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Recomendações para uma política de gestão pós-fogo para Portugal

CAPÍTULO 7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

7.3. Recomendações para uma política de gestão pós-fogo para Portugal

Da investigação realizada, a gestão pós-fogo surge como uma oportunidade para o desenvolvimento sustentável da floresta. Como tal, a política de gestão pós-fogo a desenvolver em

Portugal deve estar enquadrada com a estrutura conceptual proposta nesta investigação, e que se divide em duas fases temporais, com objetivos específicos diversos, com escalas temporais distintas (Figura 7.1).

Figura 7.1 – Esquema metodológico para a gestão pós-fogo em Portugal Curto prazo (Do tempo 0 a <1 ano):

Ainda durante o fogo rural ou imediatamente após a sua ocorrência, os principais agentes nacionais, regionais e locais com responsabilidades sobre a área afetada pelo fogo rural e as áreas onde possam existir riscos decorrentes da ocorrência do fogo rural devem ser envolvidos no processo. Estes agentes em conjunto devem identificar os objetivos pretendidos para a área ardida e o meio envolvente para o curto, o médio e longo prazo (Figura 7.1). Estes agentes devem acompanhar todo o processo evolutivo da gestão pós-fogo. Simultaneamente, e à semelhança do que acontece nos Estados Unidos da América (EUA) e na Galiza, deve haver uma equipa de especialistas ou técnicos com conhecimentos para o efeito, que avaliem a área ardida no sentido de identificar os potenciais riscos existentes e identificar as áreas prioritárias de intervenção. Com base na avaliação da área ardida, realizada pelos especialistas, e nos objetivos, definidos pelos agentes nacionais, reginais e locais deve haver uma concertação de objetivos para planear e implementar no terreno as intervenções nas áreas consideradas prioritárias face à realidade existente (Figura 7.1). Todo este procedimento de avaliação e operacionalização da estabilização de emergência deve ser célere e não estar dependente de processo burocráticos. Paralelamente,

Equipa de especialistas em avaliação da área ardida Concertação de objetivos para o curto prazo Tempo 0 Planificação e operacionalização da Estabilização de emergência Equipa de especialistas em regeneração e restauro florestal avaliação da recuperação da vegetação Monitorização e avaliação dos resultados Concertação de objetivos para o médio e longo prazo Plano de gestão para toda a área

ardida Monitorização e avaliação dos resultados ≈ 1 ano ≈ 5 ano Fundo de Emergência Financiamento do PDR Análise custos e benefícios Análise custos e benefícios Equipa de Agentes Nacionais, Regionais e Locais

- Define os objetivos para a área ardida e sua envolvente e devem acompanhar o processo de gestão pós-fogo no curto, medio e longo prazo.

Gestão florestal

este processo tem que ser independentemente do regime de propriedade (propriedade pública ou privada) à semelhança do que se realiza na Galiza, alegando a preservação de bens públicos (solo, povoações em risco, contaminação do abastecimento de água, etc.).

Para o efeito deverá existir:

1. A identificação dos agentes a ser envolvidos no processo de gestão pós-fogo e que quando há ocorrência de incêndios devem formar uma equipa de agentes nacionais, regionais e locais que definem os objetivos para a área ardida e sua envolvente. Estes agentes devem acompanhar o processo de gestão pós-fogo no curto, médio e longo prazo, sendo responsáveis pelas decisões, com base nos resultados obtidos na monitorização das intervenções e avaliando os possíveis custos e benefícios que advém das intervenções. Na Galiza e nos EUA, são várias as entidades que colaboram com as equipas que estão a coordenar a gestão pós-fogo. Para Portugal é proposto que esta equipa tenha representantes do ICNF (nacional e regional); Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF); Entidade Gestora do Programa de Desenvolvimento Rural; Agência Portuguesa do Ambiente (APA); Estradas de Portugal; CM; Associações florestais; Outras Associações Locais; Empresas da área florestal, e representantes de proprietários florestais, entre outros.

