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Como a proposta metodológica foi adotada

O percurso metodológico e a abordagem (auto) biográfica como instrumento de investigação –

3.1. As condições que fundamentam a abordagem (auto) biográfica

3.1.1. Como a proposta metodológica foi adotada

Consoante com os estudos de Pineau (1999) sobre as quatro condições fundamentais que marcam o uso da abordagem autobiográfica, cumpre esclarecer de que forma as assumimos na investigação – formação: Primeiramente escrevi a minha própria história de vida antes de acompanhar outros a fazê-lo, segundo estabeleci um Contrato de Cessão com os sujeitos, terceiro mantive as suas produções disponíveis caso as requisitassem e por último, mantive a interpretação das narrativas numa perspectiva instaurativa.

Quanto à primeira condição recomendada por Pineau (1999): O pesquisador deve ter partido da própria história de vida antes de acompanhar outros a fazê-lo, ainda que não tenhamos trabalhado com a história de vida na sua perspectiva integral e sim no seu sentido restrito com o desenvolvimento de sessões narrativas, o fato da investigação – formação implicar na aprendizagem experiencial pessoal (Josso, 2002) nos exigiu o seu cumprimento integral. Assim, o primeiro capítulo da Tese se constituiu a partir da narração do meu próprio percurso de (auto) formação. Pineau (1999, p. 347) explica que é o confronto com a própria vida que permite ao pesquisador vivenciar a experiência com outros e efetuar um caminho formador com eles.

No que se refere à segunda condição: Estabelecer um contrato com a (s) pessoa (s), mais adiante a descrição e análise das sessões narrativas desenvolvidas evidenciam que para a sua constituição em parceria, com

28 Embora tenhamos antecipado a justificativa da opção pelo (não) uso do gravador

oportunamente continuaremos refletindo acerca dos Laboratórios ou EPF’s, Diário “Devaneios” e Sessões Narrativas como estratégias metodológicas de apoio.

os sujeitos da pesquisa, a abordagem (auto) biográfica pode ser proposta, nunca imposta.

No que concerne a terceira condição: A produção permanece propriedade do produtor, todas as formas materiais produzidas pelas colaborações dos sujeitos durante os EPF’s bem como os textos e os documentos gerados para as sessões narrativas foram cedidos para uso na pesquisa. A decisão de partilhá-las surgiu, na maioria das vezes, dos próprios participantes. No caso das produções (cartazes, lâminas de transparências escritas à mão durante as atividades, anotações rascunhadas pelos grupos de trabalho entre outros) deixadas na sala, consultava o grupo para confirmar se tais materiais poderiam ser cedidos para a investigação – formação.

A quarta – a interpretação visa ser mais instaurativa que redutora – é considerada por Pineau (1999, p. 348) como uma condição menos observável e situável que as demais. Para nós, representou um fio condutor por ser determinante para compreensão do sentido implícito nas narrativas. Mais do que isso, a perspectiva de procurar o porquê e para que efeito de certas colocações favoreceu, de modo decisivo, a análise e compreensões dos fatos narrados.

A essa altura, torna-se necessário tratar das duas estratégias fundamentais assumidas na investigação-formação: as Sessões Narrativas e os Laboratórios ou Encontros de Formação Paralela – EPF’s.

Um primeiro aspecto a rememorar quanto ao planejamento e realização das Sessões Narrativas, refere-se ao seu próprio conceito ou, como nos referimos em determinados momentos – “entrevistas tópicas” - que como o próprio termo indica, trazem à tona apenas alguns temas e/ou aspectos parciais da realidade narrada pelos professores. Nossa opção metodológica, consequentemente, foi acompanhada por outras estratégias de pesquisa no intuito de complementar as reinterpretações que como pesquisadores assumimos.

Relacionado a isso, ao nos autorizar a interpretar e a publicar suas narrações e memórias os sujeitos nos atribuíram uma responsabilidade

específica no terreno da ética: confiaram que ao nos apoderarmos das suas reminiscências seríamos capazes de fazê-lo do modo como nos foi revelado. O que nos empenhamos em atender.

O segundo aspecto remonta aos recursos de captação das falas dos sujeitos. Voltemos, mais uma vez, à decisão de não usar o gravador durante as sessões narrativas tomada de comum acordo e por solicitação de alguns dos envolvidos.

Outras reflexões nos asseguraram quanto às vantagens advindas desta decisão. A principal delas tem a ver com os limites do uso gravador numa pesquisa do gênero (auto) biográfico. Embora o instrumento se constitua numa ferramenta prática, do ponto de vista de conservação das informações, poderíamos perder a riqueza do ato de narração: os olhares e o impacto das reações e emoções gestualizadas que máquina alguma poderia reproduzir.

