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6. ENTRADAS EM APOSENTADORIA POR INVALIDEZ NO RGPS

6.2 Comparação com outros estudos sobre entradas em invalidez permanente

Entre os estudos relacionados à invalidez permanente no Brasil, destaca-se

inicialmente o trabalho apresentado por Oliveira (1985), que teve como objetivo

simular o número de contribuintes e beneficiários do seguro social brasileiro para

o período 1981-1999. As taxas de entrada em aposentadoria por invalidez rural e

urbana foram obtidas dividindo-se o fluxo de entrada em aposentadoria por

invalidez pelo número de trabalhadores expostos ao risco em estudo, segundo

sexo e idade. Embora pioneiro, esse trabalho não apresenta os resultados

numéricos dessas taxas, impossibilitando a comparação com as tábuas

elaboradas nesta dissertação.

Outro estudo que buscou suprir a carência de informações sobre as principais

transições ocorridas no RGPS foi realizado por Castro em 1997. Com base nos

dados da DATAPREV e das PNAD’s, a autora obteve probabilidades de entrada –

em auxílio-doença, aposentadorias por idade, invalidez e tempo de contribuição –

e de saída – por morte – da previdência social utilizando tábuas de múltiplos-

decrementos e tábuas de decremento simples. Essas probabilidades foram

detalhadas por sexo, idade, clientela e tipo de benefício.

Sabendo-se que 95,8% das aposentadorias por invalidez iniciadas entre

01/01/1999 e 31/12/2002 eram de clientela urbana, as probabilidades de entrada

em aposentadoria por invalidez estimadas nesta dissertação, segundo sexo e

idade, foram comparadas com as probabilidades apresentadas no trabalho de

Castro (1997) para a clientela urbana em 1995.

GRÁFICO 18 – Comparação entre as probabilidades de entrada em invalidez

estimadas para os segurados do RGPS, segundo sexo e idade, no período

1999-2002 e as probabilidades expostas no trabalho de Castro (1997) para

os segurados de clientela urbana, segundo sexo e idade, no ano de 1995.

Brasil

0,00

0,01

0,02

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0,06

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P

roba

bi

li

da

de

Idade

Homens RGPS 1999-2002

Homens 1995 (Castro, 1997)

Mulheres RGPS 1999-2002

Mulheres 1995 (Castro, 1997)

Fonte dos dados básicos: TAB. 3 e Castro (1997).

Nota-se, no GRAF. 18, que o padrão de entrada em invalidez para os homens,

nos diferentes estudos, é semelhante. A diferença de nível deve-se,

possivelmente, à diferença de dados e metodologia utilizados para o cálculo das

probabilidades de entrada em aposentadorias por invalidez nos dois estudos.

Entre as mulheres, os diferenciais de nível e estrutura são mais marcantes.

Segundo o estudo desenvolvido por Castro (1997), as mulheres apresentaram

probabilidades de entrada em invalidez crescentes até os 60 anos e depois caem.

Por sua vez, os dados do RGPS para o período 1999-2002 revelam que as

respectivas probabilidades são crescentes até os 70 anos.

Diante dos resultados, há indícios que as probabilidades estimadas por Castro

(1997) de clientela urbana são mais semelhantes com as expostas na seção 6.1

para os segurados empregados do RGPS do que para o conjunto da população

considerada nesta dissertação. Para verificar essa hipótese, as respectivas

probabilidades foram comparadas e os resultados são apresentados no GRAF.

19.

GRÁFICO 19 – Comparação entre as probabilidades de entrada em invalidez

estimadas para os segurados EMPREGADOS do RGPS, segundo sexo e

idade, no período 1999-2002 e as probabilidades expostas no trabalho de

Castro (1997) para os segurados de clientela urbana, segundo sexo e idade,

no ano de 1995. Brasil

0,000

0,005

0,010

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0,020

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0,030

20

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P

roba

bi

li

da

de

Idade

Homens RGPS 1999-2002

Homens 1995 (Castro, 1997)

Mulheres RGPS 1999-2002

Mulheres 1995 (Castro, 1997)

Fonte dos dados básicos: Anexo TAB. A16 e Castro (1997).

Como pode ser observado no GRAF. 19, os estudos em comparação

apresentaram diferenciais de nível e estrutura pouco significativos entre os

homens. Ressalta-se, porém, que as probabilidades estimadas por Castro (1997)

são para todos os segurados do sexo masculino de clientela urbana do RGPS e

as apresentadas para o período 1999-2002 referem-se apenas aos segurados

empregados do RGPS, que são na sua maioria de clientela urbana –

aproximadamente 92%.

