estabilização de emergência, (…) por regra aquelas dotações que não são grandes nunca são gastas na sua totalidade, na aprovação e muito menos são gastas no pagamento, nos pagamentos.” (agente nacional 3)

“(…) Enquanto que na agricultura nós vamos no décimo aviso para investimento na atividade agrícola, nós na floresta tivemos 1 concurso. E as candidaturas não estão aprovadas, não é? A floresta é sempre o parente pobre da agricultura, isso

é o que nós sentimos que na agricultura estão sempre a abrir os montantes do investimento.” (agente local 2)

“Em termos de verbas disponibilizadas, acho que tem sido suficiente, em termos de operacionalização voltamos sempre à mesma questão, é que a quebra de quadros comunitários, o curto prazo, não existe um planeamento a médio, longo prazo, e isto para a floresta não pode existir.” (agente local 18)

Políticas existentes

“(…) Acho que o investimento é muito pulverizado, (…) mas tem a ver com a própria forma como está definido, ou seja, muitas vezes o financiamento não é muito visível. (…) a forma de aceder ao financiamento é uma forma de quem tem a iniciativa, (…)” (agente regional 1)

“(…) A questão é que as coisas, tirando alguns exemplos e poucos, são feitos estes casos [projetos financiados], de resto tantos milhares de hectares que arderam, não vejo uma política assertiva nisto e temos de fazer muito caminho.”

(agente local 7)

“Acho que é bem-intencionado, mas mal aplicado, mal-executado.” (agente local 13)

“(…) Na maior parte dos sítios é para, a eficácia é nula, porque as operações que são feitas, como disse são chapa 4, e é a sementeira de cobertura em todo o lado, e cortar o material arbóreo que ardeu, não há uma efetiva recuperação do território que seja para que fim for, não é, isso do ponto de vista, acho que os relatórios são pouco ambiciosos, e as candidaturas só cobrem aquilo que está previsto em… (…). No relatório, sob o ponto de vista, acho que são más candidaturas.” (agente local 20)

Para além das avaliações foram também apresentadas alterações que os agentes acham que devem ocorrer e que podem ser importantes para minimizar pontos fracos do financiamento público para a gestão pós-fogo. Essas melhorias consistem na existência de equipas que vão para o terreno e fazem a avaliação e intervêm no terreno de forma independente (agente nacional 1) mas onde há necessidade de envolver os diferentes agentes que intervêm sobre o mesmo território (agente

regional 4) o que permitirá a definição de planos de intervenção mais ambiciosos (agente local 20) à escala espacial e temporal.

“Eu via isto mais como umas “brigadas” autónomas, que até poderiam ser financiadas mas fora desta necessidade de estar a submeter um projeto e… não sei se me estão a perceber?” (agente nacional 1)

“(…) Porque a avaliação é muito importante de facto seja a nível daquilo que está associado aos fatores de risco e aí eu penso que se deveria haver o contributo de todas as entidades que fazem a investigação. (…) Nós temos várias entidades sobre as áreas ardidas, cada um faz a sua avaliação. (…) Nunca há a conjugação disto, nós depois em 15 dias temos que ter relatórios de estabilização de emergência que vão implicar o investimento de milhões à frente. (…) E é assim, se tem que ser mobilizado, tem de ser mobilizado toda a gente…” (agente regional 4)

“(…) Falta de ambição nos planos que deviam ser mais abrangentes.” (agente local 20)

A implementação destas sugestões por sua vez permitem a existência de intervenções com escala (agente regional 1) e que sejam aplicadas as operações mais adequadas e estudas as realidades existentes (agente regional 3).

“(…) Que o investimento fosse canalizado em ter uma escala maior, mas a forma como o financiamento existe…” (agente regional 1)

“(…) Identificar quais são as medidas e as operações adequadas, não financiar qualquer medida apenas porque ela se adapta ou está próxima do título dessa medida, aumentar o critério, acho que é isso, e esse critério aumenta-se com conhecimento e com tecnicidade.” (agente regional 3)

Por outro lado, são indicadas possibilidades que incidem diretamente no processo de financiamento e que podem conduzir a uma intervenção mais rápida no terreno.

“Há uma emergência, o governo assumiu que há uma emergência (…) então tem que haver algum fundo. Não é muitos milhões mas alguns, fundo para questões urgentes, não é? E depois a questão como é que se operacionaliza? Sim, não é

bem um concurso público era aquilo que eu dizia, consultas, orçamentos sim senhora. Avalie-se quem é que faz quem é que consegue fazer aquilo…” (agente nacional 1)

“(…) Acho que esse financiamento público deveria também ter ou haver financiamento interno, só português que não tivesse dependente de regras comunitárias, que são regras mais abrangentes e que provavelmente terão outros mecanismos diferentes (…)” (agente local 3)

“Falando no pós-fogo, claramente a estabilização de emergência, teria, na minha opinião, de ter desde logo um procedimento mais expedito, que passaria logo por dar a garantia de que as intervenções… as intervenções feitas, mesmo sem o formalismo da candidatura, eram despesas elegíveis, na minha opinião bastaria essa garantia.” (agente regional 1)

“(…) Se nós temos instituições públicas que nos garantem que aquela área ardeu… se… com uma rápida visita ou até com instrumentos de visualização por satélite como temos agora, com o Sentinela ou o Copernicus… que nos permite aferir a severidade do fogo naquele local e sendo… pelo menos com o modelo digital do terreno ou com o mapa de declives sabemos que aquelas zonas irão dar problemas, não é? É fácil de aprovar, ou mesmo propor… intervenções com uma tipologia específica para aqueles locais. Portanto, não é preciso muito, não é precisa muita burocracia para isso acontecer.” (agente local 9)

“(…) A aprovação da candidatura deveria ser mais rápida, não sei quais são depois quais são os critérios para análise das candidaturas, …” (agente local 16)

Em suma, a articulação de todas estas sugestões poderá permitir, a existência de uma rápida intervenção no terreno (agente local 4), um acompanhamento ao longo do tempo de todo o trabalho desenvolvido (agente local 14) e que ajudam a concretizar as outras duas melhorias que foram sugeridas.

“(…) Acho que se devia começar imediatamente.” (agente local 4)

“(…) Acho que se tem de agilizar mais, e que deveria haver esse cuidado em permanência, não é só na altura em que existe um embate mediático, mas

durante o processo praticamente todo até estar terminado, deveria existir esse cuidado, é a minha opinião.” (agente local 14)

5.4.2. Visão dos promotores e executores sobre a operacionalização da gestão pós-fogo