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4- RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.2 DO (DES)CONHECIMENTO AOS EFEITOS (IN)DESEJADOS: da obscuridade dos

Dentre as trajetórias dos nossos encontros, tornaram-se também como analisadores os desafios que Cecilia relata ao se referir sobre a sua dependência com o Rivotril, o medo de tal dependência pelo uso do psicotrópico e as dificuldades políticas e organizacionais encontradas para negociar o uso de sua medicação com a sua psiquiatra de referência. Da mesma forma, os relatos de Judith sobre a autoridade do saber médico psiquiátrico nos chamaram a atenção. Essas problemáticas podem ser vistas diante das narrativas a seguir:

Cecilia chegou eufórica no grupo hoje desejando conversar sobre o desafio que tem sido tentar fazer a diminuição da dosagem do Rivotril, já que, nos dias de hoje mesmo tomando apenas uma gota da medicação, tendo por indicação da sua psiquiatra de referência em diminui-la, alega não conseguir dormir sem essa pequena dosagem. Assim, ela chegou no grupo hoje dizendo, “gente, preciso da ajuda de vocês. Porque meu sonho é parar de depender desse medicamento”. Para mais, alegou sobre sua necessidade demasiada do medicamento para afasta-la da insônia e afirmando também que não consegue negociar com a sua psiquiatra a possibilidade da retirada do medicamento, porque mesmo estando consumindo uma dosagem mínima, não obtém êxito em dormir sem o benzodiazepínico e necessita pagar por consultas na rede privada para os atendimentos, devido à alta fila de espera por atendimentos psiquiátricos no município. Ainda por cima, quando o grupo desabafava sobre os efeitos dos medicamentos, ela falou baixinho para mim, pois estava sentada ao meu lado: - é aquele efeito do choque, sabe? Com um tom de denúncia. – A gente treme com a medicação também. A necessidade de Cecilia em conversar sobre o Rivotril não cessava, visto que quando estávamos conversando sobre os efeitos do tratamento medicamentoso, ela voltou a falar do Rivotril e de como fazia falta a psiquiatra na rede para alegar algumas questões. Deste modo, chegando a afirmar como quem teme algo: eu vou ficar escrava do rivotril! (Pesquisadora GAM – Registro de diário cartográfico).

(...) Judith nos conta que, ao questionar uma médica psiquiátrica em referência aos medicamentos que atualmente estava tomando e sobre outros novos medicamentos que iria tomar, receitados por tal especialidade em um dia de consulta, discordou que não gostaria de tomar os medicamentos receitados. Em reação, a psiquiatra a interrogou: - então, por que você está aqui? Igualmente, entre suas várias travessias pela rede pública de saúde da região, em uma outra consulta com um clinico geral, ela nos relata que a receitaram um medicamento que custava um valor alto, que ela não poderia pagar, e o médico foi assertivo: você tem que comprar! Á vista disso, por essas diferentes experiências, ela demonstra certa resistência ao saber médico e afirma: eu tive um diagnóstico há 20 anos atrás, que se eu tivesse seguido, não estaria aqui. (Pesquisadora GAM – Registro de diário cartográfico).

Após esses relatos, outra questão que se tornou como analisador, por nos causar certa preocupação, foi sobre perceber o quanto podemos ser desinformados de nossos direitos enquanto cidadãos que usufruem do SUS e dos serviços de saúde mental, tal como por não conhecermos esses direitos em relação ao uso de medicamentos. Isso nos ocorreu, muito possivelmente porque quando discutimos a parte da cartilha GAM sobre qual é o

nosso compromisso em relação ao tratamento medicamentoso no campo da saúde mental, muitas usuárias presentes naquele dia ficaram silenciosas e do pouco que falaram sobre foi “é tomar na hora certa”. No entanto, se faz importante ressaltar que no guia a discussão sobre tais direitos está, especificamente, voltada para o campo da saúde mental, o que esse estudo evidencia a necessidade de uma ampliação para uma discussão mais abrange referente aos usuários do SUS na atenção primária.

