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2- A Companhia Armour em Sant’Ana do Livramento

3.6 A Companhia Armour saí do Cone Sul

Na ocasião em que as cinco grandes Companhias de Carne de Chicago, Armour, Swift, Wilson, Morris e Cudahy, em 1912 pela Comissão de Comércio Federal, nos Estados Unidos foi apurado que havia um acordo entre as cinco empresas.

Mas não existiam provas contra elas, pois estas não eram independentes juridicamente. De acordo com Leonel Gornatti, último gerente do frigorífico em Sant’Ana do Livramento “eram cartelizadas, indiscutivelmente, embora (...) juridicamente separadas.” Algo que ocorreu até 1972, ano em que ocorreu a fusão entre a Armour e a Swift, constituindo a Swift – Armour S.A. Indústria e Comércio.

Certamente por causa da investigação ocorrida nos Estados Unidos, o Armour trocou o nome da companha diversas vezes, para poder adequar-se as leis dos países em que se situou. Em Sant’na do Livramento, a empresa possuiu três nomes, anteriores a fusão: 44

1º- Companhia Armour do Rio Grande do Sul 2º- Armour of Brazil Corporation

3º- Frigorífico Armour do Rio Grande do Sul S.A.

Leonel Gornatti elaborou um histórico, em que a Armour of Brazil Corporation locava e gerenciava as posses da Companhia Armour do Brasil, que tinha sua sede em São Paulo, e a Companhia Armour do Rio Grande do Sul, com sede em Sant’Ana do Livramento. Em 1924, a diretoria da Companhia Armour transferiu-se da cidade do Illinois para o Maine e em 1954 mudou para Delaware, estado americano conhecido por conceder benefícios fiscais as empresas. Neste tempo, a Armour of Brazil Corporation foi incorporada a Armour American Corporation, juntamente com as ações do Frigorífico Armour do Brasil S.A. e do Frigorífico Armour do Rio Grande do Sul S.A. pela International Packers Ltda, com sede em Buenos Aires, que já possuía a maioria das ações da Companhia Swift do Brasil.

Formalmente, a fusão ocorreu no ano de 1969, no momento em que a International Packers Ltda, uniu-se a Deltec Panamérica, sendo esse o principal comprador do Armour, originando a Deltec Internacional. No ano de 1972, foi constituída a empresa Swift – Armour S.A. Industria e Comércio, em ainda em 1972, a SASA – Administração e Participação, passou a ter controle das ações, sendo que o capital foi incorporado pela empresas Caemi em 55% e Brascan em 54%, firmas relacionadas a mineração e ao setor financeiro.

Porém, de acordo com Albornoz a fusão pode ter ocorrido anteriormente, “ao

doar o terreno para construir uma Escola Estadual em 1978, há declaração de que ‘ratificam para todos os efeitos legais, a doação (...) efetuada em fevereiro de 1957.”

Pedro Silva, que era funcionário do Armour, em depoimento esclarece que: “Em 57, foi doado o terreno pelo Armour e não podia ser doado depois da fusão. Foi

doado pelo Armour, e não pela Swift-Armour.” (ALBORNOZ, 2000, p.126)

Em 1961, o Frigorífico Armour do Rio Grande do Sul S.A., vendeu o Clube do Armour, o que “foi devidamente autorizado pela Assembleia Geral Extraordinária de seus acionistas, realizada em 30 de junho de 1959 e de número 65, lavrada no respectivo Livro de Atas.” Em 1958, a Companhia Armour já havia saído do Uruguai, então certamente quando o clube foi vendido o Armour já não deveria estar em Sant’Ana do Livramento.

Mas ainda são levantadas dúvidas sobre a saída do Armour da região do prata, como será que as Companhias americanas saíram da Argentina e do Uruguai como falam os “castellanos”? Saindo desses países, não se retirariam do Rio Grande do Sul? Como Pedro Silva, relata em 1957 a companhia cedeu em 1957, um terreno para uma escola, assim como a confirmação do último gerente da Swift-Armour, Leonel Gornatti, sobre a doação do terreno em 1957 e concedido para o estado em 1978, então seria o ano de 1958 o ano de saída do frigorífico de Sant’Ana do Livramento? Outro fato que pode confirmar esta versão foi a aprovação pelos acionistas do Clube do Armour em 1959.

Até 1968, o Frigorífico Armour seguiu funcionando em Sant’Ana do Livarmento. A carne era exportada através do porto de Montevidéu. Nesse ano, o Armour operava juntamente com a International Packers Ltda. Em depoimento Arturo Eguia que começou na empresa como mensageiro aos 10 anos e chegou a gerência, declarou: “No papel dizem que a Swift comprou o Armour, mas a verdade é que os acionistas chegaram à conclusão de que um fazia concorrência para o outro, e aí juntaram os dois.” (ALBORNOZ,2000, p. 127)

Em 1989 a Swift-Armour foi vendida para o grupo Bordon, pedindo concordata em 1994. No mesmo ano a empresa de Bagé Cicade, apropria-se da Swift- Armour. P presidente da empresa bajeense afirmou que teria aconselhado pelo então governador do Rio Grande do Sul, Alceu Collares, a ‘rodar a fábrica’, ganhando para tal linhas de crédito nos bancos do governo. Justificando não ter recebido as linhas de

crédito dos bancos estatais, fechou a Swift-Armour. “Estando a Swift-Armour em concordata, seus bens são indisponíveis. E, sendo indisponíveis, não poderiam ser negociados.” (GORNATTI, S/D, p.16)

Após a Segunda Guerra Mundial, passaram-se os anos de ‘fartura”. Após a década de 1940, a cidade de Sant’Ana do Livramento foi perdendo sua população. Nos anos de maior produção do frigorífico em 1940, chegou a ser a 6º cidade em população do Rio Grande do Sul. A medida em que os anos passaram, a população da cidade decaiu juntamente com a produção do frigorífico. A cidade, por muitos anos viu-se dependente do Armour, pois o frigorífico era o principal empregador da cidade. É fácil encontrar santanenses que tenham tido algum vínculo empregatício com a empresa, mesmo filhos de ex-operários. Por causa desta dependência e pela falta de planejamento do poder político municipal, Sant’Ana do Livramento foi uma das cidades que sofreu mais perdas na sua população.

