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Como as estrelas avaliaram a intervenção

A intervenção baseada na pesquisa-ação, proposta por este estudo, forneceu às mulheres participantes a possibilidade e o direito de escolha em diversos níveis do trabalho: como escolha do local, data, horário mais adequado a participação de todas. No que concerne as datas de realização, nem sempre foi possível realizar a atividade na data marcada. Ocorreu algumas vezes de nossas colaboradoras adoecerem e/ou seus/suas filhos/as, outras vezes terem exames ou consultas médicas e, ainda, ocorreu de nossos convidados ter algum contratempo. Essas situações acabaram por atrasar o

cronograma da pesquisa. Quanto ao horário e locais, pareceu-me assertivos, pois promoveu a participação das mulheres.

Consideramos que a possibilidade de poderem opinar acerca do processo de intervenção, foi importante para que se sentissem parte da proposta, assim como para elas terem a segurança de expressar suas histórias, experiências, sentimentos e desejos.

A escolha dos temas a ser discutido foi realizada a partir das informações das entrevistas, das observações na Sala das Mães e das observações realizadas no decurso da própria intervenção – como descrevemos no processo metodológico – apresentadas as nossas colaboradoras e aceitas de forma tranquila.

No processo de pesquisa-ação, é importante que se avalie as ações realizadas para identificar os nós críticos e readequar e/ou reformular a proposta de intervenção. No presente trabalho, observamos que a proposta inicial necessitava de ajustes. Assim, como forma de avaliarmos o andamento das atividades, elaboramos um questionário composto de 16 itens, com as seguintes opções de respostas: 1 - discordo plenamente, 2 - discordo, 3 - não sei, 4 - concordo, 5 - concordo plenamente. Preencheram essa avaliação as 05 mulheres participantes da pesquisa. Organizamos um quadro com as alternativas, as opções de respostas e quantas vezes cada opção de reposta foi marcada.

Quadro 13 - Questionário da primeira avaliação.

AFIRMATIVAS 1 2 3 4 5

1

Eu gostaria de aprender mais sobre outros assuntos relacionados à família e ao

meu filho com deficiência. 1 4

2 Eu gostei do trabalho da pesquisadora. 1 4

3 É importante as famílias conhecerem os direitos das pessoas com deficiência. 1 4 4 Eu gostei do trabalho das pessoas que foram convidadas pela pesquisadora. 1 4 5 Eu tenho interesse de aprender mais sobre direitos das mulheres. 1 4 6 Eu gostaria de continuar participando momentos de conversas como esses. 1 4 7

Gostaria de ter mais momentos para dialogar sobre o dia a dia das mães de

crianças com deficiência. 1 4

8 Gostei dos assuntos discutidos nas rodas de conversas foi bom para mim. 2 3 9 Eu tive oportunidade de falar o que eu pensava nas reuniões. 2 3 10 Eu senti que a minha opinião foi respeitada pelos participantes. 2 3 11 Participar das rodas de conversas foi bom para mim e para a minha família. 2 3 12 Eu gostei das atividades corporais realizadas. 1 1 3

13 Os locais escolhidos para as atividades foram bons. 3 2 14 Eu indicaria para outras mães participarem de reuniões como essas. 3 2 15 Participar das rodas de conversas foi importante para mim. 4 1 16 Falar com outras mães sobre o meu dia-a-dia me fez bem. 4 1 Fonte: Elaboração própria.

É possível perceber que, majoritariamente, as afirmativas foram assinaladas como concordo (4) ou concordo plenamente (5), apenas uma das mulheres respondeu não sei (3) para a alternativa 12. O maior número de marcação são das afirmativas relacionadas a necessidade de aprender mais sobre assuntos relacionados à família, aos direitos das mulheres, das pessoas com deficiência, da necessidade de outros momentos com o grupo e de partilha com outras mulheres mães. Nenhuma das colaboradoras marcou as opções discordo plenamente (1) e discordo (2). Consideramos que os primeiros encontros da intervenção foram positivos para a maioria das mulheres participantes.

O segundo momento de avaliação ocorreu após a finalização da intervenção, como forma de desvelarmos alguns possíveis resultados da pesquisa. Realizamos esta etapa de forma coletiva na Sala das Mães, alguns dias depois da finalização das atividades. Estavam presentes 04 mulheres.

Sobre a avaliação que faziam do nosso estudo e dos momentos de maior importância, todas afirmaram que foram momentos proveitosos, onde puderam se expressar, sorrir de emocionar e relaxar. Segue alguns depoimentos:

Para mim foi muito proveitoso. Vou levar para minha vida toda tudo que aprendi. Consegui relaxar, foi muito bom! (Maia – avaliação 2).

