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Conflitos Trabalhistas no Frigorífico Armour

2- A Companhia Armour em Sant’Ana do Livramento

3.4 Conflitos Trabalhistas no Frigorífico Armour

A grande maioria dos trabalhadores da Charqueda Livramento, empresa de propriedade dos uruguaios Pedro Irigoyen e Franscisco Anaya que foi vendida a Companhia Armour foram contratados pela empresa americana quando esta estabeleceu-se em Sant’Ana do Livramento. Em 1919 a empresa contava com cerca de mil operários, sendo que destes 50% eram brasileiros, 45 % de uruguaios e os 5% restantes eram constituídos de diferentes nacionalidades como argentinos e

americanos.35

No ano de 1919, Pedro Irigoyen que até então trabalhava para o Armour como relações públicas desliga-se da empresa. O uruguaio Irigoyen não aceitava as condições de trabalho impostas pela Companhia americana aos trabalhadores brasileiros e uruguaios. Na época em que administrada a Charqueada Livramento aplicava as leis trabalhistas uruguaias aprovadas em 1915, que determinava 8 horas diárias de trabalho e seis dias na semana. Sobre as leis trabalhistas de seu país o presidente Batlle afirmou no jornal “El Dia”:“Seremos uma pobre e obscura republiqueta, mas temos leizinhas adiantadinhas.” (NAHUM, 1995, p. 44)

Certamente que as leis do país vizinho era avançadas na perspectiva da Companhia Armour do Brasil. No frigorífico daquele período os operários trabalhavam 10 horas por dia e para a empresa não havia motivos para diminuir duas horas da jornada de trabalho dos operários.

A folga semanal era costume na fronteira já aquela época, era algo que existia desde 1883, com o estabelecimentos fechando suas portas nos domingos e feriados.

Em 13 de março de 1919, iniciou-se uma greve no Frigorífico Armour em Sant’Ana do Livramento, que logo após foi aderida pelos funcionários do Frigorífico Wilson (outra companhia americana de Chicago instalada em Livramento). No dia 16 do mesmo mês os operários organizaram-se em uma caminhada até o centro da cidade até a casa de Pedro Irigoyen para lhe prestarem homenagens. Os operários de ambos os frigoríficos entregaram as empresas Armour e Wilson um ofício com as seguintes reivindicações:36

1º. Redução de 10 para 8 horas de Trabalho;

2º. Aumento de 20% nos salários dos trabalhadores manuais e braçais. 3º. Aumento de 25% nos salários das mulheres;

4º. Pagamento em dobro dos trabalhadores executados nos domingos ou fora do serviço de 8 horas.

5º. Readmissão de todos os operários grevistas e exclusão dos que não aderiram ao movimento.

35 ALBORNOZ, 2000, p. 99.

Os representantes dos frigoríficos de Chicago não aceitaram nenhuma das reivindicações dos grevistas.

Nas passeatas os operários em greve empunhavam cartazes com os seguintes dizeres em espanhol: “Queremos lo que pedimos.”/“Estamos com el derecho y la justicia.” 37

Os ideias anarquistas influenciaram o movimento grevista dos funcionários do Armour, sendo que muitos deles eram uruguaios, argentinos e espanhóis. Em 1911 começou a circular na fronteira Livramento-Rivera o jornal anarquista bilíngue “A Evolução”, que apoiou a greve. Os operários da capital uruguaia também resolveram mostrar seu apoio aos grevistas da fronteira enviando o Delegado da Federação Operária de Montevidéu para participar de um comício na praça mais importante da cidade de Rivera38

Mesmo com tanta pressão as companhias de Chicago continuavam irredutíveis e resolveram não ceder a nenhuma das exigências dos grevistas. No mês de abril de 1919, alguns funcionários voltaram ao trabalho, somando-se aos cerca de quatrocentos que haviam sido contratados de emergência em razão da greve. No 1º de maio de 1919, os grevistas realizaram uma grande passeata pelas ruas de Sant’Ana do Livramento e neste mesmo dia conseguiram uma resposta positiva a suas reivindicações, as empresas americanas resolveram ceder aos funcionários 10% de aumento nos salários e redução na jornada de trabalho de 10 para 9 horas diárias. Longe de ser o desejado pelo movimento grevista, foi uma importante conquista tratando-se de duas empresas que representavam o poderio do imperialismo americano no cone sul.39

No período em que compreendeu a greve dos trabalhadores dos frigoríficos Armour e Wilson foi criado o Centro de Assistência de Ofícios Vários que no ano seguinte em 1920 foi convertida no Sindicato de Ofícios Vários. Essa associação tinha como finalidade o auxílio reciproco entre os operários. Organizado por Santos Soares, fundador da Liga Comunista de Livramento em 1918. O papel de Santos Soares na luta operária em Livramento foi mencionado por I. Axelrud, na Revista de Estudos, de

36 ALBORNOZ, 2000, p. 101.

37 ALBORNOZ, 2000, p. 101. 38 Idem, p. 102.

1952:40

“Mas o jovem dirigente comunista, a medida que ia se temperando na luta, aprendendo e acumulando experiência, compreendeu que era preciso dar atenção especial à empresa fundamental. Santos Soares lançou-se à tarefa de organizar e levar à luta os trabalhadores do Frigorífico Armour. Ali era a cidadela dos patrões e dos fazendeiros. Mas ali era que se encontravam os trabalhadores.” (CAGGIANI, 1996, p.165)

Os políticos santanenses positivistas, apoiaram as empresas americanas, assim como a Brigada Militar que foi acionada para proteger as empresas, o que foi reconhecido depois pela Companhia Armour que enviou uma nota de agradecimento em que se lia:

“Tendo terminado por completo uma greve que tentavam alguns operários do Frigorífico, cumpro o grato dever de agradecer a V.Excia. a cooperação eficaz que prestou-nos no sentido de debelá-la, louvando o modo correto como se portou em nosso estabelecimento, a força pública aqui destacada. (...)” (Cópia de carta expedida pela Companhia Armour, ALBORNOZ, 2000, p. 102)

Na capital do estado, Porto Alegre o governo do estado deixou de lado a política de não-intervenção nas relações de produção e acabou por adotar medidas para conter os movimentos operários em relação as greves que eclodiam pelo Rio Grande do Sul. No decorrer do ano de 1919 ocorreram diversas greves no estado, “foi constante a presença de piquetes antigrevistas de policiais ou brigadianos dispersando as manifestações operárias, patrulhando os estabelecimentos industriais e os bairros operários, invadindo e ocupando as sedes dos sindicatos, prendendo e algumas vezes ferindo ou matando grevistas em meio as arruaças que se formavam.41 Inclusive nas greves pacíficas não se rompia a norma de controle por parte da força

pública”. Existia um “rígido intervencionismo, (...) um claro e constante posicionamento de Borges junto aos interesses do empresariado.” (PETERSEN, 1979, p. 324)

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