Os frigoríficos de Chicago, permaneceram fortes no Cone Sul, durante o tempo em que conseguiram monopolizar o negócio de carne na região. Com mão de obra barata e sindicatos sem muita força, conseguiram tirar todo o proveito das vantagens que vieram buscar na região. Até terem que competir com os produtores locais, que organizados em pequenas cooperativas, estabelecendo frigoríficos com produção própria, acabando com o monopólio da carne, e terminando com o imperialismo americano em Sant’Ana do Livramento.

CONCLUSÃO

Uma das principais razões para a vinda do Frigorifico Armour para Sant’Ana do Livramento foi a sua privilegiada localização geográfica. A relação de proximidade com a uruguaia Rivera, permitia a exportação de carne pelo porto de Montevidéu. Já no seu estabelecimento o Armour foi influenciado pelo caráter binacional da fronteira. Viu- se isso na construção de prédios do complexo industrial, feito por firmas uruguaias, a contratação de funcionários especializados na sua maioria uruguaios e argentinos. Como colocou o senhor Arturo Eguia em seu depoimento:

“É um engano pensar que o Armour veio para o Brasil. O Armour veio inicialmente para a Argentina e Uruguai, onde continuou o cartel existente nos Estados Unidos para a compra e comercialização de carne, cujo transporte era realizado em navios com câmaras frigoríficas, formando um acordo entre americanos, ingleses e argentinos, já em 1914.” (ALBORNOZ, 2000,p.148)

Como a mais importante força econômica de Sant’Ana do Livramento, empregando cerca de 82% dos trabalhadores da cidade, o Armour exerceu grande influência na cidade, inclusive política, ao firmar acordos vantajosos para empresa com o poder municipal. O poder executivo municipal inclusive, sempre foi um grande incentivador da empresa dando todo o apoio necessário mesmo em tempos conflituosos como as greves de 1919 e 1949.

O poder público alias mostrou pouca iniciativa em relação a preocupação de desenvolver outras atividades com os produtos provenientes da matéria-prima usada pelo Armour. Derivados como o couro, o sangue, os ossos, os miúdos, os cascos, os chifres e o sebo não eram aproveitados na cidade, mas comercializados fora. Havia falta de planejamento e excessiva dependência em relação ao frigorífico que sozinho equivalia a 85% do capital industrial em Sant’Ana do Livramento. Segundo a professora Vera Albornoz não houve por parte das autoridades locais e nem do Armour o interesse de estimular o desenvolvimento da economia local com a utilização e comercialização

desses derivados dentro do munícipio. A comunidade santanense também não mostrou interessada quando o Armour procurou introduzir a industrialização de suínos, sendo que a produção local foi fraca e esporádica. É inegável que houve progresso nos anos de grande produção, foi tão significativo que pode-se avaliar pela decadência econômica e social que a cidade viveu após a saída do Armour de Livramento. Mas isso não esconde o fato de a influência do Armour sobre o município ter tido claras características imperialistas como o registro de patentes pela Companhia Armour, com a apropriação indevida das invenções de Manuel Rico, ou o descaso com o operariado em que, governo e empresa foram negligentes com a população do bairro industrial que durante décadas não teve acesso à educação, saúde e outros direitos básicos. Hoje apesar de muitos santanenses ainda ficaram saudosos em relação aos tempos do frigorífico, admitem que a cidade ficou muito tempo olhando para o passado e buscando respostas para a saída da Companhia Armour da cidade, está vendo que a região já não proporcionava-lhe o mesmo lucro, procurou sair e estabelecer-se em locais onde o seu capital lhe rendesse mais lucro.

Sant’Ana do Livramento está reerguendo-se e buscando outras alternativas como a vinda de uma Usina Eólica para a cidade, gerando o crescimento econômico e social da cidade, o Armour hoje faz parte do passado da cidade, inclusive com o projeto da criação de um museu sobre a história do Frigorífico na cidade.

BIBLIOGRAFIA:

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GORNATTI, L. – História da Swift Armour S.A. Indústria e Comércio. Apostila.

LEWINSOHN, Richard – Trustes e Cartéis: Suas Origens e Influências na Economia Mundial, Rio de Janeiro, Porto Alegre e São Paulo, Edição da Livraria do Globo, 1945.

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Sites:

http://www.britannica.com/EBchecked topic / /308257/

http://www.celpcyro.org.br/joomla/index.php?option=com_content&view=article&Item id=0&id

Locais de Coletas das Fontes:

Museu Davi Canabarro, Sant’Ana do Livramento, RS. Museu Folha Popular, Sant’Ana do Livramento, RS. Biblioteca Municipal, Sant’Ana do Livramento, RS.

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