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Ser Professor: Entre o Antes, o Durante, o Agora e o Depois

No documento Relatório Final de Estágio Profissional (páginas 175-179)

3.3 “Ser Professor”

NOTA FINAL (CÁLCULO

5. A Vida Docente Para Lá do Espaço de Aula

6.1. Ser Professor: Entre o Antes, o Durante, o Agora e o Depois

“-Tens muito para fazer? - Não tenho muito para amar.

(não entendo ser professor de outra maneira. E não me venham dizer que isto assim cansa e mata: morrer sempre se morre; e à minha maneira tem-se a consolação de não ser em vão que se morre de cansaço)“ Gama (2003, p.70)

Amar... talvez a palavra que melhor expresse o meu sentimento neste momento de término deste processo. Amar a escola, amar os alunos, amar o ensino, amar a aprendizagem, amar o desporto, amar uma profissão. Ser professor é hoje, uma necessidade, um gosto e um sentido de vida.

Fazendo uma breve retrospectiva, relembro agora os meus tempos de insegurança, ansiedade e medo iniciais, que me assombravam, em cada momento de aula, em cada espaço escolar.

Vestir a “camisola de professora”, assumir uma verdadeira postura profissional, não foi fácil. Foi um percurso longo, trabalhoso e demorado, recheado de algumas lágrimas e suor.

De facto, a entrada no mundo profissional não foi de todo pacífica. A serenidade e a confiança com que entrei na escola abandonaram-me após o primeiro contacto com os alunos, instalando-se sobre os meus ombros uma enorme pressão oriunda da responsabilidade de controlar uma turma nada fácil, onde errar quase que era proibido. Assim o maior temor era o erro. Não obstante o apoio do núcleo de estágio dos orientadores sentia-me perdida, desamparada e incompetente, incapaz de cumprir tal desafio. Tudo me parecia novo e confuso, não conseguindo atender a tudo e em todos os momentos.

Cada passo que dava parecia estar condenado ao fracasso, porém a vontade de vencer era maior. Muito maior!

Nesta catapulta de emoções iniciais, os processos de reflexão sobre a acção foram-se afirmando e a confiança foi-se revelando.

O questionamento constante e a avaliação, também ela constante da minha intervenção, foram-me encaminhando para uma maior consciencialização das minhas dificuldades, motivando-me a adoptar uma postura mais assertiva na aula. Pela reflexão, passei a percepcionar o processo educativo de um modo distinto daquele que tinha enquanto aluna.

Gradualmente, e com o apoio próximo do orientador, fui alterando a minha postura e corrigindo os meus erros. Neste processo, o espaço de aula deixou de ser um tormento e progressivamente comecei a caminhar para um lugar de bem-estar profissional e pessoal. O anseio por momentos de sucesso foi-se desvanecendo, dando lugar à conquista da segurança e da serenidade. Ansiava, assim, por um momento de sucesso que, aos poucos e poucos se foi evidenciando.

As reuniões em núcleo de estágio e as observações de diferentes práticas de ensino contribuíram para o estabelecer de um permanente dialecto entre o dar e o receber, permitindo-me adquirir novas ferramentas de actuação e de intervenção pedagógica. Neste clima cooperativo, liderado pelo professor cooperante, a colocação de desafios foi fundamental para o atingir de novos e renovados patamares de aprendizagem.

Envolvida numa aprendizagem por descoberta guiada, o meu percurso de estágio foi-se tornando mais aliciante e inquietante.

Saí da minha área de conforto, assumi o risco e experimentei novas e diversificadas formas de intervenção. Nem todas foram bem sucedidas, é certo, contudo tentei, não desisti, e aprendi!

O estágio Profissional foi, assim, um momento único de formação, levando-me a assumir uma atitude decisional crítica e emancipatória mais assertiva, sendo que esta capacidade se reflectiu tanto no planeamento como na intervenção pedagógica.