Sem contar, que com as posteriores transcrições das narrativas recolhidas através dos relatos escritos, das entrevistas e Diário “Devaneios”, de todo modo a perderíamos. Fosse pelos cortes ou pelo distanciamento da situação vivenciada isso fatalmente ocorreria. Obviamente, as anotações complementares, ao vivo, também nos trouxeram suas limitações. Sem falar que, mesmo resolvidas às dificuldades instrumentais, nem tudo foi possível de se dizer ou escrever com meras palavras.

O terceiro aspecto diz respeito aos impasses vivenciados no planejamento das Sessões Narrativas e a participação, envolvimento e sugestões propostas pelos sujeitos para ajudar a organizá-las, o que pode ser ilustrado no depoimento a seguir:

Pode lhe ajudar o modo como fiz no Mestrado: Elaborei uma espécie de conversa por escrito, contendo questões chaves para o estudo do meu objeto e captação de informações relevantes sobre os pesquisados. Digitei e improvisei uma espécie de caderno, sem espiral, apenas grampeando as folhas para facilitar o manuseio. [...] Combinei com os entrevistados que eles podiam refletir sobre as questões, durante o tempo que precisassem e que teríamos dois ou três encontros para discutir as os relatos (Margarida).

A experiência descrita pela professora Margarida revelou-se deveras proveitosa aos interesses da pesquisa daí que sistematizamos o material para as entrevistas tópicas de forma semelhante a que nos ensinou sendo as contribuições mais significativas para a investigação – formação analisadas ao longo da Tese.

O quarto aspecto a registrar acerca do planejamento e realização das entrevistas nos remete ao número de encontros. A partir do convite telefônico e/ou confirmação por E-mail, realizamos de uma a três Sessões Narrativas, com cada um dos sujeitos. A primeira sessão de caráter introdutório se propôs a familiarizá-los com o instrumento que utilizaríamos. Esse contato preliminar se justificou pelo fato do gênero (auto) biográfico demandar razoável investimento de tempo e dedicação. Em decorrência disso quanto mais o indivíduo se sentisse envolvido, seguro e informado, desde o início do processo, maior a garantia de que não o abandonaria por falta dos necessários esclarecimentos.

A segunda Sessão Narrativa consistiu na realização da entrevista tópica propriamente dita e a terceira marcação somente ocorreu quando houve necessidade de retomar determinados assuntos que ficaram pouco claros ou em aberto.

O quinto aspecto a destacar, tem a ver com o local escolhido para a realização das entrevistas e caracterizou-se pela preocupação em reunir conforto, relativa privacidade, tranqüilidade e fácil localização.

De comum acordo, a maioria das sessões ocorreu nos gabinetes de estudo ou salões de leitura da Biblioteca Zila Mamede situada no Campus Universitário da UFRN. Apenas no caso do professor indicado pelos sujeitos, como um educador vivencial, as sessões foram desenvolvidas na sua sala, localizada no prédio onde funciona o Programa de Pós- Graduação em Educação – PPGED, conhecido como Goiabão.

O sexto aspecto implica na forma e temáticas incluídas no instrumento elaborado para a escrita dos relatos. Conforme dito, a sugestão da professora Margarida foi adotada com êxito. A elaboração da

conversa por escrito foi digitada e organizada mediante uma espécie de caderno, sem espiral contendo um grampo para segurar as folhas reunidas e versou em torno das questões norteadoras da investigação: (auto) formação e ensino vivencial.

Em seguida, a segunda estratégia metodológica a retomar são os Laboratórios ou Encontros Paralelos de formação – EPF’s.

FIGURA 06 - OS LABORATÓRIOS OU EPF’s Fonte: Acervo Pessoal da Pesquisadora

Os Laboratórios ou Encontros Paralelos de Formação (EPF’s), conforme esclarecemos anteriormente, se constituíram em sete encontros presenciais e dinâmicos onde as expectativas, necessidades, experiências, conhecimentos, vivências, valores, opiniões, e atitudes dos sujeitos envolvidos eram confrontadas entre si como possibilidades de aprendizagem vivenciada.

Um mergulho no espaço de emoções e trocas interpessoais construtivas em meio a exposições teóricas – metodológicas pontuais que ajudaram a contribuir para o processo de desenvolvimento profissional, voltado para o Ensino Superior e crescimento individual e coletivo, buscado pelos participantes.