Para as mulheres, as diferenças mais significativas ocorrem agora apenas no

nível. Este fato pode ser explicado, em parte, pelo denominador utilizado no

cálculo das probabilidades em cada um dos estudos que estão sendo

comparados. Em 1995, o Cadastro Nacional de Informações Sociais – CNIS –

ainda estava em fase de implementação e, portanto, Castro (1997) não teve

acesso às informações sobre contribuintes, necessárias para o cálculo de suas

probabilidades. Como uma proxy do número de pessoas expostas ao risco de

receber algum benefício, a autora utilizou a população economicamente ativa –

PEA – da PNAD 1995, acrescida dos estudantes e das pessoas que cuidavam

dos afazeres domésticos. Castro (1997) destaca que essa foi a melhor alternativa

entre as testadas, ainda que os dados pudessem ter sido sobreenumerados, pois,

segundo ela, uma parcela importante das pessoas consideradas no denominador

não contribuía para a RGPS. Assim, a diferença de nível entre as probabilidades

comparadas era esperada, uma vez que, o tempo de exposição ao risco de

aposentar por invalidez para as mulheres seguradas pela previdência social no

ano de 1995 foi superestimado e as respectivas probabilidades subestimadas,

pois foram incluídas no denominador uma quantidade importante de mulheres que

faziam parte da PEA, mas que possivelmente não contribuíam para o sistema por

estarem inseridas no setor informal, cuja taxa de contribuição é baixa.

Com o propósito de avaliar a magnitude das diferenças entre as curvas

comparadas, em 1995 (Castro, 1997) a probabilidade de entrada em invalidez

para os segurados do sexo feminino, aos 60 anos, foi de 0,01 e no período 1999-

2002 foi de 0,02 para as seguradas classificadas na categoria empregadas. A

queda das probabilidades femininas depois dessa idade deve-se, provavelmente,

as mesmas hipóteses levantadas e apresentadas na subseção 5.2.3, para o

padrão observado entre os homens segurados do RGPS e que também se

estendem para as estruturas masculinas de entrada em aposentadoria por

invalidez comparadas no GRAF. 19.

Conforme já discutido no capítulo 5, sabe-se que os segurados do RGPS, nos

diferentes intervalos de tempo comparados, estavam expostos a uma situação de

riscos competitivos e sugere-se que o padrão de entrada em invalidez

permanente nos dois estudos, para ambos os sexos, é explicado pela

competitividade do risco de se aposentar por invalidez com os outros benefícios

cobertos pelo sistema previdenciário, ou porque esses segurados não cumpriram

a carência mínina, ou porque adiaram o pedido de aposentadoria programada.

As diferenças encontradas nas comparações realizadas nessa subseção,

especialmente de nível, mostram que para a realização de projeções ou

simulações do número futuro de beneficiários com aposentadorias por invalidez, a

experiência de invalidez permanente dos segurados da previdência social deve

ser acompanhada e as respectivas probabilidades de entrada atualizadas.

6.3 Síntese dos principais resultados

As entradas em aposentadorias por invalidez previstas com base nas tábuas Light

e dos segurados empregados do RGPS, independentemente do sexo,

apresentaram resultados semelhantes. Por outro lado, as probabilidades

implícitas nas tábuas Álvaro Vindas e IAPB-57, ambas construídas em 1957,

foram bem distantes da real experiência de invalidez observada entre os

segurados empregados do RGPS no período 1999-2002, especialmente depois

dos 40 anos.

As maiores diferenças entre as tábuas do mercado previdenciário utilizadas na

comparação e as tábuas elaboradas para os segurados – total, empregados, e

outros segurados – do RGPS ocorreram nas idades mais avançadas. O mesmo

foi observado por Vicente Merino et al (2003) ao comparar a tábua de entrada em

invalidez absoluta elaborada para os segurados da Seguridade Social da

Espanha no período 1997-2001 com as tábuas de entrada em invalidez da Suíça,

comumente usadas pelo mercado segurador espanhol. Essas diferenças podem

ser explicadas, em parte, por mudanças ocorridas ao longo do tempo no Brasil

nos conceitos e critérios de concessão de aposentadorias por invalidez; pela

presença de indivíduos em boas condições de saúde que ainda permanecem em

atividade após os 65 anos e continuam sendo contabilizados como expostos ao

risco em estudo; e pela competitividade do risco de se aposentar por invalidez

com os outros benefícios cobertos pelo sistema previdenciário, caso o segurado

tenha adiado ou não tenha cumprido a carência mínima exigida para requerer a

concessão de tais benefícios.

Com relação à análise comparativa entre as probabilidades apresentadas nesta

dissertação e outros estudos realizados no Brasil com a mesma temática,

verificou-se que a experiência de invalidez dos segurados da previdência social

deve ser acompanhada e as respectivas probabilidades de entrada atualizadas.

Desta forma, projeções ou simulações do número futuro de beneficiários de

aposentadorias por invalidez serão estimados com maior precisão, com base em

probabilidades mais próximas da realidade.

Destaca-se que uma parte significativa das diferenças observadas nas diversas

comparações realizadas neste capítulo pode ser explicada por mudanças

ocorridas nos conceitos, nos critérios de concessão de aposentadorias por

invalidez, bem como de outros benefícios cobertos pelo sistema previdenciário, e

nas características da população coberta. Essas variáveis variam com o tempo e

entre países e, portanto, mudanças estruturais e conjunturais devem ser levadas

em consideração em comparações dessa natureza.