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E como proceder quando, por exemplo, na pendência de providência tutelar cível de

No documento Direito da Famlia Vria (páginas 141-143)

Maria Perquilhas

O ACOMPANHAMENTO TÉCNICO NO “NOVO” REGIME GERAL DO PROCESSO TUTELAR CÍVEL 1 Lucília Gago ∗

7. E como proceder quando, por exemplo, na pendência de providência tutelar cível de

regulação do exercício das responsabilidades parentais – e, designadamente, após a conferência de pais, sem que nela se haja alcançado acordo, tendo sido, nos termos do artigo 38.º, fixado regime provisório e remetidas as partes para audição técnica especializada – é conferido a um dos progenitores o estatuto de vítima – este atribuído, como se sabe, face ao que se dispõe no n.º 1 do artigo 14.º da Lei n.º 112/2009, de 16 de Setembro, logo que apresentada denúncia da prática do crime de violência doméstica, não existindo fortes indícios de que a mesma é infundada –, estatuto esse que acarreta a necessidade de ser avaliado o regime de visitas do agressor aos filhos menores, o qual pode “ser suspenso ou condicionado,

nos termos da lei aplicável”?

São questões que evidenciam a margem de divergência interpretativa, ainda que consideremos a razoabilidade da solução de atribuição de competência para a realização da audição técnica especializada às equipas multidisciplinares de assessoria técnica aos tribunais, atenta a sua específica vocação neste domínio, sendo certo que, tratando-se de um trabalho técnico, centrado, conforme acima referido, na audição das partes, tendo em vista a avaliação

diagnóstica das competências parentais e a aferição da disponibilidade daquelas para um acordo, entendemos que o Ministério Público não deve estar presente, por não decorrer da lei

a obrigatoriedade de tal presença, cuja vantagem igualmente se não enxerga.

Quanto a um ponto pretendemos também deixar sublinhada a nossa posição, por termos já ouvido publicamente ser defendido o entendimento de que a audição técnica especializada (ou a mediação) só teriam obrigatoriamente lugar, desde que reunidos dois pressupostos essenciais reclamados por efeito do regime geral decorrente dos artigos 4.º, n.º 1, alínea b) e 23.º do RGPTC – o juízo positivo relativo, de um lado, à existência de conflitualidade parental e, de outro, relativo à existência de necessidade19 de lançar mão desse recurso como forma de alcançar um consenso.

Parece-nos, com o devido respeito por tal entendimento, não resultar da singela leitura da norma do artigo 38.º do RGPTC margem de interpretação distinta do sentido inequívoco e peremptório que dela se extrai – ou seja, estando ambos os pais presentes ou representados e não chegando a acordo, o juiz decide provisoriamente sobre o pedido em função dos elementos já obtidos, suspende a conferência e remete as partes para mediação ou para audição técnica especializada, pelo que, do nosso ponto de vista, não é lícita ao julgador uma aferição casuística sobre a verificação de tais pressupostos com a inerente consequência de, numa tal construção interpretativa, assim lhe ser franqueada a livre decisão de não enveredar pela remessa das partes para um desses meios de consensualização que a lei elege como preferenciais…

Veja-se, aliás, reforçando este nosso entendimento, a própria epígrafe (e o texto) do artigo 39.º do RGPTC – “Termos posteriores à fase de audição técnica especializada e mediação” –, não deixando, a nosso ver, qualquer resquício de dúvida relativamente à imposição de estrita observância dessa mencionada fase (ainda que poderosos argumentos possam ser invocados

DIREITO DA FAMÍLIA - VÁRIA 7.O acompanhamento técnico no “novo” regime geral do processo tutelar cível

pugnando, de jure condendo, no sentido da dispensabilidade da sistemática remessa hoje legalmente estabelecida).

Cremos assim decorrer da letra (e do espírito…) da lei a sobredita obrigatoriedade, por ser a norma do artigo 38.º do RGPTC claramente impositiva, apenas compreendendo nós o esforço argumentativo nos sobreditos termos, perante o reconhecimento da falta de maleabilidade conferida ao decisor, em especial quando a dificuldade na obtenção de acordo se situa exclusivamente no campo patrimonial.

Note-se, com efeito, que, no âmbito da providência tutelar cível de incumprimento da regulação do exercício das responsabilidades parentais a que se reporta o artigo 41.º do RGPTC, sendo a regra a da designação de uma conferência, nos termos do seu n.º 3, a consequência de nela os pais não chegarem a acordo é o juiz mandar proceder nos termos do artigo 38.º e seguintes, o mesmo sucedendo nos casos em que, excepcionalmente, não tenha sido designada conferência mas antes tenha tido lugar a notificação do requerido para, em cinco dias, alegar o que tiver por conveniente relativamente à imputação de incumprimento de que é alvo – cfr. n.ºs 7 e 3 do citado artigo 41.º.