Porém, mesmo diante de tais limitações, achamos interessante o movimento de Frida no dia em que ocorreu essa discussão:

(...) relembrando que em um encontro anterior do grupo, chegou nos dizendo que não estava se sentindo bem, em decorrência de sensações de vertigem que a estavam levando a sentir tonturas exaustivas por estarem sendo recorrentes há mais de duas semanas. Desse modo, naquele encontro anterior, ao conversarmos, como em tom de quem confessa algo, Frida começa a se questionar se estaria assim pela mudança dos medicamentos. Conseguinte, ao perguntamos se aconteceu algo em relação a isso, ela nos diz que, quando fora pegar seus medicamentos na farmácia da rede pública de saúde, não haviam comprimidos de Ecitalopram de 20mg, - dose que lhe fora receitada pelo clinico geral do seu bairro -, cujo ela já fazia uso de tal especificidade medicamentosa há mais de 1 ano. Assim, ela nos relata que o farmacêutico a dispensou uma dosagem menor, sendo de 10mg do medicamento, lhe dizendo para tomar dois comprimidos daquela dose, para chegar a quantidade exata conforme a sua receita. Porém, Frida afirma que não entendeu bem tal atribuição e estava tomando apenas um comprimido, como era de seu costume, de certa maneira que a levou a reações adversas relacionadas a interrupção do uso. Da mesma forma, ela afirma que não sabia que isso poderia lhe ocorrer e que só descobriu isso ao conversar conosco no grupo GAM, onde a farmacêutica participante também orientou que esses sintomas podem aparecerem quando se diminui a dosagem bruscamente. Portanto, ao recordar desse episódio, ela sugere para nós “é não fazer o que eu fiz”. (Pesquisadora GAM – registro de diário cartográfico).

Outro episódio que nos trouxe inquietações referentes aos direitos mencionados, foram quando as participantes disseram não saber que poderiam optar ou não pelo medicamento que lhes eram prescritos, de tal modo que para Dilma:

Nunca me passou pela cabeça que o médico pudesse estar errado. (...) eu achei foi bom quando fulana me passou, eu não tava bem. (Dilma, participante GAM – registro de gravação de áudio).

Diante das narrativas expostas, em consonância com os estudos de Onocko Campos et al. (2012) e Onocko-Campos et al. (2013) em experiências participativas em grupos GAM na rede de atenção psicossocial, observamos semelhanças na atenção básica em relação as dificuldades dos usuários em discutir o uso dos psicofármacos com médicos e psiquiatras. De modo que, em conformidade as nossas discussões, mencionarem a ausência de informações sobre o seu tratamento medicamentoso, receio em questionar a autoridade médica psiquiátrica, sendo consequência, da grande dificuldade de conversar

com os mesmos, estando atrelada também, a falta dessa comunicação a carência desses profissionais nos serviços.

Além disso, as narrativas conciliam com as análises de Caron e Feuerwerker (2019) do mesmo modo em grupos GAM, ao apontarem que a cronificação dos usuários na atenção básica por uso indiscriminado de psicofármacos, está associada a invisibilidade da saúde mental nesse espaço. Uma vez que o uso de psicotrópicos é sustentada no cotidiano dos serviços por um esquema de renovação de receitas, sem atenção, acompanhamento e espaços de discussão sobre o tratamento com esses tipos de fármacos.

Em outros encontros GAM, as participantes falaram demasiadamente sobre os sintomas colaterais dos medicamentos, principalmente, reclamando do excesso de tremores que eles causam. Assim, ao discutimos sobre os efeitos indesejados das drogas psiquiátricas, nos chamou a atenção, também de modo quantitativo, o quanto eles apareceram em demasia em relação aos efeitos desejados, deste modo, tornando um outro analisador para o nosso estudo. Seguramente, por queixarem-se sobre eles em diversas narrativas de diferentes modos, referindo-se ao excesso de sono, a baixa libido sexual, a amnésia frequente e a certa apatia emocional, bem como, supostamente, ao agravamento de outros fatores de saúde. Como apontam suas vozes a seguir:

Deixa a gente esmurecida. Com sono. Ele não faz dormir. Ele embebeda. (...) dá muito sono, tremor, baixa a libido sexual. Também a pessoa fica apática, ganha peso. E não é sono, é um desânimo. (Virginia, participante GAM – registros de diários cartográficos).

Eu não sabia que apagava o fogo, pro lado do namoro, esse remédio não ta dando certo. (Hilda, participante GAM – registro de diário cartográfico). Me dá falta de memória, fico muito acelerada e com lapsos de memória. Na primeira semana tomando antidepressivos, você pode piorar. (Clarissa, participante GAM – registro de diário cartográfico).

