• Nenhum resultado encontrado

De uma maneira geral, todos os métodos apresentaram uma concentração de dados no quadrante correspondente ao fator de segurança abaixo de 1, mostrando a alta susceptibilidade dos rejeitos à liquefação.

A Figura 23 apresenta a comparação entre o fator de segurança à liquefação estimado pelo método de Youd, et al. (2001) e pelo método de Robertson (2009), na

qual notam-se duas regiões distintas: a primeira no intervalo 0.3 ≤ FSYoud ≤ 0.7 e a segunda ao longo da reta 1:1. Essa diferença de comportamento pode ser explicada pelo fato do método de Robertson (2009) permitir a avaliação de solos com Ic > 2.60, cujos resultados se agruparam na região 0.3 ≤ FSYoud ≤ 0.7. Essa região concentra pontos de SBT igual a 3 e 4 da carta de Robertson (1990), como pode ser visto na Figura 24. Tal região originalmente não é definida por Youd, et al. (2001), pois compreende os solos cuja a susceptibilidade à liquefação é praticamente inexistente para o autor.

FIGURA 23: COMPARAÇÃO DOS MÉTODOS DE YOUD, ET AL. (2001) E ROBERTSON (2009) EM TERMOS DO FATOR DE SEGURANÇA À LIQUEFAÇÃO

FONTE: O autor (2017).

A segunda região, que acompanha a reta 1:1 do gráfico é justificada pela adoção por Robertson (2009) das recomendações de Youd, et al. (2001) para o tratamento dos dados dos solos com Ic < 2.50, donde se espera certa correspondência entre os fatores de segurança pelos dois métodos.

FIGURA 24: DESTAQUE DA REGIÃO DE CONCENTRAÇÃO DOS PONTOS COM SBT 3 E 4 (SOLOS FINOS) SEGUNDO ROBERTSON (1990)

FONTE: O autor (2017).

A Figura 26 mostra a comparação entre o fator de segurança calculado pelo método de Youd, et al. (2001) e seu correspondente pelo método de Boulanger e Idriss (2014). Enquanto Idriss e Boulanger (2008), na Figura 25, devido às incertezas acerca do método da definição da contribuição dos finos para resistência à liquefação apresenta-se um método mais conservador, corroborando dados de Liao, et al. (2010), o método de Boulanger e Idriss (2014) apresenta-se menos conservador que Youd, et al. (2001).

Mais uma vez concordando com os resultados de Presti e Mesina (2014), verificou-se que o método de Moss, et al. (2006) é mais conservador em comparação com o método de Youd, et al. (2001), conforme pode ser constatado pela Figura 26, o que se justifica pelo fato do método de Moss, et al. (2006), estimar uma demanda cíclica relativamente superior àquela obtida pelo método de Youd, et al. (2001) enquanto a resistência cíclica é subestimada com relação ao mesmo método.

FIGURA 25: COMPARAÇÃO DOS MÉTODOS DE YOUD, ET AL. (2001) E IDRISS E BOULANGER (2008) EM TERMOS DO FATOR DE SEGURANÇA À LIQUEFAÇÃO

FIGURA 26: COMPARAÇÃO DOS MÉTODOS DE YOUD, ET AL. (2001) E BOULANGER E IDRISS (2014) EM TERMOS DO FATOR DE SEGURANÇA À LIQUEFAÇÃO

FIGURA 27: COMPARAÇÃO DOS MÉTODOS DE YOUD, ET AL. (2001) E MOSS, ET AL. (2006) EM TERMOS DO FATOR DE SEGURANÇA À LIQUEFAÇÃO

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar da aderência apresentada pelos diferentes métodos de avaliação do potencial de liquefação utilizando o ensaio CPT, tal abordagem só deverá ser considerada para uso isolado para projetos de baixo risco. Outros métodos complementares deverão ser aventados quando o risco do projeto for classificado como alto, considerando técnicas de amostragem, outros ensaios in situ e em laboratório e modelagens numéricas do problema.