A tramitação da providência tutelar cível de alteração do regime de regulação do exercício das responsabilidades parentais a que alude o artigo 42.º do RGPTC inclui igualmente a observância do disposto, na parte aplicável, dos artigos 35.º a 40.º do mesmo diploma, o que vale por dizer ter, nessa sede, também lugar a audição técnica especializada (ou a mediação). O mesmo se diga no que diz respeito à tramitação da providência tutelar cível respeitante à falta de acordo dos pais em questões de particular importância a que alude o artigo 44.º, face ao que consta do seu n.º 2.

Já a tramitação da inibição ou das outras providências tutelares cíveis visando o decretamento de medidas limitativas do exercício das responsabilidades parentais não comporta essa obrigatoriedade, ainda que o juiz possa ordenar, sempre que entenda conveniente, a audição técnica especializada e ou a mediação das partes, conforme resulta, respectivamente, das disposições conjugadas dos artigos 55.º, n.º 1 e 21.º, n.º1, alínea b), ou dos artigos 58.º, n.º 2, com referência àqueles outros dois, todos do RGPTC.

O mesmo se passa, no que respeita à inexistência da mencionada obrigatoriedade da audição técnica especializada (ou da mediação), no âmbito da tramitação da providência tutelar cível de entrega judicial de criança, por força do que se estabelece nos artigos 49.º a 51.º do RGPTC, mormente no n.º 1 do artigo 50.º, que igualmente prevê, tão só, a susceptibilidade de o juiz determinar, sempre que entenda conveniente, a audição técnica especializada e ou a mediação das partes, nos termos previstos no artigo 21.º, n.º 1, alínea b), do mesmo diploma. Recentremos de novo a nossa atenção na assessoria técnica, não sem que antes aludamos aos contornos legais mais salientes, em matéria de mediação, a qual vem regulada nos artigos 24.º e 21.º, n.º 1, alínea b), do RGPTC.

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A mediação pode ter lugar a todo o tempo, tendo como pressuposto essencial o

consentimento dos interessados (após a conferência de interessados na regulação do exercício

das responsabilidades parentais – e demais providências tutelares cíveis a que se aplicam os artigos 38.º e 39.º ‒, quando os pais presentes ou representados não chegam a acordo, se verificados os demais pressupostos, tendo lugar por um período máximo de três meses). Dispõe o RGPTC que a mediação – que pode ser pública20 ou privada – terá lugar sempre que considerada conveniente pelo juiz – o qual deve informar sobre a existência e os objectivos dos serviços de mediação familiar –, sendo determinada oficiosamente com o consentimento

dos interessados, ou a requerimento destes.

Recentremos pois a nossa atenção na assessoria técnica.

O RGPTC elege como princípio norteador o da simplificação instrutória e oralidade (artigo 4.º, n.º 1, al. a), o qual, no que se refere à assessoria técnica, impõe serem orais e documentadas

em auto as declarações prestadas pelos técnicos que as integram.

Prevê ainda, conforme acima apontado, que a assessoria técnica relativamente a cada criança e respectiva família seja assumida pelo MESMO técnico com a função de gestor do processo, inclusive no que respeita a processos de promoção e protecção.

Por outro lado, privilegia as declarações aos técnicos das equipas multidisciplinares de assessoria técnica, as informações a prestar por ela (ou por entidades externas), bem como os depoimentos das partes, de familiares e outras pessoas cuja relevância para a causa o tribunal reconheça e ainda a audição técnica especializada e a mediação, em detrimento do

relatório (da competência da equipa multidisciplinar de assessoria técnica), o qual só terá

lugar caso seja indispensável depois de esgotadas as formas simplificadas de instrução, caso em que deverá ser especificamente circunscrito o seu objecto (artigo 21.º, n.ºs 1, 5 e 6), devendo ter lugar apenas (artigos 34.º e sgts.) nos processos e nos casos expressamente

previstos no capítulo seguinte.

Acresce referir que o RGPTC prevê a nomeação ou requisição pelo juiz de assessoria técnica

externa, em qualquer fase do processo e sempre que o entenda necessário (artigo 22.º, n.º 1),

a fim de assistir a diligências, prestar esclarecimentos, realizar exames ou elaborar pareceres. A finalizar, deixo algumas questões de controversa resolução, as quais teriam merecido mais fina previsão no texto legal e, como tal, a reclamarem os necessários ajustes:

1. Criança com processo judicial de promoção e protecção, em fase de execução de medida

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