Depois da depressão, começaram a surgir outros problemas de saúde. Eu vou para o médico doente e volto muito mais. Os tremores são sintomas frequentes. (...) A gente endurece tomando Aldol. (Hilda, participante GAM – registros de gravação de voz e de diário cartográfico).

Um amolece e o outro endurece. (Judith, participante GAM – registro de voz).

Antes eu chorava muito. Agora não choro mais. Parece que secou. (Cecilia, participante GAM – registro de gravação de voz).

A gente pensa que tomar resolve todas as coisas, mas muitas permanecem. (Judith, participante GAM – registro de diário cartográfico).

Em relação aos efeitos desejados, poucos discursos apareceram em proporção aos indesejados, ainda que algumas mulheres não se vejam sem medicamentos psiquiátricos, visto que eles as ajudam com os episódios de insônia, com sentimentos de exaustão e com emoções colocadas pelas mesmas como “excessivas”, já que elas relatam:

Eu fico louca se eu não tomar. (Heloisa, participante GAM – registro de diário cartográfico).

Tô dormindo. Todo mundo fica feliz. (...) tomo sertralina porque eu chorava demais. Fico mais controlada, ajuda com os choros excessivos. (Cecilia, participante GAM – registro de diário cartográfico).

Alivia até as dores dos ossos. Fico menos explosiva, ajuda com a insônia, os que não tem efeitos colaterais, eu não me importo. (Judith, participante GAM – registro de diário cartográfico).

Em contraponto, ao mesmo tempo, elas afirmam:

Eu não posso viver a vida toda tomando medicamentos. (...) uma coisa que eu nunca vou parar de me perguntar: quando eu vou parar de tomar isso tudo? (...) meu sonho é que o Rivotril saia da minha vida, meu sonho é deixar de tomar remédio. Dormir sem tomar remédio. Mas toda vida que eu tento para é como um divórcio, sabe? (Cecilia, participante GAM – registro de diário cartográfico).

Tais acepções, demonstram que as usuárias desejam utilizar dos psicotrópicos, em razão deles, supostamente, possuírem fórmulas “mágicas” que comportam e controlam os sintomas decorrentes do seu sofrimento mental. Porém, nos pareceu que ao conter esses sintomas, em consequência, outros novos estão sujeitos a emergir, causando outros tipos de incômodos, principalmente psíquicos, quando utilizam esses fármacos a longo prazo. Deste modo, esses incômodos refletem-se no desejo expresso delas em se desmedicalizarem. Isso nos leva a questionar o poder de tal “magia” das drogas psiquiátricas, pois, como erradicar o sofrimento psíquico “medicamentosamente” sem que outros danos possam emergirem na vida e nos corpos das pessoas? Ainda, nos levando a indagar: quais afetos estão sendo silenciados e que outros estão sendo produzidos pelas drogas psiquiátricas?

Os estudos de Withaker (2017) sinalizam os benzodiazepínicos como armadilhas perigosas, posto que o seu uso a longo prazo poderá se desdobrar em situações de sofrimento mental crônicas, de tal modo que esses fármacos podem causar tanto estresse afetivo, como prejuízos cognitivos, o que o leva a questionar se elas pioram os sintomas que deveriam tratar. Essa evidência torna-se possível para o autor, ao relatar pesquisas sobre síndromes de abstinência junto aos efeitos do consumo a longo prazo que tais fármacos podem desenvolver. Assim, ele descreve relatos de pessoas sobre os efeitos da

ansiedade rebote, em que alegaram sentirem alucinações, despersonalização, depressão extrema e etc., quando pararam de usar tal categoria de psicofármacos; bem como ao apontar experiências em que outros indivíduos tiveram dificuldade em se concentrar e aprender coisas novas, pela impossibilidade de recordar de memórias. Além disso, chegando à conclusão que o “desmame” para esse tipo de medicamento pode levar um ano ou mais.