A estrutura básica dos EPF’s que realizamos assemelha-se aos laboratórios pedagógicos descritos por Marques (2002) na sua Dissertação de Mestrado. No referido estudo, a autora elegeu três tipos de oficinas criadoras, no campo de formação de professores dos mais diversos níveis de ensino, dentre um universo de cento e vinte e cinco trabalhos

realizados ao longo de anos que pudesse servir de referencial aos seus estudos no campo do ensino vivencial mediante o seguinte recorte:

As oficinas selecionadas deveriam, respectivamente, ilustrar 03 diferentes tipos de construção: a Oficina de Experiências Criadoras TIPO 1 chamada de “curso” com duração de 20 a 40 horas de trabalho teórico prático. A Oficina de Experiências Criadoras TIPO 2, denominada como “oficina” com duração de 08 a 20horas, e, finalmente, a Oficina de Experiências Criadoras TIPO 3 conhecida como “vivência com duração de 03 a 08 horas aproximadamente. (MARQUES, 2000, p. 72).

Semelhante ao estilo de Marques (2002) e Castanho (2006) realizamos dois laboratórios iniciais ou minicursos29 dos quais participaram

professores dos mais diversos níveis de ensino e áreas de conhecimento, que tinham interesse em ampliar suas experiências no campo das metodologias participativas ancoradas no uso de diferentes linguagens artísticas.

A partir daí constituímos o grupo da pesquisa propriamente dito e adotamos a oficina de experiência criadora, do tipo três, definida como vivência ou laboratório (Marques, 2002) com duração de quatro horas aula por encontro.

Estes novos encontros foram denominados de Laboratórios ou Encontros Paralelos de Formação – EPF’s propriamente ditos. É assim que estes cinco laboratórios foram voltados, especificamente, para a docência no Ensino Superior e incidiram diretamente no corpus documental e empírico apresentado na Tese.

O cronograma que se segue permite a visualização de como foram organizados. Destacamos o terceiro deles, em negrito, para sinalizar onde iniciamos o enfoque da pesquisa nos professores que atuam nas Instituições de Ensino Superior:

29 Ao se referir ao modo como deve ser feita a formação pedagógica dos professores de

Ensino Superior, Castanho (2006, p.04) recomenda uma linha de abordagem que começa com cursos pequenos do tipo minicursos que se estendem para outros de maior duração, na medida em que os professores vão se motivando para a discussão das questões pedagógicas.

DATA LOCAL/HORÁRIO TEMÁTICA EM QUESTÃO PROFESSORAS 23.10.04

(Sábado) 08h30min às 12h30min UFRN – Setor V Experienciar Metodologias Ativas e Por uma Pedagogia Vivencial: Participativas

Zoraya Marques 27.11.04

(Sábado) 08h30min às 12h30min UFRN – Setor V Metodologias de Ensino Criativas e Por uma Pedagogia Vivencial: Participativas

Zoraya Marques 04.06.05

(Sábado) 08h30min às 12h30min UFRN – Setor V A Pedagogia Vivencial e seu Trato Epistemológico na Formação Docente

Betania Leite Ramalho Zoraya Marques 25.06.05

(Sábado) 08h30min às 12h30min Parque das Dunas A Criatividade, o Protagonismo, A Reflexão Crítica e o Prazer: Discussão Vivenciada...

Zoraya Marques 10.09.05

(Sábado) 08h30min às 12h30min Parque das Dunas Memoriando: Amizade Crítica Zoraya Marques 01.10.05

(Sábado) 08h30min às 12h30min UFRN – Setor V Vivencial no Ensino Superior A Existência da Pedagogia Zoraya Marques 05.11.05

(Sábado) 08h30min às 12h30min UVA - Cidade Satélite a Formação de Professores A Pedagogia Vivencial e Universitários

Zoraya Marques

QUADRO 07 - CRONOGRAMA DOS LABORATÓRIOS Fonte: Diário “Devaneios” 2004/2005

Como visto na ilustração 07, todos os EPF’s foram realizados nos sábados e nos mesmos horários. Esta opção pela regularidade teve a intenção de colaborar com a organização do tempo dos envolvidos para dedicarem-se à pesquisa de forma coletiva, uma vez por mês, durante quatro horas aula. Nas avaliações de percurso, os sujeitos que freqüentavam a maioria dos encontros, optavam em manter este formato.

Nos dois primeiros laboratórios circulamos um folder de divulgação nos murais da UFRN, Instituições de Ensino Superior - IES, escolas, espaços educativos e órgãos de imprensa de forma a inscrever os interessados em participar dos minicursos iniciais, organizados em módulos distintos: o primeiro que visava lançar um olhar ao ensino vivencial a partir do ensino fundamental e o segundo que objetivava mapeá-lo no ensino médio e superior. Nos cinco folder’s subseqüentes, limitamos o envio pelo correio eletrônico visto que tinham apenas um caráter organizativo, para que os professores engajados na pesquisa pudessem se planejar, antecipadamente, em torno das temáticas que seriam trabalhadas (apêndice 3) .

