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CAPITULO 5 COM A PALAVRA OS DOCENTES DO IMEC

5.4 Como percebem o papel do professor

Aqui guiamo-nos de Freire (1979), a acção docente é a base de uma boa formação escolar e contribui para a construção de uma sociedade pensante. Entretanto, para que isso seja possível, o docente precisa assumir seu verdadeiro compromisso e encarar o caminho do aprender a ensinar.

Na actualidade, o papel do professor extrapolou a mediação do processo de conhecimento do aluno, o que era comumente esperado. Ampliou-se a missão do profissional para além da sala de aula, a fim de garantir uma articulação entre a escola e a comunidade. O professor, além de ensinar, deve participar da gestão e do planeamento escolares, o que significa uma dedicação mais ampla, a qual se estende às famílias e à comunidade.

Sobre a qualidade do ensino que ministram os docentes, de um modo geral, argumentaram que não dispõem de tempo suficiente para planejar cuidadosamente as suas aulas, com vistas a contribuir para a construção efectiva de significados por parte dos estudantes. É facto conhecido de todos os profissionais da educação que as atividades docentes não apenas acontecem dentro dos limites das salas de aula, mas, também, fora desses espaços, principalmente nas actividades de planeamento e avaliação do ensino. Sendo assim, é lógico que os docentes necessitem de tempo prolongado para elaboração de planeamentos, sendo este tempo, inclusive, indicada na actual, lei nº. 13/01 De 31 de Dezembro, como forma de garantir aos profissionais do magistério um período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho (Angola, 2001).

Questionado a respeito da responsabilidade do professor disse:

(…) muito e muito difícil, as coisas não são fáceis para a vida do homem e do professor parece pior (…) temos os casos do trabalho extravasam a sala de aula e (…) tenho duas esposas e outros gabinetes e além de 15 filhos, tenho que resolver caso a caso enfim (…) e isso só é possível aos Sábados ou Domingos (…) veja como

o fim de semana vira também dias de trabalho e falta tempo para cuidar destes casos. (Prof. Mabanza, Setembro de 2013).

Temos os jovens de varias origens: alguns muito complicados em termos de convivência apresentam (…) muitas dificuldades sociais que contrastam com realidade de um centro como o IMEC, me transformo como Assistente Social ou até mesmo de Bombeiro para atender melhor estes jovens (…) sou professor tenho que participar e naquilo que somos mais velhos e transmitir o há de melhor na convivência em sociedade. (Prof. Kubaya, Setembro 2013)

Concordando com ALTUNAS quando afirma em relação aos povos Bantus, ―a criança é tida como o elo de continuidade e assegura a sobrevivência individual e colectiva; ela é a expressão viva entre os mortos, os vivos e as futuras gerações. A criança nasce, cresce e morre dentro da família que a gerou. Não há qualquer indício de abandono, uma vez que ela encontra apoio de todos os membros da comunidade, que a consideram como filho ou filha, irmão ou irmã‖. Nesta estrutura e nesta dinâmica social se circunscreve a educação da criança. Por isso, como afirma KRAMER (1989), para que essa função se efective na prática:

[...] o trabalho pedagógico precisa se orientar por uma visão das crianças como seres sociais, indivíduos que vivem em sociedade, cidadãs e cidadãos. Isso exige que levemos em consideração suas diferentes características, não só em termos de histórias de vida ou de região geográfica, mas também de classe social, etnia e sexo. Reconhecer as crianças como seres sociais que são implica em não ignorar as diferenças. (KRAMER, 1989, p. 19)

O sistema nacional de ensino e, os parâmetros curriculares, abre brecha ao enfoque social oferecido aos processos de ensino e aprendizagem traz para a discussão pedagógica aspectos de excepcional importância, em particular no que se refere ao modo como se devem entender as relações entre desenvolvimento e aprendizagem, à relevância da relação interpessoal nesse processo, à relação entre educação e cultura e ao papel da acção educativa ajustada às situações de

aprendizagem e às características da actividade mental construtiva do aluno em cada momento de sua escolaridade. Observamos comportamento típico de instrumentalização de alguns docentes daquilo, ou apropriação das ferramentas culturais produzidas socialmente e preservados historicamente e de certa forma voluntariamente se transmite directa ou indirecta pelo professor no diálogo com os alunos através de provérbios locais advindos dos nossos ancestrais.

De facto, este é o verdadeiro papel do professor mediador que almeja através da sua acção pedagógica ensinar os conhecimentos construídos e elaborados pela humanidade ao longo da história e assim contribuir na formação de uma sociedade pensante.

5.5 - O que lhe incentive a continua?

Conforme admitido na evolução cultural actual, cujo respeito e tratamento se constituem grandes desafios do século XXI. Por essa razão o trabalho pedagógico exige pensar metodologias voltadas para o enfrentamento dessas diferenças nos alunos, no sentido de compreender, respeitar e potencializar de forma positiva essas especificidades.Muitas são as razões que levam à escolha de determinada profissão e ao campo que se pretende actuar. A carreira docente e o campo da escola pública, especificamente, possuem suas peculiaridades no que tange a essa escolha. Mas, pois é no meio familiar e com a família que os processos pedagógicos se fazem veicular e encontram a sua materialidade tanto na vida da criança quanto na do adulto. O conceito de família oferece a idéia de membros nucleares. Mas, quando se descreve o modo de vivencia das comunidades de tradições etnolinguísticas cabindas se opta o conceito de parentesco dada a amplitude ou a abrangência do conceito.