2. Uma equipa de especialistas pluridisciplinar (capazes de avaliar a severidade do fogo ao nível do solo, das plantas, o enquadramento da área da bacia, entre outros) que esteja disponível para avançar com a avaliação da área ardida imediatamente após a ocorrência do fogo rural. Esta equipa deverá também ser responsável pela planificação, acompanhamento e monitorização das intervenções de estabilização de emergência. Esta equipa deverá ser composta por especialistas em solo, em análise da severidade do fogo no solo e nas plantas, hidrólogos, entre outros. Tanto nos EUA como na Galiza a equipa de especialistas que fazem a avaliação da área ardida, planificam e acompanham a estabilização de emergência são equipas financiadas pelos Serviços Florestais do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América (USDA Forest Service), no caso dos EUA e pelo Governo Regional da Galiza.

3. Financiamento próprio para estabilização de emergência que esteja disponível no imediato e que permita a rápida operacionalização das intervenções. Tanto nos EUA como na Galiza existe financiamento específicos para a estabilização de emergência e que é disponibilizado

rapidamente para que as intervenções sejam rapidamente realizadas. Em Portugal, deverá existir um Fundo de Emergência, semelhante ao Fundo de Emergência Municipal, mas de âmbito nacional e disponibilizado rapidamente após o incêndio.

4. Existência de acordos ou mecanismos que permitam a rápida contratação de empresas para operacionalizar as intervenções no terreno, não estando dependente de longos e morosos processos de contratação. No caso da Galiza, são as empresas públicas que realizam este trabalho, enquanto agentes envolvidos no processo de estabilização de emergência.

5. Definição de uma estrutura de monitorização que permita avaliar os resultados obtidos com a realização da intervenção de estabilização de emergência ao longo do tempo. Esta monitorização deverá ser planeada e realizada ou orientada pela equipa de especialistas pluridisciplinar que poderá adotar uma metodologia semelhante a aplicada na Galiza. Na Galiza a monitorização da estabilização de emergência aplica uma metodologia é realizada periodicamente seguindo um processo semelhante ao adotado ao nível do desenho experimental realizado no âmbito da investigação científica.

Médio e longo prazo (1 ano a ≈ 5 anos):

Uma vez concluído o processo de estabilização de emergência e com base na sua monitorização, deve haver uma avaliação da recuperação da vegetação realizada por especialistas nesta matéria. Com base na avaliação da recuperação e nos objetivos definidos pelos agentes nacionais, regionais e locais para a área ardida e sua envolvente, deve ser traçado um plano de gestão para toda a área que acautele os diferentes interesses existentes (floresta de produção, floresta de conservação e proteção, entre outros…), e a sua articulação com a defesa da floresta contra incêndios. Nos anos seguintes deve haver um acompanhamento do estado evolutivo do ecossistema e devem ser realizadas as operações silvícolas que permitam aumentar a maturidade da floresta, da paisagem envolvente e a promoção de floresta sustentável e resiliente aos fogos rurais. Tendo em atenção que a propriedade florestal é na sua grande maioria propriedade privada, o plano de gestão para a área ardida deve ser amplamente divulgado localmente, sendo importante a consciencialização da importância da intervenção e incentivo para a participação dos proprietários na sua operacionalização. Os Programas de Desenvolvimento Rural podem ter aqui um papel importante ao financiarem intervenções. No entanto, o financiamento deve estar direcionado para áreas específicas onde a intervenção a realizar tenha escala e continuidade. Tendo em atenção que a

floresta e os seus ecossistemas estão em evolução constante, o processo de avaliação e aprovação das candidaturas deve ser mais célere, para que estas quando financiadas estejam adequadas à realidade existente.

Durante o processo de gestão pós-fogo, deve haver uma avaliação dos custos e dos benefícios que vão sendo obtidos ao longo do tempo no sentido de poder avaliar o esforço financeiro existente com a gestão pós-fogo e o retorno deste investimento.

As intervenções, quando financiadas, devem ter um plano de monitorização que permita ao longo do tempo quantificar os resultados obtidos com a gestão pós-fogo realizada. A equipa que realiza a estabilização de emergência fica responsável pela monitorização deste tipo de intervenção, sendo as despesas suportadas pelo financiamento próprio para estabilização de emergência.