O que considero de maior importância do grupo foi estarmos juntas, poder ser livres e abertas. Contar nossas histórias experiências e o que temos passado nessa caminha que não tem sido fácil, mas com a ajuda de vocês tem sido mais leve. Foi possível também se desprender mais e falar sobre o que passamos com os nossos filhos. Nos sentimos bem à vontade e, acredito que para cada uma de nós isso é muito importante (Altair – avaliação 2).

Foram muito bons os encontros. Gostei muito das conversas e das informações repassadas. Eu aprendi muito! (Veja - avaliação 2).

Acerca dos momentos de reflexão, dos temas e das atividades vivenciais, afirmaram que gostaram e que outros momentos poderiam continuar ocorrendo. Nas palavras delas:

Foram muitos bons (sic). Fará falta! A gente passa muito tempo aqui sem fazer nada. Então foi muito bom (Altair – avaliação 2). Para nós, foi muito bom. Estar ali naqueles momentos tranquilos, poder se desprender das nossas correrias do dia a dia. Foi muito bom. As pessoas que você convidou também foram excelentes. Nos ajudaram a refletir e também relaxar. Que bom seria se fossem todos os dias! (Maia – avaliação 2). Destaca-se que outros momentos semelhantes foram reivindicados ao final de nossa intervenção, “Quando Isis vem novamente? (Adhara) ou, “Seria tão bom se continuasse, recarrega as energias” (Altair) aponta outra colaboradora. Por essa razão, provocamos a necessidade da manutenção de ações no EASE, agendamos algumas vezes com as mulheres para a construção de um documento a ser entregue à diretoria da instituição, mas não tivemos ainda a adesão necessária.

Ao questionarmos acerca dos diálogos sobre a condição de ser mãe de uma criança com deficiência, nossas colaboradoras apontam que nossa intervenção provocou um olhar mais atento às outras mães e suas experiências com o/a filho/a. Elas destacaram também a importância de conhecer o outro, suas necessidades e suas respeitar, em outras palavras, exercitar a empatia. Segundo Veja e Altair, respectivamente:

Eu passei a ver de perto as dificuldades das outras mães, das outras deficiências. E isso é importante porque a gente aprender a respeitar (Veja – avaliação 2).

Eu acho que é isso. Como estamos todas juntas e podemos colocar nossas experiências, a gente acaba conhecendo melhor o dia a dia uma das outras (Altair – avaliação 2).

Sobre a condição de ser mãe de uma criança com deficiência, concluímos que os estereótipos continuam presentes nos discursos das nossas colaboradoras: aprendizado, amor, doação são expressões comuns nas falas de nossas colaboradoras. Como pode ser observado no depoimento algumas delas:

É muito bom. É um aprendizado para a gente. Ensina a ser uma pessoa mais humana, a olhar o próximo com outro olhar! (Altair – avaliação 2).

A gente aprende muito com eles, né? Porque cada um é de um jeito, aí a gente vai entendendo como é. (Maia – avaliação 2). Sinto que sou uma pessoa melhor! (Veja – avaliação 2).

Mas também houve falas que expressaram sentimentos contraditórios acerca do processo do maternar, evidenciando que cada mulher/mãe sente, significa e conduz de forma singular as vivências com um filho deficiente. Compreendemos ainda a necessidade de demonstrar suas fragilidades e romper, mesmo que não seja consciente, com a ideia que toda mulher/mãe é um ser excepcional, forte e destemido. Segundo Maia:

Não é fácil, é uma tarefa difícil ser mãe de uma criança com deficiência, principalmente, de uma autista severo como é a minha. Costumo dizer que eu vivo em uma montanha russa, horas em cima, horas embaixo, mas Deus tem me fortalecido (Maia - avaliação 2).

Sobre as mudanças realizadas a partir das trocas e reflexões realizadas na intervenção, as falas mais expressivas se referem a retomada projetos de vida, assim como a dimensão do respeito ao outro como fator despertado pela pesquisa. Nas palavras de Veja e Maia, respectivamente:

Eu acho que a maior contribuição foi retomar meus projetos. Construir minha casa, acho que sim. A gente precisa ter coragem para viver. Retomei os planos de construir minha casa. Vai ser importante para mim. Eu sei que vai demorar, mas um dia eu consigo (Veja - avaliação 2).

Para mim aqui no grupo, foi respeitar o ser humano como é. Eu acho que foi essa a principal mudança (Maia - avaliação 2). Compreendemos que as mudanças, mesmo ocorrendo no âmbito das singularidades individuais, constituem-se movimento importante que possibilitam construir novos olhares para si, para o outro e para o mundo em volta. Acerca da continuidade de ações, como essas que realizamos, todas as mulheres presentes demonstraram interesse de sua continuidade.

Este processo avaliativo buscou fechar o ciclo de intervenção direta com o campo e teve como objetivo evidenciar níveis de compreensão acerca do processo de pesquisa vivenciado pelo grupo.

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