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A GAM COMO DISPOSITIVO PARA ABERTURAS: participação política entre o cuidado

4- RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.3 A GAM COMO DISPOSITIVO PARA ABERTURAS: participação política entre o cuidado

Em quase todos os nossos encontros, conversamos sobre a história da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Essas discussões foram tensionadas pelo início da cartilha GAM e, inclusive, pela participação de Stela no grupo que melhor nos ensinou sobre a importância das nossas políticas públicas de saúde mental. Além de tudo, a criação do “Cine – GAM”, proposto em dois de nossos encontros, fora fundamental para desencadear movimentos políticos, no meio desses debates. Dessa forma, percebemos como outro analisador, o desdobramento da participação política das usuárias, ao atravessar reflexões e memórias sobre as propostas do movimento antimanicomial, construídas entre as afetações e intercessões dos encontros. Como descrevo a seguir em diário, para um início de conversa:

No início do grupo, algumas das participantes demonstraram ter certo conhecimento sobre o que seria a Reforma Psiquiátrica Brasileira, dado que relataram: “é um tratamento do paciente não mais no hospício”, “é um cuidado não mais aprisionador, sem tanta violência, como no filme daquela mulher”, onde questiono: “- da Nise da Silveira? ” E ela afirma: - “Sim”. Todavia, nesse conversar, para melhor nos explicar, Stella assume o seu lugar, gritando: “manicômios nunca mais! ” (Stella, participante GAM) e começa a falar sobre a sua história em períodos de internações em hospitais psiquiátricos tanto públicos como privados, alegando que os dias que permanecera nesses espaços, acordou suja, sem cuidados higiênicos, visto que mal tomava banho e que lhe ingeriram muitos medicamentos. Logo após a sua fala, ainda neste primeiro encontro, com o objetivo de tencionar a discussão, lhe pergunto: “- e acontece assim também no CAPS ou aqui no postinho? ” Ela nos afirma que não. Que é muito diferente. Nesse processo, ela se emociona bastante e a farmacêutica sai um pouco da sala com ela para um possível acolhimento. Achamos potente a presença de Stella no grupo, pois, ela conta para nós, outras mulheres presentes no grupo, que não passaram por esses lugares, nem por tamanhas violências nesse sentido, fazendo-nos perceber a importância do SUS, da RAPS e de outras formas de cuidado em saúde mental. Logo, Stella volta para a sala e Virginia sugere vermos o filme sobre a Nise da Silveira, para debatermos um pouco mais sobre a forma do tratamento asilar. Stella e todas as outras acham uma boa ideia e foi assim que nasceu o CINE – GAM. (...) em apenas um mês entre discussões no grupo, já chegávamos a acreditar que o movimento com a GAM no sertão do Seridó, abriria caminhos para resistências no SUS ao que se refere ao cuidado em saúde mental. Certamente, porque, em consequência das discussões anteriores sobre a Reforma Psiquiátrica, o grupo se mostrara ainda desejoso em conversar sobre as conquistas dos nossos direitos e junto dos relatos de Stella, discutíamos que, além de buscarmos compreender sobre os medicamentos psiquiátricos, estávamos ali para entender e refletir, igualmente, sobre as conquistas do movimento sanitário e antimanicomial. Assim, compreendendo que acontecimentos como os que Stella nos relatara, violam os nossos direitos, atualmente. (Pesquisadora GAM – registro de diário cartográfico).

A passagem de uma mulher e do seu corpo em denúncia das práticas manicomiais no grupo, produziu outros pensamentos e sensibilidades como intercessão para nós que não estivemos nesse lugar. Conectando, assim, sensíveis heterogêneos para pensar-se de que lado se está quando se pisa na rede de saúde e qual a importância de buscar entender como esse lugar se compõe. Stela deixou a cidade, mas não a grupalidade, pelos fluxos e movimentos que se abriram. Como descrevemos em diário de campo sobre a sua partida:

(...)no final desse encontro, Stella lacrimejando, se despede de nós, pois irá mudar de cidade e não poderá mais vir aos nossos encontros. Mas, antes de partir, ela pegou a cartilha GAM e a levantou com as mãos, afirmando: - vou levar isso aqui para o CAPS de Parnamirim! (Stela, participante GAM) cidade que ela passará a morar. Assim, sorrimos. E foi a partir daí, que também começamos a pensar nas aberturas que o GAM poderia proporcionar, por fazer movimentos, fluxos e informações possíveis, circularem. (Pesquisadora GAM – registro de diário cartográfico)

Stela já havia se mudado e não estava mais indo aos nossos encontros as quintas- feiras á tarde na UBS. No entanto, ao realizarmos o CINE – GAM, em que assistimos o filme “Nise – o coração da loucura”, ela se fez presente. Visto que após a passagem do longa-metragem, ao dialogarmos sobre nossas afetações, todas as participantes lembraram dos relatos dela e fizeram referências do filme com as suas realidades. Como observamos no trecho a seguir:

(...) ao lembrarmos de suas histórias, além de refletirmos sobre todas as violências que ela nos contava no grupo dentro de instituições de caráter manicomial, também acabamos refletindo sobre o conceito de “paciente”, que desencadeou numa discussão acerca dos nossos direitos enquanto usuárias do SUS, fazendo aparecer o quanto é importante o modelo de cuidado que acessamos em liberdade nos dias atuais. Outra coisa que nos chamou a atenção, nesse dia, foi a fala de Hilda, nos dizendo que a filha dela é muito inteligente, e que contou para ela sobre a lobotomia, procurando entender um pouco mais sobre. Isso nos demonstrou que, ela haveria levado os encontros para casa. Além disso, algo importante mencionado, foi a interligação de Judith sobre o uso das medicações no filme com a sua realidade, em razão dela se questionar: “os médicos com os quais a Nise enfrentou uma guerra no hospital, só receitavam remédios também, né? ”. (Pesquisadora GAM – Registro de diário cartográfico).

As intervenções de Stela e do primeiro “Cine – GAM”, entre outras discussões permeadas pelo grupo, ressoaram fortemente sobre a vida das participantes. Podemos observar isso, quando no ano de 2019 ao recebermos a notícia que o Ministério da Saúde fez alterações na RAPS, defendendo a ampliação de leitos em hospitais psiquiátricos e em comunidades terapêuticas, como também passando a financiar a compra de aparelhos de eletroconvulsoterapia. Dado que, em um certo dia, no meio desses noticiários,

observamos um movimento das mulheres que nos surpreendeu. Mais, esclarecidamente, descrevemos em diário o nosso motivo do sobressalto:

Recebemos uma mensagem de Virginia em nosso grupo de WhatsApp, dizendo: “- pessoal, vocês viram que desejam a volta dos manicômios? ”, publicando uma imagem sobre a nova nota técnica de saúde mental. Quando vimos essa mensagem, nos pareceu como um movimento de atenção sobre tudo que havíamos discutido nos encontros, ao que se refere a Reforma Psiquiátrica e um certo desejo em saber de que lado se estar. Logo menos, respondo que sim, que, infelizmente, o MS se posicionou dessa forma. Então, Virginia pergunta se no próximo encontro GAM, poderíamos discutir sobre isso, porque havia ficado confusa, em virtude de a psiquiatra que participou, algumas vezes, de nossos encontros, e é a médica de referência de muitas delas, publicou em sua página do Facebook uma mensagem defendendo essa reformulação na RAPS. Outras usuárias como Hilda, afirma que seria bom discutimos mesmo, pois, como assim, a psiquiatra que trabalhou com os “desmames” de suas medicações, no grupo para “desmame” de benzodiazepínicos, anterior ao GAM, se posicionava a favor das terapias de choque? Quando aprendemos, principalmente com Stela, que isso não era terapêutico, mas desumano. (Pesquisadora GAM – registro de diário cartográfico).

