• Nenhum resultado encontrado

Função social da educação no contexto de Angola: algumas aproximações

CAPITULO 2 – ASPECTOS SOCIAIS, ECONÔMICOS E CULTURAIS NO SISTEMA DE

2.3 Função social da educação no contexto de Angola: algumas aproximações

De ano a ano os investimentos no sector de Educação tem vindo a aumentar, mas permanece inferior a demandas do mesmo. O orçamento geral do Estado de 2013 privilegia os sectores de Defesa, Segurança e Ordem Pública numa conotação de que o plano Nacional de Formação de Quadros lançado em 2013 não foi levado tão sério. O sector de Educação clama por mais salas de aulas, apetrechamentos de laboratórios diversos, bibliotecas material didácticos e acima de

tudo quadros humano (professores) capacitados, com condições de trabalho nas instituições para o bom exercício profissional e de salários adequados para atender a demanda pela qualidade do ensino. Recorrendo o renomado Professor LIBÂNEO (2007, p. 309) afirma que: ―o grande objectivo das escolas é a aprendizagem dos alunos, e a organização escolar necessária é a que leva a melhorar a qualidade dessa aprendizagem‖.

E ainda nós a escola centrada no pleno desenvolvimento do educando precisa estar buscando maneiras de fazer deste processo educativo algo prazeroso, desafiador, onde o usuário encontre motivos para estar ali e participar de maneira activa, dinâmica, construindo seu aprendizado, pois, uma sociedade só é de facto democrática quando os cidadãos que dela fazem parte são em primeiro lugar, educados reflexivos, com condições reais de exercerem sua participação e cidadania, conhecedores de seus direitos e deveres; e o caminho a ser seguido para chegar a esse patamar é um processo educativo verdadeiramente funcional.

A isto, deixo-nos perplexo o orçamento atribuído a Defesa, Segurança e Ordem Pública, nosso ponto de vista o período de paz em que vivemos necessita de investimentos maiores nos sectores de Educação, Saúde e Protecção Social que sofreram muito no período de guerra civil, assim, estes sectores merecem uma atenção especial. O ano em que lançou o Programa Nacional de Formação de Quadros, o sector de Educação viu-se superado pelos outros sectores da sociedade, conforme gráfico 3.

Gráfico 3 : Despesas do Estado Angolano, por função, em 2013

Embora se verifique situações como essas no orçamento geral do Estado, as escolas técnicas profissionais tiveram um incremento quanto a sua contribuição na formação dos técnicos que Angola precisa para construção do país. O gráfico N. 4 mostra que entre 2006 e 2012, as províncias que mais evoluíram em termos de alunos inscritos no ensino secundário com maior destaque o subsistema ensino técnico profissional foram Luanda, Huila, Malanje, Huambo, Benguela, Uige e Cabinda.

Gráfico 4 – Evolução do número de alunos no ensino técnico profissional por província, no período 2006 – 2013

Fonte: Ministério da Educação de Angola, 2012

Quanto aos avanços na educação, o ministro Pinda Simão19 disse:

A rede escolar está a ser alargada. Em 2006, ano em que terminou a guerra, tínhamos 19 mil salas e hoje temos 123 mil. É uma evolução notável. O número de quadros saídos do ensino técnico- profissional e da formação de professores é também muito significativo. O número de alunos que conclui o ensino secundário e ingressa no mercado de trabalho está cifrado em 56 mil. As instituições construídas depois de 2011 permitiram duplicar os alunos no ensino secundário. Há dez anos, a relação entre a

19

escola primária e a secundária era de um lugar para sete. Agora, é de um para cinco.

E prosseguiu,

Quer dizer que estamos a criar mais oportunidades de formação no ensino secundário. É o nível de ensino em que se criam as competências necessárias para apoio ao desenvolvimento, por ser aí que se formam trabalhadores qualificados, técnicos médios e professores. O sistema está a evoluir, apesar de termos ainda algum défice em termos de qualidade, disse Mpinda Simão.

Por outro lado, grande aumento da despesa com o ensino superior e a redução do peso relativo da educação primária e secundária no orçamento do sector da Educação é uma opção que contraria as prioridades de desenvolvimento humano do país20. É claro que Angola precisa de quadros qualificados, mas para tal, antes de mais, é necessário que os estudantes que chegam às Universidades tenham tido a possibilidade de desenvolver cabalmente as suas capacidades nos níveis de ensino anteriores. Como infelizmente se constata, muitos alunos vão passando para níveis de ensino mais avançados sem terem adquirido as competências mínimas necessárias, que também não obterão no nível académico seguinte e desta forma, ou o sistema os reprova sistematicamente ou baixa a exigência, diplomando pessoas que não são suficientemente qualificadas. Uma aposta massiva no Ensino Superior sem a correspondente aposta na qualificação dos níveis de ensino anteriores não produzirá certamente os resultados desejados.

Para Angola, em matéria de formação de quadros há ainda outros dois aspectos de ordem conceptual e operacional a considerar: o espírito de iniciativa e um certo sentido pedagógico. As condições precárias actuais de trabalho dos professores do Ensino Médio Técnico Profissional

20 Num contexto onde não está garantido a todas as crianças e jovens o acesso à escola como consagra o art. 21 g) da Constituição -, e onde, mesmo àquelas que têm acesso à escola, não está garantido o acesso a uma aprendizagem que lhes permita adquirir os conteúdos mínimos para que não venham a tornar-se analfabetos funcionais, é importante ter presente que a educação primária e secundaria universal é um factor crítico para o desenvolvimento humano sustentável e constitui factor muito significativo na reprodução da pobreza, na mortalidade (principalmente infantil), no acesso a um emprego estável, na participação democrática, etc.

dificultam o investimento pessoal na busca de novas visões sobre o ensino e a aprendizagem, o que os levam a repetir, anos a fio, uma determinada prática. Intervir nesse quadro exige mudanças em aspectos sociais, económicos culturais da realidade educacional e investimento por parte do governo em programas de formação continuada, em políticas de valorização do trabalho docente e na melhoria das condições concretas da educação pública. No actual estádio de desenvolvimento dos países africanos, o elemento principal do aparelho de formação de recursos humanos reduz-se ao sistema escolar e extra-escolar que, na maior parte das vezes, advém do sistema colonial herdado. Tal facto tem redundado no insucesso das políticas de formação e tem levado os governos africanos a procurar uma maior adequação dos sistemas educativos às realidades culturais, de modo a que os mesmos possam responder positivamente aos problemas concretos existentes.

Atendendo à sua tripla função social, cultural e económica, a educação vem sendo cada vez mais solicitada para a solução dos problemas práticos conducentes ao desenvolvimento moderno da sociedade angolana. Contudo, para que desempenhe plenamente este papel estratégico, a educação em Angola terá que dar relevo aos desafios colocados pelo seu próprio desenvolvimento; quer no que respeita à pertinência dos seus próprios valores socioculturais, renovação e democratização, quer ainda à sua ligação com o mundo do trabalho.

As escolas que valorizarem e desenvolverem projectos interdisciplinares que contemplem temas como: inclusão e respeito a diversidade estarão a privilegiar a dignidade da pessoa humana, a participação activa na sociedade, a co-responsabilidade pela vida social e, portanto, a formação integral do ser humano.

CAPITULO

3

– O IMEC: ASPECTOS POLÍTICOS DE SUA