A análise do comportamento dos rejeitos por meio do índice de material de Robertson (1990) revelou para site objeto de estudo deste trabalho uma repartição de 60% de solo com comportamento drenado, próximo das areias e siltes arenosos e 40% de solo com comportamento não-drenado, assemelhando-se às argilas e siltes argilosos. Essa repartição prenuncia uma presença importante de finos no depósito de rejeitos, finos esses em sua maioria não-plásticos ou pouco plásticos, devido o baixo teor de argilominerais clássicos em sua composição mineralógica, de acordo com Morgenstern et al. (2016).

Após a análise de cinco métodos diferentes de avaliação do potencial de liquefação de solos, pode-se apontar o método de Moss, et al. (2006) como sendo aquele que fornece resultados mais conservadores, superestimando a demanda cíclica e subestimando a resistência do solo à liquefação.

Os métodos de Youd, et al. (2001) e Idriss e Boulanger (2008) apresentaram grande aderência entre si, pois em sua concepção ou não consideram ou consideram de maneira incerta a participação dos finos na resistência à liquefação.

Já Robertson (2009) e Idriss e Boulanger (2014) se mostraram menos conservadores que Youd, et al. (2001), o qual desde sua concepção vem sendo criticado por tal abordagem conservadora, principalmente no que diz respeito à definição da resistência cíclica. O método de Idriss e Boulanger (2014) se mostrou mais conservador que o método de Robertson (2009) ao considerar a contribuição de finos para resistência à liquefação, mantendo certa aderência ao método base de Youd, et al. (2001), enquanto para Robertson (2009) houve elevada dispersão dos dados, onde com a delimitação de duas regiões distintas.

Por seu equilíbrio nos resultados apresentados, mantendo certa correlação com o método de Youd, et al. (2001), já bem aceito pela indústria, e também por levar em consideração a presença de finos na matriz de solos sem apresentar

grande dispersão dos dados, pode-se recomendar o método de Boulanger e Idriss (2014) para a avaliação do potencial de liquefação em barragens de rejeito. No entanto, a opção por um método mais conservador pode ser justificada pela natureza do projeto. Apesar da recomendação de Boulanger e Idriss (2014), softwares como o CLiq permitem o processamento e comparação dos resultados pelos diferentes métodos. O mais importante, no entanto, consiste em ter em mente quais as premissas assumidas por cada um dos autores ao propor seus respectivos métodos.

Outro ponto positivo da opção por Boulanger e Idriss (2014) é a possibilidade de se comparar os resultados das avaliações da susceptibilidade à liquefação oriundos de diferentes ensaios: este método apresenta a rotina de cálculo para uso de dados de ensaios CPT (abordada nesse trabalho), SPT e medida de onda de cisalhamento Vs, enquanto Moss, et al. (2006) e Robertson (2009) foram concebidos apenas para utilização com dados de CPT.

Apesar do grande potencial do ensaio CPT na avaliação da susceptibilidade à liquefação de solos, há de se considerar a condição ideal em investigação geotécnica, que consiste naquela onde se têm redundância de informações, ou seja, um mesmo parâmetro de interesse determinado através de técnicas e ensaios distintos levando a resultados convergentes.

Por fim, apesar da performance consistente do método de Boulanger e Idriss (2014), o uso do mesmo de maneira isolada é apenas apropriado para projetos de baixo risco. Em projetos de alto risco, onde a experiência local precedente pode ser considerada baixa, os objetivos do projeto são complexos, o nível de risco geotécnico é alto e o potencial de perdas humanas e financeiras é alto, recomenda- se o uso seu uso apenas como técnica de screening, ou seja, para identificação de regiões críticas que devem ser submetidas à análise mais robustas, como modelagem numérica ou até mesmo o estudo em modelo reduzido.

REFERÊNCIAS

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6484: Solo – Sondagens de simples reconhecimento com SPT – Método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, 2001.

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10905 (MB3122): Solo – ensaios de palheta in situ. Rio de Janeiro: ABNT, 1989.

ASTM – AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. D5778: Standard Test Method for Electronic Friction Cone and Piezocone Penetration Testing of Soils. EUA: ASTM, 2012.

ASTM – AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. D6635: Standard Test Method for Performing the Flat Plate Dilatometer. EUA: ASTM, 2015.