É importante reprisar, que somente a partir do terceiro laboratório é que constituímos o grupo de pesquisa e que mesmo assim enfrentamos o sério problema da freqüência bastante irregular. Tal ocorrência nos levou, inclusive, a inscrever novos professores, notadamente no último EPF que realizamos na Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA.

Um outro aspecto peculiar, e de certo modo complicador se reporta ao uso dos três espaços físicos escolhidos para realização dos laboratórios. Quando utilizávamos à sala B-01 localizada no Setor V da UFRN tínhamos que enviar ofícios para o setor de segurança e transporte por conta da restrita movimentação de transporte no sábado. Quando o EPF ocorria no Parque das Dunas o deslocamento dos sujeitos também se constituía num transtorno, devido a sua localização geográfica. No tocante a UVA também a questão da distância e locomoção se configurou num dilema por conta do bairro – Cidade Satélite - se situar distante do centro.

É importante explicar, ainda que de forma sintética, como foram desenvolvidos os sete laboratórios no âmbito da investigação – formação.

O primeiro laboratório (23.10.04) - Por uma Pedagogia Vivencial: Experienciar metodologias ativas e participativas – teve como preocupação central, o resgate de jogos e brincadeiras (Huizinga, 1993; Kishimoto, 1997) e a importância da afetividade (Freire, 1997) e atividades prazerosas (Abramovich, 1991) que alimentam o repertório didático-pedagógico do educador vivencial.

O segundo (27.11.04) - Por uma Pedagogia Vivencial: Metodologias de ensino criativas e participativas – teve como proposta pedagógica dar continuidade ao resgate de práticas lúdicas e de dinâmicas problematizadoras que permeiam a prática didática - pedagógica do educador vivencial. As temáticas trabalhadas se centraram na pessoa do professor e na construção do processo identitário (Nóvoa, 1995), dos saberes necessários à docência (Ramalho et alii, 2003) e a responsabilidade ética (Freire, 1997).

O terceiro EPF (04.06.05) - A Pedagogia Vivencial e seu Trato Epistemológico no Âmbito da Formação e Prática Docente – contou com

dois eixos teóricos – práticos: O primeiro mediado pela professora Betania que discorreu sobre a sedução ser uma temática silenciada na educação, instigando os sujeitos da pesquisa a refletirem sobre se seria possível pensar a sedução como uma estratégia profissional na relação pedagógica. E o segundo eixo teórico – prático assumido pela professora Zoraya debateu a importância da vivência (Freinet, 1920) na pauta de formação de professores, os fundamentos epistemológicos no âmbito da prática docente e a experimentação de dinâmicas e estratégias de ensino lúdicas voltadas para a sala de aula do Ensino Superior.

O quarto laboratório (25.06.05) - A Criatividade, o Protagonismo, a Reflexão Crítica e o Prazer – teve como perspectiva principal as seguintes questões problematizadoras: Qual a didática necessária ao exercício docente na universidade? Quem é esse, o professor dador? O significa ensinar no âmbito universitário? Temos cumprido (o suficiente) nossas antigas promessas de tecer uma nova didática?

O laboratório cinco (10.09.05) - Memoriando: Amizade Crítica – trabalhou mais duas questões problematizadoras: Frente ás aspirações da sociedade contemporânea, em torno do Ensino Superior enquanto vanguarda do conhecimento, qual a didática do professor universitário em pauta? O que pode ser compreendido a partir do confronto da profissionalização, perspectivas de carreira e expectativas pessoais dos docentes universitários, frente ás políticas públicas e demandas sociais envolventes?

O EPF seis (10.09.05) - A Existência da Pedagogia Vivencial no Ensino Superior – discutiu a possível existência de uma Pedagogia Vivencial no Ensino Superior sob a luz de determinadas memórias didáticas universitárias, resgatadas durante o trabalho. A linha temática do encontro se constituiu do vivido e significações subjetivas dos sujeitos pesquisados, do resgate e análise de uma referência de memórias estudantis dos seus cursos de graduação ou pós – graduação e de situações concretas que apontassem, ou não, para a existência da vivência como ferramenta de ensino. A provocação para as rememorações

partiu de um trecho, pouco conhecido, extraído de uma das cartas trocadas entre Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade (1924).

O último laboratório (05.11.05) - A Pedagogia Vivencial e a