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Companheiro homossexual

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO 2008 (páginas 104-106)

CAPÍTULO III. A MORTE COMO RISCO SOCIAL E OS BENEFICIÁRIOS DA PENSÃO

3.3 Beneficiários da pensão por morte

3.3.1 Dependentes da primeira classe

3.3.1.2 Companheiro

3.3.1.2.1 Companheiro homossexual

Nosso ordenamento jurídico não permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo, nem reconhece sua união como entidade familiar. Por outro lado, não proíbe a união de homossexuais, em respeito aos direitos fundamentais da liberdade e da inviolabilidade da intimidade e da vida privada234.

Em 1995, a então deputada federal Marta Suplicy apresentou o Projeto de Lei n.º 1.151, reconhecendo a união civil de pessoas do mesmo sexo, desde que solteiras, viúvas ou divorciadas, constituída mediante contrato firmado em instrumento público – dispondo sobre relações patrimoniais, deveres, impedimentos e obrigações mútuas –, registrado no Cartório de Registro Civil e, se prevista comunicação patrimonial, também no de Imóveis. O texto, alterado pela emenda substitutiva de autoria do então deputado Roberto Jefferson, obteve parecer da Comissão Especial, pela constitucionalidade, juridicidade e técnica legislativa e, no mérito, pela aprovação. Embora não considere a “parceria civil”, como foi denominada pelo substitutivo, entidade familiar, o projeto prevê proteção previdenciária e direitos sucessórios aos parceiros, entre outros efeitos; polêmico, foi retirado de pauta em 2001. Em 2007, o deputado Celso Russomanno apresentou

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Brasil. Decreto n.º 3.048/99. “Art. 22. A inscrição do dependente do segurado será promovida quando do requerimento do benefício a que tiver direito, mediante a apresentação dos seguintes documentos: I - para os dependentes preferenciais: [...] b) companheira ou companheiro - documento de identidade e certidão de casamento com averbação da separação judicial ou divórcio, quando um dos companheiros ou ambos já tiverem sido casados, ou de óbito, se for o caso; [...] § 3.º Para comprovação do vínculo e da dependência econômica, conforme o caso, devem ser apresentados no mínimo três dos seguintes documentos: I - certidão de nascimento de filho havido em comum; II - certidão de casamento religioso; III - declaração do imposto de renda do segurado, em que conste o interessado como seu dependente; IV - disposições testamentárias; V - anotação constante na Carteira Profissional e/ou na Carteira de Trabalho e Previdência Social, feita pelo órgão competente; VI - declaração especial feita perante tabelião; VII - prova de mesmo domicílio; VIII - prova de encargos domésticos evidentes e existência de sociedade ou comunhão nos atos da vida civil; IX - procuração ou fiança reciprocamente outorgada; X - conta bancária conjunta; XI - registro em associação de qualquer natureza, onde conste o interessado como dependente do segurado; XII - anotação constante de ficha ou livro de registro de empregados; XIII - apólice de seguro da qual conste o segurado como instituidor do seguro e a pessoa interessada como sua beneficiária; XIV - ficha de tratamento em instituição de assistência médica, da qual conste o segurado como responsável; XV - escritura de compra e venda de imóvel pelo segurado em nome de dependente; XVI - declaração de não emancipação do dependente menor de vinte e um anos; ou XVII - quaisquer outros que possam levar à convicção do fato a comprovar“.

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requerimento solicitando a inclusão do projeto na ordem do dia, mas até hoje o mesmo não foi apreciado.

Para o advogado Atila Nedi Leães Sonego e a bacharel em Direito Magna Virgínia Silveira de Souza, as uniões homossexuais devem ser disciplinadas, em seus aspectos pessoais e patrimoniais, da perspectiva do direito de família. “Não há necessidade de degradar a natureza pessoal de família convertendo-a em fictícia sociedade de fato, como se seus integrantes fossem sócios de empreendimento lucrativo e não de uma sociedade afetiva” 235.

Fato é que, por enquanto, as relações homossexuais estáveis se mantêm livres do rigor de uma disciplina jurídica, mas também da sua proteção. As questões decorrentes das uniões homossexuais vêm sendo decididas pelo Poder Judiciário, como ocorre em relação à proteção previdenciária. Por força da liminar concedida em 17.04.2000 pela Juíza Federal Simone Barbisan Fortes, da 3.ª Vara Previdenciária de Porto Alegre, na Ação Civil Pública n.º 2000.71.07.00.009347-0, válida para todo o Brasil, os companheiros homossexuais são hoje considerados dependentes do segurado da previdência social. Após a decisão, a Diretoria Colegiada do INSS expediu a Instrução Normativa n.º 25/2000, especificando os procedimentos para a concessão da pensão por morte nesses casos. Atualmente, a Instrução Normativa n.º 20/2007 prevê o companheiro homossexual como dependente previdenciário, conferindo-lhe o direito à pensão por morte, para os óbitos ocorridos a partir de 5 de abril de 1991236. A decisão foi confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, em 10.08.2005, da qual o INSS interpôs Recurso Especial e Extraordinário, pendentes de julgamento.

Nosso posicionamento é o de que se regulamente a união civil de pessoas do mesmo sexo, hoje uma realidade social, garantindo-lhes, no que se refere à proteção previdenciária, os mesmos direitos assegurados aos companheiros de sexo oposto ou cônjuge do segurado no âmbito do Regime Geral.

235 SONEGO, Atila Nedi Leães; SOUZA, Magna Virgínia Silveira de. A união homoafetiva em perspectiva. Revista de Doutrina da 4.ª Região - Escola da Magistratura do Tribunal Regional Federal da 4ª Região – EMAGIS, Porto Alegre, n. 11, mar.2006. Revista eletrônica. Disponível em <http://www.revistadoutrina.trf4.gov.br>. Acesso em 5.mar.2008.

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Instrução Normativa INSS/PRES n.º 20/2007. “Art. 30. O companheiro ou a companheira homossexual de segurado inscrito no RGPS passa a integrar o rol dos dependentes e, desde que comprovada a vida em comum, concorre, para fins de pensão por morte e de auxílio-reclusão, com os dependentes preferenciais de que trata o inciso I do art. 16 da Lei n.º 8.213, de 1991, para óbito ou reclusão ocorrido, ou seja, mesmo anterior à data da decisão judicial proferida na Ação Civil Pública n.º 2000.71.00.009347-0.

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO 2008 (páginas 104-106)