Assim, ao acolhemos os desejos das mulheres em buscar compreender esse retrocesso na política de saúde mental, o recurso do audiovisual fora, mais uma vez, usado como estratégia política. Deste modo, em um segundo “Cine – GAM”, assistimos o documentário sobre o hospício de Barbacena, o “Holocausto Brasileiro”. Após nos afetarmos com o longa informativo, elaboramos uma roda de conversa em que as discussões giraram em torno do poder médico psiquiátrico e as mudanças sociais que sua ascensão produziu ao longo da história. Também, conversamos acerca dos direitos que conquistamos na saúde pública com os movimentos sociais. Como registramos a seguir:

(...) nesse debate, a farmacêutica sinalizou que era muito interessante, que no documentário relatava, como antes a terapia de eletrochoque era algo para pessoas de classe média alta, e depois, passou a ser inserido para as pessoas de menos privilégios sociais. Então, ela fez a comparação: “é muito parecido com essas transformações de agora, não é? ”. Todas nós concordamos, também, trazendo à tona, sob a observação de Cecilia o fato das mulheres serem manicomializadas nesse passado, quando tidas como loucas por questões morais, sinalizando que isso também era algo ainda muito recorrente. Logo mais, Judith trouxe suas afetações, ao falar de sua história no período pós- parto, onde teve dificuldades ao acesso médico, na época (final dos anos 70) em que sua filha nasceu e precisou de cuidados em saúde, e nos diz, “antigamente, como pessoa pobre, o acesso era muito mais complicado”. Isso gerou, em uma discussão sobre as conquistas de nossas políticas públicas de saúde e o porquê o SUS é um direito que havíamos conseguido diante de muitas lutas sociais. Assim, complementando Judith, Frida afirma que “hoje em dia as coisas são modernas”, alegando que antigamente passava por “muito aperreio” para conseguir um atendimento na saúde pública. (Pesquisadora GAM – registro de diário cartográfico).

Entre essas discussões, nos pareceu que a ausência sobre o conhecimento dos seus direitos, lhes causam indignações, em razão de colocarem também que já passaram por

diversos tipos de negligência, quanto ao acesso a consultas médicas, tanto no hospital regional da cidade como na atenção básica. Assim, elas relataram:

(...) os profissionais de saúde sempre dão prioridade aos atendimentos a pessoas ricas e brancas que, quando essas pessoas chegam para um atendimento, pulam a fila que elas estão afirmando, ser isso, um costume recorrente. Judith, então, como mulher em idade de velhice, diz que aconteceu uma última vez em que ela foi se consultar, mas, que dessa vez, ela sabia dos direitos dela e “brigou” com a assistente, questionando, o porquê outra pessoa iria entrar na sua frente, quando ela estava na fila, e além de tudo, tem prioridade, pela idade? Assim, ela nos disse, que após isso, foi a próxima a ser atendida. (Pesquisadora GAM – Registro de diário cartográfico).

Entre essas discussões, além da forte presença de Stella se perdurar sobre a grupalidade com seus registros e histórias e observarmos as ressonâncias dos efeitos macropolíticos sobre os espaços micropoliticos no grupo, percebemos a importância política do cinema nos nossos encontros como um dispositivo gerador de potência que produziu criticidade e afetações nas participantes, interligando, as realidades dos filmes as suas existências sociais e subjetivas.

Scareli e Fernandes (2016) acreditam na estratégia do cinema como algo que não ajuda apenas a compreender os filmes e os seus diretores, mas, inclusive, o mundo do qual estamos inseridos, a partir do lugar político em que o espectador ocupa. Estando esse lugar atravessado pela sua capacidade inventiva de criar pensamentos, cotidianos e mundos. Assim, para os autores, o cinema é capaz de nos conectar, através de sensibilidades, com diferentes modos de refletir sobre as questões humanas.

Desta forma, apostamos na existência da dimensão sócio-política nas criações audiovisuais (CHAIA, 2009) e percebemos, igualmente, o seu caráter crítico e transformador. Ao pensarmos o cinema como uma “máquina de guerra” (DELEUZE; PARNET, 1998) pela sua potência de romper padrões, repetições, representações e promover experiências estéticas que afirmem a crença pela vida na aproximação com o real. Tal afirmação, implica que reconhecemos nas narrativas as ressonâncias que os “Cine – GAM” desdobraram na vida das usuárias, no qual as produções cinematográficas apareceram como uma estratégia política e interventiva, em que ao conectar sensibilidades, desdobrou modos de multiplicarmos pensamentos singulares de encontro com os nossos devires revolucionários.