Em semelhança, as pesquisas de Onocko-Campos et al. (2012) em grupos GAM na região sul\sudeste no contexto brasileiro, evidenciam os sentimentos de “mal-estares” exacerbados dos usuários que frequentam os serviços de saúde mental em relação aos efeitos colaterais dos psicofármacos, além do alto uso desses medicamentos lhes serem receitados, em detrimento da necessidade de questionar e conversar com os médicos\psiquiatras sobre tal consumo. Com tais características, essa realidade não parece destoar da região nordeste, em especifico, no cenário da atenção básica neste território interiorano. Todavia, por esse se tratar de um estudo qualitativo, faz-se a necessidade de outras experiências nessas regiões e nesse campo, para validarmos tais apontamentos.

Para transformar a lógica do desconhecimento sobre o uso de medicamentos, tal como a ausência de informação sobre os seus efeitos colaterais, houveram alguns encontros GAM em que as participantes junto da psiquiatra e da farmacêutica, puderam construir um momento educativo sobre o uso dos psicofármacos. Em decorrência, entre esses momentos, as usuárias ao se reconhecerem como dependentes desses tipos de fármacos, também afirmaram que, o que estavam conhecendo sobre o seu uso estava sendo entre os percursos do grupo. Tais acepções são vistas nos diários a seguir:

(...) Houve um encontro em que o grupo funcionou como uma espécie de “quiz”, no qual a psiquiatra de referência das usuárias sentou em roda conosco respondendo perguntas feitas por elas, sobre os medicamentos mais comumente usados em psiquiatria, a partir das descrições apontadas na cartilha GAM. Entendemos que este encontro foi se constituindo como um espaço educativo sobre o uso dos psicofármacos, na medida em que, várias dúvidas sobre os ansiolíticos, antidepressivos, anti-psicóticos e etc., foram respondidas e as mulheres se demonstraram, totalmente, curiosas em entender sobre o que elas fazem uso. Nesse momento, algo nos chamou a atenção acerca de uma reflexão coletiva que apareceu no grupo, visto que as usuárias ao perceberem que fazem uso de substâncias psicofarmacológicas que dizem se sentirem “dependentes” afirmam: - “somos todos drogadas”, demonstrando compreender que os medicamentos psiquiátricos possuem riscos a semelhança de outras drogas não prescritas, sem naturalizar o seu consumo. A partir disso, foi interessante para nós perceber o quanto as 12 mulheres presentes naquele dia, não tinham, anteriormente, o conhecimento que os medicamentos que tomam podem desencadear efeitos colaterais e sensações indesejáveis. Porém, naquele encontro, elas tiveram “insights” e falaram sobre os seus danos de um modo que não foi sinalizado pelos profissionais de saúde presentes, mas por

elas mesmas, colocando suas próprias experiências, enquanto usuárias de tais substâncias e reconhecendo as suas vivências. Desse modo, esse momento foi potencialmente relevante, também, porque junto da psiquiatra, as mulheres puderem tirar suas dúvidas quanto aos efeitos sentidos e percebidos por elas diante do tratamento medicamentoso. Além disso, o que nos chamou atenção, igualmente, é que elas tinham milhares de dúvidas e aparentavam desejavam respostas sobre todas elas. Isso, nos levou a pensar que essas questões surgiram ao longo da experiência GAM, o desejo de conhecer, de fato, o que o uso dos psicofármacos podem contribuir ou não para o seu cuidado em saúde mental. De tal maneira que ao continuarmos, ainda, a conversa sobre os psicofármacos, em um segundo outro, agora não mais com a presença da psiquiatra, mas da farmacêutica, pedíamos que as participantes do grupo levassem as bulas dos medicamentos que fazem uso para discutirmos, e praticamente, todas levaram. Assim, trabalhamos nesse encontro a parte do guia que nos convida a olhar mais profundamente para a bula como uma ferramenta importante de informação sobre os efeitos dos medicamentos e, muitas delas, disseram que não a liam. Foi outro momento esclarecedor que funcionou com uma espécie de “quiz”, logo, se transformando em uma roda de debate. Nesse encontro, as participantes disseram que, antes do GAM, não sabia da importância de nada disso. Pois, quando o novo psicólogo que havia chegado no grupo há poucos dias, as perguntou, curioso: - nenhum médico nunca disse a vocês que alguns desses tipos de medicamentos que vocês tomam podem causar dependência? Elas falaram que não, afirmando que o que estavam aprendendo eram com a GAM. (Pesquisadora GAM – registro de diário cartográfico).

