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Como sou, como me vejo e como me sinto

No documento Relatório Final de Estágio Profissional (páginas 35-38)

PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL, EDUCAÇÃO FÍSICA, SER PROFESSOR, INDISCIPLINA, DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

2. Resenha Autobiográfica

2.1. Como sou, como me vejo e como me sinto

“Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei” (Fernando Pessoa, s/d)

As actividades lúdico motoras apareceram na minha vida desde muito cedo. Criada num ambiente familiar simples e com raízes rurais, passei grande parte da minha infância em contacto permanente com a natureza, no seu estado mais puro.

As rampas que os montes e as colinas me proporcionavam, transformavam-se em escorregas gigantes repletos de adrenalina. As árvores também faziam parte destas aventuras representando animadas provas de obstáculos. Neste meu mundo de magia e de inocência, até as galinhas jogavam às “caçadinhas”. Foi no rio, mesmo em frente à casa da minha avó, que aprendi a nadar. O intuito de querer apanhar peixes, fez com que a etapa de adaptação ao meio aquático acontecesse rapidamente, a ponto de conseguir deslocar-me na água em zonas onde a profundidade não me permitia descansar.

Na realidade, naquele tempo, tudo se transformava em objecto de jogo e de brincadeira, que só o puxão de orelhas da mãe ou os berros da avó colocavam fim a tanta euforia.

Durante a semana a vida era outra, e a azáfama da cidade deixava os meus pais mais preocupados, e, consequentemente, só saía de casa na companhia de algum adulto. Contudo, isso nunca se constituiu como um problema. A cama dos meus pais servia de cama elástica onde mortais e piruetas eram executados e segundo a minha óptica, com grande precisão. Os exercícios de força também eram contemplados, com a subida ao telhado da casa e, por vezes, às uvas dos vizinhos do lado. Estes foram sem dúvida momentos ricos e que ao relembrá-los me trazem alguma nostalgia.

natação e de ginástica. Face ao grande à-vontade que tinha dentro de água, desde cedo comecei a ter mais sucesso na natação, acabando por seguir esta modalidade e abandonar a ginástica.

Com a entrada no ensino básico, o gosto pelo desporto reforçou-se. Durante este período participei nos clubes escolares de ginástica e de atletismo, aliado à prática da natação pura de nível federada, no clube de Natação Sporting Clube de Espinho. Apesar de algumas interrupções mantive uma prática regular durante 10 anos.

Com uma já firme ligação ao desporto, a área da Educação Física, na entrada para o ensino secundário, surgiu de uma forma natural. Assim, entrei no curso tecnológico de Animação e Gestão Desportiva, no Colégio de Gaia.

A boa relação que sempre mantive com os meus treinadores e professores, e o sentimento de bem-estar e alegria que as aulas de Educação Física e os treinos me forneciam, influenciou positivamente esta minha decisão. Durante os três anos do ensino secundário, a oferta curricular do curso tecnológico de Animação e Gestão Desportiva proporcionou-me o vivenciar de experiências desportivas muito diferenciadas, que me remeteram tanto para o papel de atleta, com o de treinador e de professor. Desta forma, fui atleta no clube de andebol e de natação do desporto escolar, treinadora adjunta, árbitra no clube de ginástica artística e animadora desportiva nas turmas da pré- escola da instituição. Já nos últimos anos do secundário fui, ainda, atleta de andebol federada no clube de Andebol de São Félix da Marinha, prática que acabei por abandonar pela má relação com o treinador. Esta desistência fez- me pensar acerca do papel de treinador, questionando-me que exigências, que comportamentos e que atitudes, deveria eu assumir enquanto “projecto” de professor e treinador.

Face a estas inquietações e interrogações, a minha dedicação ao estudo tornou-se mais afirmativa durante este ano, facto que me conduziu a questões de carácter mais teórico e estratégico, até então desconhecidas e que despoletaram a minha atenção e curiosidade. Suportando-me na ideia de Victor Frade1 “Ninguém tem necessidade daquilo que desconhece”, foi no

Colégio de Gaia que encontrei claramente as minhas necessidades e vontades, que me levaram a perspectivar de forma clara as minhas intenções e objectivos futuros. Posso, assim, afirmar que a minha passagem pelo secundário foi sem dúvida marcante no meu processo de formação e conhecimento individual. Durante estes anos enfrentei desafios bastante exigentes mas também enriquecedores. Para além do tronco disciplinar comum ao curso geral de científico - natural que vigorava na altura, tínhamos disciplinas como: Psicopedagogia e Bases do Treino Desportivo; Gestão e Direcção de Instalações Desportivas; Animação, Recreação e Teoria e Prática dos Desportos; e Ciências da Vida e do Comportamento Humano.

Neste quadro, as minhas opções foram-se tornando cada vez mais claras, tendo, em 2006, ingressado, na então designada Faculdade de Ciências do Desporto da Universidade do Porto. O prestígio, o renome e a sua localização, foram os principais factores que me levaram a escolher esta “casa”.

Na Faculdade, nem todos os momentos foram de alegria e de satisfação, muitos foram os de sacrifício e de angústia, contudo não me arrependo de ter escolhido esta instituição e esta área de formação.

A minha especialização, na fase inicial do curso, foi no Alto Rendimento em Natação Pura, o que me permitiu integrar a equipa técnica do escalão de juvenis e séniores do clube de Natação do Futebol Clube do Porto, ficando posteriormente a exercer funções de treinadora nos escalões de formação. Esta experiência enquanto treinadora tem sido gratificante, porquanto colocou, ainda mais em evidência, o meu gosto e preferência pela formação e educação de crianças e jovens. Tendo consciência que o contexto de escola diverge do de clube, é este espaço que me fascina pelo que é um propósito que assumo e que queria experimentar. Nesta sequência, o ingresso no 2º ciclo de estudos em ensino da Educação Física nos ensinos básico e secundário, torna-se a opção óbvia. O 1º ano do 2º ciclo de estudos, apesar de curto, confuso e atribulado foi consistente, permitindo-me tomar consciência de um conjunto de conceitos e formas de actuação que ao longo da formação inicial foram apontadas de uma forma algo leviana e muito pouco aprofundada. Contudo,

considero que a base de conhecimentos adquiridos só ganhará verdadeiro sentido e valor na sua aplicação, tendo por isso perspectivado o Estágio Profissional como um ano de confrontos, desafios, reconstruções e aprendizagens, onde esperava conseguir estar à altura do grande desafio que enfrentaria, o de “Ser professor”.

No documento Relatório Final de Estágio Profissional (páginas 35-38)