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Elos entre ensino, pesquisa, extensão e formação docente

Não consigo conceber o ensino desvinculado da pesquisa e da extensão como tem ocorrido em grande parte das IES e universidades [...] a depender do mercado em que a instituição se apóie pode até acontecer uma diferença, mas normalmente o investimento na formação de professores mesmo insuficiente só ocorre na pública [...] ou o que se vê é o apoio para titulação que é outra coisa. (Do Contra)

Ao contrário do professor Do Contra, alguns sujeitos ao tratar das principais diferenças entre as IES, reportaram as atividades de ensino-

pesquisa-extensão como de responsabilidade das Universidades, e isentaram os Centros Universitários, as Faculdades Integradas e os Institutos Superiores de procurar integrá-las às suas ações habituais. Até porque como sabemos não há uma maior exigência para que isso ocorra nem mesmo na atual LDB.

Em face disso, dependendo do exercício profissional, que cada um de nós opte em desenvolver, e da instituição a que nos vinculemos, isto pode até passar a se restringir, lamentavelmente, a uma questão de expectativas sócio-institucionais.

No caso do professor Do Contra o fato de não poder contar com o apoio institucional para desenvolver o ensino com pesquisa e extensão e para investimento no seu percurso formativo, lhe leva a ponderar que este só ocorre nas instituições públicas mesmo que de modo insuficiente. Segundo levantamento feito por Morosini (2001), dos 973 estabelecimentos de Ensino Superior no Brasil, 153 são universidades e 820 não-universidades.

O próximo quadro representa, sinteticamente, a forma como a instituição a que se filia o docente pode influenciar diretamente na sua atuação.

UNIVERSIDADES NÃO UNIVERSIDADES CARACTERIZAÇÃO

Universidades

As Universidades e Não Universidades trabalham o

ensino

- Princípio da indissociabilidade: ensino-pesquisa- extensão e princípio da autonomia

- Centros Universitários

- Ensino de excelência.

- Uma ou mais área de conhecimento - Faculdades Integradas

- Ensino - e ás vezes, desenvolve: pesquisa e extensão

- Dependentes do CNE -

Faculdades/Escolas Institutos Superiores

- Uma área de conhecimento - Podem realizar ensino ou pesquisa

153 820 Total: 973 Instituições

QUADRO 05: IES SEGUNDO A ORGANIZAÇÃO ACADÊMICA Fonte: LDB/96

Conforme ilustra o quadro 05, se o docente atua num grupo de pesquisa em uma universidade, provavelmente a sua visão de docência terá um forte condicionante de investigação (Morosini, 2001) tanto pelo princípio de indissociabilidade quanto por congregar um corpo docente cuja titulação oscila, em grande parte, entre mestres e doutores.

Caso exerça a atividade docente nos Centros Universitários, pelo que indica a legislação, irá trabalhar um ensino de excelência e atuar em uma ou mais área do conhecimento, o que pode significar desenvolver ensino sem pesquisa, ou se muito, do ensino e pesquisa. Neste aspecto não difere consideravelmente daqueles que atuam em faculdades integradas, que representam um conjunto de instituições (e diferentes áreas do conhecimento) ou institutos Superiores que podem, ou não,

desenvolver pesquisa além do ensino.

Mesmo admitindo que a docência pareça se constituir numa das características mais marcantes quando nos perguntamos qual o objetivo primordial das universidades contemporâneas estranhamente - a formação de professores - não é o seu eixo principal, como vimos no depoimento de D. Contra.

Onde apenas a pesquisa ou a pós-graduação são priorizadas, este investimento é ainda menor ou quase inexiste. Para Castanho (2006, p. 03) “[...] a dimensão mais esquecida e desprezada é a do ensino. Talvez, porque ensino e pesquisa tenha que ser umbilicalmente ligados e não o são”.

Por outro lado, há uma tendência a se deixar de lado as ações extensivas, como se não contribuíssem tanto quanto o ensino e a pesquisa, para a apreensão crítica e contextual dos saberes propostos pelos currículos acadêmicos podendo chegar a ultrapassá-los.

A produção intelectual de uma universidade deveria, em princípio, alcançar e interessar toda a comunidade, o entorno social de que é parte e a mantém. Os problemas sociais, econômicos, culturais, educacionais e ambientais da comunidade e da região em que está à universidade deveriam ser parte de sua temática de investigação, como

objeto de diagnóstico, proposição e desenvolvimento. (MENEZES, 2000, p. 15).

Tanto as instituições necessitam oferecer condições estruturais para que isso ocorra quanto o professor, e seu ensino, não pode ficar à parte da realidade em curso, sob pena de distanciar-se das grandes questões sociais em andamento, e restringir-se, ao medíocre repasse de informações e instrumentalidades. Sobre isso, influenciam as condições de trabalho, o tempo e o esforço dedicado ao trabalho que desenvolve.

Nesse sentido, o relato do professor Do Contra sobre os elos entre ensino-pesquisa-extensão nos indica a necessidade de acrescentar um elemento importante na configuração da organização acadêmica das IES.

Para tanto, localizamos os estudos de Behrens (1998) que identificam quatro grupos distintos de professores que nelas atuam: o primeiro grupo composto de profissionais de diferentes áreas que se dedicam de modo integral ao ensino. O segundo, formado por profissionais liberais que atuam no mercado de trabalho específico do curso que ensinam. O terceiro, representado por profissionais docentes da área de educação envolvidos em cursos de pedagogia e licenciatura e o quarto por profissionais da área de educação e das licenciaturas que se dedicam em tempo integral ao ensino na universidade.

A diversidade destes grupos elucida melhor os desafios enfrentados para se desenvolver uma cultura de extensão como defende Menezes (2000), no âmbito das instituições.

No caso da pesquisa, Morosini (2001), não vê, a implantação dessa cultura como uma ocorrência fácil, pois implica no longo período de desenvolvimento de massa crítica e/ou na contratação de docentes de linhas de pesquisa em desenvolvimento no fomento das atividades de pesquisa (implantação de bolsas, apoio a projetos, concessão de horas na carga horária do professor), entre outros.

O próximo elo trata das questões de (auto) formação do professor nas IES a partir do depoimento da professora Margarida.