Considerando, até então, essas interlocuções, terminávamos esses encontros, acreditando nas forças das micropolíticas e na potência do coletivo, visualizando práticas

de autonomia e participação política se emergindo. Uma vez que as participantes, entre os debates na GAM e junto, também, de experiências cinematográficas, ainda, buscavam compreender qual tipo de cuidado acreditavam. Como narramos a seguir:

(...) quando retomei a pauta sobre a nova nota técnica de saúde mental, as indaguei: - então, vocês são a favor ou não da volta dos hospitais psiquiátricos? Vocês acham que eles deveriam fazer parte do SUS que conquistamos? Na mesma hora, Virginia sugeriu: “- vamos estudar mais sobre! ”. Visto que afirmaram ainda estarem confusas. Então, após as intervenções cinematográficas sugerimos fazermos uma oficina no próximo encontro para pensarmos mais acerca do assunto... nos comprometemos em levar a nova nota técnica impressa, os direitos dos usuários, um pouco da história da reforma psiquiátrica e alguns cartazes para colocarmos nossas afetações... todas toparam! (Pesquisadora GAM – registro de diário cartográfico).

É importante ressaltar, que notamos essa autonomia vinculada a práticas cogestivas que vão se abrindo entre o grupo. Observamos isso, quando trabalhamos a parte da cartilha que se refere aos direitos dos usuários que fazem tratamento em saúde mental -, tema este muito necessário e pertinente, na medida que a maioria das mulheres demonstraram não ter conhecimento e logo, acesso a esses direitos -, e tais apontamentos vão ganhando transparências.De modo que ao relatarem dificuldades com a rede de saúde para com o atendimento psiquiátrico e denunciarem negligências referentes a invisibilidade do direito a esse acesso, também percebemos o quanto o grupo havia, cada vez mais, conectado fluxos autônomos cogerindo cuidado e protagonismo entre os participantes. Percebemos isso nestes enredos:

Tilda, Hilda e Judith, ao dialogarem, afirmaram que há mais de um ano não tem uma consulta com a psiquiatria, e que, por ausência de tal profissional no município, é difícil conseguir o atendimento. Então, Tilda traz como indagação e denuncia: - como conversar com o profissional sobre os seus medicamentos, pagando uma consulta? Numa consulta particular? E em resposta, Judith diz para Tilda, que percebe que atualmente não só pode contar com a psiquiatria em um momento de agravamento de sua crise, dado que hoje em dia conversa com a enfermeira do seu posto e vai em busca do seu encaminhamento para a consulta com um clinico geral, por mais que seja difícil, sabe que é um direito seu. Notamos, igualmente, que Hilda passou a maioria dos encontros falando disso para Peter, pois, ele afirmou nos dois últimos encontros, que está esperando pelo encaminhamento para uma avaliação psiquiátrica há semanas, mesmo diante de crises, e não tem conseguido, esperando respostas pelo agente de saúde do seu território. Então, Hilda sugeriu para ele, procurar a enfermeira do seu posto de saúde, o dizendo que ele precisa conversar sobre a sua situação e os profissionais do postinho devem o acolher. (...) nesses encontros continuei questionando: Vocês não acham que estar aqui é um direito de vocês? Aqui, na atenção básica, neste grupo? Vocês lembram que falamos sobre alguns direitos que temos no grupo? Como, por exemplo, o acesso de medicamentos na farmácia popular? A partir disso, algumas mulheres trouxeram vivências de suas consultas médicas, em que não se sentiram ouvidas e respeitadas quanto a decisão do tratamento e ao falarem disso encorajam umas às outras a buscar por aquilo que lhe é de direito. Na medida que quando Judith afirmou que, certa vez, em uma consulta, ela não podia pagar pelo o medicamento que o médico havia lhe passado e pediu a sugestão de um genérico, onde pudesse ser

mais acessível a compra do mesmo em termos financeiros para ela, e ele a negou, dizendo que tinha de ser aquele mesmo. Além disso, enquanto conversarmos sobre nossos direitos, Frida soltou em voz baixa, “no meu posto não tem nem médico” e nos disse que está com os medicamentos para acabar e ainda não conseguiu uma consulta com o clinico geral. Achamos interessante, nesse momento, porque Virginia e Judith se direcionaram a Frida e disseram: - pois você vai conseguir! E sugeriu que ela conversasse com a enfermeira do posto de saúde, tentasse explicar a situação para algum profissional, porque como disse Judith para ela “é direito seu fazer isso”. (Pesquisadora GAM – registro de diário cartográfico).