ANCOLD – AUSTRALIAN NATIONAL COMMITTEE ON LARGE DAMS. Guidelines on Tailings Dams Design, Construction and Operation. Canberra: ANCOLD, 1999. 56p.

AYKIN, et al. Comparison of Dynamic Soil Modelling Using SCPT, SDMT and SASW. International Conferences on Recent Advances in Geotechnical Earthquake Engineering and Soil Dynamics. San Diego, 2012.

BOULANGER RW, IDRISS IM. CPT and SPT based liquefaction triggering procedures. Report No. UCD/CGM-14/01. Davis, USA: Center for Geotechnical Modeling, Department of Civil and Environmental Engineering, University of California; 2014.

CAMPANELLA, R. G., et al. Pore pressure during cone penetration testing. In: EUROPEAN SYMP. ON PENETRATION TESTING, ESOPT, 2., Amsterdam. Proceedings... Rotterdam: Balkema Publ., 1982, V. 1, p. 507-512.

CBDB – COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS. Barragens de Rejeitos no Brasil. Rio de Janeiro: CBDB, 2012. 306p.

CEN – EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION. Eurocode 7: Geotechnical Design. Luxemburgo: CEN, 2007.

GOMES, R. C., PIRETE, W. Tailings Liquefaction Analysis Using Strength Ratios and SPT / CPT Results. Soils & Rocks, v. 36, p. 37, 2013.

IBRAM – INSTITUTO BRASILEIRO DE MINERAÇÃO. Gestão e Manejo de Rejeitos da Mineração. Brasília: IBRAM, 2016.

ICOLD – INTERNATIONAL COMMISSION ON LARGE DAMS. Bulletin 106: A Guide to Tailings Dams and Impoundments – Design, Construction, Use and Rehabilitation. Paris: ICOLD, 1996. 239p.

IDRISS, I. M., BOULANGER, R. W. Soil Liquefaction During Earthquakes. Earthquake Engineering Research Institute MNO-12, Oakland, California, 2008.

IDRISS, I. M., BOULANGER, R. W. SPT-based liquefaction triggering procedures. Report UCD/CGM-10, Oakland, California, 2010.

ISO – INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 22476-1: Geotechnical investigation and testing -- Field testing -- Part 1: Electrical cone and piezocone penetration test. Suíça: ISO, 2012.

ISO – INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 22476- 11: Geotechnical investigation and testing -- Field testing -- Part 11: Flat dilatometer test. Suíça: ISO, 2012.

LAMBE, T. W., WHITMAN, R. V. Soil Mechanics. John Wiley and Sons, 1965. LIAO, J; MENESES, J; ORTAKCI, E; ZAFIR, Z. Comparison of three procedures for evaluating earthquake-induced soil liquefaction. Fifth Internetional

Conference on Recent Advances in Geotechnical Earthquake Engineering and Soil Dynamics. San Diego, 2010

LUNNE, T. et al. Cone penetration testing in geotechnical practice. Blackie Academic & Professional, 1997.

LUZ, A. B., SAMPAIO, J. A., FRANÇA, S. C. A. Tratamento de Minérios. 5ª Ed. Rio de Janeiro: CETEM/MCT, 2010.

MARCHETTI, S., MONACO. P., TOTANI, G. e CALABRESE, M. The flat

Dilatometer test (DMT) in Soil Investigations. Report of the ISSMFE Technical Committee on Ground Property Characterisation from In-situ Testing: TC-16. Bali, Indonésia, 2001.

MARCHETTI, S. Some 2015 Updates to the TC16 DMT Report 2001. DMT’15 3rd International Conference on the Flat Dilatometer. Roma, Itália, 2015.

MARCHETTI, S., MONACO. P., TOTANI, G. e MARCHETTI, D. In Situ Tests by Seismic Dilatometer (SDMT). ASCE Geotechnical Special Publication honoring Dr. John H. Schertmann. GSP No 170. New Orleans, EUA, 2008.

MAYNE, P. W. Interpretation of geotechnical parameters from seismic piezocone tests. 3rd International Symposium on Cone Penetration Testing, CPT’14, Las Vegas, USA, 2014.