Após esses acontecimentos, a implicação das usuárias e de um outro usuário que participou do grupo apenas por dois meses, em conhecer sobre o uso dos psicofármacos e sobre os conhecimentos que haviam adquirido ficaram mais nítidas, ainda, ao longo do seu processo. Isso, torna-se evidente com as narrativas sobre os desdobramentos consecutivos no grupo:

Ao chegarmos no dia certo dia para um dos nossos encontros, Frida nos aguardando na porta de entrada da sala da UBS para começarmos o grupo, pergunta: hoje vai ter aula, né? Nós: - aula? Ela: - sim. O grupo! É porque a gente aprende tanto, que eu fico ansiosa para que chegue toda quinta-feira. (Pesquisadora GAM – registro de diário cartográfico).

Peter nos disse que já havia lido toda a parte da cartilha GAM sobre os efeitos e as interações dos medicamentos compostas no final da cartilha e que com isso, fez um mapa mais explicativo, interativo, dinâmico e detalhado para sua avó que não sabe ler e escrever e é usuária de psicotrópicos; como também para sua mãe que faz uso desses tipos de medicamentos. Visto que tudo que estava aprendendo no grupo, além de levar para sua vida pessoal, também estava levando para sua família e amigos. (Pesquisadora GAM – Registro de diário cartográfico).

Hilda colocou que nesses últimos dias sentiu necessidade de falar sobre o grupo para uma sobrinha que estava fazendo uso inadequado dos medicamentos psiquiátricos, certo que ela não havia passado por uma consulta médica e assim, sem receita e orientações profissionais, havia conseguido psicotrópicos com um conhecido. Dessa maneira, Hilda nos afirmou que sentiu a necessidade de orienta-la a buscar a ajuda de um profissional de saúde, pois, utilizar de medicamentos psiquiátricos poderia ser muito perigoso. (Pesquisadora GAM – registro de diário cartográfico).

Posto esses relatos das mulheres e de Peter, observamos que o GAM trouxe uma nova experiência para suas vidas no que se refere as informações sobre o tratamento

medicamentoso, visto que conversar com o grupo sobre os medicamentos psiquiátricos e o seu cuidado em saúde mental trouxeram esclarecimentos e até experiências desmedicalizantes. A partir de trocas de experiências que fortaleceram sua autonomia em detrimentos dos encontros e dos afetos coletivos, de tal maneira que passaram a questionar o saber médico psiquiátrico e as implicações desse em suas vidas. Tais concepções podem serem ainda mais evidente diante de suas narrativas:

A gente aprende aqui com todo mundo interagindo sobre as informações. (Hilda, participante GAM – registro de gravação de voz).

Haviam coisas que tinha medo de perguntar ao médico, agora estou atenta, me lasquei durante 21 anos. (Judith, participante GAM – registro de gravação de voz).

Antes de ir a psiquiatra, eu faço um roteiro antes, uma lista das coisas que quero saber. Pergunto, pergunto. (Clarissa, participante GAM – registro de diário cartográfico).

Eu parei de dar Rivotril para as minhas vizinhas, porque sei depois do GAM que existem problemas diferentes. (Cecilia, participante GAM – registro de gravação de voz).

Eu tomava a medicação sem ser no horário, de forma incorreta, agora isso mudou... (...) não dou meu medicamento a ninguém, meu medicamento é só para mim mesma. (Frida, participante GAM – registro de gravação de voz). Felizmente não tô tomando mais medicação. Tô dormindo bem demais. Esse grupo me ajudou bastante a refletir sobre. Depois de 10 anos tomando, eu achava que nunca ia parar. (Odiva, participante GAM – registro de gravação de voz).

Aprendi a usar medicação, a falar em público, já passo os conhecimentos que aprendi aqui para as pessoas. (Hilda, participante GAM – registro de gravação de voz).

A gente tomava medicação, mas não tinha o conhecimento que tivemos no GAM. Aqui também, a falar com as meninas, construímos uma família. (Dilma, participante GAM – registro de gravação de voz).

Agradeço imensamente ao grupo, pois aprendi a importância de usar medicamentos, de não usar medicamentos de outras pessoas e nem emprestar os que faço uso, de compartilhar o que se passa em nosso íntimo. Os

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