Seja como for, falar de práticas educativas é atentarmos para a conjuntura social. Pois ―não há educação fora das sociedades humanas e nem pessoas no vazio.‖63 Sendo assim a estrutura social, família ou parentesco é o princípio da existência e merece nossa atenção. A comunidade Africana de forma geral reconhece que a vida só tem sentido caso seja vivida na e com a participação de todos os membros constituintes. Essa participação comunitária não se restringe apenas a questões ilusórias e imaginárias e sim a uma participação afectiva, onde toda pessoa é

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parte integrante da existência da outra. Pensar no por que agir está na base de que primeiramente vivemos, nos relacionamos e depois reflectimos. É neste contexto que se insere a educação.

Um dos ofícios do professor é trabalhar o conhecimento em sala de aula, da forma mais clara possível para que seu aluno possa ter a oportunidade de analisá-lo e questioná-lo, e não apenas absorver informações. Quando se trata de alunos de Ensino Médio Técnico, o professor também precisa considerar a bagagem de experiência e conhecimento que seu aluno já possui, para transformar as informações já adquiridas por esse aluno em conhecimento útil tal como opinião do renomado professor (SITA GOMES, 2009) em relação aos desafios que a sociedade impõe ao trabalho do professor no contexto de Angola:

Afinal, o professor precisa saber de tudo isso para ser um bom professor hoje? E o que é que está na base para que o professor se considere e seja considerado um bom professor? Em minha opinião, ele precisa ter, acima de tudo, postura crítica, criativa e científica.

Nessa conformidade, procurando contribuir para a preservação e dignificação dessa carreira que me “escolheu” (e vice-versa?) e que resolvi aceitar abraçando-a, fruto de investigações e vivências na actividade docente, trago esta reflexão sobre a postura que, no meu entender, deve permear a vida profissional daqueles que se dedicam ou pretendem dedicar-se à docência. (SITA GOMES, 2009)

Com se percebe, as principais razões para a escolha do magistério estão relacionadas com o desejo de ajudar ao próximo, contribuindo com a sociedade ou com as realizações pessoais, tais como actuar numa área que promove crescimento pessoal ou a conquista da autonomia financeira.

Essa realidade é, parcialmente, confirmada pelo sujeito de pesquisa lotado no IMEC questionado sobre os motivos para a escolha da docência no IMEC.

Para mim além do salário que aumentou, a docência emprego e não são as condições existentes de trabalho, mas nas dimensões de vinculo de trabalho, veiculação de conhecimento e da influência formativa sobre outros sujeitos, apresento como inerentes à profissão docente, no IMEC tornando-a uma actividade especialmente sedutora. (Prof. Queba Diela – Entrevista – Setembro 2013)

Alguns docentes afirmam outros motivos, que se contrapõem ao sentimento altruísta mencionado anteriormente, para a escolha da carreira docente. Um desses motivos refere-se à falta de alternativas possíveis de emprego em Cabinda, ou seja, alguns professores optaram pela docência por não acreditarem em aumento de emprego na província.

Pautou-se na falta opção, embora haja concorrência nos concursos público, a possibilidade de estar empregado e o emprego realmente desejado. (Prof. Dienguila, Setembro de 2013) Para Weber (1996) menos do que decisões individuais em relação às oportunidades sociais, as trajectórias de trabalho consistem, principalmente, nas oportunidades sociais que podem ou não ser aproveitadas pelos indivíduos, dada a sua própria localização em uma determinada estrutura social (p. 63).

Assim, aqueles professores que pensavam ―que não observavam possibilidade emprego ideal, buscaram uma alternativa mais pragmática e mais viável‖ como, por exemplo, o magistério e no IMEC alguns afirmam, foi sorte pois eles não tinham possibilidades de escolha da instituição. Ainda em relação à docência em geral é comum encontrar docentes que desejam essa profissão por se sentirem motivadas a lidar com o aprendizado do outro. Afirmam que um dos factores que mais atrai os sujeitos para a docência é a possibilidade de ensinar, contribuindo com a sociedade na transmissão de conhecimentos. Assim, a escolha para o magistério (...) é vista principalmente de duas maneiras: como busca de realização pessoal ou como imposição resultante da situação socioeconómica ou do desempenho nos exames vestibulares.

Outro aspecto que, geralmente, surge como atractivo no magistério é a possibilidade de agregar conhecimentos e adquirir experiência profissional. Ou seja, as possibilidades oferecidas pelo mercado de trabalho aos professores são vistas de forma positiva pelos estudantes, fazendo-os classificar esse factor como um atractivo na carreira docente e relacioná-lo ao acúmulo de experiência profissional.

Outro factor que surge como atractivo do magistério, especificamente da rede pública de ensino, refere-se ao alcance de certa estabilidade profissional. Na actualidade, com os altos índices de desemprego e a alta rotatividade profissional, devido à busca do mercado por mão-de-obra cada vez mais especializada, os concursos públicos ganham relevância para diversas classes profissionais e para os professores não é diferente. Não é incomum ouvir pessoas em busca do emprego público na perspectiva de obter certa estabilidade profissional. O magistério público inclui-se nesta situação.