MORGENSTERN, N. R., VICK, S. G., VIOTTI, C. B., WATTS, B. D. Fundão Tailings Dam Review Panel – Report on the Immediate Causes of the Failure of the Fundão Dam. Disponível em: http://fundaoinvestigation.com/the-panel-report/. Acesso em 22 de setembro de 2016.

MOSS, Robb E.S., SEED, Raymond B., KAYEN, Robert E., STEWART, Jonathan P., et al.. CPT-Based Probabilistic and Deterministic Assessment of In Situ Seismic Soil Liquefaction Potential. Journal of Geotechnical and Geoenvironmental

Engineering Vol. 132 Iss. 8, p. 1032 – 1051, 2006.

MOSS, Robb E.S., SEED, Raymond B. Comparing liquefaction procedures in the U.S. and China. In: The 14th World Conference on Earthquake Engineering. Pequim, Cinha, 2008.

PRESTI, D. C. F. L.; MEISINA, C. Evaluating liquefaction potencial of soils using CPT: a case study in the central Po River Plain, Italy. 3rd International

Symposium on Cone Penetration Testing, CPT’14, Las Vegas, USA, 2014.

ROBERTSON, P. K. Cone Penetration Test (CPT)-based soil behavior type (SBT) classification system – an update. Can. Geotech. J.. Ottawa, 2016. ROBERTSON, P. K. CPT-DMT Correlations. ASCE: Journal of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering, Vol. 135, No. 11, November 1, 2009.

ROBERTSON, P. K. Evaluation of flow liquefaction and liquefied strength using the cone penetration test. J. Geotech. Geoenviron. Eng., ASCE, 842 :843, 2010. ROBERTSON, P. K. Soil classification using the cone penetration test. Can. Geotech. J., 27(1), 151–158, 1990.

ROBERTSON, P. K. The James Mitchell Lecture: Interpretation of in-situ tests – some insights. Geotechnical and Geophysical Site Characterization 4 – Coutinho & Mayne (eds). Taylor & Francis Group, London. ISBN 978-0-415-62136-6, 2012. ROBERTSON, P. K. Performance based earthquake design using the CPT. Keynote lecture, In: International conference on performance-based design in

earthquake geotechnical engineering – from case history to practice, IS Tokyo, 2009. ROBERTSON, P.K. Soil behaviour type from the CPT: an update. 2nd

International Symposium on Cone Penetration Testing, CPT’10, Huntington Beach, CA, USA, 2010

ROBERTSON, P.K. Estimating in-situ state parameter and friction angle in sandy soils from the CPT. 2nd International Symposium on Cone Penetration Testing, CPT’10, Huntington Beach, CA, USA, 2010.

ROBERTSON, P. K., et al. SPT-CPT Correlations. ASCE Journal of Geotechnical Engineering, Vol 109, No. 11, November 1983.

ROBERTSON, P. K., CABAL, K. L. Guide to Cone Penetration Testing for Geotechnical Engineering. Gregg Drilling & Testing, Inc. 6th Ed., 2015.

ROBERTSON, P. K., WRIDE, C. E. Evaluating cyclic liquefaction potential using the cone penetration test. Can. Geotech. J., 35(3), 442–459. Ottawa, 1998.

SCHNAID, F; ODEBRECHT, E. Ensaios de campo e suas aplicações à engenharia de fundações. 2ªEd. São Paulo: Oficina de Textos, 2012. 223p. SEED, H. B., IDRISS, I. M. Simplified procedure for evaluating soil liquefaction potential. J. Geotech. Engrg. Div., ASCE, 97(9), 1249–1273, 1971.

SKEMPTON, A.W. Standard penetration test procedures and the effects in sands of overburden pressure, relative density, particle size, ageing and overconsolidation. In Geotechnique, Vol. 36, No 3, pp 425-447, 1986.

TERZAGHI, K; PECK, R.; MESRI, G. Soil Mechanics in Engineering Practice. 3rd Ed. New York, 1995.

YOUD, T.L.; et al. Liquefaction Resistance of Soils: Summary Report from the 1996 NCEER and 1998 NCEER/NSF Workshops on Evaluation of Liquefaction Resistance of Soils. Journal of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering, 124(10), 2001.

Documentos relacionados