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Visão dos promotores e executores sobre a operacionalização da gestão pós-fogo

CAPÍTULO 5 VISÃO DOS AGENTES SOBRE A GESTÃO PÓS-FOGO REALIZADA EM PORTUGAL:

5.2. Casos de estudo

5.4.2. Visão dos promotores e executores sobre a operacionalização da gestão pós-fogo

5.4.2.1. Que medidas foram realizadas?

A informação fornecida pelas agentes locais mostra que, nos sete casos de estudo, foram implementadas em encostas, linhas de água e caminhos 19 medidas diferentes (Tabela 5.3). A intervenção em caminhos foi realizada em seis projetos transversais ao investimento contemplado na subacção 2.3.2.1. do financiamento PRODER. Algumas medidas foram específicas de todas as intervenções de estabilização de emergência, nomeadamente barreiras de resíduos florestais; limpeza, desobstrução e construção de valetas; e limpeza e desobstrução dos leitos das linhas-de- água, aquedutos e passagens hidráulicas. Cerca de 50% das medidas foram apenas utilizadas em uma proposta de projeto (Tabela 5.1). A plantação ou adensamento foi realizado em todos a projetos de restabelecimento do potencial silvícola de áreas afetadas pela ocorrência de incêndios ou agentes bióticos nocivos na sequência de incêndios. A sementeira ou instalação de culturas melhoradoras do solo é uma atividade que tanto foi realizada em estabilização de emergência como em restabelecimento do potencial silvícola de áreas afetadas pela ocorrência de incêndios ou agentes bióticos nocivos na sequência de incêndios. A seleção das medidas de estabilização de emergência foi efetuada com base nas medidas identificadas nos REE produzidos no ICNF para incêndios superiores a 750 ha.

A recolha de informação relativamente aos custos necessários para a realização de cada uma das medidas não foi possível, uma vez que a informação facultada pelos agentes era muito incompleta e limitada (ex. se indicavam número de recursos humanos total não indicavam número de horas de trabalho; indicavam o tipo de equipamento necessário e o custo de uma hora de equipamento mas não indicavam o número de horas total, indicação de valores tabelados para realização deste tipo de trabalhos, etc.). A falta de informação é sobretudo justificada pelo facto do trabalho já ter sido realizado há alguns anos e não saberem ao certo os meios necessários para a realização de cada medida.

Os agentes referem que as propostas de estabilização de emergência foram implementadas em média 20 meses após os incêndios. A morosidade para a implementação dos projetos está

relacionada com questões burocráticas do financiamento PRODER, onde o tempo entre o incêndio e a aprovação dos projetos levou pelo menos 5 meses e também a burocracia associada aos processos de contratação pública. Na realidade, a operacionalização mais rápida do projeto no terreno ocorreu 14 meses após o incêndio, num caso em que o promotor era um proprietário florestal individual que está isento do processo burocrático da contratação pública. No respeitante às medidas de médio e longo prazo, ou seja, de restabelecimento do potencial florestal nos três casos selecionados, a implementação só começou pelo menos oito anos após a ocorrência do incêndio, o que segundo o modelo de gestão pós-fogo apresentado no Capítulo 2, estará a ocorrer alguns anos após o que seria esperado.

Tabela 5.1 - Síntese das medidas de gestão pós-fogo realizada nos sete casos de estudo

Medidas

Número de projetos Tipologia de intervenção

EE R RP RHF

Aplicadas em encostas

Barreiras de resíduos florestais 4

Rompimento da camada superficial do solo 1

Remoção de material queimado 1

Aproveitamento da regeneração natural 1 1

Plantação ou adensamento 1 1 1

Podas (formação e sanitárias) e seleção de varas 1 1

Gradagem 1 1

Sementeira ou instalação de culturas melhoradoras do

solo 1 1 1

Tratamentos fitossanitários 1

Instalação de cercas 1

Aplicadas em linhas-de-água e caminhos

Beneficiação da rede viária (ex. utilização de

maquinaria pesada) 4 1 1

Limpeza de caminhos (manual ou moto-manua) 1 Limpeza, desobstrução e construção de valetas 4

Consolidação de encostas e taludes 1

Consolidação das margens das linha-de-água 1 Limpeza e desobstrução dos leitos das linhas-de-água,

aquedutos e passagens hidráulicas 4

(Re)construção de valas de drenagem 3

Obras de correção torrêncial 2

Lagoa de retenção de sedimentos 1

Legenda: EE – Estabilização de Emergência; R – Reflorestação; RP – Reabilitação de povoamentos; RHF – Reabilitação de habitats florestais

Os agentes fazem uma avaliação negativa relativamente à duração do período entre a ocorrência do incêndio e a realização das operações no terreno, uma vez que 93% consideram que todas as

operações deveriam ter sido implementadas mais cedo. Oito dos 14 entrevistados referiram que as medidas financiadas já não eram as mais adequadas, no momento da sua implementação. Isso foi evidente nos projetos de estabilização de emergência, especialmente nas medidas para evitar a erosão do solo nas encostas, mas também para as medidas de médio e longo prazo. As medidas de médio e longo prazo mais rapidamente implementadas foram medidas relacionadas com a rentabilidade económica do povoamento florestal, como pinheiro manso e medronheiro.

5.4.2.2. Quais os pontos fortes e fracos do financiamento das propostas de projetos selecionadas como casos de estudo?

Os agentes (12 em 14) consideram que o principal ponto forte do processo da candidatura das propostas de projetos selecionadas como casos de estudo foi a possibilidade de intervir na área ardida. Quatro dos sete agentes promotores mencionaram as intervenções realizadas são visíveis, em particular as medidas aplicadas ao nível das infraestruturas (p. ex. reparação de caminhos florestais, valas).

Os agentes apresentaram menos dificuldade na identificação dos prontos fracos, destacando as limitações no processo e na implementação dos projetos. Para os dois tipos de agentes (promotores e executores), havia duas grandes limitações: i) o tempo entre a submissão do projeto e a implementação real das medidas, mencionada por 64% dos entrevistados; e ii) a burocracia associada ao processo, mencionada também por 64% dos agentes. Os promotores também identificaram como pontos fracos a ausência de continuidade do financiamento para manter as medidas necessárias, tais como limpeza de caminhos florestais e de leitos de cursos de água ou combinar medidas de estabilização de emergência com as intervenções florestais futuras (N=3); as limitações financeiras dos promotores para realizarem o investimento inicial (N=2); a falta de avaliação e monitorização das medidas (N=2); e a necessidade de autorização dos proprietários para implementar medidas em áreas privadas e o risco de não financiamento do projeto (N=1). Os executores mencionaram como limitações adicionais a estimação dos custos para a implementação das medidas uma vez que nem todo o território apresenta as mesmas características (N=2); e as dificuldades para identificar onde aplicar certas medidas (N=2).

5.5. Discussão