Onocko (2003) ao defender que o termo gestão possuem dois sentidos distintos, nos alerta sobre a importância de distingui-los no campo da saúde pública. No qual, gestão poderá estar tanto assimilado ao sentido de gerir, estabelecendo normas de previsão e controle das ações dos outros como, em dissonância, estaria interligado a significância de gerar, estando em conexão ao plano em que estabelecemos nossas próprias regras. Por isso, a autora defende que esses aspectos antagônicos em uma mesma palavra, diz respeito a tentativa de demonstrar que o gerir está associado ao plano da heterogestão do trabalho, de grupos e instituições em que as relações vertilicalizadas do poder se exercem, e em oposição, gerar colocaria em jogo movimentos de autogestão nesses espaços.

Pensadores da análise institucional francesa defendem a autogestão como uma proposta de derrubar os poderes hierárquicos, os especialismos, os mestres e as lideranças, bem como a máquina estatal do lugar de poder, pressupondo que as pessoas possam serem autônomas e gerarem as suas próprias regras entre meios institucionais e grupais. (BAREMBLITT, 1994). No entanto, Lourau (2004) defende que tal objetivo pode ser problemático de ser alcançado, uma vez que os sistemas de controle e hierarquia que nos aprisionam e nos privam de nossa liberdade e autonomia, vivem na lógica da heterogestão.

Deste modo, considerando essas dimensões da heterogestão e da autogestão fazendo interlocução com as linhas macro e micropolíticas, a co-gestão aparece como uma proposta estratégica para o autogoverno dos corpos entre essas duas esferas, ao oferecer possíveis soluções para combater as cristalizações e estratificações dos poderes nos serviços de saúde, como, por exemplo, a centralidade do poder médico. Atuando sobre as segmentaridades molecurales, ao propor um modelo de cuidado democrático em que trabalhadores, profissionais, gestores, e sobretudo, os próprios usuários estejam envolvidos nessa construção, ao considerar os diversos interesses e desejos em movimento que se exercem entre tensionamentos coletivos e políticos na saúde pública. (CAMPOS, 2000; PASSOS et al., 2013).

Dessa maneira, cogerir o cuidado está implicado a processos macros e micros político, ao notarmos que a co-gestão não diz respeito, apenas, a manejar conflitos e acolher diferenças na grupalidade, mas essa forma de manejo, pressupõe colocar lado a lado os diferentes sujeitos implicados na construção do cuidado, na pretensão de corroborar para o desencadeamento de diferentes condições de protagonismo e autonomia. Assim, quando percebemos as ressonâncias da co-gestão no grupo GAM, isto esteve associado a um manejo que se criou a partir da experiência entre os usuários e profissionais envolvidos, em que houve uma descentralização da figura do moderador, no qual as diferentes pessoas envolvidas assumiram a gestão compartilhada no processo grupal, como uma estratégia para buscar alcançar os seus direitos referentes ao uso de medicamentos psiquiátricos. (PASSOS; et al., 2013).

Entre os processos cogestivos producentes de autonomia, nos últimos encontros, o grupo havia gerado um movimento de participação política entre as participantes, visto pelo desejo das mesmas em reivindicar problemas recorrentes no município em saúde mental. Identificados por elas como: a falta de médicos gerais e psiquiatras e a dificuldade de renovar suas receitas nas unidades de saúde. Essas sinalizações são vistas em nossas discussões finais, descritas a seguir:

Tudo começou, porque ao sinalizarmos questões ainda difíceis com a medicação, as usuárias pontuaram que uma das maiores dificuldades se relacionava com a renovação das receitas nas UBS, uma vez que como as próprias unidades de saúde organizam os dias e horários para renovações de receitas, muitas vezes, elas ficam sem renova-las, por serem em horários

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