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Gestão pós-fogo vs políticas, estratégias e instrumentos de gestão do território

CAPÍTULO 3 A VALORIZAÇÃO DA GESTÃO PÓS-FOGO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS NACIONAIS:

3.2. Metodologia

3.4.1. Gestão pós-fogo vs políticas, estratégias e instrumentos de gestão do território

média a DFCI, e consideram que o combate é mais valorizado que a prevenção e a gestão pós-fogo o que poderá ser explicado pelo facto de aquando da ocorrência de fogos rurais haver uma mobilização total de meios de combate e as intervenções de gestão pós-fogo materializadas sobretudo na remoção de madeira queimada e dos sobrantes florestais, na reflorestação e na regeneração natural (Ribeiro et al. 2011; Ribeiro et al. 2013).

O facto de desde 2009 até à atualidade terem sido produzidos 120 Relatórios de Estabilização de Emergência (REE), relatórios produzidos para incêndios com áreas superiores a 750ha, demostra que a ocorrência de incêndios de grandes dimensões é uma realidade que está a afetar o nosso território. Por sua vez, a maioria dos entrevistados considera que gestão pós-fogo não está a ser valorizada e cerca de um quarto considera que após incêndio nada é realizado na área ardida. A gestão pós-fogo não é considerada ou ocupa uma área reduzida nos documentos referentes gestão territorial e nas estratégias e programas ambientais e de desenvolvimento rural. Por outro lado, os agentes entrevistados têm dificuldade em identificar a importância atribuída a gestão pós- fogo nos IGT relacionados com o recurso água (PNA, PGRH e PGRI). Esta situação poderá ser explicada pelo facto da maioria dos agentes entrevistados estarem ligados a atividades relacionadas com a floresta e cumulativamente com o facto de existir pouca informação sobre as consequências pós-fogo nos ecossistemas aquáticos.

Os agentes entrevistados consideram que a importância da gestão pós-fogo nos IGT varia entre muito baixa e alta. A maioria considera que deveria ser atribuída uma importância superior à gestão pós-fogo, o que poderá ser justificado pelo facto dos agentes entrevistados trabalharem diretamente nesta área e, como tal, considerarem que a importância que lhe está a ser atribuída não é suficiente. Por sua vez, também poderá ser indicativo de que existe um problema e que este pode ser resolvido ou minimizado através da gestão pós-fogo. Segundo Carvalho & Simões (2018), o reconhecimento social da existência de um problema pode representar o início de um processo de decisão ao nível das políticas públicas. Neste sentido, a visão dos agentes relativamente à importância que a gestão pós-fogo deveria ocupar nos IGT evidencia a necessidade de ajustar as

políticas de ordenamento do território, face à dimensão de área ardida nos últimos anos e à necessidade de intervir nesses territórios.

Os IGT que abordam o tópico gestão pós-fogo fazem-no essencialmente em duas vertentes: uma de restrição de intervenções na área ardida, e outra de identificação das áreas percorridas por incêndios, o que demonstra que o conceito de gestão pós-fogo presente nas questões de ordenamento está muito alocado à questão espacial (área) e às restrições de intervenção não havendo indicação relativamente ao modo como a gestão pós-fogo, num primeiro momento, e a gestão florestal, num segundo momento, deve ser ordenada no território. P. ex. Os regulamentos dos PDM’s para as áreas urbanas indicam algumas caraterísticas físicas para diferentes espaços, situação que não se verifica ao nível das florestais ardidas.

Já os instrumentos financeiros dos programas de desenvolvimento rural focam vários aspetos da gestão pós-fogo, como sejam a recuperação das áreas ardidas (a curto, médio e longo prazo) com recurso a técnicas ou intervenções adequadas, a minimização dos impactos a utilização de procedimentos que permitam o envolvimento de agentes (ex. ZIF) ou até mesmo os custos associados, sendo que este tipo de informação não é abordada nos outros documentos analisados. Não obstante esta realidade, os IGT deveriam apresentar algumas orientações relativamente ao (re)ordenamento das áreas rurais (espaços florestais) que serviria de base no caso da ocorrência de fogos rurais. Por sua vez, as orientações para as área florestais, principalmente os PROF deveriam ter algumas indicações claras ao nível da importância da estabilização de emergência e do (re)ordenamento e gestão das áreas florestais que fossem implementados após a ocorrência de incêndios no sentido de tornar estes espaço mais resilientes a incêndios futuros.

3.4.2. Gestão pós-fogo vs gestão florestal

A gestão pós-fogo ocupa uma área reduzida nos documentos de política do setor florestal de âmbito nacional e regional, evidenciando que a gestão pós-fogo não é um elemento central na política do setor florestal, nem na DFCI, à semelhança do que já tinham discutido autores como Valente & Coelho (2013) e Mateus & Fernandes (2014). Esta realidade é também percecionada pelos agentes do setor florestal entrevistados que consideram que a política de DFCI atribui mais importância à componente do combate de incêndios do que à prevenção e à gestão pós-fogo. Não obstante esta realidade, os agentes entrevistados consideram que as políticas do setor florestal não atribuem uma importância muito alta à gestão pós-fogo, considerando que esta importância

deveria ser superior sobretudo ao nível dos PROF’s e dos Planos de DFCI. A perceção dos agentes relativamente aos PROF’s pode entretanto já ser um pouco diferente uma vez que os PROF’s atualmente em vigor, cuja redefinição do âmbito geográfico os reduziu de 21 para sete, foram aprovados após a realização das entrevistas. Nos PROF’s em vigor que integram a área dos casos de estudo, a gestão pós-fogo ocupa uma área do documento inferior à área ocupada nos PROF anteriormente em vigor. Esta situação poderá ser demonstrativa de uma desvalorização da problemática da gestão pós-fogo quando o âmbito de abrangência (escala da área) aumenta.

3.5. Conclusões

De um modo geral, as políticas nacionais não têm valorizado a gestão pós-fogo, apesar do reconhecimento pelos agentes que intervêm nesta área da necessidade desta valorização. A floresta, a DFCI e a gestão pós-fogo são tópicos inexistentes ou que ocupam áreas muito reduzidas nos IGT, nas EPADR. De um modo geral os agentes têm dificuldade em identificar a importância que a gestão pós-fogo tem ao nível dos IGT e das políticas do setor florestal e da DFCI, mas consideram que deveria ser atribuída maior importância do que a que tem atualmente. Da análise dos documentos e da visão dos agentes depreende-se que quando a escala de intervenção aumenta a gestão pós-fogo é menos valorizada, tanto ao nível das políticas do setor florestal e da DFCI, como dos IGT. A avaliação dos documentos de política pública, no que respeita à importância da gestão florestal pós-fogo, demonstra que há um longo caminho a percorrer, sendo esta componente apenas identificada em documentos do setor florestal. No entanto, a identificação por parte dos agentes entrevistados da importância alta que a gestão pós-fogo deveria ter na maior parte dos documentos analisados, evidência um potencial reconhecimento da necessidade de ação no pós- fogo, quer do ponto de vista da estabilização de emergência e da conservação do solo e da água, quer da recuperação da paisagem e do potencial produtivo das florestas.

CAPÍTULO 4

C

ONTRIBUTO DO

P

ROGRAMA DE

D

ESENVOLVIMENTO

R

URAL PARA A GESTÃO PÓS

-

FOGO

:

ANÁLISE DO FINANCIAMENTO

PRODER

4.1. Financiamento Europeu para a gestão pós-fogo em Portugal ... 48