Os conhecimentos adquiridos durante os primeiros anos de Faculdade foram ganhando ao longo deste ano novos contornos, por recurso a um processo de investigação/reflexão/acção.

Actualmente o meu pensamento não se limita a tentar perceber o que fazer na acção, este incorpora os “e se...” e o “porquê”. O processo de

indagação de cada decisão, de cada acto assumido permitiu-me perceber melhor a situação e, consequentemente, decidir melhor. Neste processo de questionamento um dos maiores desafios que enfrentei foi o controlo disciplinar dos alunos. Assim, com o recurso às narrativas, o estudo que desenvolvi acerca da indisciplina representou um marco importante no meu processo de transformação, não apenas para a minha identidade profissional mas também para a pessoal. Neste processo a utilização de novas e renovadas estratégias de acção, uma maior afectividade com os alunos e a criação de uma maior envolvência nas actividades foram-se tornando factores-chave do sucesso, na concretização do “Ser Professor”. A noção do que é “Ser professor” foi assim assumindo uma maior corporalidade nos meus pensamentos e acções, sendo que hoje considero que o ser professor é uma responsabilidade que ultrapassa largamente a sala de aula, estende-se a outros contextos, tanto dentro como fora da escola.

Acresce que ser professor tem de ser um papel verdadeiramente assumido ou o seu fracasso estará assegurado. É uma envolvência e um amor. Gosto de ser professora! Tenho orgulho no que sou e no que me tornei! Mas ainda não acabei!

Ainda me falta muito para andar, muito para ver, muito para aprender, porém é nesta permanente necessidade de inovar e reconstruir que a essência dinâmica e desafiante do ensino se forma.

Numa condenada imperfeição humana, sempre procurarei atingir o máximo e o melhor, dando o melhor de mim e, principalmente, mostrando o melhor a cada um dos alunos, proporcionando novos e renovados sonhos, e novas e renovadas possibilidades e esperanças, modificando o futuro e intervindo no presente.

“Ser professor” não me canso de dizer que é acima de tudo diferenciar, particularizar e atender à especificidade de cada um. Nas palavras de Bento (1999) é “Um movimento de aperfeiçoamento da individualidade, de ultrapassagem e do desaparecimento do individuo no gregarismo e na massificação do <<nós>>, para ascender às coisas do <<Eu>>”. (p. 26). É promover em cada um a possibilidade de uma formação imbuída em espírito de

vontade, responsabilidades, perseverança, sacrifício, empenho e autonomia proporcionando capacidade de sobrevivência e superação face às adversidades que a vida quotidiana lhes irá colocar. O mesmo autor em 2004 (p.48) refere ainda que:

“Sou professor porque, diz a publicidade da Reebok, há um atleta dentro de cada um de nós. Há um esboço e um projecto de homem à espera de realização. Sei que nem todos podem ser campeões, mas todos podem transcender-se e superar-se, dar e revelar o melhor de si mesmos. Todos podem ser vencedores na corrida por uma forma nova, trocando o menos e o insuficiente, que estão dentro de nós, pelo mais e o suficiente que estão fora de nós. Sim, sou agente dessa troca, dessa permuta e sublimação; ajudo a trocar receios, medos e lágrimas por confiança, entusiasmo e riso, tanto no corpo, como no coração e na alma.”

Ser professor é isto e muito mais pois cada um é, também, professor à “sua maneira”, mas sempre com paixão e dedicação. O lema “Citius, Altius, Fortius!, ganha novo entendimento neste findar de ano. Os valores aprendidos no e com o desporto serão, com certeza, aspectos de um futuro que vislumbrei. Lutar para ser mais e melhor é a intenção, é a vontade e, por isso, a procura de uma competência aumentada e de um conhecimento maior é o marco que levo desta experiência única à qual acrescento ainda, os meus alunos, pois estes serão sempre os meus primeiros ALUNOS.

No documento Relatório Final de Estágio Profissional (páginas 175-179)